quarta-feira, 28 de setembro de 2022

O Papa: ter intimidade com Jesus. Falar com Ele como a um amigo

 
 O Papa Francisco durante a Audiência Geral desta quartas feira (Vatican Media) 
 
Continuando as suas catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral, o Papa Francisco disse que "a oração é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo dirigir-nos a Deus com simplicidade e familiaridade, como se fala com um amigo. A oração verdadeira é familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar uma oração como um papagaio, blá blá, não. A verdadeira oração é essa espontaneidade e afeto ao Senhor". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"Os elementos do discernimento. A familiaridade com o Senhor" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (28/09), realizada na Praça de São Pedro. Prosseguindo as catequeses sobre o discernimento, o Santo Padre deteve-se no primeiro dos seus elementos constitutivos: a oração.

Familiaridade e confidência com Deus

A oração é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo dirigir-nos a Deus com simplicidade e familiaridade, como quando se fala com um amigo. É saber ir além dos pensamentos, entrar em intimidade com o Senhor, com uma espontaneidade afetuosa. O segredo da vida dos santos é a familiaridade e a confiança em Deus, que cresce neles e torna cada vez mais fácil reconhecer o que lhe agrada. A oração verdadeira é familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar uma oração como um papagaio, blá blá, não. A verdadeira oração é essa espontaneidade e afeto ao Senhor. Esta familiaridade supera o medo ou a dúvida de que a sua vontade não é para o nosso bem, uma tentação que às vezes atravessa os nossos pensamentos, tornando o coração inquieto e incerto ou amargo também.

O Papa disse ainda que "o sinal de um encontro com o Senhor é a alegria". Quando eu faço uma oração, [...] encontro o Senhor e torno-me alegre. Cada um de nós torn-se alegre, uma coisa linda. Por outro lado, a tristeza ou o medo são sinais de distância de Deus: «Se quiseres entrar na vida, observa os mandamentos», diz Jesus ao jovem rico.

Esse jovem "tinha tomado a iniciativa de se encontrar com Jesus, mas vivia também muito dividido nos afetos; para ele as riquezas eram demasiado importantes. Jesus não o obriga a decidir, mas o texto observa que o jovem afasta-se de Jesus «triste». Quem se afasta do Senhor nunca se sente satisfeito, mesmo que tenha à sua disposição uma grande abundância de bens e possibilidades".

Discernir não é fácil

"Discernir não é fácil, porque as aparências enganam, mas a familiaridade com Deus pode dissipar delicadamente dúvidas e medos, tornando a nossa vida cada vez mais recetiva à sua «luz suave», de acordo com a bonita expressão do Beato John Henry Newman", sublinhou Francisco.

O Papa frisou que "os santos brilham com luz refletida, mostrando nos gestos simples do seu dia a presença amorosa de Deus, que torna possível o impossível. Diz-se que dois cônjuges que viveram juntos durante muito tempo, amando-se, acabam por se assemelharem um ao outro".

Algo análogo pode-se dizer da oração afetiva: de modo gradual, mas eficaz, torna-nos cada vez mais capazes de reconhecer o que conta por conaturalidade, como algo que brota das profundezas do nosso ser. Estar em oração não significa dizer palavras, palavras, não: estar em oração, abrir o coração a Jesus, aproximar-me de Jesus, deixar que Jesus entre no meu coração e me faça sentir a sua presença. E ali podemos discernir quando é Jesus e quando estamos com os nossos pensamentos, muitas vezes longe do que Jesus quer.

Rezar a oração do "oi"

Francisco convidou a pedir a graça de "viver uma relação de amizade com o Senhor, como um amigo fala com um amigo", e contou um caso sobre "um irmão religioso idoso que era porteiro de um colégio e sempre que podia aproximava-se da capela, olhava para o altar e dizia: 'Oi', porque tinha proximidade a Jesus. 'Oi, estou perto de Ti e Tu está perto de mim'." Segundo o Papa, "esta é a relação que devemos ter na oração: proximidade, proximidade afetiva, como irmãos, proximidade a Jesus. Um sorriso, um gesto simples e não dizer palavras que não chegam ao coração. Falar com Jesus como um amigo fala com outro amigo".

É uma graça que devemos pedir uns para os outros: ver Jesus como o nosso maior e fiel Amigo, que não chantageia, sobretudo que nunca nos abandona, nem sequer quando nos afastamos d'Ele. Ele permanece na porta do coração. Ele permanece em silêncio, permanece ao alcance do coração porque Ele é sempre fiel. Vamos em frente com esta oração. Digamos a oração do "oi", a oração para cumprimentar o Senhor com o coração, a oração de afeto, a oração de proximidade, com poucas palavras, mas com gestos e com boas obras.

Vatican News

domingo, 25 de setembro de 2022

Mianmar, Ucrânia e Camarões nas orações do Papa

 
 
Desde o início da guerra, Francisco fala com frequência sobre a martirizada população ucraniana. Neste domingo, acrescentou dois apelos por Mianmar e Camarões.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

No final da missa celebrada em Matera, por ocasião do encerramento do Congresso Eucarístico nacional, o Papa rezou o Angelus com os fiéis presentes no estádio municipal da cidade. Antes da oração mariana, agradeceu pelo acolhimento recebido e a todos que organizaram e participaram do evento.

À Virgem Maria, Mulher eucarística, o Pontífice confiou o caminho da Igreja em Itália e invocou a sua materna intercessão pelos necessitados mais urgentes do mundo. De modo especial, citou Mianmar, Ucrânia e Camarões:

A respeito de Mianmar, recordou que há mais de dois anos o país sofre com graves confrontos armados e violências, que causaram muitas vítimas e deslocados. "Esta semana, chegou-me o grito de dor pela morte de crianças numa escola bombardeada. Parece que virou moda atacar escolas. Que o grito destes pequenos não permaneça inaudito! Estas tragédias não devem acontecer!", exortou.

Desde o início da guerra, a Ucrânia é lembrada sempre pelo Papa: "Maria, Rainha da Paz, conforte o povo ucraniano e obtenha aos líderes das Nações a força de vontade para encontrar imediatamente iniciativas eficazes que conduzam ao fim da guerra".

Por fim, Francisco uniu-se ao apelo dos Bispos de Camarões pela libertação de oito pessoas sequestradas na Diocese de Mamfe, entre os quais cinco sacerdotes e uma religiosa. "Rezo por eles e pelas populações da província eclesiástica de Bamenda: o Senhor doe paz aos corações e à vida social daquele querido país."

Vatican News

Papa na cidade de Matera: quem adora a Deus não é escravo de ninguém

 
 Papa encerrou em Matera o Congresso Eucarístico Nacional 
 
Francisco encerrou o Congresso Eucarístico Nacional em Matera com a celebração da missa e a participação de milhares de fiéis. Comentando a parábola do pobre Lázaro, o Pontífice advertiu para a "religião do ter e do aparecer": "Só o Senhor é Deus e todo o resto é dom do seu amor".
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Na manhã deste domingo, o Papa Francisco foi à cidade de Matera, na região da Basilicata (sul da Itália), encerrar o 27º Congresso Eucarístico Nacional, que teve como tema "Voltemos ao sabor do pão - Por uma Igreja eucarística e sinodal".

A missa foi celebrada no Estádio Municipal “XXI de setembro”, com a participação de cerca de 12 mil fiéis, e a homilia do Pontífice foi centralizada no tema da Eucaristia de acordo com o Evangelho de hoje: a parábola do rico e do pobre Lázaro.

A primazia de Deus na Eucaristia

De um lado, a opulência e a ostentação da riqueza; do outro, um pobre que jaz à porta à espera de um miolo de pão para matar a sua fome. Para o Papa, esta contradição recorda-nos a primazia de Deus presente na Eucaristia.

O rico não está aberto à relação com Deus porque pensa somente em satisfazer as suas necessidades. Não tem um nome, só um adjetivo – rico – porque a identidade é dada pelos bens que possui. “Como é triste também hoje esta realidade, quando confundimos o que somos com o que temos”, afirmou Francisco.

“É a religião do ter e do aparecer, que com frequência domina o cenário deste mundo, mas no final deixa-nos com as mãos vazias.”

Ao contrário, o pobre tem um nome, Lázaro, que significa “Deus ajuda”, e mesmo na sua condição de pobreza, pode manter íntegra a sua dignidade porque vive na relação com Deus.

Eis, portanto, o desafio que a Eucaristia oferece à nossa vida: adorar a Deus e não a nós mesmos. Colocar Ele no centro e não a própria vaidade. Recordar que só o Senhor é Deus e todo o resto é dom do seu amor.

“Recordemo-nos disto: quem adora a Deus não se torna escravo de ninguém. É livre!”

Porque quando adoramos Jesus presente na Eucaristia recebemos um olhar novo sobre a nossa vida e o valor da vida não depende daquilo que consigo exibir. Sou um filho amado, abençoado por Deus. O Papa então convida a redescobrir a oração de adoração, pois esta liberta e restitui a a nossa dignidade de filhos.

Eucaristia, sacramento do amor

Mas além da primazia de Deus, a Eucaristia chama-noa ao amor dos irmãos. “Este Pão é, por excelência, o Sacramento do amor.” É Cristo que se oferece e se parte por nós e pede que façamos o mesmo com os irmãos.

O rico do Evangelho não cumpre esta tarefa. Só no fim da vida, quando o Senhor inverte as sortes, é que ele se dá conta de Lázaro, mas Abraão diz-he:  “há um grande abismo entre nós”. E foi o rico quem escavou este abismo durante a vida terrena e que permanece na vida eterna.

“O nosso futuro eterno depende desta vida presente”, advertiu Francisco, e é doloroso ver que esta parábola ainda se manifesta nos dias de hoje através das injustiças, das disparidades, da distribuição desigual dos recursos da terra, dos abusos dos poderosos contra os mais fracos. Todos os dias se escava um abismo que gera marginalização e que não nos pode deixar indiferentes.

“E hoje, então, juntos reconheçamos que a Eucaristia é profecia de um novo mundo, é a presença de Jesus que pede para nos comprometermos para que se realize uma efetiva conversão: da indiferença à compaixão, do desperdício à compartilha, do egoísmo ao amor, do individualismo à fraternidade.”

O sonho de uma Igreja eucarística

Assim sonhamos a Igreja, acrescentou o Papa: eucarística. Feita de mulheres e homens que se oferecem como pão para quem vive na solidão e na pobreza. Uma Igreja que se ajoelha diante da Eucaristia, mas sabe também curvar-se com compaixão diante das feridas de quem sofre. “Porque não existe um verdadeiro culto eucarístico sem compaixão pelos muitos ‘Lázaros’ que também hoje caminham ao nosso lado.”

Francisco conclui repetindo o tema do Congresso Eucarístico: Voltemos ao sabor do pão, porque só Jesus sacia a nossa fome e pode curar as injustiças que ainda se consomem no mundo.

“Voltemos a Jesus, adoremos Jesus, acolhamos Jesus. Porque Ele vence a morte e renova sempre a nossa vida.”

Vatican News

O Papa: devemos usar os bens deste mundo para cuidar dos mais fracos

 

"Para herdar a vida eterna não é necessário acumular os bens deste mundo, mas o que conta é a caridade que teremos vivido nas nossas relações fraternas. Eis então o convite de Jesus: não usai os bens deste mundo somente para vós mesmos e o vosso egoísmo, mas servi-vos deles para gerar amizades, para criar boas relações, para agir em caridade, para promover a fraternidade e para exercer o cuidado com os mais fracos": disse o Papa no Angelus deste XXV Domingo do Tempo Comum

"Somos chamados a ser criativos em fazer o bem, com a prudência e a astúcia do Evangelho, usando os bens deste mundo - não apenas os bens materiais, mas todos os dons que recebemos do Senhor - não para nos enriquecer, mas para gerar amor fraterno e amizade social."

Foi o que disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste domingo, 18 de setembro, XXV Domingo do Tempo Comum. Na alocução que precedeu a oração mariana, Francisco ateve-se à página do Evangelho do dia (Lc 16,1-13), que traz a parábola do administrador infiel, uma parábola um pouco difícil de entender, disse o Santo Padre.

Jesus conta uma história de corrupção: um administrador desonesto, que rouba e depois, descoberto pelo seu senhor, age com astúcia para sair dessa situação. Nós nos perguntamos: em que consiste essa esperteza e o que quer Jesus dizer-nos?

 Angelus de 18.09.22 (Vatican Media )

Os filhos deste mundo são mais espertos que os filhos da luz

Pela história, continua o Papa, vemos que este administrador acaba em apuros porque aproveitou-se dos bens do seu senhor; agora ele terá que prestar contas e perderá o seu emprego. Mas ele não desiste, não se resigna ao seu destino e não se faz de vítima; pelo contrário, age imediatamente com astúcia, procura uma solução, é audacioso. Jesus parte desta história para nos lançar uma primeira provocação:

"Os filhos deste mundo - diz ele - para com os seus iguais são mais espertos do que os filhos da luz." Ou seja, acontece que aqueles que se movem na escuridão, de acordo com certos critérios mundanos, sabem como sair dos problemas, sabem ser mais espertos que os outros; por outro lado, os discípulos de Jesus, isto é, nós, às vezes estamos a dormir, ou somos ingénuos, não sabemos como tomar a iniciativa para procurar sair das dificuldades. Penso em momentos de crise pessoal, social, mas também eclesial: às vezes deixamo-nos vencer pelo desânimo, ou caímos em lamentações e vitimizações.

 

 Angelus de 18.09.22 (Vatican Media) 
 

Também nós podemos ser sagazes segundo o Evangelho

Em vez disso - diz Jesus -, também poderíamos ser sagazes segundo o Evangelho, estar acordados e atentos para discernir a realidade, ser criativos para procurar boas soluções, para nós mesmos e para os outros.

Francisco precisou que há também outro ensinamento que Jesus nos oferece. Pois, em que consiste a esperteza do administrador? Ele decide dar um desconto para aqueles que estão endividados, e assim faz amizade com eles, esperando que sejam capazes de ajudá-lo quando o senhor o expulsará. Primeiro acumulava as riquezas para si mesmo, agora ele usa-as para fazer amigos que podem ajudá-lo no futuro. Jesus, então, oferece-nos um ensinamento sobre o uso dos bens:

"Fazei amigos da riqueza desonesta, para que, quando ela vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas" (v. 9). Ou seja, para herdar a vida eterna não é necessário acumular os bens deste mundo, mas o que conta é a caridade que tivermos vivido nas nossas relações fraternas. Eis então o convite de Jesus: não useis os bens deste mundo somente para vós mesmos e o vosso egoísmo, mas servi-vos deles para gerar amizades, para criar boas relações, para agir em caridade, para promover a fraternidade e para exercer o cuidado com os mais fracos.

Somos chamados a ser criativos em fazer o bem

Também no mundo de hoje existem histórias de corrupção como aquela que o Evangelho nos conta, observou o Papa, condutas desonestas, políticas iníquas, egoísmos que dominam as escolhas de indivíduos e das instituições, e muitas outras situações obscuras.

Mas nós cristãos não podemos desencorajar-nos ou, pior ainda, deixar as coisas passar, permanecer indiferentes. Pelo contrário, somos chamados a ser criativos em fazer o bem, com a prudência e a astúcia do Evangelho, usando os bens deste mundo - não apenas os bens materiais, mas todos os dons que recebemos do Senhor - não para nos enriquecer, mas para gerar amor fraterno e amizade social.

Vatican News

O Papa: o amor expressa-se por meio de ações de partilha

 Kiev, bombardeamento russo em Stoviansk (ANSA) 
 
No pós Angelus deste domingo, 18 de setembro, a dor do Santo Padre pela retomada dos combates entre o Azerbaijão e a Arménia, no Cáucaso. Francisco lembra que a paz é possível quando as armas se calam e o diálogo tem início. Ainda, a exortação a rezar pela Ucrânia e por toda a terra ensanguentada pela guerra. A oração e solidariedade do Santo Padre pelas populações da região italiana das Marcas, atingidas por violenta inundação
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Após a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro neste XXV Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco manifestou mais uma vez a sua tristeza pelos combates entre o Azerbaijão e a Arménia, na região do Cáucaso, e exortou a rezar não somente pelo povo atormentado da Ucrânia, mas também pela paz em toda terra ensanguentada pela guerra:

"Sinto-me entristecido com os recentes combates entre o Azerbaijão e a Arménia. Manifesto a minha proximidade espiritual às famílias das vítimas e exorto as partes a respeitarem o cessar-fogo, com vista a um acordo de paz. Não esqueçamos: a paz é possível quando as armas são silenciadas e o diálogo tem início! E continuemos a rezar pelo atormentado povo ucraniano e pela paz em toda terra ensanguentada pela guerra."

A proximidade do Papa às vítimas da enchente nas Marcas 

Francisco voltou seu olhar também para a região italiana das Marcas, atingida nestes dias por uma trágica enchente que já provocou onze mortos e danos ingentes:

"Gostaria de assegurar as minhas orações pelo povo das Marcas atingido por uma violenta inundação. Rezo pelos mortos e as suas famílias, pelos feridos e por aqueles que sofreram danos graves. Que o Senhor dê força a essas comunidades!

Vatican News

domingo, 11 de setembro de 2022

Papa: deixarmo-nos inquietar por quem se afastou, como Deus que sofre quando nos afastamos

 
 
"Recordemo-nos: Deus espera-nos sempre de braços abertos, qualquer que seja a situação da vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele vela sempre  por nós."
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Um Deus com coração de pai e mãe, que sofre quando nos distanciamos dele, quando nos perdemos, mas que continuamente vela por nós, espera o nosso retorno para nos ter nos seus braços.

Jesus a fazer a refeição com os pecadores: escândalo para fariseus e escribas, ao mesmo tempo a revelação de que Deus "não exclui ninguém, deseja todos no seu banquete, porque ama a todos como filhos". 

Três parábolas da misericórdia que resumem o coração do Evangelho: Deus é Pai e vem à nossa procura sempre que nos perdemos.

"Inquietação pela falta"

Inspirado no Evangelho de Lucas da liturgia do dia, o Papa convidou os milhares de peregrinos e turistas reunidos na Praça de São Pedro para o Angelus dominical - a também a nós -, a prestar atenção na "inquietação pela falta", aspeto comum aos protagonistas das parábolas: um pastor que procura a ovelha perdida, uma mulher que encontra a moeda perdida e o pai do filho pródigo.

Os três - explicou Francisco - fizessem-se alguns cálculos, poderiam ficar tranquilos: "ao pastor falta uma ovelha, mas tem outras noventa e nove; à mulher uma moeda, mas tem outras nove; e também o Pai tem outro filho, obediente, a quem se dedicar. Por que pensar no outro que se foi, para viver uma vida desregrada?" Mas nos seus corações, "existe uma inquietação por aquilo que falta: a ovelha, a moeda, o filho que se foi embora."

“Quem ama preocupa-se com aqueles que faltam, sente saudades de quem está ausente, procura quem se perdeu, espera por quem se afastou. Porque quer que ninguém se perca.”

Deus sofre quando nos distanciamos d'Ele

Irmãos e irmãs - disse o Papa - Deus é assim:

Ele não fica "tranquilo" se nos afastamos d'Ele, ele sofre, treme no seu íntimo; e sai à nossa procura, até que nos traga de volta nos seus braços. O Senhor não calcula as perdas e os riscos, tem um coração de pai e de mãe, e sofre com a falta dos filhos amados. "Mas por que sofre se este filho é um desgraçado, foi-se embora?" Sofre, sofre. Deus sofre com a nossa distância e, quando nos perdemos, espera o nosso retorno. Recordemo-nos: Deus sempre espera-nos sempre, Deus esp-nos sempre de braços abertos, qualquer que seja a situação de vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele vela sempre por nós.

Rezar e ter compaixão por quem se afastou

Como costuma fazer nas suas reflexões, o Papa faz o convite para olharmos para nós mesmos e nos perguntarmos:

Imitamos o Senhor nisto, ou seja, temos a inquietação pela falta? Temos saudades de quem está ausente, dos que se afastaram da vida cristã? Carregamos essa inquietação interior ou permanecemos calmos e imperturbáveis ​​entre nós? Noutras palavras, quem falta nas nossas comunidades, realmente faz-nos falta ou fazemos de conta e não toca o coração? Quem falta na minha vida, realmente faz falta? Ou estamos bem entre nós, tranquilos  e felizes nos nossos grupos -"não, vou a um grupo apostólico, muito bom...-, sem nutrir compaixão por quem está distante? Não se trata somente de estar “aberto aos outros”, é Evangelho! O pastor da parábola não disse: "Já tenho noventa e nove ovelhas, quem me faz ir procurar a perdida, a perder tempo?" Ao invés disso Ele, foi.

Neste sentido, a exortação a fazermos uma reflexão sobre as nossas relações:

Eu rezo por quem não acredita, por quem está longe, por quem está amargurado? Atraímos os distantes pelo estilo de Deus, este estilo de Deus que é proximidade, compaixão e ternura? O Pai pede que estejamos atentos aos filhos que mais lhe fazem falta. Pensemos em alguém que conhecemos, que está ao nosso lado e que talvez nunca tenham ouvido alguém dizer: “Sabe? Tu és importante para Deus”. "Mas, por favor, eu estou em situação irregular, fiz isto errado, mais aquilo...". Tu és importante para Deus: dizer isto. Tu não o procuras, mas Ele procura-te.

Deixarmo-nos inquietar

Deixemo-nos inquietar, que sejamos homens e mulheres de coração inquieto, deixemo-nos inquietar por estas interrogações e rezemos a Nossa Senhora, mãe que não se cansa de nos procurar e de cuidar de nós, seus filhos.

Vatican News

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O Papa: estamos a viver uma guerra mundial, paremos!

 
Sepultamento em massa de pessoas não identificadas, mortas durante a invasão da Russa em Bucha
 
Um apelo, quase um grito do Pontífice na Praça de São Pedro, endereçado aos fiéis durante a Audiência Geral, mas na realidade a toda a humanidade para que cada um se sinta responsável como construtor da paz.
 

Gabriella Ceraso – Vatican News

Na Ucrânia é o 196º dia de guerra, "a terra ainda treme e o povo ucraniano chora", disse na sua última mensagem do arcebispo-mor da Igreja greco-católica ucraniana, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, referindo-se aos combates que continuam nas regiões de Kharkiv, Donetsk e Luhansk. Na Audiência Geral desta quarta-feira (07/07), realizada na Praça de São Pedro, o Papa Francisco voltou o seu olhar para a Ucrânia, onde viu entre a multidão algumas bandeiras com as cores amarela e azul da terra ucraniana:

E não me esqueço da martirizada Ucrânia. Há bandeiras ali.

Imediatamente o Papa fez um apelo, quase um grito, que chama a todos à responsabilidade porque, como já tinha dito na quarta-feira passada na Audiência Geral, a guerra agora é mundial:

Diante de todos os cenários de guerra do nosso tempo, peço a cada um para ser construtor da paz e para rezar a fim de que no mundo se espalhem pensamentos e projetos de harmonia e reconciliação. Hoje, estamos a viver uma guerra mundial, paremos, por favor!

A Maria, a quem consagrou a Rússia e a Ucrânia, a quem dedicou a oração do Terço e a quem sempre invocou incessantemente, Francisco voltou-se mais uma vez para obter proteção e confiar a ela aqueles que neste momento sofrem mais:

À Virgem Maria confiamos as vítimas de todas as guerras, de todas as guerras, especialmente da querida população ucraniana.

Vatican News

domingo, 4 de setembro de 2022

Francisco na beatificação de João Paulo I: transmitiu a bondade do Senhor

 
 
“Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado”. Palavras do Papa Francisco na homilia da Santa Missa de Beatificação do Papa João Paulo I, neste domingo, 4 de setembro
 

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã deste domingo, 4 de setembro, foi realizada a Santa Missa com o Rito de Beatificação do Papa João Paulo I na Praça de São Pedro no Vaticano. Na sua homilia, o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia recordando as exigências de Jesus para segui-l’O perguntando-se o significado das suas advertências.

Seguir Jesus

Refletindo nas palavras de Jesus o Papa disse: “Em primeiro lugar, vemos muitas pessoas, uma multidão numerosa que segue Jesus”. “Nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagácia e astúcia sabe cavalgar nesta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o ‘salvador’ que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder”. Porém Francisco adverte: “O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente, porque não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas”, frisa ainda.

O discernimento

“Assim, em vez de Se deixar atrair pelo fascínio da popularidade, pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que O segue e as consequências que isso acarreta”

“Com efeito – continua Francisco - pode-se seguir o Senhor por várias razões, e algumas destas –admitamo-lo – são mundanas: por trás duma fachada religiosa perfeita pode-se esconder a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais. Isto acontece hoje entre os cristãos. Mas não é o estilo de Jesus; nem pode ser o estilo do discípulo e da Igreja”. Segui-Lo, continua, “significa ‘tomar a própria cruz’ (Lc 14, 27): como Ele, carregar os pesos próprios e os alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós”.

Ponderando seguidamente: “Para o conseguir, porém, é preciso olhar mais para Ele do que para nós próprios, aprender o amor que brota do Crucificado”. Citando João Paulo I disse, nós mesmos “somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga”. “Não se apaga: nunca eclipsa-se da nossa vida, resplandece sobre nós e ilumina até as noites mais escuras”. "Amar, ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição".

Citando ainda o novo Beato esclareceu:

“Se queres beijar Jesus crucificado, não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor. O amor até ao extremo, com todos os seus espinhos: e não as coisas a meio, as acomodações ou a vida tranquila.”

Ainda falando do amor ou do medo de nos perdermos, renunciarmos a dar-nos, ou deixar inacabadas as coisas, Francisco recorda que se fizermos assim: “Acabamos por viver a meias: sem nunca dar o passo decisivo, sem levantar voo, sem arriscar pelo bem, sem nos empenharmos verdadeiramente pelos outros.

Viver plenamente o Evangelho

“Jesus pede-nos isto: vive o Evangelho e viverás a vida, não a meias, mas até ao fundo. Sem cedências”

“Irmãos, irmãs, o novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de colocar a mim mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever. Nesta linha, exclamava: ‘O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: ‘somos servos inúteis’”.

Por fim Francisco concluiu a homilia recordando:

Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no 'retrocedismo'. Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha 'o sorriso da alma'; aquele transparente, aquele que não engana: o sorriso da alma, servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: 'Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais'”. 

Vatican News