É tempo de
purificar: este é o convite do Papa Francisco. "Se olharmos dentro de
nós, encontraremos quase tudo aquilo que detestamos fora." Que Maria,
então, purifique nosso coração, superando o vício de culpar os outros e
de reclamar de tudo.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
"Há um modo infalível para vencer o mal: começar a derrotá-lo dentro
de nós." Assim o Papa Francisco comenta o Evangelho deste domingo, 22º
do Tempo Comum.
A Liturgia mostra alguns escribas e fariseus escandalizados com a
atitude dos discípulos de Jesus por não lavarem as mãos antes de tocar os
alimentos.
“Porque Jesus e os seus discípulos ignoram estas tradições?”,
questiona o Papa, explicando que para o Mestre é importante restabelecer
a fé ao seu centro. É um risco observar formalidades externas colocando
em segundo lugar o coração da fé. "Também nós muitas vezes 'maquilhamos' a
alma." Para Francisco, trata-se do risco de uma religiosidade da
aparência: aparecer bem por fora, esquecendo de purificar o coração.
“Há sempre a tentação de ‘sistematizar Deus’ com alguma devoção
exterior, mas Jesus não se contenta com este culto. Não quer
exterioridade, quer uma fé que chegue ao coração.”
Palavras revolucionárias
A este espanto dos escribas e fariseus, Jesus responde: "O que torna
impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora. Mas é de dentro do
coração humano que saem as más intenções".
O Papa define estas palavras como “revolucionárias”, porque Jesus
inverte a perspetiva: não faz mal o que vem de fora, mas o que nasce de
dentro.
Isto diz respeito também a nós, observa o Pontífice. Com frequência,
pensamos que o mal provenha sobretudo de fora: dos comportamentos dos
outros, de quem pensa mal de nós, da sociedade.
“É sempre culpa dos ‘outros’: das pessoas, de quem governa, do azar.
Parece que os problemas chegam sempre de fora. E passamos o tempo a
distribuir as culpas; mas passar o tempo a culpar os outros é perder
tempo.”
Culpar os outros é perda de tempo
Nervosismo, ressentimento, tristeza e acidez afastam Deus do coração:
“Não se pode ser realmente religioso na lamentação”, recorda ainda
Francisco.
“Peçamos hoje ao Senhor que nos liberte de culpar os outros. Peçamos
na oração a graça de não desperdiçar o tempo poluindo o mundo com
reclamações, porque isto não é cristão.”
O convite de Jesus é a olhar a vida e o mundo a partir do nosso
coração, pedindo que Ele o purifique para tornar o mundo mais limpo. “Se
olharmos dentro de nós, encontraremos quase tudo aquilo que detestamos
fora”, afirma o Papa.
Portanto, indica Francisco, há um modo infalível para vencer o mal:
começar a derrotá-lo dentro de nós. Os primeiros Pais da Igreja e também
muitos monges, acrescenta o Pontífice, afirmam que o primeiro passo no
caminho da santidade é acusar-mo-nos a nós mesmos.
"Quantos de nós, num momento do dia ou da semana é capaz de
se acusar a si mesmo? 'Sim, mas esta pessoa fez-me isto, fez aquilo, o
outro fez uma barbaridade... Mas eu faço o mesmo. É uma sabedoria:
aprender a acusar a nós mesmos. Tentem fazer isto, far-vos-á bem. A mim
faz bem, quando consigo."
“Que a Virgem Maria, que transformou a história através da pureza
do seu coração, nos ajude a purificar o nosso, superando antes de tudo o
vício de culpar os outros e de reclamar de tudo.”
"Estou a falar
seriamente: intensificar a oração e praticar o jejum, pedindo ao Senhor
misericórdia e perdão." De modo particular, o Papa dirigiu-se aos
cristãos para que não fiquem indiferentes aos acontecimentos no
Afeganistão
Vatican News
“Não podemos ficar indiferentes!”
O Papa Francisco foi contundente ao falar do Afeganistão, neste domingo, no final da oração do Angelus.
O Pontífice afirmou que acompanha com grande preocupação a situação
no país e é partícipe do sofrimento das pessoas que perderam familiares e
amigos nos ataques suicidas da quinta-feira passada, e também das
pessoas que procuram ajuda e proteção.
Francisco confia à misericórdia de Deus os mortos e agradece a quem
trabalha para ajudar a “população tão provada”, em especial as mulheres e
as crianças.
O apelo do Papa é para que se continue a assistir os necessitados e a
rezar para que o diálogo e a solidariedade levem a estabelecer uma
convivência pacífica e fraterna, oferecendo esperança para o futuro do
país.
“Em momentos históricos como este, não podemos permanecer
indiferentes: à história da Igreja que nos ensina isto. Como cristãos, esta
situação compromete-nos. Por isto, dirijo um apelo a todos para
intensificar a oração e a praticar o jejum: oração e jejum, oração e
penitência. Este é o momento para fazê-lo. Estou a falar seriamente:
intensificar a oração e praticar o jejum, pedindo ao Senhor misericórdia
e perdão."
O risco de ataques
A ameaça de ataques no Afeganistão permanece elevada, enquanto os
Estados Unidos continuam a correr contra o tempo para retirar todo o seu
pessoal do país até 31 de agosto. A ameaça é crível, segundo
Washington, o que não exclui atos terroristas mesmo em solo dos Estados Unidos.
Os milicianos, que agrediram os civis que faziam fila nos caixas
eletrónicos para levantar dinheiro, dizem estarem prontos para assumir o
controlo total do aeroporto em breve, logo que os militares e civis dos
EUA partirem. Entretanto, eles isolaram todo o aeroporto, impedindo o
acesso aos afegãos que ainda esperam ser evacuados do país, dos quais
100.000 ficaram retidos. Itália e Reino Unido já enceraram a ponte área.
Na próxima semana, os talibãs afirmam que será anunciado o novo
governo, enquanto já foram cortaram quase todas as redes de Internet e
telecomunicações na província nordeste de Panshir, uma das duas áreas,
juntamente com a de Baghlan, não controlada por eles, mas pelos homens
da resistência.
A situação da infância
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) adverte que há
300.000 crianças necessitadas de ajuda. Muitos foram obrigados a
abandonar as suas casas após a chegada dos talibãs e um milhão de
crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição grave. Além
disto, mais de 4 milhões de crianças, incluindo mais de 2 milhões de
meninas, estão fora da escola.
Nota de esclarecimento da Conferência Episcopal Portuguesa – Lisboa, 24 de agosto de 2021
As leituras da Eucaristia do domingo passado tiveram ecos
diversificados sobre o seu sentido e oportunidade, justamente lidas no
contexto vivo e atual das perspetivas preocupantes da situação das
mulheres no Afeganistão. Sem entrar em polémicas, é preciso ver com
atenção alguns aspetos da leitura de São Paulo, procurando fazer justiça
ao sentido do texto.
Antes de mais, é preciso olhar o texto na sua inteireza, para se dar
conta do seu sentido no próprio contexto. Por isso, aqui fica a primeira
parte do texto que foi lido, que diz respeito ao tema em questão,
tirado da Carta aos Efésios:
“Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres
submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da
mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o
Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as
mulheres se devem submeter em tudo aos maridos. Maridos, amai as vossas
mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela… Assim devem
os maridos amar as suas mulheres, como os seus corpos. Quem ama a sua
mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo,
antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós
somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe, para
se unir à sua mulher, e serão dois numa só carne. É grande este
mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja.”
Tenha-se em conta que Paulo se situa no contexto legal do direito
familiar romano, que concedia melhores direitos às mulheres do que a
maioria das culturas da época, mas que não deixava de pôr em relevo o
papel do marido como “pater familias – pai de família”, como
titular da família no seu conjunto e garantia dos direitos e deveres de
cada um e o seu funcionamento relacional e social. Este quadro
permaneceu nas gerações sucessivas, concretamente no direito português,
até há pouco tempo. Paulo não põe em causa o direito romano, mas dá-lhe
uma interpretação nova, à luz de Cristo, “Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo”, que Ele ama até dar por ela a vida.
O que causa “escândalo”, nos dias de hoje, é o conceito de
“submissão” proposto à mulher. Não se trata, porém, de algo
exclusivamente aplicada às mulheres, mas a todos. A leitura começa
precisamente por dizer: “Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo.” Em
Paulo, esta submissão não significa menor importância ou subserviência,
mas o dar prioridade aos outros, como forma de atenção e cuidado; não
centrar a vida e o pensar em si próprio, mas no amor que deve regular
todo o relacionamento entre pessoas.
Paulo aplica este quadro jurídico-social à instituição familiar, como
princípio da mútua atenção e cuidado, afirmando duas coisas. Em
primeiro lugar, dê-se o devido cuidado e prioridade (submeta-se) à
relação familiar que tem como representante social o marido, na sua
relação com a esposa. Este princípio básico, que se aplica à mulher, mas
igualmente aos outros membros da família, é completado com aquilo que o
“pai de família” representa: o amor, antes de mais aplicado ao amor
entre os esposos: “Maridos, amai as vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela”.
Esta proposta, necessariamente complementar à que é dirigida à
mulher, deve ser vista com duas perspetivas que aclaram todo o texto.
Primeiramente, o “amor” e a “submissão” não se aplicam apenas a um dos
esposos, mas são a lei básica do relacionamento humano, segundo o
Evangelho: “Saberão todos que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros.” Em segundo lugar, a medida do amor é reportada a Cristo, que “amou a Igreja e Se entregou por ela”.
É à luz de Cristo que se entende a dimensão do amor, até à total
entrega e ao dom da vida por aqueles que se ama. E é também essa a norma
para a correta interpretação de qualquer autoridade, representatividade
ou primazia. Não se trata de mandar submeter ou depreciar ninguém, mas
de cuidar e dar prioridade no dom e no serviço do dia a dia. Na
perspetiva de Jesus, bem presente em Paulo, a liderança é serviço e dom
de si mesmo, pois Ele veio “não para ser servido, mas para servir e dar a vida”.
O verdadeiro exemplo e medida de submissão e de serviço, como dom e
amor, é o próprio Jesus, para os esposos e para qualquer outro membro da
família e da Igreja.
Dito isto, pode-se dizer: então porque não se muda o texto, para que
não se deem interpretações incorretas? A pergunta tem a sua razão de
ser, mas é claro para a Igreja e para quem quiser interpretar textos e
tradições com origem noutras culturas e noutros tempos: os textos não se
mudam, mas educam-se os leitores a entendê-los e a atualizá-los. Por
exemplo, não se mudam os versos épicos de Camões, porque não
correspondem à mentalidade atual e até, em alguns casos, podem causar
escândalo. Isso seria cair na arbitrariedade e na ditadura das modas e
na imposição da cultura única. É por isso que se estuda Camões nas
escolas, para que todos tenham acesso à beleza dos seus versos, dentro
dos condicionalismos da sua época.
A Palavra de Deus permanece viva e atual e é importante que seja
escutada sempre com a sua sonoridade original. O próprio Jesus deu o
exemplo de leitura ao relê-la e reinterpretá-la à luz da nova realidade
que era Ele próprio e a situação daqueles a quem se dirigia. Conservar a
Palavra de Deus e a Tradição é continuar a fazê-las soar em assembleias
vivas, como as pautas de música dos grandes autores, constantemente
atuais, porque continuam a alegrar corações, a criar sonhos e a gerar
estéticas novas, cada vez que se executam.
Na catequese, o
Pontífice convidou os cristãos inspirarem-se em Paulo, homem reto que
não tem medo da verdade. A hipocrisia, afirmou, pode colocar em perigo a
unidade na Igreja.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
A hipocrisia foi o tema da Audiência Geral desta quarta-feira
(25/08). Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São
Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco citou um episódio narrado pelo
Apóstolo ocorrido em Antioquia.
O protagonista é Pedro e o que está em jogo é a relação entre a Lei e
a liberdade. O objeto da crítica foi o comportamento de Pedro à mesa,
que mudou de acordo com a companhia. A Lei proibia aos judeus,
partilhar refeições com não judeus. Pedro estava à mesa sem qualquer
dificuldade com os cristãos que tinham vindo do paganismo, mas quando
alguns cristãos de Jerusalém, circuncidados, chegaram à cidade, ele já
não o fez, para não incorrer nas críticas deles. Isto é grave aos olhos
de Paulo, até porque Pedro estava a ser imitado por outros discípulos e o
seu comportamento criou uma divisão injusta na comunidade.
Paulo recorda aos cristãos que eles não devem absolutamente escutar
aqueles que pregam a necessidade de serem circuncidados e assim ficar
“sob a Lei” com todas as suas prescrições. Na sua repreensão, Paulo usa
um termo que permite entrar nos méritos da sua reação: hipocrisia (cf. Gl 2, 13).
A observância da Lei por parte dos cristãos levou a este
comportamento hipócrita, que o Apóstolo pretende combater com força e
convicção.
Papa saúda fiéis na Sala Paulo VI
Fingir é maquilhar a alma
Para Francisco, hipocrisia é o medo da verdade. As pessoas
preferem fingir do que ser elas mesmas. "É como maquilhar a alma, maquilhar
as atitudes, o modo de proceder: não é a verdade." Fingir impede a
coragem de dizer a verdade abertamente, e assim facilmente se evita a
obrigação de a dizer sempre, em todo o lado e apesar de tudo.
"O fingimento leva a isto: às meias verdades", disse ainda o Papa. E
as meias verdades são um fingimento, são um modo de agir não verdadeiro e
que impede a coragem, de dizer abertamente a verdade. Num ambiente em
que as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, o
vírus da hipocrisia propaga-se facilmente.
O Papa recorda que há vários exemplos na Bíblia onde a hipocrisia é
combatida, como o velho Eleazar, e situações em que Jesus repreende
fortemente aqueles que parecem justos no exterior, mas no interior estão
cheios de falsidade e iniquidade.
“O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque
vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a
verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: limita-se a
viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com
transparência.”
O hipócrita não sabe amar
Há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer, adverte
Francisco: no trabalho, na política e até mesmo na Igreja, onde “é
particularmente detestável”. “Infelizmente, existe hipocrisia na Igreja.
Há muitos cristãos e ministros hipócritas.”
Francisco encerra a sua catequese citando as palavras de Jesus: «Seja
este o vosso modo de falar: sim, sim, não, não; tudo o que for além
disto procede do espírito do mal» (Mt 5, 37).
“Irmãos e irmãs, pensemos nisto que Paulo condena: a hipocrisia; e
que Jesus condena: a hipocrisia. E não tenhamos medo de sermos
verdadeiros, de dizer a verdade, de sentir a verdade, de nos conformar à
verdade. Assim poderemos amar. O hipócrita não sabe amar. Agir de outra
forma é pôr em perigo a unidade na Igreja, aquela pela qual o próprio
Senhor rezou.”
"Não nos
surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás,
preocupemo-nos antes, se não nos colocar em crise, porque talvez tenhamos diluído
a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e converter pelas
suas ‘palavras de vida eterna’", disse Francisco no Angelus deste
domingo, 22 de agosto, XXI Domingo do Tempo Comum. "Que Maria
Santíssima, que carregou o seu Filho Jesus na carne e se uniu ao seu
sacrifício, nos ajude a dar sempre testemunho da nossa fé com a vida
concreta", rezou o Papa
Raimundo de Lima - Vatican News
“Não devemos procurar Deus em sonhos e imagens de grandeza e poder, mas
devemos reconhecê-lo na humanidade de Jesus e, consequentemente, na dos
irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida.”
Foi o que disse o Papa na alocução que precedeu o Angelus, ao
meio-dia deste XXI Domingo do Tempo Comum, neste dia 22 de agosto, rezando a
oração mariana com os fiéis e peregrinos presentes na Praça de S. Pedro.
Jesus, o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida
Explicando a Liturgia do dia, Francisco destacou que o Evangelho (Jo
6, 60-69) mostra-nos a reação da multidão e dos discípulos ao discurso
de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convidou a interpretar esse
sinal e a acreditar n’Ele, que é o verdadeiro pão descido do céu, o pão
da vida; e revelou que o pão que Ele dará é a sua a carne e o seu sangue.
Estas palavras, disse o Santo Padre, soam duras e incompreensíveis
aos ouvidos do povo, tanto que, a partir daquele momento, muitos dos seus
discípulos voltam atrás, ou seja, deixam de seguir o Mestre. Então
Jesus pergunta aos Doze: "Não quereis também vós partir?", e Pedro, em
nome de todo o grupo, confirma a decisão de ficar com Ele: "Senhor, a
quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos
que tu és o Santo de Deus".
O Pontífice deteve-se brevemente na atitude daqueles que se retiram e
voltam para trás, decidindo não seguir mais Jesus. De onde nasce essa
descrença? Qual é o motivo desta recusa? – perguntou Francisco.
O escândalo da encarnação de Deus
“As palavras de Jesus causam grande escândalo: Ele está a dizer
que Deus escolheu manifestar-se e trazer a salvação na fraqueza da carne
humana. A encarnação de Deus é o que suscita escândalo e que representa
para estas pessoas - mas muitas vezes também para nós - um obstáculo.
De facto, Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a
vida eterna, é a sua própria carne; que para entrar em comunhão com Deus,
antes de observar as leis ou cumprir os preceitos religiosos, é preciso
viver uma relação real e concreta com Ele.”
O Santo Padre prosseguiu ressaltando que Deus fez-se carne e sangue:
abaixou-se ao ponto se tornar homem como nós, humilhou-se a ponto de
assumir o nosso sofrimento e pecado, e pede-nos para procurá-lo,
portanto, não fora da vida e da história, mas no relacionamento com
Cristo e com os irmãos e irmãs.
"Loucura" do Evangelho
Ainda hoje, a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode causar
escândalo e não é fácil de aceitar. É o que S. Paulo chama de "loucura"
do Evangelho diante daqueles que procuram os milagres ou a sabedoria do
mundo (cf. 1 Cor 1, 18-25).
E este "escândalo" é bem representado pelo sacramento da
Eucaristia: que sentido pode haver, aos olhos do mundo, ajoelhar-se
diante de um pedaço de pão? Por que motivo alimentar-se assiduamente
deste pão?
“Diante do gesto prodigioso de Jesus que alimenta milhares de pessoas
com cinco pães e dois peixes, todos o aclamam e querem levá-lo em
triunfo. Mas quando Ele mesmo explica que este gesto é o sinal do seu
sacrifício, ou seja, do dom da sua vida, da sua carne e do seu sangue, e
que aqueles que o querem seguir devem assimilá-lo, na sua humanidade dada
por Deus e pelos outros, então não, este Jesus não agrada mais”,
observou o Papa.
Deixemo-nos colocar em crise
"Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás, preocupemo-nos se não nos coloca em crise, porque talvez tenhamos
diluído a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e
converter pelas suas 'palavras de vida eterna'", frisou Francisco.
Após a oração mariana, o Pontífice saudou os fiéis presentes na praça
provenientes de vários países e de diferentes regiões da Itália. Encontgravam-se também numerosos grupos de jovens aos quais o Papa dirigiu o seu
encorajamento para trilhar no caminho do Evangelho.
Quando se chega à
fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra
autoridade. ”Fár-nos-á bem perguntarmo-nos se ainda vivemos no período
em que precisamos da Lei, ou se estamos bem conscientes de que recebemos
a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor”, disse o
Papa na catequese da audiência geral desta quarta-feira (18/08), ao
falar sobre o valor propedêutico da Lei, segundo o ensinamento do
Apóstolo São Paulo
Raimundo de Lima - Vatican News
“Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve
dar lugar a outra autoridade.” Foi o que disse o Papa na audiência geral
desta quarta-feira, (18/08) na Sala Paulo VI, no Vaticano, ao falar
sobre o valor propedêutico da Lei, dando prosseguimento à sua série de
catequeses sobre a Carta aos Gálatas.
São Paulo ensinou-nos que os “filhos da promessa” (Gl 4, 28), através
da fé em Jesus Cristo, não estão sob o vínculo da Lei, mas são chamados
ao estilo de vida exigente na liberdade do Evangelho. No entanto, a Lei
existe, observou o Pontífice.
O papel da Lei, segundo São Paulo
Portanto, na catequese de hoje, perguntamo-nos: qual é, segundo a
Carta aos Gálatas, o papel da Lei? No trecho que ouvimos – disse o
Santo Padre referindo-se à leitura proposta antes de sua catequese (Gl
3, 23-25) - Paulo diz que a Lei foi como um pedagogo. É uma bonita
imagem, que merece ser compreendida no seu justo significado.
Parece que o Apóstolo sugere que os cristãos dividem a história da
salvação, e também a própria história pessoal, em dois momentos: antes
de se tornarem crentes e depois de terem recebido a fé. No centro está o
acontecimento da morte e ressurreição de Jesus, que Paulo pregou a fim
de suscitar a fé no Filho de Deus, fonte da salvação, explicou o Papa.
Por conseguinte, continuou Francisco, partindo da fé em Cristo, há um
“antes” e um “depois” em relação à própria Lei. A história anterior é
determinada pelo facto de estar “sob a Lei”; a história subsequente deve
ser vivida seguindo o Espírito Santo (cf. Gl 5, 25). É a primeira vez
que Paulo usa esta expressão: estar “sob a Lei”. O significado
subjacente implica a ideia de uma servidão negativa, típica dos
escravos. O Apóstolo torna-o explícito dizendo que quando se está “sob a
Lei” é como estar “vigiado” e “preso”, uma espécie de custódia
preventiva. Este tempo, diz São Paulo, durou muito e perpetua-se
enquanto se vive em pecado.
Prosseguindo a sua catequese, o Pontífice chamou a atenção para o
facto de que a relação entre a Lei e o pecado será explicada de uma forma
mais sistemática pelo Apóstolo na sua Carta aos Romanos, escrita alguns
anos após a Carta aos Gálatas.
Livres da lei, servimos num espírito novo
Em síntese, a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas
conscientes do próprio pecado. Aliás, como ensina a experiência comum, o
preceito acaba por estimular a transgressão.
Na Carta aos Romanos, escreve: “Quando estávamos na carne, as paixões
pecaminosas, fortalecidas pela lei, operavam nos nossos membros e
produziam frutos para a morte. Agora, porém, livres da lei, estamos
mortos para o que nos sujeitara, de modo que servimos num espírito novo e
não segundo uma lei antiquada” (7, 5-6).
De modo lapidário, enfatizou o Santo Padre, Paulo expõe a sua visão
da Lei: “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei” (1
Cor 15, 56). Neste contexto, a referência ao papel pedagógico
desempenhado pela Lei assume o seu pleno sentido.
No sistema escolar da antiguidade, explicou Francisco, o pedagogo não
tinha a função que lhe atribuímos hoje, ou seja, dar educação de um
rapaz ou de uma jovem. Naquela época, ele era um escravo cuja tarefa
consistia em acompanhar o filho do dono ao mestre e depois trazê-lo para
casa. Desta forma tinha de o proteger do perigo e vigiar para que não
se comportasse mal. A sua função era bastante disciplinar. Quando o
rapaz se tornava adulto, o pedagogo cessava as suas funções.
A função da Lei na história de Israel
Dito isto, o Pontífice frisou ainda que a referência à Lei nestes
termos permite que são Paulo esclareça a sua função na história de
Israel.
“A Torá tinha sido um ato de magnanimidade por parte de Deus para com
o seu povo. Certamente teve funções restritivas, mas ao mesmo tempo
protegeu o povo, educou-o, disciplinou-o e sustentou-o na sua fraqueza.”
É por esta razão que o Apóstolo reflete sucessivamente ao descrever a
fase da menoridade: “Enquanto o herdeiro é menino, em nada difere do
servo, ainda que seja senhor de tudo, pois está sob o domínio de tutores
e administradores, até ao dia determinado pelo pai. Assim também nós,
quando éramos meninos, estávamos subjugados pelos elementos do mundo”
(Gl 4, 1-3).
Amadurecimento da fé e superação da Lei
Em suma, a convicção do Apóstolo é que a Lei tem certamente uma
função positiva, mas limitada no tempo. A sua duração não pode ser
prolongada para além disso, pois está ligada à maturação dos indivíduos e
à sua escolha de liberdade. Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu
valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.
Francisco concluiu afirmando que “este ensinamento sobre o valor da
lei é muito importante e merece ser considerado cuidadosamente para não
cair em equívocos nem dar passos falsos. Far-nos-á bem perguntarmo-nos
se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei, ou se estamos bem
conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus
para viver no amor.”
Francisco disse na
sua alocução no dia da Solenidade da Assunção que "Maria, na sua
pequenez, conquista os céus primeiro. O segredo do seu sucesso está
precisamente em se reconhecer pequena e necessitada". Com Deus, somente
aqueles que se reconhecem como nada são capazes de receber tudo.
Silvonei José - Vatican News
"No Evangelho deste domingo, Solenidade da Assunção da Santíssima
Virgem Maria ao Céu, destaca-se o Magnificat. Este cântico de louvor é
como uma fotografia" da Mãe de Deus. Maria 'alegra-se em Deus, porque
olhou para a humildade da sua serva'. A humildade é o segredo de Maria. É
a humildade que atraiu o olhar de Deus para ela." Estas são palavras do
Papa Francisco antes do Angelus na solenidade da Assunção da Santíssima
Virgem Maria, pronunciadas da janela do seu escritório no Palácio
Apostólico do Vaticano diante dos fiéis e peregrinos reunidos na Praça
de S. Pedro. "O olho humano - continuou o Papa - procura a grandeza e
fica deslumbrado com o que é vistoso. Deus, por outro lado, não olha
para as aparências, mas para o coração e encanta-se com a humildade.
Hoje, olhando para Maria assunta, podemos dizer que a humildade é o
caminho que leva ao céu":
A palavra 'humildade' vem do latim humus, que significa 'terra'",
disse o Papa. É paradoxal: para chegar ao topo, ao céu, tens que
permanecer baixo, como a terra! Jesus ensina: "Aquele que se humilha
será exaltado. Deus não nos exalta pelos nossos dons, pelas nossas riquezas e
habilidades, mas pela nossa humildade. Deus exalta quem se abaixa, quem
serve. Maria, de facto, a si mesma não atribui outro 'título' a não ser
de serva: ela é "a serva do Senhor". Ela não diz mais nada sobre si
mesma, ela não procura mais nada para si mesma.
Hoje, então, - enfatizou Francisco - podemo-nos perguntar: como vivo
a humildade? Procuro ser reconhecido por outros, afirmar-me e ser
elogiado, ou penso em servir? Eu sei escutar, como Maria, ou será que
eu só quero falar, receber atenção? Eu sei ficar em silêncio, como
Maria, ou estou sempre a falar? Será que sei dar um passo atrás,
evitar brigas e discussões ou apenas tento sobressair?
"Conquista primeiro os céus"
Maria, na sua pequenez, conquista primeiro os céus". O segredo do seu
sucesso está precisamente em reconhecer-se pequena e necessitada",
sublinhou o Papa Francisco. Com Deus, somente aqueles que se reconhecem
como nada são capazes de receber tudo. Somente aqueles que se esvaziam
são preenchidos por Ele. E Maria é a "cheia de graça" precisamente pela sua humildade. Para nós também, a humildade é o ponto de
partida, o início de nossa fé. É fundamental ser pobre em espírito, ou
seja, necessitados de Deus. Aquele que está cheio de si mesmo não dá
espaço a Deus, mas aquele que permanece humilde permite que o Senhor
realize grandes coisas. O poeta Dante chama a Virgem Maria de "humilde e
elevada mais do que criatura''.
O Papa Francisco disse seqguidamrnte que é bom pensar que a criatura
mais humilde e alta da história, a primeira a conquistar os céus com
todo o seu ser, de corpo e alma, passou a maior parte da sua vida entre
as paredes da sua casa, no quotidiano. Os dias da cheia de graça não
foram muito impressionantes. Eram muitas vezes iguais, no silêncio: no
exterior, nada de extraordinário. Mas o olhar de Deus permaneceu sempre
sobre ela, admirado pela sua humildade, a sua disponibilidade, pela beleza
do seu coração, nunca tocada pelo pecado. Esta é uma grande mensagem
de esperança para nós; para ti, que vives dias iguais, cansativos e muitas vezes difíceis.
Fiéis na Praça São Pedro - Angelus
Vamos celebrá-la hoje com o amor de filhos
Maria recorda-nos hoje que Deus também te chama para este destino
de glória - continuou o Papa . "Estas não são palavras bonitas, é a
verdade. Não é um final feliz engenhosamente criado, uma ilusão piedosa
ou uma falsa consolação. Não, é a pura realidade, viva e verdadeira como
Nossa Senhora assunta ao Céu".
O Papa então convidou os fiéis presentes na Praça de S. Pedro: Vamos
celebrá-la hoje com o amor de filhos, animados pela esperança de um dia
estar com ela no Céu!
Francisco pediu então que todos rezassem a Nossa Senhora para que ela
nos possa acompanhar no caminho da Terra para o céu. Pediu ainda a
Nossa Senhora que nos recorde que o segredo do caminho está contido na
palavra humildade. E que a pequenez e o serviço são os segredos para
alcançar a meta''.
“Aqueles que
procuram a vida precisam de olhar para a promessa e para a sua realização
em Cristo”. Palavras do Papa Francisco ao refletir sobre a “Lei” na
Carta aos Gálatas do Apóstolo Paulo, na Audiência Geral desta quarta-feira,
11 de agosto, na Sala Paulo VI
Jane Nogara - Vatican News
Na Audiência desta quarta-feira (11/08) o Papa Francisco continuou
as suas catequeses sobre a Carta aos Gálatas com o tema de hoje “Porque,
então, a Lei? Esta é a questão que, seguindo S. Paulo, queremos
aprofundar hoje, para reconhecer a novidade da vida cristã animada
pelo Espírito Santo”, explicou o Papa.
“Quando Paulo fala da Lei refere-se normalmente à Lei mosaica, à lei
de Moisés, aos Dez Mandamentos. Estava relacionada com a Aliança que
Deus tinha estabelecido com o seu povo”. “A Lei - segundo vários textos
do Antigo testamento - é a coleção de todas as prescrições e regras que
os israelitas devem observar, em virtude da Aliança com Deus”. “A
observância da Lei garantiu ao povo os benefícios da Aliança e o vínculo
especial com Deus”. “A ligação entre Aliança e Lei era tão estreita que
as duas realidades eram inseparáveis. A lei é a expressão de que uma
pessoa, um povo está em aliança com Deus”.
Intuições de Paulo sustentado pela graça
Por isso, observa Francisco, “é fácil compreender como os
missionários que se tinham infiltrado entre os Gálatas tiveram uma boa
oportunidade de reivindicar que a adesão à Aliança também implicava a
observância da Lei de Moisés”. E o Papa explica que assim chegamos ao
foco da questão: “É precisamente sobre este ponto que podemos descobrir a
inteligência espiritual de S. Paulo e as grandes intuições que ele
expressou, sustentado pela graça que recebeu para sua missão
evangelizadora”.
“O Apóstolo explica aos Gálatas que, na realidade, a Aliança e a
Lei não estão ligadas de modo indissolúvel. Pois a Aliança estabelecida
por Deus com Abraão estava fundamentada sobre a fé no cumprimento da
promessa e não sobre a observância da Lei, que ainda não existia. Pois,
se a herança se obtivesse pela Lei, já não proviria da promessa”
Desta forma Paulo alcançou um primeiro objetivo: “a Lei não é a base da Aliança porque veio mais tarde”.
Viver no Espírito Santo que liberta da Lei
“Dito isto, não se deve pensar que S. Paulo era contra a Lei
mosaica. Várias vezes nas suas Cartas, defende a sua origem divina e
afirma que desempenha um papel muito específico na história da
salvação”, esclarece o Papa.
“No entanto, a Lei não dá vida, não oferece o cumprimento da
promessa, pois não está em condições de a poder cumprir. Aqueles que
procuram a vida precisam de olhar para a promessa e para a sua realização
em Cristo”
Por fim Francisco conclui:
"Caríssimos, esta primeira exposição do Apóstolo aos Gálatas
apresenta a novidade radical da vida cristã: todos aqueles que têm fé em
Jesus Cristo são chamados a viver no Espírito Santo, que liberta da Lei
e ao mesmo tempo a leva ao cumprimento segundo o mandamento do amor".
"Isto é muito importante, a lei leva-nos a Jesus. Mas alguns de vós
podem dizer-me: Mas, Padre, uma coisa: isto significa que se eu rezar o
Credo, não tenho que cumprir os mandamentos"? Não, os mandamentos são
atuais no sentido de que são 'pedagogos' que te levam ao encontro com
Jesus, mas se deixares de lado o encontro com Jesus e quiseres dar
maior importância aos mandamentos, este foi o problema destes
missionários fundamentalistas que se intrometiam entre os Gálatas para
desorientá-los. Que o Senhor nos ajude a ir adiante no caminho dos
mandamentos, mas olhando o amor de Cristo com o encontro com Cristo
sabendo que o encontro com Jesus é mais importante do que todos os
mandamentos".
“O verdadeiro pão
da vida é o que nos faz viver, ao contrário sobrevivemos, porque só Ele
alimenta as nossas almas, dá-nos a força para amar e perdoar, dá ao coração
a paz que procuramos, dá a vida para sempre quando a vida aqui termina”.
Palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo, 8 de agosto
Jane Nogara – Vatican News
“Eu sou o pão da vida”: este é o tema aprofundado pelo Papa Francisco
no Angelus deste domingo, 8 de agosto na Praça de S. Pedro. Referindo-se
ao Evangelho de hoje, o Papa convidou a refletir sobre o “que significa o
pão da vida”, observando que “que têm fome não pedem comida refinada e
cara, pedem pão. Os desempregados não pedem salários enormes, mas sim o
‘pão’ de um emprego. Jesus revela-se como o pão, ou seja, o essencial, o
necessário para a vida de cada dia”
Só o pão da vida alimenta as nossas almas
O verdadeiro pão da vida, continua o Papa, é o que nos faz viver, ao contrário sobrevivemos porque:
“Só Ele alimenta as nossas almas, só Ele nos perdoa daquele mal que
não podemos vencer por nós mesmos, só Ele nos faz sentir amados mesmo
que todos nos decepcionem, só Ele nos dá a força para amar e perdoar nas
dificuldades, só Ele dá ao coração a paz que procuramos, só Ele dá a vida
para sempre quando a vida aqui termina”
Recordando que Jesus fala por parábolas, na expressão “Eu sou o pão
da vida” ele resume todo o seu ser e toda a sua missão. Isto será visto
plenamente no final, na Última Ceia. Ao dar a própria vida, a própria
carne, o próprio coração, para que possamos ter a vida Jesus faz com que
desperte em nós a maravilha diante do dom da Eucaristia.
A adoração enche a vida de maravilha
Francisco recorda-nos:
“Ninguém neste mundo, não importa o quanto ame outra pessoa, pode
fazer-se alimento para ela. Deus o fez, e o faz, por nós. Renovemos esta
maravilha. Façamo-lo adorando o Pão da Vida, porque a adoração enche a
vida de maravilha”
Porém, as pessoas escandalizam-se com as suas palavras “Eu sou o pão que
desceu do céu”, será que também nós estaríamos mais à vontade com um
Deus que está no céu sem se intrometer? E o Pontífice afirma:
“Deus tornou-se homem para entrar na concretude do mundo. E a ele
interessa tudo das nossas vidas. Jesus deseja esta intimidade connosco”
Ele que é o pão
Concluindo:
“O que ele não deseja? Ser relegado para segundo plano – Ele que é
o pão -, ser negligenciado e posto de lado, ou colocado em questão
apenas quando precisamos”.
Por fim Francisco convidou para que pelo menos uma vez por dia “antes
de partir o pão, convidar Jesus, o pão da vida, pedir-lhe simplesmente
que abençoe o que fizemos e o que não conseguimos fazer”.
“Que a Virgem Maria, na qual o Verbo se fez carne, nos ajude a crescer dia após dia na amizade com Jesus, o pão da vida”.
É justo
apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que
age bem para além das nossas expetativas, deseja viver connosco sobretudo uma
relação de amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não
se ama para receber um favor em troca!"
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
No centro de uma fé imatura não existe Deus, mas as nossas
necessidades. Assim, para viver uma relação de amor verdadeiro com o
Senhor, devemos interrogar-nos sobre os motivos pelo qual O procuramos,
fugindo assim da tentação idolátrica que leva a procurá-Lo apenas para o
“próprio uso e consumo”, e depois de satisfeitos, “esquecermo-nos dele”.
Jesus o Pão da vida: a narrativa do Evangelho de João da liturgia
deste XVIII Domingo do Tempo Comum, ofereceu ao Santo Padre a ocasião
para exortar-nos a procurar uma relação com Deus que “vá além das lógicas
do interesse e do cálculo”, ou seja, a ter com Ele uma relação de amor.
Dirigindo-se aos fiéis e turistas reunidos na Praça de S. Pedro a uma
temperatura de 34ºC, Francisco comenta que as pessoas que testemunharam a multiplicação dos pães não compreenderam o
significado do gesto, “restringiram-se ao milagre externo e ao pão
material.”
Fiéis e turistas na Praça de S. Pedro para o Angelus
O risco da "tentação idolátrica"
Neste sentido, o Papa propõe, a primeira pergunta que poderíamos fazer
a nós mesmos: “Porque procuramos o Senhor? Porque procuro o Senhor?
Quais são as motivações da minha fé, da nossa fé?”:
“Temos necessidade de discernir isto, porque entre as tantas
tentações que temos na vida, entre as tantas tentações há uma que
poderíamos chamar de tentação idolátrica. É aquela que nos leva a procurar Deus para o nosso próprio uso e consumo, para resolver os problemas,
para obter, graças a Ele, o que não conseguimos obter sozinhos, por
interesse.”
Passar de uma fé mágica para uma fé que agrada a Deus
Vem então uma segunda questão: "Mas, como fazer para purificar a
nossa procura de Deus? Como passar de uma fé mágica, que só pensa nas
próprias necessidades, para uma fé que agrada a Deus?”. E é o próprio
Jesus que responde, afirmando que “a obra de Deus é acolher Aquele que o
Pai enviou, ou seja, Ele mesmo, Jesus”:
“Não é acrescentar práticas religiosas ou observar especiais
preceitos; é acolher Jesus, é acolhê-Lo na vida, é viver uma história de
amor com Ele. Será Ele quem purificará a nossa fé. Sozinhos, não somos
capazes. Mas o Senhor deseja uma relação de amor connosco: antes das
coisas que recebemos e fazemos, existe Ele a ser amado. Existe uma
relação com Ele que vai para além das lógicas do interesse e do cálculo.”
A partir da amizade com Jesus, aprender a amarmos uns aos outros
E isto – disse Francisco - vale não só em relação a Deus, mas também nas nossas relações humanas e sociais:
“[ Quando procuramos sobretudo a satisfação das nossas necessidades,
corremos o risco de usar as pessoas e de instrumentalizar as situações
para os nossos objetivos. Quantas vezes ouvimos sobre uma pessoa: 'Mas
ele usa as pessoas e depois esquece-se'. Usar as pessoas em proveito
próprio, é feio! E uma sociedade que coloca no centro os interesses,
em vez das pessoas, é uma sociedade que não gera vida. O convite do
Evangelho é este: em vez de nos preocuparmos apenas com o pão material
que nos alimenta, acolhamos Jesus como o pão da vida e, a partir da
amizade com Ele, aprendamos a amar-nos uns aos outros. Com gratuidade e
sem cálculos. Amor gratuito e sem cálculos, sem usar as pessoas, com
gratuidade, com generosidade, com magnanimidade.]”
Rezemos agora à
Virgem Santa - disse o Santo Padre ao concluir - Aquela que viveu a mais
bela história de amor com Deus, para que nos conceda a graça de nos
abrirmos ao encontro com o seu Filho.