Mogadíscio: lugar do atentado reivindicado pelas milícias al-Shaabab.
(AFP or licensors)
Francisco pede
orações pelo ataque na capital somaliana que deixou mais de cem mortos,
incluindo muitas crianças, e foi reivindicado pelas milícias al-Shaabab.
O apelo do Presidente Hassan Sheikh Mohamu para que a comunidade
internacional envie médicos ao país.
Francesca Sabatinelli, Silvonei José – Vatican News
Dramático o apelo do Papa que, nas saudações pós-Angelus, dirigidas à
multidão reunida na Praça de São Pedro, transporta com as suas palavras os
fiéis à martirizada Somália:
Enquanto celebrarmos a vitória de Cristo sobre o mal e a morte,
rezemos pelas vítimas do ataque terrorista que, em Mogadíscio, matou
mais de cem pessoas, incluindo muitas crianças. Que Deus converta os
corações dos violentos!
Cinco anos depois, no mesmo lugar, outro massacre de inocentes. São
mais de cem vítimas - em outubro de 2017 foram 500 -, do duplo ataque
que atingiu um traficado cruzamento na capital somaliana, Mogadíscio, na
tarde deste sábado (29/10), em frente ao Ministério da Educação, e que
também deixou mais de 300 feridos. Dois carros-bomba explodiram em
poucos minutos. A responsabilidade pelo ataque foi
reivindicada pelo grupo al-Shabaab, ligado à Al-Qaeda, que supostamente
apontou o ministério como uma "base inimiga" que recebe apoio de países
não-muçulmanos e está "comprometido em retirar as crianças somalianas da
fé islâmica". O grupo tinha declarado no passado que continuaria as suas
atividades terroristas até à criação de um estado islâmico governado
pela Sharia.
Objetivo dos ataques altos funcionários institucionais
O ataque ocorreu num dia em que o presidente Hassan Sheikh Mohamud,
o primeiro-ministro Hamza Abdi Barre e vários altos funcionários
estavam a reunirem-se precisamente para discutir sobre o aumento dos
esforços para combater o extremismo violento e em particular,
al-Shabaab. Um evento que naquelas horas ocorria a pouca distância do
local do atentado e que provavelmente estava na mira dos extremistas
que, não conseguindo chegar perto, dirigiram-se para o ministério. A
primeira explosão, segundo testemunhas, atingiu o muro do ministério,
onde geralmente estão presentes vendedores ambulantes e cambistas. A
segunda explosão ocorreu em frente a um movimentado restaurante.
O apelo do presidente
Dramático apelo do presidente, que pediu à comunidade internacional e
aos "muçulmanos ao redor do mundo" que enviem médicos ao país, que tem
um dos sistemas de saúde mais fracos do mundo. As milícias al-Shabaab,
que foram expulsas pela União Africana da capital em 2011, ainda controlam grandes extensões do território rural e realizam ataques periódicos.
O Papa Francisco
rezou neste domingo o Angelus com os fiéis na Praça de São Pedro e recordou
a figura de Zaqueu e o seu encontro com Jesus.
Silvonei José – Vatican News
“O olhar de Deus nunca se detém no nosso passado cheio de erros, mas olha com infinita confiança para o que nos podemos tornar”:
foi o que disse o Papa Francisco neste domingo, 30 de outubro, na
alocução que precedeu o Angelus recitado com os fiéis reunidos na Praça
de São Pedro.
No dia em que a liturgia narra o Evangelho do encontro entre Jesus e
Zaqueu, chefe dos publicanos na cidade de Jericó, Francisco disse que no
centro desta narração está o verbo procurar. Zaqueu "procurava
ver quem era Jesus" e Jesus, após encontrá-lo, afirma: "O Filho do Homem
veio procurar e salvar o que estava perdido".
Então o Papa deteve-se nos dois olhares que se procuram: o olhar de Zaqueu que procura Jesus e o olhar de Jesus que procura Zaqueu.
Zaqueu, recordou Francisco, era um publicano, ou seja, um daqueles
judeus que cobravam impostos em nome dos dominadores romanos, e aproveitavam-se da sua posição. Por causa disso, era rico, odiado por todos
e visto como um pecador.
Angelus - Praça São Pedro
O Evangelho diz que "ele era pequeno em estatura" e por isso talvez
também alude à sua baixeza interior, à sua vida medíocre e desonesta,
com o olhar sempre dirigido para baixo. No entanto, Zaqueu quer ver
Jesus. E para ver Jesus subiu a um sicômoro. "Ele subiu a um sicômoro:
Zaqueu, o homem que dominava tudo, segue o caminho do ridículo para ver
Jesus. Basta pensar no que aconteceria se, por exemplo, um tro da
economia subisse a uma árvore para olhar para outra coisa: arrisca-se a ser
zombado. E Zaqueu arriscou-se a ser chacoteado para ver Jesus, ele fez-se
ridículo.
“Zaqueu, na sua baixeza, sente a necessidade de procurar outro
olhar, o de Cristo. Ele ainda não o conhece, mas está a esperar que
alguém o liberte da sua condição, que o tire da lama em que se encontra.
Isto é fundamental: Zaqueu ensina-nos que, na vida, nunca tudo está
perdido Podemos abrir sempre espaço para o desejo de recomeçar, de partir novamente, de nos convertermos”.
Seguidamente o Papa destacou que decisivo é o olhar de Jesus.
Ele foi enviado pelo Pai para procurar quem se perdeu; e quando chega a
Jericó, passa precisamente ao lado da árvore onde está Zaqueu.
O Evangelho relata que "Jesus olhou para cima e lhe disse lhe: "Zaqueu,
desce depressa, hoje devo ficar na tua casa" (v. 5). O Papa disse que
esta “é uma imagem muito bonita, porque se Jesus tem que olhar para
cima, isso significa que ele está a olhar para Zaqueu de baixo. Esta é a
história da salvação: Deus não nos olhou do alto para nos humilhar e
julgar; pelo contrário, Ele abaixou-se ao ponto de lavar os nossos pés,
olhando para baixo e restituindo-nos dignidade.
Angelus - Praça de São Pedro
“Assim, o encontro de olhares entre Zaqueu e Jesus parece resumir
toda a história da salvação: a humanidade com as suas misérias procura a
redenção, mas antes de tudo Deus com a sua misericórdia procura a sua
criatura para salvá-la”.
Francisco pediu então que nos recordemos que “o olhar de Deus nunca
se detém no nosso passado cheio de erros, mas olha com infinita
confiança para o que podemos tornarmo-bos”.
E se às vezes sentimo-nos pessoas de baixa estatura, não à altura
dos desafios da vida, muito menos do Evangelho, atolados em problemas e
pecados, Jesus olha-nos sempre com amor: como com Zaqueu, ele vem ao
nosso encontro, chama-nos pelo nome e, o acolhemos, ele vem à nossa
casa.
Então podemo-nos perguntar, disse Francisco: como olhamos para nós
mesmos? Sentimo-nos inadequados e resignamo-nos, ou precisamente ali,
quando nos sentimos desanimados, procuramos o encontro com Jesus? E
depois: que olhar temos para com aqueles que erraram e estão a lutar
para se levantarem do pó do seus erros? É um olhar de cima, que julga,
despreza e exclui?
"Lembremos que só é permitido olhar uma pessoa de cima para baixo
somente para ajudá-la a elevar-se: nada mais. Somente assim é admissível
olhar para alguém de cima para baixo".
“Mas nós cristãos devemos ter o olhar de Cristo, que abraça de
baixo, que procura os perdidos, com compaixão. Este é, e deve ser sempre, o
olhar da Igreja”.
O Papa concluiu rezando a Maria, para cuja humildade o Senhor olhou,
pedindo-lhe o dom de um novo olhar sobre nós mesmos e sobre os outros.
Papa Francisco durante a Audiência Geral, na Praça São Pedro
(VATICAN MEDIA Divisione Foto)
"O discernimento
incide sobre as ações e as ações têm uma conotação afetiva, que deve ser
reconhecida, porque Deus fala ao coração", disse Francisco, na
catequese da Audiência Geral, abordando "a primeira modalidade afetiva,
objeto do discernimento: a desolação".
Mariangelal Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o
discernimento, na Audiência Geral, desta quarta-feira (26/10), realizada
na Praça São Pedro.
"O discernimento incide sobre as ações e as ações têm uma conotação
afetiva, que deve ser reconhecida, porque Deus fala ao coração", disse o
Papa, abordando "a primeira modalidade afetiva, objeto do
discernimento: a desolação".
"Acredito que, de certa forma, todos nós já vivemos a experiência da
desolação. O problema é como poder lê-la, pois também ela tem algo
importante para nos dizer, e se tivermos pressa de nos livrar dela,
correremos o risco de a perder", sublinhou Francisco, ressaltando que
ninguém gosta "de se sentir desolado, triste. Todos gostaríamos de uma
vida sempre jubilosa, alegre e realizada". "Com efeito, a mudança de uma
vida orientada para o vício pode começar a partir de uma situação de
tristeza, de remorso pelo que se fez. "Remorso" é a consciência que
morde, que não dá paz", disse ainda o Papa, acrescentando:
É importante aprender a ler a tristeza. No nosso tempo, ela é
considerada sobretudo negativamente, como um mal a evitar custe o que
custar, e ao contrário pode ser um indispensável sinal de alarme para a
vida, convidando-nos a explorar paisagens mais ricas e férteis que a
fugacidade e a evasão não permitem. S. Tomás define a tristeza como
uma dor da alma: como os nervos para o corpo, ela desperta a atenção
diante de um possível perigo, ou de um bem ignorado. Por isso, é
indispensável para a nossa saúde, protege-nos para não nos ferirmos a
nós mesmos e aos outros. Seria muito mais grave e perigoso não ter este
sentimento.
Segundo o Papa, "para quem tem o desejo de praticar o bem, a tristeza
é um obstáculo com que o tentador quer desencorajar-nos. Neste caso,
deve-se agir de maneira exatamente contrária ao que é sugerido,
determinado a continuar o que se tinha proposto cumprir". "Pensemos no
trabalho, no estudo, na oração, num compromisso assumido: se os
deixássemos, assim que sentíssemos tédio ou tristeza, nunca
realizaríamos nada. Também esta é uma experiência comum à vida
espiritual: o caminho para o bem, recorda o Evangelho, é estreito e
íngreme, requer um combate, uma vitória de si mesmo. Para quem quer
servir o Senhor, é importante não nos deixarmos enganar pela desolação",
sublinhou Francisco.
Infelizmente, alguns decidem abandonar a vida de oração, ou a
escolha feita, o matrimónio ou a vida religiosa, impelidos pela
desolação, sem primeiro fazer uma pausa para considerar este estado de
espírito, e sobretudo sem a ajuda de um guia. Uma regra sábia diz para
não fazer mudanças quando se está desolado. O tempo seguinte, e não o
humor do momento, mostrará a bondade ou não das nossas escolhas.
No Evangelho, "Jesus afasta as tentações com uma atitude de firme
determinação. As situações de provação advêm-lhe de várias partes, mas
sempre, encontrando n'Ele esta firmeza decidida a cumprir a vontade do
Pai, esmorecem e deixam de impedir o caminho".
Se soubermos atravessar a solidão e a desolação com abertura e
consciência, poderemos sair revigorados sob os aspetos humano e
espiritual. Nenhuma provação está fora do nosso alcance. Nenhuma
provação está além do que podemos fazer. Mas, não fugir das provações.
S- Paulo lembra que ninguém é tentado para além das próprias possibilidades,
pois o Senhor nunca nos abandona e, tendo Ele perto, poderemos vencer
todas as tentações. Se não as vencermos hoje, levantar-nos-emos novamente,
caminhemos e as venceremos amanhã.
"Mas não permanecer morto, digamos assim, não permanecer derrotado
por um momento de tristeza, de desolação: vai em frente. Que o Senhor vos
abençoe neste caminho, corajoso, da vida espiritual, que está sempre a
caminho", concluiu o Papa.
Momento em que o Papa se inscreveu na Jornada Mundial da Juverntude
O objetivo
principal das Jornadas é recolocar no centro da fé e da vida de cada
jovem a pessoa de Jesus, para que Ele se torne o seu ponto de referência
constante e seja também a verdadeira luz de todas as iniciativas e todo
compromisso educativo para com as novas gerações. É o "refrão" de cada
Jornada Mundial. (São João Paulo II)
Laura Lo Monaco - Cidade do Vaticano Ao
lado de três jovens portugueses (as duas jovens estudam em Roma), o Papa
fez a sua inscrição na JMJ Lisboa 2023 pela internet através de um tablet após o Angelus deste domingo, dia 23 de outubro. Com um click,
Francisco garantiu a sua presença no maior evento jovem do mundo, que
está marcado para ser realizado entre os dias 1 e 6 de agosto de 2023 na
cidade de Lisboa, capital portuguesa:
Abrem-se hoje as inscrições para a 37ª Jornada Mundial da
Juventude, que terá lugar em Lisboa em agosto de 2023. Convidei dois
jovens portugueses para estarem aqui comigo enquanto também me inscrevo
como peregrino (clique no tablet). Eu inscrevi-me! Queridos jovens,
convido-vos a participar neste encontro no qual, depois de um longo
período de distanciamento e isolamento, redescobriremos a alegria do
abraço fraterno entre os povos e entre as gerações, do qual temos tanta
necessidade.
«Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1, 39) foi a citação
bíblica escolhida pelo Papa Francisco como lema da Jornada Mundial da
Juventude 2023. A JMJ se consolidou como uma grande peregrinação, uma
festa da juventude, uma expressão da Igreja universal e um momento forte
de evangelização do mundo juvenil. O evento reúnirá jovens do
mundo inteiro e foi instituído pelo Papa João Paulo II:
“O evento visa promover o encontro dos jovens com o Papa e ser um momento de renovação da fé.”
Na Carta
enviada ao cardeal Eduardo Francisco Pironio por ocasião do Seminário
de Estudos sobre as Jornadas Mundiais da Juventude realizado em
Czestochowa, em maio de 1996, o Papa Wojtyla escreveu:
O objetivo principal das Jornadas é recolocar no centro da fé e da
vida de cada jovem a pessoa de Jesus, para que Ele se torne o seu ponto
de referência constante e seja também a verdadeira luz de todas as
iniciativas e todo compromisso educativo para com as novas gerações. É o
"refrão" de cada Jornada Mundial.
A JMJ teve a sua primeira edição em Roma no ano de 1986 e realiza-se em
cada 3 anos, já tendo passado por mais de 20 cidades em 3 continentes
diferentes. Procurando o protagonismo jovem, a Jornada Mundial da
Juventude também procura a promoção da paz, a união e a fraternidade entre os
povos e as nações de todo o mundo. No ato simbólico de
domingo, o Papa Francisco deu início ao período de inscrição da JMJ. Todas
as informações sobre a JMJ Lisboa 2023, podem ser acessadas através do
site: https://www.lisboa2023.org/pt/.
"Para subir em
direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a
sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre as nossas fragilidades e pobrezas. De facto, na humildade tornamo-nos
capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que somos, os limites e as
feridas, os pecados e as misérias que pesam no nosso coração, e de
invocar a sua misericórdia para que nos cure e nos levante."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto."
"Subir e descer", dois verbos presentes na passagem de Lucas (Lc
18,9-14) do Evangelho da liturgia deste domingo inspiraram a reflexão do
Papa Francisco antes de rezar o Angelus neste XXX Domingo do
Tempo Comum. De facto, a" parábola está entre dois movimentos". De um
lado o fariseu, "um homem religioso", e de outro o cobrador de impostos,
o publicano, "um pecador declarado".
Subir, necessidade do coração de ir ao encontro do Senhor
Aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o Papa começou por explicar
que os dois sobem ao templo para rezar, "mas somente o publicano
eleva-se verdadeiramente a Deus, porque com humildade desce à verdade de
si mesmo e apresenta-se tal como é, sem máscaras, com a sua pobreza".
Ou seja, o primeiro movimento é "subir". E explica:
De facto, o texto começa por dizer: "Dois homens subiram ao Templo
para rezar". Este aspeto evoca tantos episódios da Bíblia, onde para
encontrar o Senhor sobe-se ao monte da sua presença: Abraão sobe ao
monte para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os
mandamentos; Jesus sobe ao monte, onde é transfigurado. Subir, portanto,
expressa a necessidade do coração de separar-se de uma vida plana para
ir ao encontro do Senhor, libertar-nos do próprio eu; de elevarmo-nos das
planícies do nosso eu para subir em direção a Deus; de recolher o que
vivemos no vale para levá-lo diante do Senhor. Isto é subir, e quando
nós rezamos, subimos.
Quanto mais descemos, mais Deus nos faz subir ao alto
Mas - observou Francisco - para viver o encontro com Deus e sermos
transformados pela oração, para nos elevarmos a Ele, precisamos do
segundo movimento, descer:
Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos:
cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar
honesto sobre as nossas fragilidades e pobrezas interiores. De facto, na
humildade tornamo-nos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que
realmente somos, os limites e as feridas, os pecados e as misérias que
pesam no nosso coração, e de invocar a sua misericórdia para que nos cure,
nos cure e nos levante. Será Ele a levantar-nos, não nós. Quanto mais
descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto.
O risco de cair na "soberba espiritual"
Com efeito - acrescentou - o publicano da parábola "fica humildemente
à distância, não se envergonha, pede perdão e o Senhor levanta-o". O
fariseu, por outro lado, "exalta-se, seguro de si mesmo, convencido de
estar bem: de pé, começa a falar ao Senhor apenas de si mesmo, começa a
louvar a si mesmo, a listar todas as boas obras religiosas que faz e
despreza os outros. Diz: "Não como aquele ali":
Por que a soberba espiritual faz isto - “Mas padre, por que nos
fala sobre a soberba espiritual? - Mas todos nós corremos o perigo de
cair nisto: leva-te a acreditar-te bom e a julgar os outros e isso é a
soberba espiritual: "Eu estou bem, sou melhor que os outros, ele é isto,
aquele é aquilo…". E assim, sem perceber, adoras a ti mesmo e apagas o teu
Deus. É uma subida que volta para ti mesmo. Esta é a oração sem
humildade.
O Papa então chamou a atenção para o facto de que "o fariseu e o
publicano têm muito a ver connosco", convidando a olharmos para nós
mesmos:
Verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe "a íntima
presunção de ser justos" que nos leva a desprezar os outros. Acontece,
por exemplo, quando procuramos elogios e fazemos sempre uma lista dos
nossos méritos e das nossas boas obras, quando nos preocupamos mais em
parecer do que em ser, quando nos deixamos aprisionar pelo narcisismo e
pelo exibicionismo. Vigiemos , irmãos e irmãs, o nosso narcisismo e
exibicionismo, baseados na vanglória, que levam também nós cristãos, nós
sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios. Qual
palavra? "Eu, eu ,eu": "eu fiz isto, eu escrevi aquilo, eu tinha dito,
eu tinha entendido antes de vós", e assim por diante. Onde há muito
eu, há pouco Deus.
Francisco recordou que no seu país, essas pessoas são chamadas de
"eu-comigo-para mim-somente eu", ilustrando com o exemplo de um
sacerdote que era muito "centrado em si mesmo", e para brincar, as
pessoas diziam que quando ele fazia a incensação, fazia ao contrário,
pois incensava a si mesmo, "se auto incensava."
Peçamos a intercessão de Maria Santíssima - disse ao concluir - a
humilde serva do Senhor, imagem viva daquilo que o Senhor ama realizar,
derrubando os poderosos de seus tronos e elevando os últimos.
Na catequese da
Audiência Geral, Francisco convidou a ler a própria história que
significa também reconhecer a presença de elementos “tóxicos”. Ler a
própria vida para ver "as coisas que não são boas e também as coisas
boas que Deus semeia em nós."
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o
discernimento na Audiência Geral, desta quarta-feira (19/10), realizada
na Praça São Pedro.
Neste encontro semanal com os fiéis, o Papa meditou "sobre outro ingrediente indispensável para o discernimento: a própria história de vida".
Reconhecer a presença de elementos “tóxicos”
"A nossa vida é o “livro” mais precioso que nos foi confiado, um
livro que muitos infelizmente não leem, ou o fazem demasiado tarde,
antes de morrer. No entanto, é nesse livro que se encontra aquilo que se
procura inutilmente por outros caminhos", frisou o Pontífice,
ressaltando que Santo Agostinho compreendeu isso, "relendo a sua vida,
observando nela os passos silenciosos e discretos, mas incisivos, da
presença do Senhor. No final deste percurso, notará com admiração: «Tu
estavas dentro de mim, e eu fora. Lá, eu procurava-te. Deformado,
lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Tu estavas comigo,
mas eu não estava contigo». Daqui deriva o seu convite a cultivar a vida
interior, para encontrar o que se procura: «Volta para ti mesmo. No
homem interior habita a verdade»".
Muitas vezes, também nós vivemos a experiência de Agostinho, de
nos encontrarmos presos em pensamentos que nos afastam de nós mesmos,
mensagens estereotipadas que nos ferem: “Nada valho”, “tudo acontece de
mau comigo”, “nunca farei nada de bom”, e assim por diante. Ler a
própria história significa também reconhecer a presença destes elementos
“tóxicos”, para depois ampliar a trama da nossa narração, aprendendo a
observar outras coisas, tornando-a mais rica, mais respeitadora da
complexidade, conseguindo até captar os modos discretos como Deus age na
nossa vida.
Ler a própria vida
A seguir, o Papa disse que certa vez conheceu "uma pessoa em que as
pessoas que a conheciam diziam merecer o Prêmio Nobel da
negatividade", pois "tudo era mau e ela colocava-se sempre para baixo".
"Era uma pessoa amarga, mas tinha muitas qualidades. Então, essa pessoa
encontrou outra pessoa que a ajudou bem, e toda a veem que ela reclamava de
alguma coisa, a outra dizia: "Mas agora, para compensar, diga
algo bom sobre si". E ela respondeu: "Sim, eu também tenho essa
qualidade", e pouco a pouco isso a ajudou a seguir em frente, a ler bem
a sua vida, tanto as coisas más como as coisas boas", sublinhou
Francisco.
“Ler a própria vida, e assim ver as coisas que não são boas e também as boas que Deus semeia em nós.”
Segundo o Papa, "a narração das vicissitudes da nossa vida permite
também compreender matizes e detalhes importantes, que podem revelar-se
ajudas valiosas até então ocultas. Uma leitura, um serviço, um
encontro, à primeira vista considerados de pouca importância,
sucessivamente transmitem uma paz interior, transmitem a alegria de
viver e sugerem outras iniciativas de bem. Determo-nos e reconhecer
isto é indispensável para o discernimento, é uma obra de recolha
daquelas pérolas preciosas e escondidas que o Senhor disseminou no nosso
terreno".
Quem caminha circularmente nunca vai para a frente
"O bem está sempre escondido, porque o bem tem pudor e esconde-se: o
bem fica escondido; é silencioso, requer uma escavação lenta e
contínua, pois o estilo de Deus é discreto, não se impõe; é como o ar
que respiramos, não o vemos, mas faz-nos viver, e só nos damos conta
dele quando nos falta", disse ainda Francisco.
O Papa sublinhou que "habituarmo-nos a reler a própria vida educa o
olhar, aguça-o, permite notar os pequenos milagres que o bom Deus
realiza para nós todos os dias".
Quando prestamos atenção, observamos outros rumos possíveis que
revigoram o gosto interior, a paz e a criatividade. Acima de tudo,
torna-nos mais livres dos estereótipos tóxicos. Diz-se sabiamente que o
homem que não conhece o seu passado está condenado a repeti-lo.É
curioso, não é? Se não conhecemos o caminho feito, o passado, repetimos
sempre o mesmo, somos circulares. A pessoa que caminha circularmente
nunca vai para a frente, não tem caminho. É como o cachorro que morde o
rabo, vai sempre assim, e repete as coisas.
A importância da vida dos santos
Segundo o Papa, "a vida dos santos é uma ajuda preciosa para
reconhecer o estilo de Deus na própria vida: permite familiarizarmo-nos com
o seu modo de agir. O comportamento de alguns santos interpela-nos,
mostrando novos significados e oportunidades. Foi o que aconteceu,
por exemplo, a Santo Inácio de Loyola. Quando descreve a descoberta
fundamental da sua vida, acrescenta uma importante observação: «Por
experiência, deduziu que alguns pensamentos o deixaram triste e outros,
alegre; e pouco a pouco aprendeu a conhecer a diversidade dos espíritos
que nele se agitavam»".
Francisco disse que "o discernimento é a leitura narrativa das
consolações e desolações que experimentamos ao longo da nossa vida. É o
coração que nos fala de Deus, e nós devemos aprender a compreender a sua
linguagem". "Perguntemo-nos, no final do dia, por exemplo: o que
aconteceu hoje no meu coração? Alguns pensam que fazer este exame de
consciência é prestar contas dos pecados feitos. Cometemos muitos, não
é? Não, mas se perguntar: o que aconteceu dentro de mim? O que me
alegrou? O que me entristeceu? E assim aprender a discernir o que
acontece dentro de nós", concluiu.
O Comité
Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa
2023 acaba de anunciar as diversas modalidades de pacotes para que os
peregrinos possam usufruir de um conjunto de serviços organizados pelo
COL durante uma semana ou no período escolhido.
De realçar que o acesso a todas as iniciativas da JMJ Lisboa
é de acesso gratuito, nomeadamente a Missa de Abertura, Acolhimento do Papa,
Via-Sacra, Vigília com o Santo Padre e Missa de Envio, entre outros.
Com o objetivo de ajudar os peregrinos a terem acesso a um
conjunto de serviços de forma organizada como o alojamento, alimentação, seguro
de acidentes pessoais, transporte e o kit do peregrino, o COL disponibilizou
diversos pacotes de acordo com o tempo de estadia do peregrino. Os valores dos
pacotes vão desde 50 euros a 235 euros, mediante a opção escolhida. Os
peregrinos poderão estender a sua estadia por mais um dia, por mais 20 euros.
Duarte Ricciardi, secretário-executivo do COL da JMJ Lisboa
2023, reforça que “o acesso à JMJ é sempre gratuito para todas as pessoas”. “À
semelhança do que acontece em todas as Jornadas, o COL organiza e disponibiliza
opções de pacotes para que os peregrinos se possam inscrever e aceder a um
conjunto de serviços, como alojamento, alimentação, transporte e segurança e o
kit do peregrino”, sublinhou.
Mais informação sobre as diferentes modalidades dos Pacotes
Peregrino para a JMJ Lisboa 2023 pode ser consultada aqui e a informação geralaqui.
As inscrições para a JMJ Lisboa 2023 vão abrir até ao final
do mês de outubro e serão feitas através do sitewww.lisboa2023.org.
No Angelus deste
domingo (16/10) Francisco sugeriu a "oração constante" para manter a fé:
"Pode vir em nosso auxílio, uma prática espiritual sábia, mesmo que
hoje seja um pouco esquecida, que OS nossos idosos conhecem bem: as
chamadas orações jaculatórias"
Jane Nogara - Vatican News
Na oração do Angelus deste domingo (16/10), o Papa Francisco iniciou
recordando uma preocupação de Jesus: "Mas quando o Filho do Homem
voltar, encontrará a fé sobre a terra?” (Lc 18,8). Francisco
disse que é uma pergunta séria. “Imaginemos que o Senhor venha hoje à
Terra. Ele veria, infelizmente, tantas guerras, pobreza e
desigualdades”. Mas principalmente perguntou o Papa: “o que ele
encontraria em mim, na minha vida, no meu coração? Que prioridades
veria?”
Oração constante
O Papa destacou que é importante não negligenciarmos o que mais
importa deixando que nosso amor por Deus se esfrie pouco a pouco. E
sugeriu:
“Hoje Jesus oferece-nos o remédio para aquecer uma fé ressequida. E
qual é? A oração. Sim, a oração é o remédio da fé, o reconstituinte da
alma. Porém, deve ser uma oração constante”
Seguidamente disse que a constância significa “nutrir” todos os dias
como uma planta, senão a nossa fé pode “entrar em letargo” e secará. E
fazendo analogia com a planta disse ainda para dedicarmos tempo a Deus,
com orações. Assim Ele pode entrar no nosso tempo; precisamos de
momentos constantes nos quais lhe abrimos os nossos corações, para que Ele
possa derramar todos os dias sobre nós, amor, paz, alegria, força,
esperança; isto é, nutrir a nossa fé. Então o Papa ponderou, que alguns
poderiam objetar: "Como faço eu? Não vivo em num convento, não tenho
muito tempo para rezar".
Orações Jaculatórias
“Pode vir em nosso auxílio, uma prática espiritual sábia, mesmo
que hoje seja um pouco esquecida, que nossos idosos, especialmente as
avós, conhecem bem: a das chamadas orações jaculatórias. O nome é um
pouco ultrapassado, mas a substância é boa”
E Francisco explicou que “são orações muito curtas, fáceis de
memorizar, que podemos repetir com frequência durante o dia, no decorrer
das várias atividades, para ficar "em sintonia" com o Senhor. Dando seguidamente alguns exemplos: “Assim que acordamos, podemos dizer: ‘Senhor,
eu te agradeço e te ofereço este dia’; depois, antes de uma atividade,
podemos repetir: ‘Vem, Espírito Santo’; e entre uma coisa e outra,
podemos rezar assim: ‘Jesus, eu confio em ti e amo-te’. Com quanta
frequência enviamos ‘pequenas mensagens’ às pessoas que amamos! Façamos
isto também com o Senhor, para que os nossos corações permaneçam
conetados a Ele”.
E concluindo disse ainda “Não nos esqueçamos de ler as Suas respostas. O
Senhor responde sempre. Onde podemos encontrá-las? No Evangelho, que
deve estar sempre à mão para ser aberto todos os dias, para receber uma
Palavra de vida dirigida a nós”. Por fim disse ainda: "E voltemos ao
conselho que já dei muitas vezes: tenham sempre um pequeno Evangelho de
bolso convosco, nos vossos bolsos, e assim, quando tiverem um minuto, abram-no e
leiam algo, e o Senhor vos responderá".
Na Audiência
Geral, o Pontífice exortou a voltar o olhar para Maria e a rezar o
Terço: "Que a tua vida e as tuas escolhas diárias sejam iluminadas por
Cristo
Amedeo Lomonaco – Vatican News
As aparições de Maria em Fátima, Nossa Senhora da Aparecida, Nossa
Senhora do Pilar e o mês de outubro dedicado ao Rosário. Nas saudações
aos peregrinos, após a catequese da Audiência Geral, a bússola
permanente é a Virgem Maria. Na saudação aos fiéis de língua alemã, o
horizonte estende-se, em particular, para Fátima:
Que a Bem-aventurada Virgem Maria, cujas aparições em Fátima
recordaremos amanhã, seja a nossa guia no caminho da conversão contínua e
penitência ao encontro de Cristo, sol da justiça. Que a sua "luz suave"
nos liberte de todo o mal e dissipe as trevas deste mundo atormentado
pelas guerras.
Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora Aparecida
Na saudação aos fiéis de língua espanhola, o Papa Francisco recordou
que hoje celebra-se Nossa Senhora do Pilar, "Padroeira da Hispanidade". “Que
ela interceda por nós junto do seu Filho, para que possamos descobrir o
desejo profundo que Ele colocou no nosso coração e nos dê a graça de
realizá-lo”. Aos peregrinos que vieram de Portugal, e de outros países de língua portuguesa, especialmente do Brasil, o Papa disse:
Hoje, celebra-se a Senhora da Aparecida com tantos irmãos e irmãs que
chegam em peregrinação ao seu Santuário. E ali, junto da Virgem Mãe,
rezam o terço e cantam a Nossa Senhora da Aparecida. Rezemos com eles pela
paz e peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a assumir o grande desejo do
Pai celeste: fazer-nos a todos, participantes, da sua plenitude de
vida.
O Rosário
Por fim, na saudação aos fiéis de língua polaca, o convite do Papa a recitar o Terço:
O mês de outubro é dedicado ao Santo Rosário. Ao recitar esta
oração, deixa a tua vida e as tuas escolhas quotidianas sejam iluminadas
por Cristo, esplendor da Verdade. Meditando nos mistérios da luz,
lembra-te de São João Paulo II que quis adicioná-los à contemplação dos
outros momentos da vida de Jesus.
Consagração ao Coração de Maria
Em 25 de março, durante a Celebração da Penitência na Basílica de São
Pedro, o Papa Francisco consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado
Coração de Maria. "Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e
consagramos nós mesmos ao vosso Coração Imaculado, a Igreja e toda a
humanidade, especialmente a Rússia e a Ucrânia... Apague o ódio, aplaque
a vingança, ensine-nos o perdão", foi a oração do Pontífice: "Livra-nos
da guerra, preserva o mundo da ameaça nuclear. Que a guerra cesse,
conceda paz ao mundo. Fazei de nós artesãos de comunhão".
Na Praça de São
Pedro, Francisco falou do "desejo" como ingrediente indispensável para o
discernimento. É no diálogo com Deus que aprendemos a compreender o que
verdadeiramente queremos da nossa vida.
Bianca Fraccalvieri - Vatican News
"Senhor, dai-nos o desejo e fazê-lo crescer": na catequese da
Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco deu prosseguimento
ao seu ciclo de reflexões sobre o discernimento, acrescentando mais um
“ingrediente” indispensável: o desejo. Nas semanas precedentes, o Pontífice discorreu sobre a oração e o conhecimento de si.
Com efeito, o discernimento é uma forma de busca, e a busca deriva
sempre de algo que nos falta mas que, de certo modo, conhecemos.
O desejo, todavia, não é a vontade do momento. A palavra italiana vem de um termo latino de-sidus,
literalmente “a falta da estrela”, do ponto de referência que orienta o
caminho da vida; ela evoca um sofrimento, uma carência e, ao mesmo
tempo, uma tensão para alcançar o bem que falta. Então, o desejo é a
bússola para compreender onde estou e para onde vou. "Ou melhor, é a
bússola para entender se estou parado ou se estou em movimento, uma
pessoa que nunca deseja é uma pessoa parada, talvez doente, quase
morta." Obstáculos e fracassos não sufocam o desejo; pelo contrário,
tornam-no ainda mais vivo em nós.
A época em que vivemos, disse ainda o Papa, parece favorecer a máxima liberdade de escolha, mas ao mesmo tempo atrofia o desejo,
reduzido principalmente à vontade do momento. Somos bombardeados por
mil propostas, projetos e possibilidades, que correm o risco de nos
distrair e de não nos permitir avaliar com calma o que realmente
queremos.
Dialogar com o Senhor
Muitas pessoas sofrem porque não sabem o que querem da própria vida;
provavelmente nunca entraram em contcto com o seu desejo mais profundo.
Daqui deriva o risco de passar a existência entre tentativas e
expedientes de vários tipos, sem nunca chegar a lado algum,
desperdiçando oportunidades preciosas.
"Dialogando com o Senhor, aprendemos a compreender o que
verdadeiramente queremos da nossa vida", disse o Papa, que advertiu
quanto ao perigo das lamentações, que travam o desejo.
"Cuidado porque as lamentações são um veneno, um veneno para a alma,
um veneno para a vida, porque não deixam crescer o desejo de ir avante.
Quando há lamentações na família, entre os cônjuges, os filhos que se
lamentam do pai ou os padres do bispo e os bispos de muitas outras
coisas... Não, se vocês vivem de lamentações, cuidado. É quase pecado,
porque não deixa o desejo crescer."
Outra advertência do Pontífice foi quanto aos jovens que ficam presos
no telemóvel, sempre extroversos em direção a outrem. Mas "o desejo não
pode crescer assim", preso somente no momento presente.
Eis então o convite do Papa a pedir ao Senhor que nos ajude a
conhecer profundamente os nossos desejos e concede-nos a força para os
realizar. "É uma graça imensa, na base de todas as outras: permitir que o
Senhor, como no Evangelho, faça milagres para nós: Dai-nos o desejo e
fá-lo crescer, Senhor."
Afinal, também Ele tem um grande desejo em relação a nós: tornar-nos participantes na sua plenitude de vida.
"Os dois Santos
canonizados hoje lembra-nos a importância de caminhar juntos e saber
agradecer", disse Francisco. João Batista Scalabrini "afirmava que, no
caminhar comum daqueles que emigram, é preciso não ver só problemas, mas
também um desígnio da Providência. O irmão salesiano Artemides Zatti
foi um exemplo vivo de gratidão: curado da tuberculose, dedicou toda a
sua vida a favor dos outros, a cuidar com amor e ternura dos doentes".
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco celebrou a missa de canonização do bispo João
Batista Scalabrini e do irmão salesiano Artêmides Zatti, neste domingo
(09/10), na Praça São Pedro.
O Papa iniciou a sua homilia com o episódio do Evangelho, da liturgia
deste domingo, em que dez leprosos caminham juntos e vão ao encontro de
Jesus que os cura, mas somente um deles volta «glorificando a Deus em
voz alta» e agradece a Jesus. Era um samaritano, um estrangeiro.
A seguir, Francisco dete-se em dois aspetos dessa passagem do Evangelho: caminhar juntos e agradecer.
O Papa ressaltou que "no início da narração, não há nenhuma distinção
entre o samaritano e os outros nove. Fala-se simplesmente de dez
leprosos, que formam um grupo e, sem divisão, vão ao encontro de Jesus.
Como sabemos, a lepra não era apenas uma úlcera física, mas também uma
«doença social», porque naquele tempo, por medo do contágio, os leprosos
deviam estar fora da comunidade. Não podiam entrar nos centros
habitados, mas eram mantidos à distância, relegados às margens da vida
social e até religiosa. Caminhando juntos, estes leprosos clamam contra
uma sociedade que os exclui. O samaritano, apesar de ser considerado
herético, «estrangeiro», faz grupo com os outros. A doença e a
fragilidade comuns fazem cair as barreiras e superar toda a exclusão,
como nos recordou na primeira Leitura, Naaman, o sírio, que apesar de
ser rico e poderoso, para se curar teve de mergulhar no rio onde se
banhavam todos os outros".
Tirar as nossas armaduras exteriores
Como nos faz bem tirar as nossas armaduras exteriores, as nossas
barreiras defensivas e tomar um bom banho de humildade, recordando-nos
de que todos somos frágeis por dentro e necessitados de cura, tod rumo a Deus e aos irmãos, sem
nunca nos fecharmos em nós mesmos; pede-nos sempre para nos
reconhecermos necessitados de cura e perdão, e partilharmos as
fragilidades de quem vive ao nosso redor, sem nos sentirmos superiores.
O Papa convidou-nos a verificar se, "na nossa vida, nas nossas
famílias, nos nossos lugares de trabalho e de convivência diária, somos
capazes de caminhar junto com os outros, ouvir, superar a tentação de
nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e pensarmos só nas
nossas necessidades".
Caminhar juntos é a vocação da Igreja
"Mas caminhar juntos", disse ainda o Pontífice, "ser «sinodais», é também a vocação da Igreja".
Perguntemo-nos até que ponto somos realmente comunidades abertas e
inclusivas em relação a todos; se conseguimos trabalhar juntos, padres e
leigos, ao serviço do Evangelho; se temos uma atitude acolhedora – feita
não só de palavras, mas de gestos concretos – tanto para com os
distantes como para com todos os que se aproximam de nós, sentindo-se
inábdeis devido aos seus percursos de vida conturbada. Fazemo-los
sentir parte da comunidade, ou excluímo-los?
Francisco disse ter medo, quando vê "comunidades cristãs que dividem o
mundo em bons e maus, em santos e pecadores". Com isto, "acaba-se por
se sentirem melhor que os outros e manter de fora muitos que Deus quer
abraçar". O Papa disse que é importante "incluir sempre tanto na Igreja como na sociedade, ainda caracterizada por tantas desigualdades e
marginalizações. Incluir todos".
A exclusão dos migrantes é escandalosa
Hoje, no dia em que Scalabrini torna-se santo, gostaria de pensar
nos migrantes. A exclusão dos migrantes é escandalosa. Aliás, a exclusão
dos migrantes é criminosa, faz com que morram diante de nós. E assim,
hoje temos o Mediterrâneo que é o maior cemitério do mundo. A exclusão
dos migrantes é nojenta, é pecaminosa, é criminosa. Não abrir as portas
para quem precisa... "Não os excluímos, os mandamos embora", para os
campos de concentração, onde são explorados e vendidos como escravos.
Irmãos e irmãs, hoje pensamos nos nossos migrantes, aqueles que morrem e
aqueles que são capazes de entrar. Nós os recebemos como irmãos ou exploram-los? Deixo esta pergunta.
A seguir, o Papa se deteve-se no aspeto: agradecer. "No grupo
dos dez leprosos, há apenas um que, ao ver-se curado, regressa para
louvar a Deus e manifestar a sua gratidão a Jesus. Enquanto os outros
nove ficam purificados, mas prosseguem pelo seu caminho, esquecendo-se
d’Aquele que os curou. O samaritano faz do dom recebido o princípio de
um novo caminho: regressa para junto de Quem o sarou, vai conhecer Jesus
de perto, inicia uma relação com Ele. Assim, a sua atitude de gratidão
não é um simples gesto de cortesia, mas o início de um percurso de
gratidão: prostra-se aos pés de Cristo, isto é, faz um gesto de
adoração, reconhecendo que Jesus é o Senhor e que é mais importante do
que a cura recebida".
É fundamental saber agradecer
Esta é uma grande lição também para nós, que todos os dias beneficiamos dos dons de Deus, mas frequentemente prosseguimos pela
nossa estrada esquecendo de cultivar uma relação viva com Ele.
Trata-se de uma grave doença espiritual: dar tudo como garantido,
inclusive a fé, mesmo a nossa relação com Deus, ao ponto de nos tornarmos
cristãos que deixaram de se maravilhar, já não sabem dizer «obrigado»,
não se mostram agradecidos, não sabem ver as maravilhas do Senhor. E
acaba-se, assim, por pensar que tudo o que recebemos diariamente seja
óbvio e devido. Ao contrário, a gratidão, o saber dizer «obrigado» leva-nos a afirmar a presença de Deus-amor e também a reconhecer a
importância dos outros, vencendo o descontentamento e a indiferença que
nos embrutecem o coração.
"É fundamental saber agradecer", reiterou o Papa. "Devemos
diariamente dar graças ao Senhor, saber em cada dia agradecer uns aos
outros: na família, por aquelas pequenas coisas que às vezes recebemos
sem nos perguntar sequer de onde vêm; nos locais que frequentamos
quotidianamente, pelos inúmeros serviços de que usufruímos e pelas
pessoas que nos apoiam; nas nossas comunidades cristãs, pelo amor de
Deus que experimentamos através da proximidade de irmãos e irmãs que
muitas vezes em silêncio rezam, oferecem, sofrem, caminham conosco. Por
favor, não esqueçamos esta palavra-chave: obrigado", sublinhou
Francisco.
A migração de ucranianos que fogem da guerra
Os dois Santos, canonizados hoje, lembram-nos a importância de
caminhar juntos e saber agradecer. O Bispo Scalabrini, que fundou uma
Congregação para o cuidado dos migrantes, aliás, duas: uma masculina e
outra feminina, afirmava que, no caminhar comum daqueles que emigram, é
preciso não ver só problemas, mas também um desígnio da Providência. Há
uma migração, neste momento, aqui na Europa, que nos faz sofrer muito e
nos leva a abrir os nossos corações: a migração de ucranianos que fogem da
guerra. Não nos esqueçamos hoje da martirizada Ucrânia. Scalabrini
olhava mais além, olhava adiante, para um mundo e uma Igreja sem
barreiras, sem estrangeiros. Por sua vez, o irmão salesiano Artêmides
Zatti foi um exemplo vivo de gratidão: curado da tuberculose, dedicou
toda a sua vida a favor dos outros, a cuidar com amor e ternura dos
doentes. Conta-se que o viram carregar aos ombros o corpo morto de um
dos seus doentes. Cheio de gratidão por tudo o que tinha recebido, quis
dizer o seu «obrigado» ocupando-se das feridas dos outros.
O Papa concluiu, convidando a rezar "para que estes nossos santos
irmãos nos ajudem a caminhar juntos, sem muros de divisão; e a cultivar
esta nobreza de alma tão agradável a Deus que é a gratidão".
Francisco disse na
Audiência Geral que "muitas vezes o que é dito num programa na
televisão, em algumas propagandas que são feitas, toca o nosso coração e faz-nos ir para aquela direção sem liberdade". "Tenham cuidado com isto",
advertiu o Papa.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o
discernimento, na Audiência Geral desta quarta-feira (05/10). O tema do
encontro semanal do Pontífice com os fiéis, na Praça de São Pedro, foi "Os
elementos do discernimento. Conhecer a si mesmo".
Na catequese da semana passada, Francisco sublinhou a oração como "um
elemento indispensável do discernimento, entendida como familiaridade e
confidência com Deus. A oração com o coração aberto", sublinhou o Papa.
No encontro de hoje, o Papa ressaltou "que o bom discernimento exige
também o conhecimento denós mesmos". O discernimento envolve "memória,
intelecto, vontade, afetos". "Muitas vezes não sabemos discernir porque
não nos conhecemos bem, e assim não sabemos o que realmente queremos",
sublinhou.
A seguir, Francisco citou um autor de espiritualidade que diz:
«Cheguei à convicção de que o maior obstáculo para o verdadeiro
discernimento (e para o verdadeiro crescimento na oração) não é a
natureza intangível de Deus, mas a constatação de que não nos conhecemos
suficientemente, e nem sequer queremos conhecer-nos como
verdadeiramente somos. Quase todos nós escondem-mo-nos por trás de uma
máscara, não só perante os outros, mas também quando nos olhamos no
espelho».
“Desativar o piloto automático”
Segundo Francisco, conhecer-mo-nos "implica um paciente trabalho de
escavação interior. Requer a capacidade de parar, de “desativar o piloto
automático”, de tomar consciência da nossa maneira de agir, dos
sentimentos que nos habitam, dos pensamentos recorrentes que nos
condicionam, muitas vezes sem que saibamos.
Também requer distinguir entre emoções e faculdades espirituais.
“Sinto” não é a mesma coisa que “estou convencido”; “eu gostaria de” não
é a mesma coisa que “eu quero”. Assim chegamos a reconhecer que a visão
que temos de nós mesmos e da realidade é às vezes um pouco deturpada.
Compreender isto é uma graça! Com efeito, muitas vezes pode acontecer
que convicções erradas sobre a realidade, baseadas nas experiências do
passado, influenciam-nos fortemente, limitando a nossa liberdade de
apostar naquilo que realmente conta na nossa vida".
Vivendo na era da informática, sabemos como é importante conhecer
as senhas para poder entrar nos programas em que se encontram as
informações pessoais e preciosas. Até a vida espiritual tem as suas
“senhas”: há palavras que tocam o coração, porque remetem para aquilo a
que somos mais sensíveis. O tentador conhece bem estas palavras-chave, e
é importante que também nós as conheçamos, para não nos encontrarmos
onde não gostaríamos.
Conhecer as senhas do nosso coração
Segundo o Papa, "a tentação não sugere necessariamente coisas más,
mas muitas vezes coisas desordenadas, apresentadas com uma importância
excessiva. Deste modo, hipnotiza-nos com a atratividade que tais coisas
suscitam em nós, coisas bonitas, mas ilusórias, que não podem cumprir o
que prometem, deixando-nos no final com uma sensação de vazio e de
tristeza. A sensação de vazio e tristeza é um sinal de que tomamos uma
estrada que não era certa, que nos desorientou". As coisas desordenadas
"podem ser o título de estudos, a carreira, os relacionamentos, tudo em
si louvável, mas se não formos livres, corremos o risco de nutrir
expetativas irreais, como por exemplo, a confirmação do nosso valor. Por exemplo, quando pensas num estudo que estás a fazer, pensas nele
somente para te promoveres, para teu próprio interesse, ou também para
servir a comunidade? Assim, é possível ver qual é a intencionalidade de
cada um de nós. Deste mal-entendido muitas vezes vem os maiores
sofrimentos, pois nada disto pode ser a garantia da nossa dignidade",
sublinhou Francisco.
Por isso, queridos irmãos e irmãs é importante conhecer-mo-nos,
conhecer as senhas do nosso coração, aquilo a que somos mais sensíveis,
para nos proteger de quem se apresenta com palavras persuasivas para nos
manipular, mas também para reconhecer o que é realmente importante para
nós, distinguindo-o das modas do momento ou de slogans vistosos e
superficiais. Muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em
algumas propagandas que são feitas, toca o nosso coração e faz-nos ir para
aquela direção sem liberdade. Tenham cuidado com isto: sou livre ou deixo-me levar pelos sentimentos do momento, ou pelas provocações do
momento?
O exame de consciência ajuda muito
O Papa ressaltou que "uma ajuda para isto é o exame de consciência,
ou seja, um exame de consciência geral do dia. O que aconteceu no meu
coração neste dia? Fazer um exame de consciência, ou seja, o bom hábito
de reler com calma o que aconteceu no nosso dia, aprendendo a observar
nas avaliações e escolhas aquilo a que damos mais importância, o que
procuramos e porquê, e o que afinal encontramos. Aprender sobretudo a
reconhecer o que sacia o meu coração. Pois somente o Senhor pode-nos dar
a confirmação de quanto valemos. Ele diz-nos isto todos os dias a partir da
cruz: morreu por nós, para nos mostrar o quão preciosos somos aos seus
olhos. Não há obstáculo nem fracasso que possa impedir o seu terno
abraço.
O exame de consciência ajuda muito, pois assim vemos que o nosso
coração não é uma estrada onde passa de tudo e não sabemos. Não. Ver: o
que passou hoje? O que aconteceu? O que me fez reagir? O que me deixou
triste? O que me deixou alegre? O que foi mau? Fiz mal aos outros? Ver o
percurso dos sentimentos, das atrações no meu coração durante o dia.
"A oração e o conhecimento de nós mesmos permitem-nos crescer na
liberdade. São elementos básicos da existência cristã, elementos
preciosos para encontrar o próprio lugar na vida", concluiu o Papa.
Francisco,
preocupado com a ameaça nuclear e a escalada militar do conflito na
Ucrânia, dedica todo o Angelus a um forte apelo por um cessar-fogo.
Lamenta as anexações, recomenda o respeito à integridade territorial de
cada país e aos direitos das minorias. A dor pelas milhares de vítimas,
"particularmente entre as crianças".
Vatican News
Tradução integral do apelo do Papa Francisco a Putin e a Zelenski pelo fim da guerra:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
O andamento da guerra na Ucrânia tornou-sr tão sério, devastador e
ameaçador, ao ponto de causar grande preocupação. Por isso, hoje eu
gostaria de dedicar toda a reflexão a vós antes do Angelus. De facto,
esta terrível e inconcebível ferida da humanidade, em vez de sarar,
continua a sangrar cada vez mais, correndo o risco de se espalhar.
Afligem-me os rios de sangue e de lágrimas derramados nestes meses. Entristece-mr as milhares de vítimas, particularmente entre crianças, e
as muitas destruições, que deixaram muitas pessoas e famílias sem casa e
ameaçam com o frio e a fome vastos territórios. Certas ações jamais
podem ser justificadas, jamais! É angustiante que o mundo esteja
a aprender a geografia da Ucrânia através de nomes como Bucha, Irpin,
Mariupol, Izium, Zaporizhzhia e outras localidades, que se tornaram
lugares de sofrimento e medo indescritíveis. E o que dizer do facto de
que a humanidade se encontra novamente diante da ameaça atómica? É um
absurdo.
O que ainda deve acontecer? Quanto sangue ainda deve correr para que
possamos entender que a guerra nunca é uma solução, mas só destruição?
Em nome de Deus e em nome do senso de humanidade que habita em cada
coração, renovo o meu apelo para que se alcance um cessar-fogo imediato.
Que as armas se calem e se busquem as condições para iniciar
negociações capazes de conduzir a soluções que não sejam impostas pela
força, mas acordadas, justas e estáveis. E assim serão se estiverem
baseadas no respeito do valor sacrossanto da vida humana, bem como da
soberania e da integridade territorial de cada país, assim como dos
direitos das minorias e das preocupações legítimas.
Lamento profundamente a grave situação criada nos últimos dias, com
novas ações contrárias aos princípios do direito internacional. Isso, de
facto, aumenta o risco de uma escalada nuclear ao ponto de temer
consequências incontroláveis e catastróficas a nível mundial.
O meu apelo é dirigido, em primeiro lugar, ao Presidente da Federação
Russa, suplicando-lhe para parar, também pelo amor do seu povo, esta
espiral de violência e de morte. Da outra parte, entristecido com o
imenso sofrimento do povo ucraniano após a agressão sofrida, dirijo um
apelo igualmente confiante ao Presidente da Ucrânia para ser aberto a
propostas sérias de paz. A todos os protagonistas da vida internacional e
aos líderes políticos das Nações, peço, com insistência, para fazer
tudo o que estiver ao vosso alcance para pôr fim à guerra em curso, sem se
deixarem envolver em escaladas perigosas, e a promover e apoiar
iniciativas de diálogo. Por favor, deixemos as jovens gerações respirar o
ar saudável da paz, não aquele poluído da guerra, que é uma loucura!
Após sete meses de hostilidades, sejam usados todos os meios
diplomáticos, mesmo aqueles que até agora eventualmente não foram
utilizados, para pôr um fim a esta terrível tragédia. A guerra em si é
um erro e um horror!
Confiemos na misericórdia de Deus, que pode mudar os corações, e na
intercessão materna da Rainha da Paz, no momento em que se eleva a
Súplica a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, espiritualmente unidos
aos fiéis reunidos no seu Santuário e em tantas partes do mundo.