domingo, 26 de dezembro de 2021

Papa no Angelus: para preservar a harmonia na família devemos combater a ditadura do eu

 
 
Não nascemos magicamente, com uma varinha mágica, mas numa família e o que somos hoje como pessoa é fruto do amor que recebemos no seu seio. Devemos conhecer a própria história e as nossas raízes, para que a vida não se torne árida. E agradecer a Deus pela família que temos, disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, quando deu várias indicações para superar os conflitos e manter a harmonia familiar.

 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Rezar juntos diariamente para pedir a Deus o dom da paz, escuta e compreensão recíproca para superar conflitos e dificuldades, converter-mo-nos do eu ao tu, nuncaie dormir sem ter feito as pazes. Afinal, é no dia a dia que se aprende a ser família, nela estão as nossas raízes e o que somos hoje como pessoa, é fruto do amor que dela recebemos.

É de conselhos práticos que se articula a reflexão do Papa antes de rezar o Angelus neste domingo, 26 de dezembro, em que a Igreja festeja a Sagrada família que, não é aquela dos santinhos, como observou Francisco, mas uma família que também enfrentou “problemas inesperados, angústias, sofrimentos”.

Conhecer e preservar as raízes de onde viemos

E o Papa mergulha precisamente naquele contexto familiar para sublinhar aos fiéis e turistas presentes na Praça de S. Pedro num domingo de tempo instável, um primeiro aspeto concreto para nossa família: “a família é a história da qual viemos”:

“Cada um de nós tem a sua própria história, ninguém nasceu magicamente, com uma varinha mágica, cada um de nós tem uma história e a família é a história de onde viemos.”

Jesus – começou por explicar – “é filho de uma história familiar”. Viajou para Jerusalém com os seus pais para a Páscoa e o seu sumiço provocou grande preocupação em Maria e José:

É belo ver Jesus inserido no laço dos afetos familiares, que nasce e cresce no abraço e na preocupação dos pais. Isto também é importante para nós: viemos de uma história entrelaçada por laços de amor e a pessoa que somos hoje não nasce tanto dos bens materiais que desfrutamos, mas do amor que recebemos, do amor no seio da família. Talvez não tenhamos nascido numa família excecional e sem problemas, mas é a nossa história - cada um deve pensar: é a minha história -, são as nossas raízes: se as cortarmos, a vida torna-se árida. E devemos pensar nisto, na própria história!

"Ser família" envolve aprender diáriamente

Deus – disse o Santo Padre - não nos criou para sermos comandantes solitários, mas para caminharmos juntos, e devemos agradecer a Ele e rezar pelas nossas famílias:

“Deus pensa em nós e nos quer juntos: agradecidos, unidos, capazes de preservar as raízes.”

O Papa destaca então um segundo aspeto concreto para as nossas famílias: “aprende-se a ser família em cada dia”. E volta o seu olhar novamente à realidade da Sagrada Família onde nem tudo é perfeito, “existem problemas inesperados, angústias, sofrimentos”:

Não existe uma Sagrada Família dos santinhos. Maria e José perdem Jesus e angustiados procuram-no, para o encontrar três dias mais tarde. E quando, sentado entre os mestres do Templo, ele responde que deve cuidar das coisas de seu Pai, eles não entendem. Eles têm necessidade de tempo para aprender a conhecer o seu filho. O mesmo serve para nós: em cada dia, em família, é preciso aprender a ouvir e a compreender-mo-nos, a caminhar juntos, a enfrentar os conflitos e as dificuldades. É o desafio diário, que é superado com a atitude correta, com as pequenas atenções, com gestos simples, cuidando os detalhes das nossas relações. E isto também nos ajuda muito a conversar em família, conversar à mesa, o diálogo entre pais e filhos, o diálogo entre os irmãos ajuda-nos a viver a raiz familiar que vem dos avós, o diálogo com os avós.

Antes o "tu", depois o "eu"

E como se faz então isto? - pergunta Francisco - convidando a olhar para Maria que no Evangelho de hoje diz a Jesus: «Teu pai e eu estávamos à tua procura»:

“Teu pai e eu, não diz eu e teu pai: antes do eu existe o tu (...). Na Sagrada Família, antes o tu e depois o eu. Para preservar a harmonia na família, é preciso combater a ditadura do eu. Quando o eu se infla. É perigoso quando, em vez de nos ouvirmos, jogamos os erros na cara; quando, em vez de termos gestos de cuidado para com os outros, fixamo-nos nas nossas necessidades; quando, em vez de dialogar, isolamo-nos com o tgelemóvel - é triste ver no almoço uma família, cada um com o seu telemóvel, sem se falarem, cada um fala com o telemóvel-; quando nos acusamos mutuamente, repetindo sempre as mesmas frases, encenando uma comédia já vista onde cada um quer ter razão e no final impera um silêncio frio.”

Família, o nosso tesouro

Então, de Francisco, um conselho já dado em tantas outras oportunidades quer aos casais, como à vida em família: nunca ir dormir sem antes ter feito as pazes, caso contrário, no dia seguinte haverá uma “guerra fria”, e esta é perigosa porque dará início a uma história de repreensões, de ressentimentos:

“Quantas vezes, infelizmente, entre as paredes de casa, dos silêncios muito longos e de egoísmos não tratados, nascem e crescem conflitos! Às vezes, chega-se até mesmo a violências físicas e morais. Isto dilacera a harmonia e mata a família. Convertamo-nos do eu ao tu. O que deve ser mais importante na família é o tu. E em cada dia, por favor, rezem um pouco juntos, se puderem façam um esforço, para pedir a Deus o dom da paz em família. E vamos todos comprometermo-nos - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e proteger a família, que é o nosso tesouro!”

Que a Virgem Maria, esposa de José e mãe de Jesus – pediu ao concluir - proteja as nossas famílias.

Vatican News

sábado, 25 de dezembro de 2021

Homilia na Missa do Dia do Natal do Senhor

 

 

O Natal da humildade divina

De quanto ecoa na Liturgia do Santo Natal, retomo a frase que resume tudo o mais: «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós». 
Deus comunica-se inteiramente na humanidade que é a nossa, de modo tão manifesto e concreto como aconteceu em Cristo, do presépio à cruz. Não O procuremos doutro modo, senão neste em que nos procurou a nós. Por isso Cristo pôde responder mais tarde a um discípulo que lhe perguntou por Deus Pai: «Há tanto tempo que estou convosco e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, mostra-nos o Pai? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?» (Jo 14, 9-10).
Por “carne” entende a Bíblia a nossa condição humana, na fragilidade que a carateriza, com as possibilidades e limites que tem. Condição em que Deus se expressa para ser visto, ouvido e entendido por cada um de nós. Deus Pai diz-se em Deus Filho, pelo Amor que os une e nos quer incluir também. 
Abeirar-se do mistério da Trindade divina e da Encarnação do Verbo é tocar no âmago religioso e existencial de Deus e de nós próprios. Religioso porque nos liga a Deus, como Jesus também disse: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim». Existencial e nosso pelo que diz logo a seguir: «Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo» (Jo 14, 6).
Reconheçamos então a Deus como se diz em Jesus Cristo, Verbo de Deus incarnado. Fixemo-nos agora no Menino do Presépio, neste nascimento tão diferente do que seria de esperar. Por mais que a devoção e a arte embelezem a sua representação, trata-se irrecusavelmente de um Menino deitado numa manjedoura. Não houve berço doirado naquele momento em Belém. 

O que na verdade esplende é a verdade de Deus, que se revela em humildade absoluta. O Natal pede-nos conversão ao modo divino de ser e acontecer entre nós. Pede-nos a presteza dos pastores e a demanda dos magos. Ambos prenunciaram aquele “deixaram tudo e seguiram-no” (cf. Lc 5, 11) com que se adere a Cristo, hoje como então. “Tudo” pode referir-se a bens materiais que requerem partilha com quem precisa, ou a outros motivos que nos impedem de O aceitar como unicamente se manifesta. Sigamo-Lo como Ele é e não como o imaginaríamos nós.
Não se trata de voluntarismo, trata-se de nos encontrarmos com Deus tal como Ele se encontra connosco na Palavra viva que nos dá em Cristo, ou seja, em humanidade vivida e convivida.
Não especulemos sobre Deus. Seria perda de tempo e só nos encontraríamos a nós. Oiçamo-lo como Ele se disse e vejamo-lo como Ele se revelou em Cristo, na “carne” de Cristo, tão próxima e sensível que foi. A encarnação do Verbo tanto nos revela os sentimentos de um Deus que se aproxima de nós, como nos demonstra o que havemos de ser, para nos aproximarmos de Deus.
Está connosco onde precisamos de ser acompanhados, na nossa fragilidade, que fez sua. Todas as tradições evangélicas o referem sem sombra de dúvida. Do Natal à Cruz, o Verbo de Deus diz-se na carne que somos. 
Teve sede, quando «cansado da caminhada, se sentou na borda do poço» (Jo 4, 6) e pediu de beber à samaritana. Teve fome, como neste passo, tão preciso e tão corrente: «Saiu da cidade e foi para Betânia, onde pernoitou. Logo de manhã cedo, ao voltar para a cidade, teve fome» (Mt 21, 18). E, como sentiu sede e fome, também reparou na fome dos outros, quando disse: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer» (Mt 15, 32).
Isto quanto às necessidades corporais. Mas igualmente nosso e bem nosso, quanto aos sentimentos genuínos. Assim, quando se alegrava por ser entendido e bem entendido: «Jesus estremeceu de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: “Bendigo-Te, ó Pai, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos”» (Lc 10, 21). Ou, quando se amargurava na tribulação: «… começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: “A minha alma está numa tristeza mortal”» (Mc 14, 34). 
O Verbo de Deus diz-se e encarna no íntimo do que somos, aí mesmo onde precisamos de ser tocados e salvos. Relembremos esta passagem, por demais sugestiva, junto ao túmulo de Lázaro: «Ao vê-la a chorar – a Maria de Betânia – e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. Depois perguntou: “Onde o puseste?”. Responderam-lhe: “Senhor, vem e verás”. Então Jesus começou a chorar. Diziam os judeus: “Vede como era seu amigo!”» (Jo 11, 33-36).
Certamente o Menino chorara ao nascer, como é próprio de quem nasce neste mundo. Depois compartilhou daquele choro de Betânia, junto do túmulo do seu amigo Lázaro. Fixemos o passo evangélico, para compreendermos algo dos sentimentos de Deus agora, diante de tantos sepulcros materiais e anímicos que não faltam por esse mundo além e aquém.
Começa por ser assim, encarnando, para se fazer realmente nosso. É desta companhia absoluta que arranca depois a ressurreição, refazendo-nos como inteiramente seus. O Verbo divino proferido em Cristo impregna de dentro toda a carne do mundo. Toma para si o que nos faz sofrer para nos preencher da vida que só com Deus triunfa. O Natal é o princípio da Páscoa, que nunca aconteceria doutro modo.

Quando daqui a pouco genufletirmos ao dizer «e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem» coincidamos inteiramente com a verdade do Natal de Cristo. Com a consequência espiritual e a repercussão que há de ter na nossa relação com tudo. Não podemos alhear-nos do que Deus tomou para si, isto é, da fragilidade humana que precisa de ser acompanhada e assim mesmo salva. Para que o Natal continue, também através de nós, Corpo de Cristo alargado no mundo.
Peçamos à Virgem Mãe que nos ensine o que Ela mesmo aprendeu e nos ofereceu com o seu pleno assentimento. Peçamos a São José que nos ensine a guardar o mistério da humildade de Deus, como ele tão exemplarmente o fez. Aprendamo-lo e pratiquemo-lo para que a encarnação do Verbo se propague sempre. 

Sé de Lisboa, 25 de dezembro de 2021


+ Manuel, Cardeal-Patriarca

 

Homilia na Missa da Noite do Natal do Senhor

 

  

No grande presépio do mundo  

Esta noite traz-nos a notícia do nascimento de Jesus e de como aconteceu. Relembremos: «Enquanto ali se encontravam – José e Maria em Belém – chegou o dia de ela dar à luz, e teve o seu filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria».
Impressiona o facto de já termos ouvido tantas vezes este trecho e sempre nos trazer algo de novo. É como se ainda não tivéssemos extraído dele tudo quanto oferece, à meditação e à vida de nós todos. E assim é realmente, como acontece aliás com tudo o que a Jesus diz respeito e à nossa vida com Ele.
Por isso estamos aqui e assim estão inumeráveis crentes por esse mundo além, quer se possam reunir em belos templos, quer em recintos mais precários, ou mesmo escondidos de perseguições, que infelizmente não faltam nalgumas latitudes. 
É surpreendente a força agregadora do Natal de Cristo. E exatamente na verdade do que aconteceu, que acaba por se impor e até sobrepor a tudo o que o queira distorcer ou apagar, seja em excesso consumista e decorativo, seja em laicismo desmemoriado e espúrio.
O Natal vence porque nos convence com a verdade de Deus como se apresenta no mundo, na simplicidade do presépio e precisamente como foi, sem distração nem disfarce. É uma lição também, a reaprender sem cessar. Foi assim que os Anjos a apresentaram aos pastores e é assim que a devemos aprender e transmitir. 
«Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Sinal para eles e sinal para nós. Um menino envolto em panos, que já anunciavam os que o envolveriam na sepultura, porque daria a sua vida por nós. E deitado numa manjedoura, cujas tábuas prefiguravam as da cruz. Na verdade, veio preencher as nossas vidas com a sua, do nascimento à morte, por frágeis e custosas que sejam. É sempre o “Emanuel”, que significa Deus connosco e onde mais precisamos de ser acompanhados.
Só assim nos salvaria onde temos de ser salvos – e assim aconteceu plenamente. Conclusões destas são próprias da meditação cristã, como o evangelista já fazia e nós continuamos a fazer, qual «pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro» (Mt 13, 52). 
Como hoje aqui, neste Natal do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2021. Teremos feito algum presépio nas nossas casas, sobretudo com as suas figuras centrais: Jesus, Maria e José. Olhemo-las bem e deixemos que elas nos olhem a nós.


Mais além dos presépios que fazemos com imagens simples ou trabalhadas, podemos e devemos fazê-los com figuras em que Jesus se apresenta ao vivo e no que nos pede agora, em tantos lugares deste mundo.
Partilho alguns deles, que se juntam a tantos outros, casa a casa, situação a situação. Apenas alguns, de especial clareza:
É o caso de um grupo que desde há anos “faz presépio” com pessoas sem - abrigo. Começou quando uma religiosa reparou em muitas delas, num jardim da cidade. Com alguns amigos, começou a servir-lhes refeições. Depois, num autocarro cedido e transformado, manteve um posto de primeiros socorros e atendimento para pessoas nessa situação. Seguiram-se as equipas de voluntários que, noite após noite, levaram e continuam a levar-lhes alimentos, em vários pontos da cidade. Aos que aceitam um caminho de recuperação, oferecem a possibilidade de a fazer nalguns centros que fundaram e conseguem manter com os meios pessoais e materiais que vão obtendo. E assim continuaram, mesmo em tempo de pandemia. Podemos dizer que fazem presépio de verdade e de cada ano um Natal inteiro.
Outro presépio vivo surgiu também há alguns anos, para casos em que as mães não têm possibilidade de cuidar de filhos que nascem com graves dificuldades psicofísicas. Algumas pessoas, com especial sensibilidade e grande determinação, levaram por diante uma resposta solidária e capaz a tais situações. Com os recursos possíveis, que advêm sobretudo do grande coração com que se entregam à causa, já conseguiram acompanhar meio milhar de crianças em tais condições, com os recursos humanos e materiais necessários. Sobretudo com o grande recurso dos seus corações generosos. Fazem verdadeiramente presépio e deixam-nos entrever o mais que acontecerá se iniciativas congéneres aparecerem.
Pude ver outro presépio numa unidade de cuidados paliativos. Foi o caso de um professor de música, de meia-idade, que ali preenchia criativamente o último tempo que sabia restar-lhe. Sendo devidamente acompanhado e assistido, queria terminar uns apontamentos que prometera aos alunos e preparava um último encontro dos seus amigos, a realizar mesmo que não pudesse estar entre eles. Bastava-lhe que eles estivessem por perto. – Que bom será quando a generalização destes cuidados nos transformar em sociedade paliativa, para todos os momentos da vida de cada um e sem obviar os derradeiros! Uma sociedade – presépio, a construir agora.
Mais natalício ainda, outro caso na mesma unidade. Uma jovem mãe ali assistida, consciente de que pouco mais estaria neste mundo, quis batizar a sua bebé. Assim foi, com pleno consentimento do seu marido. Celebração simples, de grande serenidade, envolvimento e ternura: Matrimónio cristão dos pais e batizado da filha, na capela do hospital. Estavam também alguns familiares, além de médicas, enfermeiras e auxiliares. Fez-se verdadeiramente presépio e sentiu-se a paz de Belém.   


Como cristãos, acreditamos que tudo isto é “religioso”, porque nos religa a Deus, presente nos outros e tão frágil como nasceu em Jesus. Neste Natal de todos os dias, ouvimo-Lo nas Escrituras, recebemo-Lo nos Sacramentos, adoramo-Lo diante da Hóstia consagrada e servimo-Lo nos outros, em especial os mais pobres, de todas as pobrezas que sejam. Várias estarão bem perto e algumas até nas nossas casas…
Na verdade, “fazer Natal todos os dias” depende só de nós. Da parte de Deus, o presépio está montado e à nossa espera. - É o nosso lugar, no grande presépio do mundo!


Sé de Lisboa, 25 de dezembro de 2021  

+ Manuel, Cardeal-Patriarca   

 

Papa: a esperança é mais forte que as dificuldades, pois um Menino nasceu para nós

 
  
Diante das tantas crises, tragédias esquecidas e sofrimentos ao redor do mundo, na sua Mensagem de de Natal, Francisco diz que "a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós»". Com o seu exemplo, aprendamos a escutar-nos e a dialogar, e a caminhar com Cristo pelas sendas da paz!
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“O Verbo fez-Se carne para dialogar connosco. Deus não quer construir um monólogo, mas um diálogo. Pois o próprio Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, é diálogo, comunhão eterna e infinita de amor e de vida.”

Diálogo é a palavra a partir da qual o Pontífice desenvolve a sua Mensagem de Natal dirigida à cidade e ao mundo, pronunciada da sacada central da Basílica de São Pedro num 25 de dezembro chuvoso, o que não impediu a presença de milhares de peregrinos e turistas de várias partes do mundo na Praça de S. Pedro, na observância das novas medidas, mais restritivas, para conter a propagação da Covid-19.  

Depois da Mensagem de Natal o Papa rezou o Angelus, seguido pelo anúncio da concessão da Indulgência Plenária pelo cardeal protodiácono Renato Raffaele Martino, que então passou novamente a palavra ao Santo Padre para a Bênção, extensiva também a todos os que acompanhavam pelos meios de comunicação.

O sinal da transmissão estava disponível em seis satélites e a Mensagem com a Bênção Urbi et Orbi foi transmitida na Mundovisão por cerca de 170 redes de televisão. A média vaticana também ofereceu serviço de tradução na língua dos sinais (LIS). Já o Vatican News ofereceu transmissões em sete línguas: português, espanhol, italiano, inglês, francês, alemão e árabe.  

Diálogo, única solução para conflitos

“Quando veio ao mundo, na pessoa do Verbo encarnado, Deus mostrou-nos o caminho do encontro e do diálogo” e “como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades?”, pergunta o Papa, observando que a pandemia deixou isto muito claro ao afetar as relações sociais, aumentar “a tendência para nos fecharmos, arranjar-mo-nos sozinhos, renunciar a sair, a encontrar-mo-nos, a fazer as coisas juntos”. E a nível internacional, a complexidade da crise pode “induzir a optar por atalhos”, mas só o diálogo conduz “à solução dos conflitos e a benefícios partilhados e duradouros”.

As tragédias esquecidas

E ao lançar o seu olhar para o panorama internacional, Francisco observou que contemporaneamente ao “anúncio do nascimento do Salvador, fonte da verdadeira paz, “vemos ainda tantos conflitos, crises e contradições. Parecem não ter fim, e já quase não os notamos”.

“De tal maneira nos habituamos, que há tragédias imensas das quais já nem se fala; corremos o risco de não ouvir o grito de dor e desespero de tantos irmãos e irmãs nossos.”

Médio Oriente e Afeganistão

E dentre as tragédias esquecidas por todos, o sofrimento das populações da Síria, Iraque, Iémen, em particular das crianças. Mas também o conflito entre israelitas e palestinianos, “com consequências sociais e políticas cada vez mais graves”.

Belém, “lugar onde Jesus viu a luz”, vive tempos difíceis “pelas dificuldades económicas devido à pandemia que impede os peregrinos de chegarem à Terra Santa, com consequências negativas na vida da população”. Crise sem precedentes que atinge também o Líbano. Mas no coração da noite, surgiu um sinal de esperança. E neste dia de festa pedimos ao Menino Jesus, “a força de nos abrirmos ao diálogo”, implorando a Ele “que suscite, no coração de todos, anseios de reconciliação e fraternidade.

“Menino Jesus, dai paz e concórdia ao Médio Oriente e ao mundo inteiro. Amparai a quantos se encontram empenhados em prestar assistência humanitária às populações forçadas a fugir da sua pátria; confortai o povo afegão que, há mais de quarenta anos, está submetido a dura prova por conflitos que impeliram muitos a deixar o país.”

Myanmar e Ucrânia

Ao Rei dos Povos, o Papa pede que ajude as autoridades políticas para pacificar “nas sociedades abaladas por tensões e contrastes”, em particular Myanmar, “onde intolerância e violência se abatem, não raro, também sobre a comunidade cristã e os locais de culto, e turbam o rosto pacífico daquela população.” Mas também “luz e amparo” para quem acredita e trabalha em prol do encontro e do diálogo na Ucrânia e não permitir que "metástases dum conflito gangrenado" se espalhem pelo país.

África

O Santo Padre volta então o seu olhar para os países africanos atribulados por conflitos, divisões, desemprego, desigualdades económicas, pedindo ao Príncipe da Paz pela Etiópia para que descubra o caminho da paz e da reconciliação e para que ouça o clamor “das populações da região do Sahel, que sofrem a violência do terrorismo internacional”, bem como pelas vítimas dos conflitos internos no Sudão e Sudão do Sul.

América

Para as populações do continente americano Francisco pede que “prevaleçam os valores da solidariedade, reconciliação e convivência pacífica, através do diálogo, do respeito mútuo e do reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os seres humanos.”

 

Vítimas de violência, abusos, abandono

O Papa também pede ao Filho de Deus conforto para as mulheres vítimas de violência, esperança para as crianças e adolescentes vítimas de bullying e abusos, consolação e carinho aos idosos, sobretudo os mais abandonados e serenidade e unidade às famílias, “lugar primário da educação e base do tecido social.”

Na saúde, generosidade dos corações

Para os doentes o Papa pede saúde, bem como inspiração às pessoas de boa vontade para que encontrem “as soluções mais adequadas para superar a crise sanitária e as suas consequências”:

“Tornai generosos os corações, para fazerem chegar os tratamentos necessários, especialmente as vacinas, às populações mais necessitadas. Recompensai todos aqueles que mostram solicitude e dedicação no cuidado dos familiares, dos doentes e dos mais fragilizados.”

Não renegar a humanidade que nos une

Mas não só: o olhar de Francisco também abarca civis e militares prisioneiros de guerras, migrantes, deslocados e refugiados, cujos olhos “nos pedem para não voltarmos o rosto para o outro lado, para não renegarmos a humanidade que nos une, para assumirmos as suas histórias e não nos esquecermos dos seus dramas.”

O ambiente que deixaremos para gerações futuras

E para que as gerações futuras possam viver num ambiente de respeito pela vida, o Papa exorta as autoridades políticas a encontrarem acordos eficazes e assim sermos mais solícitos pela nossa Casa Comum, “também ela enferma pelo descuido com que frequentemente a tratamos”.

Caminhar pelas sendas da paz

“Queridos irmãos e irmãs, muitas são as dificuldades do nosso tempo, mas a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós». Ele é a Palavra de Deus que Se fez “in-fante”, capaz apenas de chorar e necessitado de tudo. Quis aprender a falar, como qualquer criança, para que nós aprendêssemos a escutar Deus, nosso Pai, a escutar-mo-nos uns aos outros e a dialogar como irmãos e irmãs. Ó Cristo, nascido para nós, ensinai-nos a caminhar convosco pelas sendas da paz. Feliz Natal para todos!”

Vatican News

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa

 

A Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa foi transmitida, no dia 24 de dezembro, pelas 21h00, na RTP1 e Rensascença.

 

Patriarcado de Lisboa

Papa: neste Natal, pedir a Jesus a graça da pequenez

 
 O Papa Francisco na Missa da noite de Natal - 24.12.2021 - Vatican News 
 
Pequenez foi a palavra que o Papa Francisco escolheu para marcar o Natal de 2021. Enquanto vamos atrás de poder, sucesso, visibilidade e força, Jesus vem ao mundo para indicar o caminho contrário, feito de humildade, ternura e serviço. Na sua homilia, o Pontífice fez também um forte apelo em prol dos trabalhadores.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Pedir a Jesus a graça da pequenez: este foi o convite que o Papa Francisco dirigiu aos fiéis do mundo inteiro ao presidir na Basílica Vaticana à tradicional Missa do Galo.

Na sua homilia, o Pontífice ressaltou os contrastes contidos na narração do nascimento de Cristo: grandeza e pequenez, riqueza e pobreza, nobreza e exclusão são aspetos presentes no Evangelho de Lucas.

Jesus nasce para servir

O episódio começa com o imperador César Augusto na sua grandeza, que ordena o recenseamento de toda a terra. De lá, leva-nos a Belém, onde, de grande, não há nada: apenas um menino pobre envolto em panos, rodeado por pastores. Ali está Deus, na pequenez.

“Eis a mensagem: Deus não cavalga a grandeza, mas desce na pequenez. A pequenez é a estrada que escolheu para chegar até nós.”

Fixemo-nos no centro do presépio, convidou o Papa: vamos deixar para trás luzes e decorações e vamos contemplar o Menino para nos questionar se somos capazes de acolhê-lo.

“É o desafio de Natal: Deus revela-Se, mas os homens não O compreendem. Faz-Se pequeno aos olhos do mundo… e nós continuamos a procurar a grandeza segundo o mundo, talvez até em nome Dele. Deus abaixa-Se… e nós queremos subir para o pedestal. O Altíssimo indica a humildade… e nós pretendemos sobressair. Deus vai à procura dos pastores, dos invisíveis… nós  procuramos visibilidade. Jesus nasce para servir… e nós passamos os anos atrás do sucesso. Deus não procura força nem poder; pede ternura e pequenez interior.”

A graça da pequenez

Eis o que devemos pedir a Jesus no Natal, prosseguiu Francisco: a graça da pequenez.

Pequenez significa acreditar que Deus quer vir às pequenas coisas da nossa vida, quer habitar nas realidades quotidianas, nos gestos simples que realizamos em casa, na família, na escola, no trabalho.

Pequenez significa também aceitar a nossa fraqueza e erros e entregarmo-nos a Ele, na certeza de que Deus ama-nos como somos, nas nossas fragilidades.  

Acolher a pequenez significa ainda abraçar Jesus nos pequenos de hoje. Ou seja, amá-Lo nos últimos e servi-Lo nos pobres. São eles os mais parecidos com Jesus. E é nos pobres que Ele quer ser honrado.

Chega de mortes no trabalho!

Jesus nasceu pobre rodeado de pobres, isto é, dos pastores, os “esquecidos da periferia. Estavam lá para trabalhar, porque a sua vida não tinha horário, dependia do rebanho.

“Nesta noite, Deus vem encher de dignidade a dureza do trabalho. Recorda-nos como é importante dar dignidade ao homem com o trabalho, mas também dar dignidade ao trabalho do homem, porque o homem é senhor e não escravo do trabalho. No dia da Vida, repitamos: chega de mortes no trabalho! Empenhemo-nos para que cessem.”

Em Jesus, tudo se harmoniza

Mas se no presépio há os pastores, há também os Magos, “os eruditos e os ricos”.

Tudo se harmoniza quando, no centro, está Jesus, disse o Papa, convidando a voltar para Belém para reencontrar a essencialidade da fé.

“Olhemos os Magos que vêm em peregrinação e, como Igreja sinodal, a caminho, vamos a Belém, onde está Deus no homem e o homem em Deus; onde o Senhor ocupa o primeiro lugar e é adorado; onde os últimos ocupam o lugar mais próximo Dele; onde pastores e Magos estão juntos numa fraternidade mais forte do que qualquer distinção. Que Deus nos conceda ser uma Igreja adoradora, pobre e fraterna. Isto é o essencial.”

Ponhamo-nos a caminho e voltemos a Belém, porque a vida é uma peregrinação, concluiu Francisco. Nesta noite, acendeu-se uma luz, suave, que nos lembra a nossa pequenez. É a luz de Jesus que ninguém jamais apagará.

Vatican News

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O Papa: quebrar o espelho da vaidade e encontrar Deus na humildade

 
 
"Só a humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, porque nos conduz a Ele, nos leva também ao essencial da vida, ao seu verdadeiro significado, à razão mais fiável pela qual vale a pena viver a vida. Só a humildade nos abre à experiência da verdade, da alegria genuína, do conhecimento que conta", disse Francisco na Audiência Geral. 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"O nascimento de Jesus" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (22/12). Faltando poucos dias para o Natal, o Santo Padre recordou este "acontecimento do qual a história não pode prescindir".

"José e Maria desceram de Nazaré para Belém. Assim que chegaram, procuraram imediatamente uma hospedaria, porque o parto era iminente; mas infelizmente não a encontraram, e assim Maria foi obrigada a dar à luz numa manjedoura", disse Francisco. "Um anjo anunciou o nascimento de Jesus a simples pastores e foi uma estrela que mostrou aos Magos o caminho para Belém. O anjo é um mensageiro de Deus. A estrela nrecorda-nos que Deus criou a luz e que aquele Menino será “a luz do mundo”. Os pastores personificam os pobres de Israel, pessoas humildes que interiormente vivem com a consciência da sua própria falta. Eles foram os primeiros a ver o Filho de Deus feito homem, e este encontro muda-os profundamente", frisou ainda o Papa.

Francisco recordou que "os Magos estão também à volta do Menino Jesus. Eles "representam os povos pagãos, em particular todos aqueles que ao longo dos séculos procuraram Deus e se propuseram encontrá-lo. Representam também os ricos e os poderosos, mas apenas aqueles que não são escravos da posse, que não estão “possuídos” pelas coisas que pensam possuir".

A humildade abre-nos à experiência da verdade

A seguir, o Papa sublinhou que "a mensagem dos Evangelhos é clara: o nascimento de Jesus é um acontecimento universal que diz respeito a todos os homens".

Amados irmãos e amadas irmãs, só a humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, porque nos conduz a Ele, leva-nos também ao essencial da vida, ao seu verdadeiro significado, à razão mais fiável pela qual vale a pena viver a vida. Só a humildade nos abre à experiência da verdade, da alegria genuína, do conhecimento que conta. Sem humildade, estamos “desligados” da compreensão de Deus e de nós mesmos. Os Magos podiam ter sido grandes de acordo com a lógica do mundo, mas tornam-se pequenos, humildes, e por esta mesma razão conseguem encontrar Jesus e reconhecê-lo. Aceitam a humildade de procurar, de partir, de perguntar, de arriscar, de cometer erros.

Pedir a Deus a graça da humildade 

Francisco convidou todos os homens e mulheres a irem à gruta de Belém para adorar o Filho de Deus feito homem. "Cada um de nós aproxime-se do presépio montado na sua casa, na Igreja ou onde quer que esteja, e faça uma adoração interior: "Eu acredito que és Deus, que este menino é Deus. Por favor, dê-me a graça da humildade para poder compreender".

Segundo o Pontífice, quando nos aproximarmos do presépio para rezar devemos colocar os pobres e pedir a graça da humildade: "Senhor, que eu não me orgulhe, que eu não seja autossuficiente, que eu não acredite que eu sou o centro do universo. Faça-me humilde. Dê-me a graça da humildade. Sem humildade nunca encontraremos Deus: encontraremos a nós mesmos. Porque a pessoa que não tem humildade não tem horizontes diante de si, tem apenas um espelho: olha para si mesma. "

Quebrar o espelho da vaidade, da soberbia

Depois, o Papa recordou "todos aqueles que não têm uma inquietação religiosa, que não se colocam no problema de Deus, ou até lutam contra a religião, todos aqueles que são inadequadamente denominados ateus" e repetiu-lhes a mensagem do Concílio Vaticano II: «A Igreja defende que o reconhecimento de Deus de modo algum se opõe à dignidade do homem, uma vez que esta dignidade se funda e se realiza no próprio Deus [...] a Igreja sabe perfeitamente que a sua mensagem está de acordo com os desejos mais profundos do coração humano».

Por fim, o Francisco desejou a todos "um Feliz Natal, um Feliz e Santo Natal", e exortou a tomar consciência de que Deus vem para cada um de nós.

A consciência de que para procurar Deus, para encontrar Deus, para aceitar Deus, é preciso ser-se humildade: olhar com humildade a graça de quebrar o espelho da vaidade, da soberba, de olhar para nós mesmos. Olhar para Jesus, olhar para o horizonte, olhar para Deus que vem até nós e toca no coração com aquela inquietação que nos leva à esperança. Feliz e santo Natal!

Vatican News

domingo, 19 de dezembro de 2021

O Papa: levar a alegria de Jesus é o primeiro ato de caridade que podemos fazer ao próximo

 
  O Papa Francisco no Angelus deste domingo  (Vatican Media)  
 
"Aprendamos de Nossa Senhora esta maneira de reagir: levantarmo-nos, especialmente quando as dificuldades nos ameaça esmagar. Levantarmo-nos, para não ficar atolados nos problemas, afundando-nos a autopiedade e caindo numa tristeza que nos paralisa. Olhemos em redor e procuremos alguém a quem possamos ajudar! Conheço algum idoso a quem possa fazer um pouco de companhia, um serviço, uma gentileza, um telefonema? Cada um pense nisto, disse Francisco.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (19/12), com os fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Santo Padre recordou que o Evangelho deste domingo, IV Domingo do Advento, narra a visita de Maria a Isabel. Segundo Francisco, ao receber "o anúncio do anjo, a Virgem não fica em casa, pensando no que aconteceu e considerando os problemas e imprevistos, que certamente não faltaram, porque a coitada não sabia o que fazer com aquela notícia, com a cultura daquela época. Pelo contrário, a primeira coisa que ela pensa é nos necessitados". "Em vez de ficar curvada sobre os seus problemas", sublinhou o Papa, Maria "pensou em Isabel sua parente em idade avançada e grávida, uma coisa estranha, milagrosa. Maria parte com generosidade, sem se deixar amedrontar pelo desconforto do trajeto, respondendo a um impulso interior que a chama a estar perto e ajudar. Uma longa estrada, quilómetros e quilómetros. Não havia autocarro naquela época. Ela foi a pé. Ela saiu para ajudar. Como? Partilhando a alegria".

Maria doa a Isabel a alegria de Jesus, a alegria que ela carregava no seu coração e no ventre. Vai até ela e proclama os seus sentimentos, e esta proclamação dos sentimentos passou depois a ser como uma oração, o Magnificat que todos nós conhecemos. O texto diz que Nossa Senhora "slevantou-se e foi à pressa. Ela levantou-se e foi.

Na última etapa do caminho do Advento, Francisco convidou-nos a deixarmo-nos guiar por estes dois verbos: "Levantar-mo-nos e caminhar à pressa. Estes são os dois movimentos que Maria fez e que nos convida a fazer com vista ao Natal. Primeiramente, levantarmo-nos. Depois do anúncio do anjo, aproxima-se um período difícil para a Virgem: a gravidez inesperada a expôs a incompreensões, a punições severas, até mesmo à lapidação, na cultura daquele tempo. Imaginemos quantos pensamentos e perturbações ela teve! No entanto, ela não desanimou, não se abateu, mas levantou-se. Não olhou para baixo para os seus problemas, mas para o alto, para Deus".

"Não pensou em quem pedir ajuda, mas a quem levar ajuda. Pensando sempre nos outros: Maria é assim. Pensa nas necessidades dos outros. Ela fará o mesmo nas Bodas de Caná, quando vê que falta o vinho. É um problema dos outros, mas ela pensa nisso e procura encontrar uma solução. Maria pensa sempre nos outros, pensa em nós", disse ainda o Papa, acrescentando:

Aprendamos de Nossa Senhora esta maneira de reagir: levantarmo-nos, especialmente quando as dificuldades ameaçam esmagar-nos. Levantarmo-nos, para não ficarmos atolados nos problemas, afundando na autopiedade e caindo numa tristeza que nos paralisa. Olhando para dentro e ficando na tristeza. Mas, porque levantarmo-nos Porque Deus é grande e está pronto para nos reerguer, se nós estendermos a mão a Ele. Portanto, deixemos a Ele os pensamentos negativos, os medos que bloqueiam cada impulso e nos impedem de seguir em frente. E depois façamos como Maria: olhemos ao nosso redor e procuremos alguém a quem possamos ajudar! Conheço algum idoso a quem possa fazer um pouco de companhia, um serviço, uma gentileza, um telefonema? Cada um pense nisto. A quem posso ajudar? Eu levanto-me e ajudo. Ajudando os outros, ajudaremos a nós mesmos a nlevantarmo-nos das dificuldades.

A seguir, o Papa citou o segundo movimento de Maria: caminhar à pressa.

Isto não significa proceder com agitação, de forma ofegante, não quer dizer isso. Trata-se de conduzir os nossos dias com um passo alegre, olhando em frente com confiança, sem nos arrastarmos com má vontade, escravos das reclamações, aquelas reclamações que arruínam muitas vidas, porque a pessoa coloca aquilo dentro e reclama, reclama. As reclamações levam sempre a procurar alguém a quem culpar.

"A caminho da casa de Isabel, Maria prossegue com o passo rápido de alguém cujo coração e vida estão cheios de Deus, cheios da sua alegria. Então interroguemo-nos: como está o meu "passo"? Sou ativo ou fico na melancolia, na tristeza? Sigo em frente com esperança ou paro para sentir pena de mim mesmo? Se continuamos com o passo cansado de resmungo e mexeriqueiro, não levaremos Deus a ninguém. Levaremos somente amargura e coisas obscuras. Em vez disto, é tão bom cultivar um humor saudável, como fez, por exemplo, S. Tomás Moro ou S. Filipe Neri. Peçamos esta graça, a graça do humor saudável. Faz muito bem", disse o Papa, convidando a não nos esquecermos "que o primeiro ato de caridade que podemos fazer ao nosso próximo é oferecer-lhe um rosto sereno e sorridente. É levar-lhe a alegria de Jesus, como Maria fez com Isabel".

"Que a Mãe de Deus nos pegue pela mão, nos ajude a levantarmo-nos e a caminhar à pressa para o Natal", concluiu o Papa, concedendo a todos a sua bênção apostólica.

Vatican News

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

ACOMPANHAR MARIA NO NOVO TESTAMENTO

   

   
 
 

Para entrar em cada reunião Zoom:

https://zoom.us/j/6429275371?pwd=aW01STBSMjNLaXNmN21HRW1zNXNudz09

ID da reunião: 642 927 5371
Senha de acesso: 1234

 

 

14 DE OUTUBRO – Partilha de Expectativas. Apresentação do Programa. Introdução ao Estudo do Novo Testamento.

 

21 DE OUTUBRO O Mundo Judaico no Tempo de Jesus e de Maria.

 

28 DE OUTUBRO A Vida na Igreja nascente: a expansão do Cristianismo pelo mundo; o Concílio de Jerusalém; a hostilidade do mundo em geral (comunidade judaica e sociedade romana; a defesa da verdade).

 

4 DE NOVEMBRO Os Escritos Paulinos (os escritos neotestamentários mais antigos). “Nascido de uma mulher” (Primeiros Passos sobre Maria).

 

11 DE NOVEMBRO Os Evangelhos. A Questão Sinótica. O Evangelho segundo São Marcos (o autor, o destinatário, o texto).

 

25 DE NOVEMBRO O Evangelho segundo São Marcos (o primeiro Evangelho redigido e as suas afirmações acerca de Maria).

 

2 DE DEZEMBRO O Evangelho segundo São Mateus (a autoria, o destinatário, o texto); 

 

9 DE DEZEMBRO – O Evangelho segundo São Mateus (Maria e a novidade de um Evangelho de Infância; edificação do Reino por palavras e obras; a Paixão e os relatos pascais; envio dos discípulos);

 

16 DE DEZEMBRO – A Obra Lucana (a autoria, o destinatário, o texto; o Evangelho de Infância e o papel proeminente de Maria);

 

27 DE JANEIROO Apocalipse - a resposta a um contexto histórico; a simbologia; as Cartas às Sete Igrejas; as Visões Proféticas (Maria e a mulher do Apocalipse; o Epílogo). 

 

3 DE FEVEREIRO – Alguns aspetos históricos e dogmáticos sobre a presença de Maria na Igreja. Balanço final.


Francisco: aprender com S. José a cultivar espaços de silêncio

 
  
 
Segundo o Papa, "devemos aprender de José a cultivar o silêncio: aquele espaço de interioridade nos nossos dias, nos quais damos ao Espírito a oportunidade de nos regenerar, de nos consolar, de nos corrigir". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre S. José na Audiência Geral desta quarta-feira (15/12).

Depois de ilustrar o ambiente em que ele viveu, o seu papel na história da salvação e o seu ser justo e esposo de Maria, o Papa examinou outro aspeto importante da pessoa de José: o silêncio. "Deus manifestou-se no momento de maior silêncio. É importante pensar no silêncio nesta época em que parece não ter muito valor", sublinhou Francisco.

"Os Evangelhos não registam palavras de José de Nazaré. Isto não significa que ele fosse taciturno, não, há uma razão mais profunda. Com este silêncio, José confirma o que Santo Agostinho escreveu: «Na medida em que cresce em nós a Palavra, o Verbo que se fez homem, diminuem as palavras». José com o seu silêncio convida-nos a deixar espaço à Presença da Palavra feita carne, ou seja, a Jesus", disse ainda o Papa.

O silêncio de José é cheio de escuta

Francisco sublinhou que "o silêncio de José não é mutismo; é um silêncio cheio de escuta, um silêncio laborioso, um silêncio que faz emergir a sua grande interioridade. Jesus cresceu nesta “escola”, na casa de Nazaré, com o exemplo diário de Maria e José".

Como seria bom se cada um de nós, seguindo o exemplo de S. José, conseguisse recuperar esta dimensão contemplativa da vida aberta pelo silêncio. Mas todos sabemos por experiência que não é fácil: o silêncio, assusta-nos um pouco porque nos pede para entrarmos em nós mesmos e encontrarmos a parte mais verdadeira de nós. Tanta gente que tem medo do silêncio e precisa de falar, falar ou ouvir rádio, ver televisão, mas não pode aceitar o silêncio porque tem medo. O filósofo Pascal observou que «toda a infelicidade dos homens provém de uma só coisa: não saber ficar tranquilo num quarto». 

Sem a prática do silêncio o nosso falar adoece

O Papa convidou-nos a aprendermos "de S. José, cultivar espaços de silêncio, nos quais possa,os surgir outra Palavra: a do Espírito Santo que habita em nós. Não é fácil reconhecer esta Voz, que muitas vezes confunde-se com as milhares de vozes de preocupações, tentações, desejos e esperanças que nos habitam; mas sem este treino que provém da prática do silêncio, até a nossa fala pode adoecer".

Sem a prática do silêncio o nosso falar adoece. Ele, em vez de fazer resplandecer a verdade, pode-se tornar uma arma perigosa. De facto, as nossas palavras podem tornarem-se adulação, soberba, mentira, maledicência, calúnia. É um dado da experiência que, como nos lembra o Eclesiástico, «a língua mata mais do que a espada». Jesus disse-o claramente: quem fala mal do irmão ou da irmã, quem calunia o próximo, é homicida.  Mata com a língua. Nós não acreditamos nisto, mas é verdade. Pensemos um pouco nas vezes em que matamos com a língua, sentiríamos vergonha!

A profundidade do coração cresce com o silêncio

Segundo o Papa, "devemos aprender de José a cultivar o silêncio: aquele espaço de interioridade nos nossos dias. nos quais damos ao Espírito a oportunidade de nos regenerar, de nos consolar, de nos corrigir".

Não estou a dizer para cair no mutismo, não. Silêncio. Cada um de nós olhe para dentro, muitas vezes estamos a fazer uma coisa e quando terminamos procuramos imediatamente o telemóvel para fazer outra. Estamos sempre assim. E isto não ajuda, isto faz-nos escorregar para a superficialidade. A profundidade do coração cresce com o silêncio, silêncio que não é mutismo como eu disse, mas que deixa espaço para a sabedoria, a reflexão e o Espírito Santo. Não tenhamos medo dos momentos de silêncio, não tenhamos medo! Isto far-nos-á muito bem.

Segundo o Papa, "o benefício para os nossos corações curará também a nossa língua, as nossas palavras e, sobretudo, as nossas escolhas. Com efeito, José uniu ao silêncio à ação. Ele não falou, mas fez, e assim mostrou-nos o que Jesus disse uma vez aos seus discípulos: «Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos Céus»". "Silêncio. Palavras fecundas quando falamos. Silêncio, falar direito, morder um pouco a língua, o que às vezes é bom, em vez de dizer bobagem", concluiu o Papa.

Vatican News

domingo, 12 de dezembro de 2021

Advento, tempo de concretizar a fé no serviço aos outros, diz o Papa no Angelus

  Papa Francisco na janela do apartamento pontifício para o Angelus acena para os fiéis na Praça São Pedro  (Vatican Media)  
 
"A cada um é dirigida uma palavra específica, que diz respeito à situação real da sua vida. Isto eoferece-nos um ensinamento precioso: a fé encarna-se na vida concreta. Não é uma teoria abstrata e generalizada, ela toca a carne e transforma a vida de todos", disse o Papa Francisco no Angelus deste III Domingo do Advento, tempo de preparação com alegria para o Senhor que vem.
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“O que é bom fazer por mim e pelos irmãos? Como posso contribuir para o bem da Igreja, da sociedade? O Tempo do Advento é para isso: parar e questionarmo-nos como nos preparar para o Natal.”

Ao ouvir a pregação de João, “multidões, publicanos e soldados” fazem a pergunta: “Que devemos fazer?”

E é justamente a partir deste questionamento que o Papa Francisco desenvolve a sua reflexão, com indicações precisas sobre como nos prepararmos para o Natal, também cumprindo a missão que a vida – que é um dom de Deus – tem para nós.

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça de S. Pedro, num belo domingo de sol e céu azul, com a temperatura por volta dos 10 graus, Francisco começa por explicar, que a pergunta “que devemos fazer?” brota de “um coração tocado pelo Senhor”, “entusiasmado pela sua vinda”.

E para melhor inserir quem o escuta na compreensão deste contexto de espera pela vinda do Senhor, Francisco propõe um exemplo bastante prático: a forma como nos preparamos para receber uma pessoa muito querida:

Para recebê-la como deve ser, vamos limpar a casa, preparar o melhor almoço possível, quem sabe um presente. Enfim, vamos-nos preparar. Assim é com o Senhor, a alegria pela sua vinda faz-nos dizer: que devemos fazer?

A cada um é dada uma missão

Mas Deus – acrescenta o Papa – “eleva este questionamento ao nível mais alto: o que fazer da minha vida? Para que sou chamado? O que me realiza?”.

E ao propor-nos a pergunta inicial, o Evangelho recorda-nos que “a vida tem uma missão para nós”:

A vida não é sem sentido, não é deixada ao acaso. Não! É um dom que o Senhor nos dá, dizendo-nos: descubre quem és, e trabalha para realizar o sonho que é a tua vida!

“Cada um de nós - não o esqueçamos - é uma missão a ser realizada.”

O que posso fazer por Jesus e pelos outros

Assim, não devemos ter medo de perguntar ao Senhor, e também aos irmãos - como sugerido nos Atos dos Apóstolos - e repetir com frequência: “que devo fazer?”:

O que é bom fazer por mim e pelos irmãos? Como posso contribuir com isto? Como posso contribuir para o bem da Igreja, o bem da sociedade? O Tempo do Advento é para isso: parar e questionar-me como preparar-mt para o Natal. Estamos ocupados com tantos preparativos, com os presentes e coisas que passam, mas perguntemo-nos o que fazer por Jesus e pelos outros!

Uma fé concreta, que toque a carne a transforme a vida

Da pergunta inicial, o Papa parte então para as respostas de João Batista, que variam segundo o grupo a que responde. Da mesma forma, a cada um de nós, “é dirigida uma palavra específica, que diz respeito à situação real de sua vida”:

“Isto nos oferece-nos um ensinamento precioso: a fé encarna-se na vida concreta. A fé não é uma teoria abstrata, uma teoria generalizada, não! A fé toca a carne e transforma a vida de cada um. Pensemos na concretude de nossa fé. Eu, a minha fé: é algo abstrato ou concreto? Levo-a em frente no serviço aos outros?”

Assumir um compromisso dentro da minha realidade

Ao concluir, o Santo Padre propõe algumas perguntas que poderíamos fazer a nós mesmos, sobre “o que posso fazer concretamente nestes dias em que estamos próximos do Natal? Como posso fazer a minha parte?” – pedindo que “assumamos um compromisso concreto, ainda que pequeno, que se adapte à nossa realidade de vida, e procuremos concretizá-lo para nos prepararmos para este Natal”:

“Por exemplo: eu posso ligar para aquela pessoa sozinha, visitar aquele idoso ou aquele doente, fazer alguma coisa para servir um pobre, alguém necessitado. Ou ainda: talvez eu tenha que pedir um perdão, ou dar em perdão, uma situação a esclarecer, uma dívida a pagar. Talvez eu tenha negligenciado a oração e depois de muito tempo é hora de me aproximar ao perdão do Senhor. Encontremos alguma coisa concreta e vamos realizá-la!”

"Que nos ajude Nossa Senhora – disse o Papa no final - em cujo ventre Deus se fez carne."

Vaticam News