quarta-feira, 29 de março de 2023

O Papa: o que muda uma vida é o encontro com o Senhor

 
 
Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco propôs a figura de São Paulo e a sua paixão pelo Evangelho que o levou a ser chamado de Príncipe dos Apóstolos: para um cristão, "converter-se significa refazer aquela mesma experiência de "queda e ressurreição" que Saulo/Paulo viveu e isto está na origem da transfiguração do seu zelo apostólico".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre "A paixão de evangelizar: o zelo apostólico do fiel", na Audiência Geral desta quarta-feira (29/03), realizada na Praça de São Pedro.

A figura de São Paulo foi central neste encontro semanal com os fiéis, pois o Apóstolo dos Gentios testemunhou o que significa ter paixão pelo Evangelho.

O único que pode mudar os nossos corações é o Espírito Santo

"No primeiro capítulo da Carta aos Gálatas, assim como na narração dos Atos dos Apóstolos, observamos que o seu zelo pelo Evangelho aparece depois da sua conversão, e substituo seu zelo precedente pelo judaísmo. Saulo, primeiro nome de Paulo, já era zeloso, mas Cristo converte o seu zelo: da Lei ao Evangelho", disse Francisco.

No caso de Paulo, o que o mudou não foi uma simples ideia ou uma convicção: foi o encontro, esta palavra, foi o encontro com o Senhor ressuscitado – não se esqueçam disto, o que muda uma vida é o encontro com o Senhor – para Saulo foi o encontro com o Senhor ressuscitado que transformou todo o seu ser. A humanidade de Paulo, a sua paixão por Deus e a  sua glória não são aniquiladas, mas transformadas, "convertidas" pelo Espírito Santo. O único que pode mudar os nossos corações é o Espírito Santo.

Tornar-se cristão não é uma maquilhagem que muda o rosto

"E assim para todos os aspetos da sua vida. Como acontece na Eucaristia: o pão e o vinho não desaparecem, mas tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo. O zelo de Paulo permanece, mas torna-se o zelo de Cristo. O significado muda, mas o zelo é o mesmo", sublinhou Francisco.

“Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. Este é o significado de ser uma nova criatura. Tornar-se cristão não é uma maquilhagem que muda o rosto, não! Se és cristão, o teu coração muda, mas se fores cristão de aparência, isto não funciona. Cristãos de maquilhagem, não, não. A verdadeira mudança é a do coração. E isto aconteceu com Paulo.”

Segundo o Papa, a "paixão pelo Evangelho não é questão de compreensão ou de estudos – podes estudar toda a Teologia que quiseres, podes estudar a Bíblia e tudo o mais e virar um ateu ou mundano, não é questão de estudos. Na história houve muitos teólogos ateus! Estudar serve, mas não gera a nova vida da graça. Converter-se significa refazer aquela mesma experiência de 'queda e ressurreição' que Saulo/Paulo viveu e que está na origem da transfiguração do seu zelo apostólico".

A seguir, Francisco disse que "muitas vezes ouvimos comentários sobre as pessoas: 'Mas olha aquele ali, era um miserável e agora é um bom homem, uma boa mulher. Quem o mudou? Jesus. Ele encontrou Jesus. Se Jesus não entrou na tua vida ela não mudou. Vais ser um cristão de fora. Jesus tem que entrar e isto muda-te. Foi o que aconteceu com Paulo. Encontrar Jesus. Por isso, Paulo disse que o amor de Cristo impele-nos, leva-nos adiante. O mesmo aconteceu com todos os santos, a mudança. Quando encontraram Jesus foram em frente".

Um católico elegante não é um católico santo, é elegante

Depois, o Papa fez mais uma reflexão sobre a mudança que aconteceu em Paulo, "que de perseguidor tornou-se apóstolo de Cristo". "Quando iluminado pelo Ressuscitado, descobre que foi "blasfemo e violento". Então ele começa a ser realmente capaz de amar", disse Francisco, acrescentando:

E este é o caminho. Se um de nós disser: 'Ah! Obrigado Senhor, porque sou uma pessoa boa, faço coisas boas, não cometo pecados grandes'. Este não é um bom caminho, este é um caminho de autossuficiência.  É um caminho que não justifica a pessoa. Ele é um católico elegante, mas um católico elegante não é um católico santo, ele é elegante. O verdadeiro católico, o verdadeiro cristão é aquele que recebe Jesus dentro de si, e Ele muda o seu coração.

Por fim, o Papa convidou a todos a questionarem-se: "O que significa Jesus  para mim? Deixo-o entrar no meu coração ou apenas o mantenho por perto, mas não tanto dentro? Deixei que Ele me mudasse ou Jesus é somente uma ideia, uma teologia que vai adiante?" "O zelo é isto: quando alguém encontra Jesus sente o fogo e como Paulo deve prégar Jesus, deve falar de Jesus, deve ajudar as pessoas, deve fazer coisas boas. Quando alguém encontra a ideia de Jesus, permanece um ideólogo do cristianismo e isto não justifica, só Jesus nos justifica. Que o Senhor nos ajude a encontrar Jesus, e que esse Jesus de dentro mude a nossa vida e nos ajude a ajudar os outros", concluiu Francisco.

Vatican News

domingo, 26 de março de 2023

Papa no Angelus: não cedas à dor e ao pessimismo, Deus está perto de nós!

 

 

Francisco no Angelus deste domingo: “talvez também nós, neste momento, carregamos nos nossos corações algum peso ou algum sofrimento, que parecem esmagar-nos. Então é hora de remover a pedra e sair ao encontro de Jesus, que está próximo”. 
 

Silvonei José - Vatican News

"Não cedas ao pessimismo que deprime, ao medo que isola, ao desânimo pela recordação de más experiências, ao medo que paralisa"! O Papa Francisco introduzindo a recitação do Angelus comentou a passagem do Evangelho deste V Domingo da Quaresma, a ressurreição de Lázaro, "querido amigo de Jesus", para sublinhar que Jesus "dá vida mesmo quando parece não haver mais esperança" e "convida-nos a não deixar de acreditar e esperar, a não nos deixarmos esmagar por sentimentos negativos".

"Acontece, às vezes, sentires-te sem esperança, aconteceu com todos, ou encontrar pessoas que perderam a esperança: amarguradas", com "um coração ferido", "por causa de uma perda dolorosa, uma doença, uma deceção, um erro ou uma traição sofrida, por um grave erro cometido", observou o Pontífice.

 

 Papa Francisco 
 

"Às vezes ouvimos as pessoas dizerem: 'Não há mais nada a ser feito!' e fecha a porta a toda esperança. Estes são momentos em que a vida parece um sepulcro fechado: tudo é escuro, ao redor vemos apenas dor e desespero". Em vez disto, Jesus "diz-nos que isto não é assim, o fim não é este, que nestes momentos não estamos sozinhos, pelo contrário, que precisamente nestes momentos Ele aproxima-se mais do que nunca para restaurar a nossa vida". Jesus chora, o Evangelho diz que ele chora diante do sepulcro de Lázaro, e Jesus chora connosco, como chorou por Lázaro: o Evangelho repete duas vezes que ele se comoveu e sublinha que Ele chorou".

 

 Fiéis na Praça São Pedro 

Jesus, continua Francisco, "aproxima-se dos nossos sepulcros e diz-nos, como então: 'Tira a pedra'". "Tira a pedra: a dor, os erros, também os fracassos, não os escondam dentro de vós, num quarto escuro e solitário, fechado". Tira a pedra: tira tudo o que está entrega-me com confiança, sem medo, porque estou contigo, amo-te e desejo que vivas novamente".    

E, como a Lázaro, acrescenta o Papa, "repete a cada um de nós: vem para fora! Levante-se, retoma o caminho, recupera a confiança! Eu levo-te pela mão, como quando tu era uma criança aprendendo a dar os teus primeiros passos". "Tira as ligaduras que te prendem, por favor não cedas ao pessimismo que deprime, não cedas ao medo que isola, não cedas ao desânimo devido à recordação de más experiências, não cedas ao medo que paralisa. Eu quer-te livre e vivo, não te abandonarei e estou contigo". "Não te deixes aprisionar pela dor, não deixes morrer a esperança: volta à vida". "Eu pego-te pela mão e trago-te para fora" da escuridão, diz Jesus.

 

 Fieis na Praça de S. Pedro 

Esta passagem, capítulo 11 do Evangelho de João, faz-nos tão bem lê-la, enfatiza o Papa. "É um hino à vida", diz, "e nós o lemos quando a Páscoa está próxima. Talvez também nós, neste momento, carregamos nos nossos corações algum fardo ou algum sofrimento, que parece esmagar-nos. Alguma coisa má, algum pecado feio, algum erro da juventude", acrescenta Francisco.

"Então é o momento de remover a pedra e sair ao encontro de Jesus, que está próximo". "Conseguimos abrir os nossos corações e confiar as nossas preocupações a Ele? Abrir o sepulcro dos problemas e olhar para além da soleira, em direção à sua luz? Ou será que temos medo disto? E, por sua vez, como pequenos espelhos do amor de Deus, será que conseguimos iluminar os ambientes em que vivemos com palavras e gestos de vida? Damos testemunho da esperança e da alegria de Jesus? Nós pecadores, todos nós?".

Francisco dirigiu-se novamente aos confessores: "Caros irmãos, não esqueçam que  também sois pecadores e que no confessionário não sejam torturadores, mas perdoem tudo".

O Papa concluiu: “Maria, Mãe da Esperança, renova em nós a alegria de não nos sentirmos sozinhos e o chamamento a levar luz à escuridão que nos circunda”.

 

Vatican News

quarta-feira, 22 de março de 2023

Papa: a Igreja vira uma peça de museu se não evangelizar a si mesma

 

 
Acreditas verdadeiramente naquilo que anuncias? Vives aquilo em que acreditas? Pregas verdadeiramente aquilo que vives? Estas são três perguntas, feitas por São Paulo VI, que o Papa repropôs aos fiéis ao dar prosseguimento ao ciclo de catequeses sobre a evangelização.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Uma obra-prima, a “magna carta” da evangelização no mundo contemporâneo: assim o Papa definiu a a Exortação apostólica Evangelii nuntiandi, de São Paulo VI, tema da sua catequese na Audiência Geral deste 22 de março.

Na Praça de São Pedro, diante de milhares de fiéis, Francisco deu continuidade ao ciclo sobre o zelo apostólico, recordando que evangelizar não é uma mera transmissão doutrinal ou moral, mas o testemunho de um encontro pessoal com Jesus Cristo.

"Não se pode evangelizar sem testemunho", recordou o Pontífice. A coerência é fundamental. A credibilidade não vem ao proclamar-se uma doutrina ou uma ideologia.

“Uma pessoa é crível se há harmonia entre aquilo que crê e aquilo que vive: como crer e como viver. Muitos cristãos só dizem crer, mas vivem de outra coisa, como se não fossem. E isto é hipocrisia. O contrário do testemunho é a hipocrisia.”

O Papa então repropôs três perguntas contidas no documento de Paulo VI: Acreditas verdadeiramente naquilo que anuncias? Vives aquilo em que acreditaw? Pregaw verdadeiramente aquilo que vivew?

Para o Papa, não podemos contentar-nos com respostas fáceis, predefinidas. Somos chamados a aceitar até o risco desestabilizador da busca, confiando plenamente na ação do Espírito Santo que age em cada um de nós.

Uma peça de museu

A evangelização, prosseguiu, pressupõe um caminho de santidade. Aliás, a santidade é fulcral: sem a santidade, a evangelização corre o risco de ser vã e infecunda. "Palavras, palavras, palavras", acrescentou  Francisco. 

Da santidade, nasce o zelo pela evangelização, que, por sua vez, faz crescer cada um dos fiéis em santidade na medida em que, antes de levar o Evangelho aos outros, ele próprio reconhece-se como seu destinatário. 

Noutras palavras, devemos estar conscientes de que os destinatários da evangelização não são somente os outros, aqueles que professam outras crenças ou que não as professam, mas também nós mesmos, Povo de Deus.

“E devemos converter-nos todos os dias, acolher na Palavra de Deus e mudar de vida: todos os dias. E assim se faz a evangelização do coração. (...) Para dar este testemunho, também a Igreja enquanto tal deve começar com a evangelização de si mesma. Se a Igreja não evangeliza a si mesma permanece uma peça de museu.”

Sem o Espírito Santo, a Igreja faz só propaganda

Uma Igreja que se evangeliza para evangelizar é uma Igreja que, guiada pelo Espírito Santo, é chamada a percorrer um caminho exigente, de contínua conversão e renovação. Isto implica também a capacidade de mudar os modos de compreender e viver a sua presença evangelizadora na história, evitando refugiar-se nos âmbitos protegidos da lógica do “sempre se fez assim”, uma mentalidade que o Papa definiu como "refúgios que adoecem a Igreja". "A Igreja deve ir adiante, deve crescer continuamente, assim permanecerá jovem."

Francisco então concluiu:

"A Igreja deve ser uma Igreja que dialoga com o mundo contemporâneo, que encontra todos os dias o Senhor e dialoga com o Senhor, e deixa entrar o Espírito Santo que é o protagonista da evangelização. Sem o Espírito Santo, nós podemos somente fazer propaganda da Igreja, não evangelizar. É o Espírito em nós que nos impulsiona para a evangelização e esta é a verdadeira liberdade dos filhos de Deus."

Vatican News

quarta-feira, 15 de março de 2023

O Papa: o cristão é um apóstolo humilde, não vaidoso

 
 
Na Audiência Geral, Francisco continuou a sua catequese sobre a paixão de evangelizar e esclareceu o que significa ser apóstolo hoje: sacerdotes, pessoas consagradas e leigos têm tarefas diferentes, mas um chamamento comum à missão, mesmo para aqueles que ocupam os cargos mais altos no Igreja é chamada para servir.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu com a catequese sobre a paixão de evangelizar, na Audiência Geral desta quarta-feira (15/03), realizada na Praça de São Pedro.

Na escola do Concílio Vaticano II, procuramos entender melhor o que significa “ser apóstolos” hoje em dia. Ser apóstolo significa ser "enviado para uma missão". Assim, o Cristo Ressuscitado envia os seus apóstolos ao mundo, "transmitindo-lhes a força que Ele mesmo recebeu do Pai e dando-lhes o seu Espírito".

A seguir, o Papa falou sobre outro aspeto fundamental do “ser apóstolo”: a vocação, ou seja, o chamamento. Foi assim desde o início: “Jesus chamou os que ele quis e eles foram até ele”. "Constituiu-os como um grupo, dando-lhes o título de "apóstolos", para estarem com Ele e enviá-los em missão", sublinhou Francisco. O mesmo aconteceu com São Paulo, “chamado a ser apóstolo”.

A vocação cristã é também vocação ao apostolado

A experiência dos Doze apóstolos e o testemunho de Paulo interpelam-nos também hoje. Convidam-nos a verificar as nossas atitudes, a verificar as nossas escolhas, as nossas decisões, com base nestes pontos fixos: tudo depende de um chamamento gratuito de Deus; Deus também nos escolhe para serviços que às vezes parecem sobrecarregar as nossas capacidades ou não corresponder às nossas expetativas. O chamamento recebido como um dom gratuito deve ser respondido gratuitamente.

O Concílio ensina que “a vocação cristã é também, pela sua própria natureza, vocação ao apostolado”. Trata-se de um chamamento comum aos que receberam o Sacramento da Ordem, às pessoas consagradas, e a cada fiel leigo, homem ou mulher, "é um chamamento a todos. O tesouro que recebeste como vocação cristã deves doá-lo. É a dinamicidade da vocação, é a dinamicidade da vida", frisou o Papa. "É um chamamento que nos permite desempenhar a nossa tarefa apostólica de maneira ativa e criativa, dentro da Igreja em que «há diversidade de ministério, mas unidade de missão».

A vocação cristã não é uma promoção para subir

No âmbito da unidade da missão, a diversidade de carismas e ministérios não deve dar lugar, no seio do corpo eclesial, a categorias privilegiadas. Não há promoção aqui, e quando concebes a vida cristã como uma promoção, que o de cima comanda os outros porque conseguiu subir, isto não é cristianismo. Isso é puro paganismo. A vocação cristã não é uma promoção para subir, não! Isto é outra coisa.

Existe algo maior, porque, embora «por vontade de Cristo, alguns sejam constituídos doutores, dispensadores dos mistérios e pastores a favor dos demais, reina, porém, a igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os fiéis, em benefício da edificação do corpo de Cristo». "Quem tem mais dignidade na Igreja: o bispo, o sacerdote? Não... Somos todos cristãos a serviço dos outros. Quem é mais importante na Igreja: a religiosa ou a pessoa comum, batizada, não batizada, a criança, o bispo...?

A vocação que Jesus dá é a do serviço

Todos são iguais, somos iguais e quando uma das partes se considera mais importante das outras e levanta um pouco o nariz, então, está errada. Esta não é a vocação de Jesus. A vocação que Jesus dá, a todos, mas também a quantos parecem estar em lugares mais elevados, é a do serviço, o serviço aos outros, a humilhação. Se encontrares uma pessoa que tem uma vocação mais elevada na Igreja, mas é vaidosa, então vs dizer: 'Coitada'! Reze por ela porque não compreendeu qual é a vocação de Deus. A vocação de Deus é a adoração do Pai, o amor à comunidade e o serviço. Isto é ser apóstolo, este é o testemunho dos apóstolos.

"Queridos irmãos e irmãs, estas palavras podem-nos ajudar a verificar o modo em que vivemos a nossa vocação batismal, como vivemos a nossa maneira de ser apóstolos numa Igreja apostólica que está ao serviço dos outros", concluiu Francisco.

Vatcan News

segunda-feira, 13 de março de 2023

Francisco: pelos meus dez anos como Papa, quero a paz como presente

 

 

 "Popecast", o Papa conta sua história em um podcast produzido pela mídia do Vaticano no décimo aniversário de seu pontificado: "Eu não pensava que seria o Papa na época da Terceira Guerra Mundial". "O momento mais bonito? O encontro com os idosos em São Pedro". O que eu não queria ter visto eram os meninos que morreram nos conflitos".

 

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

"A primeira palavra que me vem à cabeça é que parece que foi ontem"...

Santa Marta, no final da tarde. Esta não é uma entrevista, já existem muitas sobre este evento. São pensamentos que amarram o fio de um intenso período eclesial, seu pontificado. Dez anos: vividos em "tensão", diz ele, em um tempo maior que o espaço e que viu o suceder de encontros, viagens, rostos.

Francisco espera à porta, agarrado à bengala. Ele sorri ao microfone com o logotipo da mídia do Vaticano e pergunta: "Um podcast? O que é isso?". "Boa, vamos fazer isso", é a reação após a explicação. Então a pergunta: o que ele sente que está a compartilhar com o mundo por ocasião deste marco para a sua vida e o seu ministério?

O tempo é veloz - é apressado. E quando se quer agarrar o hoje, já é ontem. Viver assim é algo novo. Estes dez anos têm sido assim: uma tensão, viver em tensão

Ouça o "Popecast", o podcast no qual o Papa Francisco fala sobre o décimo aniversário do seu pontificado:

Das milhares de audiências, das centenas de visitas a dioceses e paróquias e das quarenta viagens apostólicas a cada canto do globo, o Papa guarda uma memória precisa no seu coração. Ele identifica-a como "o momento mais bonito": "O encontro na Praça de São Pedro com idosos", a audiência, ou seja, com avós de todo o mundo em 28 de setembro de 2014.

Os idosos são sábios e ajudam-me muito. Eu também sou idoso, não sou?

Houve vários momentos maus e todos relacionados com o horror da guerra. Primeiro as visitas aos cemitérios militares de Redipuglia e Anzio, a comemoração dos desembarques na Normandia, depois a vigília para evitar a guerra na Síria, e agora a barbárie que vem ocorrendo há mais de um ano na Ucrânia. Por trás das guerras está a indústria de armas, isto é diabólico", afirma Francisco.

Francisco não esperava que ele, um bispo que veio do fim do mundo, fosse o Papa que guiaria a Igreja universal no tempo da Terceira Guerra Mundial. Eu pensava que a Síria era uma coisa singular, depois vieram os outros".

Sofro muito ao ver os mortos, jovens - sejam russos ou ucranianos, não me importa – pois eles não voltarão. É difícil.

Jorge Mario Bergoglio não tem dúvidas, portanto, sobre o que pedir ao mundo como um presente para este importante aniversário: "Paz, precisamos de paz".

Assim, três palavras que correspondem aos "três sonhos" do Papa para a Igreja, para o mundo e para aqueles que governam o mundo, para a humanidade

Fraternidade, lágrimas, sorriso...

Vatican News

domingo, 12 de março de 2023

Papa: saciados com o amor de Jesus, ser capazes de saciar a sede dos outros

 
 Vista panorâmica da Praça de S. Pedro durante o Angelus 
 
"O Evangelho oferece hoje a cada um de nós a água viva que pode faz-nos tornar uma fonte de refrigério para os outros (...). Com a alegria de ter encontrado o Senhor poderemos saciar a sede dos outros; poderemos entender a sua sede e partilhar o amor que Ele nos deu."
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Um dos encontros mais belos e fascinantes de Jesus": com estas palavras o Papa começou a sua alocução que precedeu a oração do Angelus deste III Domingo da Quaresma, inspirando-se no encontro de Jesus com a Samaritana, narrado no Evangelho de João (cf. Jo 4, 5-42).

Dirigindo-se aos milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro num domingo primaveril, Francisco explica que "Jesus e os discípulos param perto de um poço em Samaria. Chega uma mulher e Jesus diz-lhe: «Dá-me de beber»". E é precisamente a partir destas palavras do versículo 8, "Dá-me de beber", que o Papa desenvolve sua reflexão: 

“A cena mostra-nos Jesus sedento e cansado, que se deixa encontrar pela samaritana no poço na hora mais quente, ao meio-dia, e como um mendigo pede um refrigério. É uma imagem do abaixamento de Deus, Deus abaixa-se em Jesus Cristo para a redenção, vem a nós. E no abaixamento de Deus em Jesus, Deus fez-se um de nós, abaixou-se; sedento como nós, sofre a mesma aridez que nós.”

Contemplando esta cena - observou o Papa - cada um de nós pode dizer:

O Senhor, o Mestre, pede-me de beber. Tem, portanto, sede como eu? Tem a minha sede? Estás realmente perto de mim, Senhor! Estás ligado à minha pobreza, não consigo acreditar nisso... tiraste-me de baixo, do mais baixo de mim mesmo, onde ninguém me alcança.

A sede de Jesus, de facto, não é somente física, mas "expressa as aridezes mais profundas da nossa vida: é sobretudo sede do nosso amor. Ele é mais que (um) mendigo, é "sedento" de nosso amor. E surgirá no momento culminante da paixão, na Cruz; ali, antes de morrer, Jesus dirá: "'Tenho sede'":

Mas o Senhor, que pede de beber, é Aquele que dá de beber: ao encontrar a Samaritana, fala-lhe da água viva do Espírito Santo, e da Cruz sai do seu lado trespassado sangue e água. Jesus, sedento de amor, sacia-nos de amor. E faz connosco como com a samaritana: vem ao nosso encontro na nossa vida quotidiana, partilha a nossa sede, promete-nos a água viva que faz brotar em nós a vida eterna.

O Papa destaca então um segundo aspeto do pedido "Dá-me de beber":

“Estas palavras não são apenas um pedido de Jesus à samaritana, mas um apelo – às vezes silencioso – que em cada dia se eleva em direção a nós e nos pede para cuidar da sede dos outros. Cuidar da sede dos outros. Dá-me de beber dizem-nos aqueles - na família, tantos, tantos no local de trabalho, tantos nos outros lugares que frequentamos – que têm sede de proximidade, de atenção, de escuta; diz-nos isto quem tem sede da Palavra de Deus e precisa de encontrar na Igreja um oásis onde beber água. Dá-me de beber é o apelo da nossa sociedade, onde a pressa, a corrida ao consumo e sobretudo a indiferença, esta cultura da indiferença geram aridez e vazio interior.”

E recordando que a nossa casa comum também está exausta  e sedenta, Francisco, pede para não nos esquecermos daqueles que não tem água para viver:

E - não esqueçamos - dá-me de beber é o grito de tantos irmãos e irmãs que não têm água para viver, enquanto se continua a poluir e desfigurar a nossa casa comum; e também ela, exausta e sedenta, "tem sede", aquela sede de amor que o levou a descer, a rebaixar-se, a esse abaixamento para ser um de nós.

Diante destes desafios, afirmou o Santo Padre, "o Evangelho oferece hoje a cada um de nós a água viva que pode-nos fazer tornar uma fonte de refrigério para os outros":

E então, como a samaritana, que deixou o seu cântaro junto ao poço e foi chamar os habitantes da cidade, também nós não pensaremos mais somente em aplacar a nossa sede, também a nossa sede intelectual ou cultural, mas com a alegria de ter encontrado o Senhor poderemos saciar a sede dos outros; dar sentido à vida dos outros, não como senhores, mas como servos desta Palavra de Deus que nos saciou, que continuamente nos sacia; seremos capazes de entender a sua sede e partilhar o amor que Ele nos deu.

Francisco disse então que lhe vinha à mente fazer a seguinte pergunta, a ele e a quem o ouvia:

Somos capazes de compreender a sede dos outros? A sede das pessoas, a sede de tantos da minha família, do meu bairro? Hoje podemo.nos interrogar: tenho sede de Deus, e quero perceber que preciso do seu amor como da água para viver? E depois: eu que tenho sede, preocupo-me com a sede dos outros, a sede espiritual, a material?

"Que Nossa Senhora  - disse ao concluir - interceda por nós e nos ampare no caminho."

Vatican News

quarta-feira, 8 de março de 2023

Papa: se é a mulher que promove a paz, precisa de ser valorizada como o homem

Elas "querem a paz, sempre. Sabem expressar força e ternura juntas, são boas, competentes, preparadas, sabem inspirar novas gerações (não apenas os filhos)”  (Vatican Media)

Neste Dia Internacional da Mulher, o prefácio escrito por Francisco no livro sobre liderança feminina volta a enaltecer a importância da igualdade de direitos e oportunidades que deve ser alcançada "na diversidade", escreve o Papa, que relembra: "a paz nasce da mulher" e é justo que ela seja remunerada de igual modo ao homem no que tange a cargos, compromissos e responsabilidades.

 

Andressa Collet - Vatican News

O livro "Mais liderança feminina para um mundo melhor: o cuidado como motor para a nossa casa comum" (Editora Vita e Pensiero), organizado por Anna Maria Tarantola, ganhou prefácio do Papa Francisco. O texto é o resultado de uma pesquisa comum promovida pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, da qual Tarantola é a atual presidente, e pela rede internacional Sacru, denominada Aliança Estratégica de Universidades Católicas de Pesquisa. A investigação, que reuniu 15 académicos de diferentes disciplinas de 10 universidades de 8 países, procurou evidenciar tanto as dificuldades que ainda são enfrentadas pelas mulheres para alcançar papéis de destaque no mundo do trabalho como as vantagens associadas à sua maior presença nas esferas da economia, da política e da própria sociedade.

“Este livro fala de mulheres, dos seus talentos, das suas habilidades e competências, e das desigualdades, violências e preconceitos que ainda caracterizam o mundo feminino. As questões da mulher são particularmente importantes para mim.”

Assim o Papa começou a desenvolver o seu pensamento no prefácio sobre a "plena valorização da mulher". Francisco já salientou  noutras oportunidades que "o homem e a mulher não são iguais e um não é superior ao outro", mas que é a mulher a portadora de harmonia da qual o mundo tanto precisa "para combater a injustiça, a cobiça cega que prejudica as pessoas e o meio ambiente, a guerra injusta e inaceitável".

A procura da igualdade na diversidade

A própria Igreja, segundo o Pontífice, pode-se beneficiar da valorização da mulher, como destacou no discurso na conclusão do Sínodo dos Bispos da Região Panamazónica, em outubro de 2019: "não percebemos o que a mulher significa na Igreja e limitam-mo-nos apenas à parte funcional [...]. Mas o papel da mulher na Igreja vai muito além da funcionalidade. É nisto que devemos continuar a trabalhar. Muito além disto". Um trabalho para abrir oportunidades iguais a homens e mulheres, escreveu o Papa, que deve ser feito por "todos juntos".

“O pensamento das mulheres é diferente daquele dos homens, elas estão mais atentas à proteção ambiental, o seu olhar não está voltado para o passado, mas para o futuro. As mulheres sabem que dão à luz com dor para alcançar uma grande alegria: dar a vida e abrir vastos e novos horizontes. É por isso que as mulheres querem sempre a paz. As mulheres sabem expressar força e ternura juntas, são boas, competentes, preparadas, sabem inspirar novas gerações (não apenas os filhos).”

"É justo", enfatizou assim o Papa no prefácio, "que elas possam expressar essas habilidades em todos os âmbitos, não apenas naquele familiar, e possam ser remuneradas igualmente com os homens por papéis iguais, compromisso e responsabilidade". A capacidade de cuidar, característica feminina desenvolvida dentro da família, pode ser ampliada e "com sucesso", sugeriu o Papa, também "na política, nos negócios, na universidade e no local de trabalho". É o que os economistas chamam de "diversidade eficiente".

“A paz, portanto, nasce da mulher, levanta-se e reascende-se com a ternura das mães. Assim, o sonho da paz torna-se realidade quando se olha para as mulheres. É o meu pensamento que, como emerge da pesquisa, a igualdade deva ser alcançada na diversidade. Não igualdade porque as mulheres adotam o comportamento masculino, mas igualdade porque as portas do campo de jogo estão abertas a todos os jogadores, sem diferenças de género (e também de cor, religião, de cultura...).”

As dificuldades enfrentadas ainda hoje

"As lacunas que ainda existem são uma grave injustiça", escreveu Francisco, como é o caso do preconceito, das desigualdades, do fenómeno da violência condenado várias vezes pelo Pontífice e da falta de acesso à educação por parte das mulheres: "infelizmente, ainda hoje, cerca de 130 milhões de meninas no mundo não vão à escola. Não há liberdade, justiça, desenvolvimento integral, democracia e paz sem educação". Se existisse a plena igualdade de oportunidades, destacou o Papa no prefácio do livro, as mulheres poderiam contribuir para um mundo de paz, de inclusão, de solidariedade e sustentabilidade integral.

Vatican News

O Papa: procurar novas maneiras de anunciar. A evangelização é um serviço

 

 

Na catequeses da Audiência Geral, Francisco disse que "a dimensão eclesial do evangelizador constitui um critério de verificação do zelo apostólico. Se uma pessoa diz-se evangelizadora e não tem aquela atitude, aquele coração de servo, julga-se patrão, não é evangelizador. Não. É um pobre homem".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a paixão pela evangelização, ou seja, o zelo apostólico, na Audiência Geral desta quarta-feira (08/03), realizada na Praça de São Pedro.

Neste encontro semanal com os fiéis, o Pontífice convidou a colocarmo-nos "à escuta do Concílio Vaticano II, para descobrir que evangelizar é sempre um serviço eclesial, nunca solitário, jamais isolado nem individualista". "A evangelização sempre se faz na ecclesia, ou seja, na comunidade e sem proselitismo porque isso não é evangelização", sublinhou.

O evangelizador transmite aquilo que ele ou ela recebeu

Segundo o Papa, "o evangelizador transmite sempre aquilo que ele mesmo ou ela mesma recebeu. Foi São Paulo que o escreveu primeiro: o evangelho que ele anunciava e que as comunidades recebiam e no qual permaneciam firmes é o mesmo que o Apóstolo, por sua vez, tinha recebido. Este dinamismo eclesial de transmissão da Mensagem é vinculativo e garante a autenticidade do anúncio cristão".

Por isso, a dimensão eclesial do evangelizador constitui um critério de verificação do zelo apostólico. Uma verificação necessária, porque a tentação de proceder “solitariamente” está sempre à espreita, de modo especial quando o caminho se torna impérvio e sentimos o peso do compromisso. Igualmente perigosa é a tentação de seguir caminhos pseudoeclesiais mais fáceis, de adotar a lógica mundana dos números e das sondagens, de confiar na força das nossas ideias, dos programas, das estruturas, das “relações que contam”.

A seguir, o Papa falou a propósito do Decreto Ad gentes (AG), o documento sobre a atividade missionária da Igreja, afirmando que este texto conserva "o seu valor, até no nosso contexto complexo e plural".

O amor de Deus não é apenas para um pequeno grupo

Primeiramente, o Decreto Ad gentes "convida-nos a considerar o amor de Deus Pai como uma fonte, que «nos cria livremente pela sua extraordinária e misericordiosa benignidade, e depois chama-nos gratuitamente a partilhar a sua própria vida e glória. Ele quis ser, assim, não só criador de todas as coisas, mas também “tudo em todas as coisas”, conseguindo simultaneamente a sua glória e a nossa felicidade»".

“Esta passagem é fundamental, pois diz que o amor do Pai tem como destinatário cada ser humano. O amor de Deus não é apenas para um pequeno grupo, não. É para todos. Ponha bem na cabeça e no coração esta palavra: todos, todos, ninguém excluído, assim diz o Senhor.”

E este amor por todo o ser humano é um amor que alcança cada homem e mulher através da missão do Filho, medianeiro da salvação e nosso Redentor, e mediante a missão do Espírito Santo, que age em cada um, tanto nos batizados como nos não-batizados.

A Igreja tem a tarefa de continuar a missão de Cristo

O Concílio Vaticano II recorda "que a Igreja tem a tarefa de continuar a missão de Cristo, que foi «enviado a evangelizar os pobres; por isso – acrescenta Ad gentes – a Igreja, movida pelo Espírito Santo, deve seguir o mesmo caminho de Cristo: o caminho da pobreza, da obediência, do serviço e da imolação própria até à morte, morte de que Ele saiu vencedor pela sua ressurreição». Se permanecer fiel a este “caminho”, a missão da Igreja será «a manifestação, ou seja, a epifania e a realização dos desígnios de Deus no mundo e na história»".

Segundo Francisco, "estas breves indicações ajudam-nos também a compreender o sentido eclesial do zelo apostólico de cada discípulo-missionário, porque no Povo de Deus peregrino e evangelizador não existem sujeitos ativos e passivos. «Cada batizado, qualquer que seja a sua função na Igreja e o grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização»".

A evangelização é um serviço

"Em virtude do Batismo recebido e da consequente incorporação na Igreja, cada batizado participa na missão da Igreja e, nela, na missão de Cristo Rei, Sacerdote e Profeta", disse o Papa, acrescentando:

Esta tarefa «é uma e a mesma em toda a parte, sejam quais forem os condicionamentos, embora difira quanto ao exercício conforme as circunstâncias». Isto convida-nos a não nos tornarmos escleróticos nem fossilizados; o zelo missionário do fiel manifesta-se também como procura criativa de novas maneiras de anunciar e testemunhar, de novos modos de encontrar a humanidade ferida que Cristo assumiu. Em síntese, de novas formas de servir o Evangelho e a humanidade.

“A evangelização é um serviço. Se uma pessoa diz-se evangelizadora e não tem aquela atitude, aquele coração de servo, e julga-se patrão, não é evangelizador, não... é um pobre coitado.”

Peçamos ao Senhor a graça "de tomar nas nossas mãos a vocação cristã e dar graças ao Senhor por aquilo que nos deu, este tesouro. E tentar comunicá-lo aos outros", concluiu.

Vatican News

domingo, 5 de março de 2023

O Papa: perceber a beleza do amor nos rostos das pessoas que caminham ao nosso lado

 
 O Papa Francisco no Angelus deste domingo  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)
 
Francisco disse, na sua alocução, que o Evangelho deste domingo "nensina como é importante estar com Jesus, mesmo quando não é fácil entender tudo o que Ele diz e faz por nós". Segundo o Papa, "é estando com Ele que aprendemos a reconhecer, no seu rosto, a beleza luminosa do amor que se doa, mesmo quando carrega os sinais da cruz".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco conduziu a oração mariana do Angelus, neste domingo (05/03), lindo dia de sol na Cidade Eterna.

Os fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro acompanharam as palavras do Pontífice, no II Domingo da Quaresma, em que "é proclamado o Evangelho da Transfiguração: Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João ao monte e revela-se a eles em toda a sua beleza como Filho de Deus".

Francisco convidou-nos a refletir um pouco sobre esta cena e a interrogar-mo-nos: "Em que consiste esta beleza? O que veem os discípulos? Um efeito espetacular? Não se sabe. Não é isto não. Veem a luz da santidade de Deus brilhar no rosto e nas vestes de Jesus, a imagem perfeita do Pai".

Revela-se a majestade de Deus, a beleza de Deus. Mas Deus é Amor, e por isso os discípulos viram com os próprios olhos a beleza e o esplendor do Amor divino encarnado em Cristo. Uma antecipação do paraíso. Eles tiveram uma antecipação do paraíso. Que surpresa para os discípulos! Eles tiveram a face do Amor diante de seus olhos por tanto tempo, e nunca tinham percebido como era lindo! Só agora eles percebem isto, e com tanta alegria, com imensa alegria.

"Jesus, na realidade, com esta experiência os está a formar, os está a preparar para um passo ainda mais importante", pois em breve "eles deverão saber reconhecer a mesma beleza Nele, quando subir na cruz e o seu rosto for desfigurado".

"Pedro esforça-se para entender: ele gostaria de parar o tempo, gostaria de colocar a cena em "pausa", ficar ali e prolongar esta experiência maravilhosa; mas Jesus não permite. De facto, a sua luz não pode ser reduzida a um "momento mágico"! Não é outra coisa. Assim tornar-se-ia uma coisa falsa e artificial que se dissolve na névoa dos sentimentos passageiros." "Ao contrário", disse ainda o Papa, "Cristo é a luz que orienta o caminho, como a coluna de fogo para o povo no deserto. A beleza de Jesus não aliena os discípulos da realidade da vida, mas dá-lhes a força para lhe seguirem até Jerusalém, até à cruz. A beleza de Cristo não é alienante, mas leva-te adiante, não te faz esconder. Vai adiante".

"Irmãos e irmãs, este Evangelho traça um caminho também para nós: ensina-nos como é importante estar com Jesus, mesmo quando não é fácil entender tudo o que Ele diz e faz por nós", disse ainda o Papa, acrescentando:

Com efeito, é estando com Ele que aprendemos a reconhecer, no seu rosto, a beleza luminosa do amor que se doa, mesmo quando carrega os sinais da cruz. É na sua escola que aprendemos a perceber a mesma beleza nos rostos das pessoas que caminham todos os dias ao nosso lado: familiares, amigos, colegas, aqueles que cuidam de nós das mais variadas formas. Quantos rostos luminosos, quantos sorrisos, quantas rugas, quantas lágrimas e cicatrizes falam de amor ao nosso redor! Aprendemos a reconhecê-los e a encher o coração.

"Depois partimos, para levar aos outros a luz que recebemos, com obras concretas de amor, mergulhando-nos com mais generosidade nas tarefas quotidianas, amando, servindo e perdoando com mais ímpeto e disponibilidade. A contemplação das maravilhas de Deus, a contemplação do rosto do Senhor deve levar-nos em frente e ao serviço dos outros", ressaltou Francisco.

A seguir, o Pontífice convidou-nos a fazer as seguintes perguntas: "Sabemos reconhecer a luz do amor de Deus na nossa vida? Reconhecemo-la com alegria e gratidão no rosto das pessoas que nos amam? Procuramos ao nosso redor os sinais dessa luz, que nos enche o coração e o abre ao amor e ao serviço? Ou preferimos os fogos de palha dos ídolos, que nos alienam e nos fecham em nós mesmos? A grande luz do Senhor e a falsa luz artificial dos ídolos. O que prefiro eu?"

"Que Maria, que guardou no coração a luz do seu Filho, mesmo na escuridão do Calvário, nos acompanhe sempre no caminho do amor", concluiu o Papa.

Vatican News