quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Papa: inveja e vanglória, vícios de quem sonha ser o centro do mundo

 

 
Na Audiência Geral desta quarta-feira (28), Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes. O texto da reflexão dedicado à inveja e à vanglória foi proferido por mons. Ciampanelli, colaborador da Secretaria de Estado. Para combater tais vícios, os remédios são o amor gratuito e o reconhecimento de que Deus está presente na nossa própria fraqueza.
 

Thulio Fonseca - Vatican News

Após uma semana de pausa, devido ao retiro espiritual quaresmal dos membros da Cúria Romana, e ainda recuperando de uma "leve gripe", conforme comunicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, que levou o Pontífice a cancelar algumas atividades no sábado e na segunda-feira, Francisco esteve presente na Sala Paulo VI para a Audiência Geral desta quarta-feira, 28 de fevereiro.

Ao saudar os fiéis e peregrinos, o Papa afirmou: "Queridos irmãos e irmãs, ainda estou um pouco resfriado. Por isso, pedi ao mons. Ciampanelli para ler a catequese de hoje", e de seguida, o colaborador da Secretaria de Estado proferiu o discurso que dá continuidade à reflexão sobre os vícios e as virtudes.

 

Francisco, no momento em que explica aos fiéis que confiou a leitura da catequese ao monsenhor Ciampanelli

 

O rosto do invejoso é sempre triste

"Hoje examinaremos dois pecados capitais que encontramos nas grandes listas que a tradição espiritual nos deixou: a inveja e a vanglória", introduz mons. Ciampanelli, dedicando a primeira parte da reflexão à inveja:

"Quando lemos a Sagrada Escritura, percebemos que este vício nos é apresentado como um dos mais antigos: o ódio de Caim por Abel é desencadeado quando ele percebe que os sacrifícios do seu irmão agradam a Deus. O rosto do invejoso é sempre triste: o seu olhar está baixo, parece examinar continuamente o chão, mas na realidade não vê nada, porque a mente está envolvida por pensamentos cheios de malícia. A inveja, se não for controlada, leva ao ódio pelos outros. Abel será morto pelas mãos de Caim, que não podia suportar a felicidade do irmão."

Deus tem uma "matemática" própria

O texto do Papa sublinha que "na raiz deste vício existe uma relação de ódio e amor: deseja-se mal ao outro, mas secretamente deseja-se ser como ele".

A inveja faz-nos criar uma falsa ideia de Deus, não se aceita que Deus tenha uma "matemática" própria, diferente da nossa:

"Gostaríamos de impor a Deus a nossa lógica egoísta, mas a lógica de Deus é o amor. Os bens que Ele nos dá são feitos para serem partilhados. É por isso que São Paulo exorta os cristãos: 'Com amizade fraterna, sede afetuosos uns com os outros. Rivalizai uns com os outros na estima recíproca' (Rm 12,10). Eis aqui o remédio para a inveja!"

 

Aula Paulo VI durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 28 de fevereiro
 

A vanglória é uma autoestima inflamada e infundada

A segunda parte da catequese de Francisco volta-se para a vanglória, e mons. Ciampanelli, na leitura do texto, recorda que este vício anda de mãos dadas com o demónio da inveja, sendo típico de quem aspira ser o centro do mundo, livre para explorar tudo e todos, objeto de todo louvor e todo amor:

"A pessoa vangloriosa não tem empatia e não percebe que existem outras pessoas no mundo além dela. As suas relações são sempre instrumentais, caracterizadas pela opressão dos outros. A sua pessoa, as suas façanhas, os seus sucessos devem ser mostrados a todos: é uma perpétua mendiga da atenção. E se, às vezes, as suas qualidades não são reconhecidas, fica extremamente irritada. Os outros são injustos, não entendem, não estão à altura."

Nas fraquezas, a força de Cristo

"Para curar os vangloriosos, os mestres espirituais não sugerem muitos remédios", recorda o texto do Papa, "porque, em última análise, o mal da vaidade tem em si o seu remédio: os elogios que o vanglorioso esperava colher no mundo logo se voltarão contra ele. E quantas pessoas, iludidas por uma falsa imagem de si mesmas, caíram em pecados dos quais logo se envergonhariam!"

Na conclusão, mons. Ciampanelli ressalta na leitura da catequese, que a mais bela instrução para vencer a vanglória encontra-se no testemunho de São Paulo:

"O Apóstolo sempre teve de lidar com uma falha que nunca foi capaz de superar. Três vezes pediu ao Senhor que o libertasse daquele tormento, mas no final Jesus respondeu-lhe: 'Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se consuma'. A partir daquele dia, Paulo foi libertado. E a sua conclusão deveria tornar-se também a nossa: 'É, portanto, de bom grado que prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo' (2Cor 12,9)."

 

Audiência Geral com o Papa Francisco

Vatican News

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Papa no Angelus: Abramo-nos à luz de Jesus



 
Durante o Angelus deste domingo (25/02), Francisco incentiva-nos a manter sempre os nossos olhos fixos no rosto luminosas, procuremos a sua face, repleta de misericórdia, de fidelidade e de esperança”, destaca o Pontífice. 
 

Thulio Fonseca - Vatican News

Mesmo recuperando de uma “leve gripe”, conforme comunicado ontem (24/02) pela Sala de Imprensa do Vaticano, o Papa compareceu ao seu compromisso dominical: a oração mariana do Angelus com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Na sua reflexão, Francisco meditou sobre o Evangelho deste segundo domingo da Quaresma (25/02), que narra o episódio da Transfiguração de Jesus (cf. Mc 9,2-10).

O Santo Padre recordou que "depois de anunciar a sua Paixão aos discípulos, Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João, sobe um alto monte e ali manifesta-se fisicamente com toda a sua luz, revelando-lhe o sentido do que tinham vivido juntos até aquele momento".

A pregação do Reino, o perdão dos pecados, as curas e os sinais realizados eram, de facto, centelhas de uma luz ainda maior: "a luz de Jesus, a luz que é Jesus", enfatizou o Papa.

Jamais desviar os olhos da luz de Jesus

Segundo Francisco, é a isto que os cristãos são chamados a fazer no caminho da vida: "ter sempre diante dos olhos o rosto luminoso de Cristo". 

“Abramo-nos à luz de Jesus! Ele é amor e vida sem fim. Ao longo das trilhas da existência, às vezes tortuosas, procuremos a sua face, repleta de misericórdia, de fidelidade e de esperança.”

 

Praça São Pedro repleta de fiéis e peregrinos neste domingo, 25 de fevereiro

Cultivar um olhar atento

O Pontífice destacou que a oração, a escuta da Palavra, os Sacramentos, especialmente a Confissão e a Eucaristia, são importantes auxílios para seguir este percurso, e completou: 

“Eis um bom propósito para a Quaresma: cultivar olhares atentos, tornarmo-nos 'exploradores de luz', exploradores da luz de Jesus na oração e nas pessoas.”

Maria, resplandecente da luz de Deus

Por fim, o convite do Papa a uma reflexão interior: 

"No meu caminho, mantenho os olhos fixos em Cristo que me acompanha? E para fazê-lo, dou espaço ao silêncio, à oração, à adoração? Por fim, procuro cada pequeno raio da luz de Jesus, que se reflete em mim e em cada irmão e irmã que encontro? E lembro-me de agradecê-lo por isso?" 

"Maria, resplandecente da luz de Deus, nos ajude a manter o olhar fixo em Jesus e a nos olharmos mutuamente com confiança e amor", conclui Francisco.

Vatican News

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Papa: Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contacto com a verdade

 

 
Os "animais selvagens" que temos no coração, ou seja, as paixões desordenadas de vários tipos, podem levar ao risco de sermos dilacerados interiormente; enquanto os anjos recordam as boas inspirações divinas que "acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, o sabor do Céu".
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Ir ao deserto para perceber a presença dos "animais selvagens"  e anjos no nosso coração, e com o silêncio e a oração captar os pensamentos e sentimentos inspirados por Deus.

Em síntese, este foi o convite do Papa aos milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro num dia ensolarado e temperatura amena, para o Angelus neste I Domingo da Quaresma.

"Animais selvagens e anjos", companhias de Jesus no deserto e também nossas

O Evangelho de Marcos - que inspirou a reflexão de Francisco - narra que Jesus «ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás», e também nós - observou o Papa - "somos convidados na Quaresma a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, em contacto com a verdade"

A leitura narra que "animais selvagens e anjos" eram a companhia de Jesus no deserto. Mas, num sentido simbólico - explicou o Papa - "são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fcto, podemos encontrar ali animais selvagens e anjos."

E explica então, o sentido desses "animais selvagens":

Na vida espiritual podemos pensar neles como as paixões desordenadas que dividem o nosso coração, tentando possuir o coração. Elas sugestionam-nos, parecem sedutoras, mas, se não estivermos atentos, levam ao risco de nos dilacerar.

Os "animais" alojados em nossa alma

E  Francisco diz  ainda que podemos dar nomes a esses “animais” da alma:

Os vários vícios, a ganância de riqueza, que aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que condena à inquietação e à solidão, e ainda também a avidez pela fama, que gera insegurança e uma necessidade contínua de confirmação e protagonismo.  É interessante: não nos esquecermos dessas coisas que podemos encontrar dentro de nós: ganância, vaidade e avidez. São como animais “selvagens” e como tais devem ser domesticados e combatidos: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a Quaresma ajuda-nos a entrar no deserto interior para corrigir estas coisas.

O "serviço" em oposição à "posse"

Mas junto com Jesus no deserto, além dos "animais selvagens", estavam também os anjos, "mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem". E segundo o Evangelho, a sua característica "é o serviço":

Exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço em oposição à posse. Os espíritos angélicos, em vez disso, recordam os pensamentos e bons sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações dilaceram-nos, as boas inspirações divinas unificam-nos e fazem-nos entrar em harmonia: acalmam o coração, infundem o sabor de Cristo, infundem “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus e entender bem, é preciso entrar no silêncio e oração. E a Quaresma é tempo para fazer isso. Sigamos em frente.

Retirarmo-nos para o deserto e ouvir Deus que fala no coração

Assim, ao darmos os primeiros passos no caminho quaresmal, o Papa propõe que a nós mesmos façamos duas perguntas:

Primeiro: quais são as paixões desordenadas, os “animais selvagens” que se agitam no meu coração? Segundo: para permitir que a voz de Deus fale ao meu coração e o guarde no bem, penso retirar-me um pouco para o “deserto”, ou procuro dedicar durante o dia algum espaço para repensar isso?

Ao concluir, o Papa pediu "que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do Maligno, nos ajude no tempo da Quaresma."

Vatican News

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Francisco: o amor precisa de concretude, presença, encontro

 

Concretude é a palavra que mais se repete na reflexão de Francisco no Angelus deste domingo. "inclina-se, toma pela mão e cura". O pensamento do Papa dirige-se a um mundo dominado por "uma virtualidade efémera das relações", enquanto o amor "precisa de presença, encontro, tempo e espaço dados", selfies ou "mensagens precipitadas" não bastam. 

 

Mariangela Jaguraba/Jackson Erpen – Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (11/02), Dia Mundial do Enfermo, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice falou sobre o Evangelho deste domingo que nos apresenta a cura de um leproso.

"Ao doente, que lhe implora, Jesus responde: “Eu quero: fica curado!”. Pronuncia uma frase muito simples, que coloca imediatamente em prática. De facto, “no mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado.” "Este é o estilo de Jesus com quem sofre: poucas palavras e factos concretos", sublinhou o Papa.

A seguir, Francisco disse que muitas vezes no Evangelho, Jesus comporta-se assim com aqueles que sofrem: surdos-mudos, paralíticos e muitos outros necessitados. "Ele fez sempre assim: fala pouco e as acompanha imediatamente por ações: neste caso, inclina-se, pega pela mão, cura. Não se detém em discursos ou interrogatórios, muito menos em pietismo e sentimentalismos. Demonstra, pelo contrário, o pudor delicado de quem escuta atentamente e age com solicitude, de preferência sem chamar a atenção", ressaltou o Pontífice.

É uma maneira maravilhosa de amar, e como nos faz bem imaginá-la e assimilá-la! Pensemos também, quando nos acontece, encontrar pessoas que se comportam assim: sóbrias nas palavras, mas generosas no agir; relutantes em aparecer, mas prontas em tornarem-se úteis; eficazes em socorrer, porque dispostas a ouvir. Amigas e amigos a quem se pode dizer: “Podes-me ouvir? Queres ajuda-me?”, com a confiança de ouvir a resposta, quase com as palavras de Jesus: “Sim, eu quero, estou aqui para ti, para ajudá-te!" Esta concretude é ainda mais importante num mundo como o nosso, em que uma virtualidade evanescente das relações parece ganhar cada vez mais terreno.

A "Palavra de Deus provoca-nos", disse o Papa, citando um trecho da Carta de São Tiago que diz: «Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?».

O amor precisa de concretude. O amor que não é concreto não é forte, precisa de presença, de encontro, precisa de tempo e de espaço dados: não pode limitar-se a belas palavras, a imagens numa tela, a selfies de um momento ou a mensagens precipitadas. São instrumentos úteis, que podem ajudar, mas não bastam para o amor, não podem substituir-se à presença concreta.

Francisco convidou cada um a perguntar-se: "Sei ouvir as pessoas, estou disponível para os seus bons pedidos? Ou dou desculpas, adio, escondo-me atrás de palavras abstratas e inúteis? Concretamente, quando foi a última vez que fui visitar uma pessoa solitária ou doente, ou que mudei os meus planos para atender às necessidades de quem me pedia ajuda?"

"Que Maria, solícita no cuidar, nos ajude a ser prontos e concretos no amor", concluiu o Papa.

Vatican News

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Papa: atenção à tristeza, é como um verme que corrói o coração

 

 

Há uma tristeza "que nos leva à salvação", mas há também aquela que pode transformar-se "num estado de espírito maligno". Francisco ao refletir na Audiência Geral desta quarta-feira, 07/02, sobre o vício da tristeza, advertiu: "é preciso combater esse demÓnio perverso e isto pode ser feito pensando em Jesus, que nos traz sempre a alegria da ressurreição".

 

Thulio Fonseca - Vatican News

"Entendida como um abatimento da alma, uma aflição constante que impede o homem de sentir alegria na sua própria existência." Com estas palavras, o Papa Francisco introduziu o tema da sua reflexão dedicada à tristeza nesta quarta-feira, 7 de fevereiro. Esta é a sétima catequese do itinerário sobre os vícios e as virtudes.

O Santo Padre recordou logo no início que, em relação à tristeza, os Padres do deserto desenvolveram uma distinção importante: "existe uma tristeza que é própria da vida cristã e que com a graça de Deus transforma-se em alegria: esta, obviamente, não deve ser rejeitada e faz parte do caminho de conversão. Mas há também um segundo tipo de tristeza que se infiltra na alma e a prostra num estado de desânimo; este segundo deve ser combatido.

Uma tristeza amiga

Ao sublinhar que existe "uma tristeza amiga, que nos leva à salvação" o Santo Padre trouxe como exemplo o filho pródigo da parábola, quando chega ao fundo da sua degeneração, sente uma grande amargura, e isso leva-o a voltar a si mesmo e a decidir voltar para a casa do pai (cf. Lc 15, 11-20).

"É uma graça sentir dor pelos nossos pecados, lembrar o estado de graça do qual caímos, chorar porque perdemos a pureza na qual Deus nos sonhou."

A tristeza está ligada à vivência da perda e da frustração

"Mas há uma segunda tristeza, que é antes uma doença da alma", continuou o Papa, "este vício nasce no coração do homem quando desaparece um desejo ou uma esperança". Ao referir-se à história dos discípulos de Emaús, presente no Evangelho de Lucas, Francisco recorda que "aqueles dois discípulos saem de Jerusalém com o coração desiludido" e, a certa altura, confidenciam ao "desconhecido" que se junta a eles a experiência triste que estavam a sentir com a morte daquele que era o Salvador: 

"A dinâmica da tristeza está ligada à vivência da perda. No coração do homem surgem esperanças que às vezes são frustradas. Pode ser o desejo de possuir algo que não pode ser obtido; mas também algo importante, como uma perda emocional. Quando isso acontece, é como se o coração do homem caísse num precipício, e os sentimentos que ele experimenta são desânimo, fraqueza de espírito, depressão, angústia".

O sentimento de melancolia adoece o coração

O Papa enfatizou que "todos nós passamos por provações que nos geram tristeza, pois a vida faz-nos conceber sonhos que depois desmoronam". Nesta situação, alguns, depois de um período de turbulência, confiam na esperança, mas outros afundam-se na melancolia, permitindo que ela gangrene os seus corações, e assim ficam felizes por um facto que não aconteceu, é como comer uma bala amarga, sem açúcar: "a tristeza é um prazer do não prazer", disse o Pontífice.

"Certos lutos prolongados, em que uma pessoa continua a ampliar o vazio daqueles que já não estão mais lá, não são próprios da vida no Espírito. Certas amarguras rancorosas, pelas quais uma pessoa tem sempre em mente uma reivindicação que a faz assumir as roupas da vítima, não produzem em nós uma vida saudável, e muito menos cristã. Há algo no passado de todos que precisa de ser curado".

“A tristeza pode transformar-se de uma emoção natural num estado de humor maligno. É um demónio sorrateiro, o da tristeza. Os Padres do deserto o descreviam como um verme do coração, que corrói e esvazia aquele que o hospedou.”

Por fim, o Papa convidou os fiéis a estarem atentos ao vício da tristeza e a recordarem sempre que Jesus traz a alegria da Ressurreição. E de modo concreto, com algumas perguntas, falou sobre o que se pode fazer quando vem o sentimento de tristeza:

"Para e reflete: esta tristeza é boa? Esta tristeza não é boa? E reage de acordo com a natureza da tristeza. Não te esqueças de que a tristeza pode ser uma coisa muito má que nos leva ao pessimismo, que nos leva a um egoísmo que dificilmente pode ser curado", concluiu Francisco.

Vatican News

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Papa: quando descobrimos o verdadeiro rosto do Pai, a nossa fé amadurece

 
 
"Jesus, que vai ao encontro da humanidade ferida, mostra-nos o rosto do Pai. Pode ser que dentro de nós ainda exista a ideia de um Deus distante, frio, indiferente à nossa sorte. O Evangelho, ao contrário, mostra-nos que Jesus, depois de ter ensinado na sinagoga, sai, para que a Palavra que pregou possa alcançar, tocar e curar as pessoas."
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Abandonar a imagem do Deus que pensamos conhecer e converter-nos a cada dia ao Deus que Jesus nos mostra no Evangelho, Pai de amor e compaixão.

Contínuo movimento de Jesus fala-nos de Deus e interpela-nos

Este foi o convite do Papa na sua alocução antes de rezar o Angelus neste 4 de fevereiro, V Domingo do Tempo Comum, em que a liturgia propõe-nos o Evangelho de Marcos 1, 29-39. E precisamente o "contínuo movimento de Jesus" narrado pelo evangelista, "diz-nos algo muito importante sobre Deus e interpela-nos com algumas perguntas sobre a nossa fé".

De facto, a passagem bíblica mostra-nos uma contínua movimentação de Jesus, que tem dois sentidos: uma horizontal e outra ascendente, vertical. Inicialmente Ele prega na sinagoga, depois vai à casa de Pedro onde cura a sua sogra da febre, então vai à porta da cidade onde cura doentes e possuídos pelo demónio. Mas na manhã seguinte, retira-se para rezar, onde no silêncio da oração, "entrega tudo e todos ao coração do Pai". Depois, volta a caminhar pela Galileia, vai às aldeias da redondeza. E precisamente nesses movimentos, revela o verdadeiro rosto do Pai:

Jesus, que vai ao encontro da humanidade ferida, mostra-nos o rosto do Pai. Pode ser que dentro de nós ainda exista a ideia de um Deus distante, frio, indiferente à nossa sorte. O Evangelho, ao contrário, mostra-nos que Jesus, depois de ter ensinado na sinagoga, sai, para que a Palavra que pregou possa alcançar, tocar e curar as pessoas.

Deus é proximidade, compaixão e ternura

E ao fazer isto, acrescenta o Papa, Ele revela-nos que Deus não é um Senhor distante que nos fala do alto:

Pelo contrário, é um Pai cheio de amor que se faz próximo, que visita as nossas casas, que quer salvar e libertar, curar de todo mal do corpo e do espírito. Deus está sempre perto de nós. A atitude de Deus pode ser expressa em três palavras: proximidade, compaixão e ternura. Deus que se faz próximo para nos acompanhar, terno, e para nos perdoar. Não se esqueçam disto: proximidade, compaixão e ternura. Estaeé o comportamento de Deus.

Descobrimos o rosto de Deus como Pai da misericórdia ou acreditamos e proclamamos um Deus frio, um Deus distante? A fé provoca-nos a inquietação do caminho ou para nós é uma consolação intimista, que nos deixa tranquilos? Rezamos somente para nos sentirmos em paz ou a Palavra que ouvimos e pregamos faz-nos ir, como Jesus, ao encontro dos outros, para difundir a consolação de Deus?

Convertes-te ao Deus que Jesus nos apresenta no Evangelho

Devemos então olhar para este movimento de Jesus e recordar do primeiro trabalho espiritual, sugeriu o Santo Padre:

O nosso primeiro trabalho espiritual é este: abandonar o Deus que pensamos conhecer e converter-me em cada dia ao Deus que Jesus nos apresenta no Evangelho, que é o Pai de amor e o Pai da compaixão. O Pai próximo, compassivo e terno. E quando descobrimos o verdadeiro rosto do Pai, a nossa fé amadurece: não ficaremos mais “cristãos da sacristia”, ou “de sala”, mas sentimo-nos chamados a tornarmo-nos portadores da esperança e da cura de Deus.

"Que Maria Santíssima, Mulher em caminho - disse ao concluir - ajude-nos a dar testemunho do Senhor que é próximo, compassivo e terno."

Vatican News