domingo, 17 de novembro de 2024

Papa Francisco: por favor, não nos esqueçamos dos pobres

 

Na missa do VIII Dia Mundial dos Pobres, Francisco faz um apelo aos governos e às organizações internacionais, mas convida a Igreja a sentir “a mesma compaixão do Senhor” diante dos últimos, e pede aos cristãos que se tornem “sinal da presença do Senhor”, pertos do sofrimento dos necessitados para aliviar as suas feridas e mudar a sua sorte: só assim a Igreja “se torna ela mesma, casa aberta a todos”.

 

Alessandro Di Bussolo - Vatican News

“Por favor, não nos esqueçamos dos pobres!”. A invocação com a qual o Papa Francisco encerra a sua homilia na missa do VIII Dia Mundial dos Pobres neste domingo (17/11), na Basílica de São Pedro, é dirigida à Igreja, aos governos dos Estados e às organizações internacionais, mas também “a todos e a cada um”. E aos fiéis em Cristo, o Papa lembra-nos que “é a nossa vida impregnada de compaixão e de caridade que se torna sinal da presença do Senhor, sempre próximo do sofrimento dos pobres, para aliviar as suas feridas e mudar a sua sorte”. Porque a esperança cristã precisa de “cristãos que não se viram para o outro lado” e que sintam “a mesma compaixão do Senhor diante dos pobres”. Francisco sublinhou isto lembrando uma advertência do cardeal Martini: somente servindo os pobres “a Igreja ‘torna-se’ ela mesma, isto é, uma casa aberta a todos, um lugar da compaixão de Deus pela vida de cada homem”.

Jesus tornou-se pobre por nós

Numa Basílica lotada, com a presença dos pobres que mais tarde almoçam com ele na Sala Paulo VI, o Pontífice abre a celebração com a exortação do ato penitencial: “Com o olhar fixo em Jesus Cristo, que se fez pobre por nós e rico de amor para com todos, reconheçamos que precisamos da misericórdia do Pai”. O celebrante no altar é o arcebispo Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.

Na escuridão deste tempo, brilha uma esperança inabalável

Na homilia, o Papa Francisco relê a passagem do Evangelho de Marcos, na liturgia deste XXXIII Domingo do Tempo Comum, com as palavras de Jesus aos discípulos antes da sua paixão, descrevendo “o estado de espírito daqueles que viram a destruição de Jerusalém”, mas também a chegada extraordinária do Filho do Homem. “Quando tudo parece desmoronar-se, que Deus vem, que Deus se aproxima, que Deus nos reúne para nos salvar”.

Jesus convida-nos a ter um olhar mais aguçado, a ter olhos capazes de “ler por dentro” os acontecimentos da história, para descobrir que, mesmo na angústia dos nossos corações e dos nossos tempos, há uma esperança inabalável que resplandece.

Angústia e impotência diante da injustiça do mundo

Neste Dia Mundial dos Pobres, portanto, o Papa convida-nos a determo-nos nas duas realidades, “angústia e esperança, que sempre duelam entre si na arena do nosso coração”. Ele começa com a angústia, tão difundida no nosso tempo, “onde a comunicação social amplifica os problemas e as feridas, tornando o mundo mais inseguro e o futuro mais incerto”. Se o nosso olhar, enfatiza, “detém-se apenas na crónica dos acontecimentos, dentro de nós a angústia ganha terreno”, porque ainda hoje, como na passagem do Evangelho, “vemos o sol escurecer e a lua apagar-se, vemos a fome e a carestia que oprimem tantos irmãos e irmãs, vemos os horrores da guerra e a morte de inocentes”. E corremos o risco de “afundarmos no desânimo e de não nos apercebermos da presença de Deus no drama da história. Assim, condenamo-nos à impotência".

Vemos crescer à nossa volta a injustiça que causa a dor dos pobres, mas juntamo-nos à corrente resignada daqueles que, por comodismo ou por preguiça, pensam que “o mundo é assim mesmo” e que “não há nada que eu possa fazer”. Deste modo, até a própria fé cristã é reduzida a uma devoção inócua, que não incomoda os poderes deste mundo e não gera um compromisso concreto de caridade.

A ressurreição de Jesus acende a esperança

Francisco cita a sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium para nos lembrar que, “enquanto crescem as desigualdades e a economia penaliza os mais fracos, enquanto a sociedade se consagra à idolatria do dinheiro e do consumo”, acontece que “os pobres e os excluídos não podem fazer outra coisa senão continuar a esperar”. Mas no quadro apocalíptico que acaba de ser descrito no Evangelho, Jesus “acende a esperança”, descrevendo a chegada do Filho do Homem “com grande poder e glória”, para reunir “os seus eleitos dos quatro ventos”. Assim, ele “alarga o nosso olhar para que aprendamos a perceber, mesmo na precariedade e na dor do mundo, a presença do amor de Deus que se faz próximo, que não nos abandona, que atua para a nossa salvação”. Jesus, lembra o Pontífice, está a apontar “inicialmente para a sua morte que terá lugar pouco depois”, mas também para “o poder da sua ressurreição” que destruirá as cadeias da morte, “e um mundo novo nascerá das ruínas de uma história ferida pelo mal”. Jesus dá-nos essa esperança por meio da bela imagem da figueira: “quando os seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar, sabeis que o verão está perto”.

Do mesmo modo, também nós somos chamados a ler as situações da nossa história terrena: onde parece haver apenas injustiça, dor e pobreza, precisamente naquele momento dramático, o Senhor aproxima-se para nos libertar da escravidão e fazer brilhar a vida.

Olhas nos olhos a pessoa que ajuda?

E isto é feito, explica ele, “com a proximidade cristã, com a nossa fraternidade cristã”.

Não se trata de jogar uma moeda nas mãos de quem precisa. Àquele que dá a esmola, eu pergunto duas coisas: “Tocas as mãos das pessoas ou jogas a moeda sem as tocar? Olhas nos olhos a pessoa que ajuda ou desvias o olhar?”.

Perto do sofrimento dos pobres

Cabe a nós, seus discípulos, continua o Papa Francisco, que graças ao Espírito Santo podemos semear esta esperança no mundo. “Somos nós" - e aqui ele cita a sua Encíclica Fratelli tutti - "que podemos e devemos acender luzes de justiça e de solidariedade, enquanto se adensam as sombras de um mundo fechado".

Somos nós que a sua Graça faz brilhar, é a nossa vida impregnada de compaixão e de caridade que se torna sinal da presença do Senhor, sempre próximo do sofrimento dos pobres, para aliviar as suas feridas e mudar a sua sorte.

Desvio o olhar diante da dor dos outros?

Não esqueçamos, é a invocação do Papa, que a esperança cristã, “que se realizou em Jesus e se concretiza no seu Reino, precisa de nós e do nosso empenho, de uma fé operosa na caridade, de cristãos que não passam para o outro lado do caminho". E aqui ele lembra a imagem de um fotógrafo romano de um casal de adultos saindo de um restaurante, que olhava para o outro lado para não cruzar com o olhar de “uma pobre senhora, deitada no chão, pedindo esmolas”.

Isto acontece todos os dias. Perguntemos a nós mesmos: eu olho para o outro lado quando vejo a pobreza, as necessidades, a dor dos outros?

Francisco cita então um teólogo do século XX, Metz, quando dizia que a fé cristã deve gerar em nós uma “mística de olhos abertos”: “não uma espiritualidade que foge do mundo, mas, pelo contrário, uma fé que abre os olhos aos sofrimentos do mundo e às aflições dos pobres, para exercer a mesma compaixão de Cristo”.

“Eu sinto a mesma compaixão do Senhor diante dos pobres, diante daqueles que não têm trabalho, que não têm o que comer, que são marginalizados pela sociedade?”

Mesmo com o nosso pouco, podemos melhorar a realidade

E, continua o Papa Francisco, “não devemos olhar apenas para os grandes problemas da pobreza mundial, mas para o pouco que todos nós podemos fazer todos os dias".

Com o nosso estilo de vida, com o cuidado e a atenção pelo ambiente em que vivemos, com a procura tenaz da justiça, com a partilha dos nossos bens com os mais pobres, com o engajamento social e político para melhorar a realidade que nos rodeia..

Por favor, não nos esqueçamos dos pobres

Assim, “o nosso pouco será como as primeiras folhas que brotam na figueira: uma antecipação do verão que está próximo”. Concluindo, o Papa recorda uma advertência do cardeal Carlo Maria Martini, quando disse “que devemos ter cuidado ao pensar que existe primeiro a Igreja, já sólida em si mesma, e depois os pobres dos quais escolhemos cuidar. Na realidade, tornamo-nos a Igreja de Jesus na medida em que servimos os pobres, pois somente assim «a Igreja “torna-se” ela mesma, isto é, uma casa aberta a todos, um lugar da compaixão de Deus pela vida de cada homem»”.

Digo-o à Igreja, digo-o aos governos dos Estados e às organizações internacionais, digo-o a todos e a cada um: por favor, não nos esqueçamos dos pobres.

Projeto de caridade pela Síria e almoço com os pobres

Antes da missa, o Papa Francisco abençoou simbolicamente 13 chaves, representando os 13 países nos quais a Famvin Homeless Alliance (FHA), da Família Vicentina, construirá novas casas para pessoas necessitadas com o Projeto “13 Casas” para o Jubileu. Entre esses países está também a Síria, cujas 13 casas serão financiadas diretamente pela Santa Sé como um gesto de caridade para o Ano Santo. Um ato de solidariedade que se tornou possível graças a uma generosa doação da UnipolSai, que desejou entusiasticamente contribuir, no período que antecedeu o Ano Santo, com esse sinal de esperança para uma terra ainda devastada pela guerra.

No final da missa e após a recitação do Angelus, o Papa almoça na Sala Paulo VI junto com 1.300 pessoas pobres. O almoço, organizado pelo Dicastério para o Serviço da Caridade, é oferecido este ano pela Cruz Vermelha Italiana e animado por sua Fanfarra Nacional. No final do almoço, cada pessoa recebe uma mochila oferecida pelos Padres Vicentinos (Congregação da Missão), contendo alimentos e produtos de higiene pessoal.

Vatican News

domingo, 10 de novembro de 2024

Ao alertar para a tentação da hipocrisia, o Papa exorta a fazermos o bem sem aparecer

 

 Que a Virgem Maria nos ajude a combater a tentação da hipocrisia dentro de nós mesmos – Jesus diz-les: “Hipócritas”, é uma grande tentação a hipocrisia -, e ajude-nos a fazer o bem sem aparecer e a fazê-lo com simplicidade.

Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!

Hoje o Evangelho da liturgia (cfr. Mc 12,38-44) fala-nos de Jesus que, no templo de Jerusalém, denuncia perante o povo a atitude hipócrita de alguns escribas (crf. vs. 38-40).

A estes últimos era confiado um papel importante na comunidade de Israel: liam, transcreviam e interpretavam as Escrituras. Por isso eram muito considerados e as pessoas prestavam-lhes reverência.

Para além das aparências, no entanto, o seu comportamento muitas vezes não correspondia ao que ensinavam. Alguns, de facto, fortes pelo prestígio e poder de que gozavam, olhavam os outros “de cima para baixo”, faziam pose e, escondendo-se por detrás de uma fachada de falsa respeitabilidade e de legalismo, arrogavam-se privilégios e chegavam até mesmo a cometer verdadeiros furtos em detrimento dos mais fracos, como as viúvas (cfr. v. 40). Em vez de usarem o seu papel para servir os outros, faziam dele um instrumento de prepotência e de manipulação. E acontecia que também a oração, para eles, corria o risco de não ser mais um momento de encontro com o Senhor, mas uma ocasião para ostentar respeitabilidade e falsa piedade, útil para atrair a atenção das pessoas e obter consensos (cfr. ibid.).

Comportavam-se como pessoas corruptas, alimentando um sistema social e religioso em que era normal tirar vantagem à custa dos outros, especialmente dos mais indefesos, cometendo injustiças e garantindo a impunidade.

Destas pessoas Jesus recomenda tomar distância, “ter cuidado” (ver versículo 38) de não imitá-las. Pelo contrário, com a sua palavra e o seu exemplo, como sabemos, ensina coisas muito diferentes sobre a autoridade. Ele fala dela em termos de abnegação e de serviço humilde (cf. Mc 10,42-45), de ternura materna e paterna para com as pessoas (cf. Lc 11,11-13), especialmente em relação às necessitadas (Lc 10,25-37). Convida a quem tem autoridade a olhar para os outros, a partir da sua própria posição de poder, não para humilhá-los, mas para elevá-los, dando-lhes esperança e ajuda.

Então podemos perguntar-nos: como me comporto eu nos meus âmbitos de responsabilidade? Ajo com humildade ou tiro vantagens da minha posição? Sou generoso e respeitoso com as pessoas ou trato-as de forma rude e autoritária? E com os irmãos e as irmãs mais frágeis, estou próximo deles, sei inclinar-me para ajudá-los a levantarem-se?

Que a Virgem Maria nos ajude a combater a tentação da hipocrisia dentro de nós mesmos, a fazer o bem sem aparecer e com simplicidade.

Vatican News

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Papa Francisco: a guerra é o triunfo da mentira, da falsidade

 

Periferia de Beirute

O Santo Padre após o Angelus recordou o drama do Chade, da Espanha, da Terra Santa, Mianmar e Sudão. “A guerra é sempre uma derrota, sempre!”

Silvonei José – Vatican News

Após a oração mariana do Angleus deste 1º de novembro, Festa de Todos os Santos, o Papa Francisco expressou a sua solidariedade com o povo do Chade, especialmente às famílias das vítimas do grave ataque terrorista ocorrido há alguns dias, bem como às pessoas afetadas pelas enchentes.

E em relação a catástrofes ambientais, continuou o Papa, “rezemos pelo povo da Península Ibérica, especialmente pela comunidade valenciana, atingida pela tempestade “DANA”: pelos falecidos e os seus entes queridos, e por todas as famílias prejudicadas. Que o Senhor sustente aqueles que sofrem e aqueles que levam socorro. A nossa solidariedade ao povo de Valência".

Seguidamente, o Papa saudou os participantes na “Corrida dos Santos”, organizada pela Fundação Missões Dom Bosco. “Queridos amigos, - disse - também neste ano vocês lembram-nos que a vida cristã é uma corrida, mas não como corre o mundo, não! É a corrida de um coração que ama! E obrigado pelo vosso apoio à construção de um centro desportivo na Ucrânia".

O Papa então pediu para que rezemos pela martirizada Ucrânia, rezemos pela Palestina, Israel, Líbano, Mianmar, Sudão e por todos os povos que sofrem com as guerras.

“Irmãos e irmãs, a guerra é sempre uma derrota, sempre! E é ignóbil, porque é o triunfo da mentira, da falsidade: busca-se o maior interesse para si mesmo e o maior dano para o adversário, pisando as vidas humanas, o meio ambiente, infraestruturas, tudo; e tudo disfarçado com mentiras. E os inocentes sofrem! Estou a pensar nas 153 mulheres e crianças massacradas nos dias passados em Gaza”.

Francisco então recordou que neste sábado temos a comemoração anual de todos os fiéis defuntos. “Aqueles que podem, nestes dias, vão rezar no túmulo dos seus entes queridos”, pediu. “Eu também irei amanhã de manhã celebrar a missa no Cemitério Laurentino, em Roma. Não devemos esquecer: a Eucaristia é a maior e mais eficaz oração pelas almas dos falecidos".

O Papa concluiu desejando a todos uma boa festa na companhia dos santos. Saudou ainda os jovens da Imaculada que são bons!, acrescentou, pedindo para não nos esquecermos de rezar por ele.
 
Vatican News

 

Papa: percorrer a santidade pela prática das Bem-aventuranças no dia a dia

 

O caminho da santidade, recordou o Papa no Angelus desta sexta-feira, 1º de novembro e Dia de Todos os Santos, começa pelo comprometimento na primeira pessoa em "praticar as Bem-aventuranças do Evangelho nos ambientes em que vivo". Tantos santos venerados nos altares como aqueles da "porta ao lado", são "pessoas 'cheias de Deus', incapazes de permanecer indiferentes às necessidades do próximo; testemunhas de caminhos luminosos, 

 

Andressa Collet - Vatican News

Neste 1º de novembro a Igreja celebra o Dia de Todos os Santos. Na Praça São Pedro, também ponto de partida para a tradicional Corrida dos Santos na sua décima sexta edição com 4 mil atletas, o Papa refletiu no Angelus sobre o Evangelho do dia (cf. Mt 5,1-12) e as Bem-aventuranças proclamadas por Jesus, que são "a carteira de identidade do cristão e o caminho da santidade", aquele feito por amor, "que Ele mesmo percorreu primeiro ao se tornar homem, e que para nós é tanto um dom de Deus quanto a nossa resposta".

O caminho da santidade

É dom de Deus, explicou Francisco, porque, é para Ele "que pedimos que nos faça santos, que torne o nosso coração semelhante ao seu", de modo que em nós, como dizia o Beato Carlo Acutis, "tenha sempre 'menos de mim para dar lugar a Deus'". O que nos leva ao segundo ponto, continuou o Pontífice, a nossa resposta:

 O Pai do céu, de facto, oferece-nos a sua santidade, mas não nos impõe. Ele semeia-a em nós, faz-nos sentir o gosto e ver a beleza, mas depois espera a nossa resposta. Deixa a nós a liberdade de seguir as suas boas inspirações, de nos deixarmos envolver pelos seus projetos, de fazer nossos os seus sentimentos (cf. Dilexit nos, 179), colocando-nos, como Ele nos ensinou, ao serviço dos outros, com uma caridade como sempre mais universal, aberta e dirigida a todos, aberta e dirigida ao mundo inteiro.

Tudo isto vemos na vida dos santos, aprofundou o Papa, ao citar o caminho da santidade feito por "São Maximiliano Kolbe, que em Auschwitz pediu para tomar o lugar de um pai de família condenado à morte; ou em Santa Teresa de Calcutá, que passou a sua existência ao serviço dos mais pobres entre os pobres; ou no bispo São Óscar Romero, assassinado no altar por ter defendido os direitos dos últimos, contra os abusos dos prepotentes". Santos "moldados pelas Bem-aventuranças" que são venerados nos altares, sem esquecer aqueles que ficam sempre "na porta ao lado", "aqueles de todos os dias, escondidos que levam adiante a sua vida cristã quotidiana", "pessoas 'cheias de Deus', incapazes de permanecer indiferentes às necessidades do próximo; testemunhas de caminhos luminosos, possíveis também para nós".

“Perguntemo-nos agora: eu peço a Deus, em oração, o dom de uma vida santa? Deixo-me guiar pelos bons impulsos que o seu Espírito desperta em mim? E comprometo-me na primeira pessoa a praticar as Bem-aventuranças do Evangelho nos ambientes em que vivo?”

Vatican News

domingo, 27 de outubro de 2024

Angelus: caridade é olhar o próximo como fez Jesus, esmola não é beneficência

 

"Quando dás uma esmola, olha nos olhos do mendigo? Toca na mão dele para sentires a sua carne?", questionou o Papa na alocução que precedeu a oração do Angelus, após a missa conclusiva do Sínodo dos Bispos. O Santo Padre refletiu sobre a cura do cego Bartimeu e os elementos essenciais do encontro com Jesus: o grito, a fé e o caminho.

 

Thulio Fonseca - Vatican News

Neste domingo (27/10), após a missa de encerramento do Sínodo dos Bispos na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco dirigiu-se à janela do Palácio Apostólico para o Angelus. Na alocução que precedeu a tradicional oração mariana, dirigida aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, o Pontífice refletiu novamente sobre o Evangelho do dia (Mc 10,46-52), que relata o encontro de Jesus com Bartimeu, um cego que, ignorado pela multidão, é acolhido por Cristo. Francisco destacou os três aspetos fundamentais desse encontro: o grito do cego, a sua fé e o novo caminho que o leva a seguir Jesus.

O olhar compassivo do Senhor

O Santo Padre iniciou destacando o grito de Bartimeu, aquele mendigo à margem da multidão, que ao clamar a Jesus afirma a sua existência: "Eu existo, olha para mim." Segundo o Papa, este grito não é somente um pedido de ajuda, mas um clamor de identidade, uma afirmação da sua dignidade e necessidade de ser visto e acolhido. "Sim, Jesus vê e ouve o cego mendigo, com os ouvidos do corpo e do coração," explicou Francisco, ao ressaltar o olhar compassivo do Senhor.

O segundo aspeto abordado foi a fé. Ao confiar em Jesus, Bartimeu encontra a cura: "Vai, a tua fé te salvou." O Papa sublinhou que o Senhor observa como Bartimeu olha para Ele e convidou todos a refletir: "Como olho eu para um mendigo? Eu ignoro-o? E olho-o como Jesus? Sou capaz de entender as suas perguntas, o seu grito de ajuda? Quando dás a esmola, olhas nos olhos do mendigo? Tocas na sua mão para sentires sua carne?"

No próximo devemos ver Jesus

Por fim, o terceiro aspeto do encontro é o caminho. Segundo o Pontífice, "cada um de nós também é como Bartimeu, cego por dentro, que segue Jesus assim que nos aproximamos d'Ele", e completou: "Quando te aproximas de um pobre e te faz sentir próximo, é Jesus que se aproxima de ti na pessoa daquele pobre. Por favor, não façamos confusão: a esmola não é beneficência. Aquele que recebe mais graça através da esmola é quem a dá, porque se faz olhar pelos olhos do Senhor."

"Rezemos juntos a Maria, a aurora da salvação, para que guarde o nosso caminho na luz de Cristo", concluiu o Papa Francisco.

Vatican News

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O SILÊNCIO NA ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO

 

 
 
«É no silêncio que encontramos Deus, e é no silêncio que descobrimos quem realmente somos.» Bento XVI

Parece, por vezes, que temos medo do silêncio perante Deus e às vezes até perante os outros.

Realmente há momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento em que são lidos tantos textos bíblicos ou de reflexão, são feitas tantas orações, são cantados tantos cânticos, que não há espaço para o silêncio, para a interioridade, para a contemplação, para a adoração, para a escuta do que Deus nos quer dizer ao coração.

Claro que os momentos de oração vocal, de cânticos, de textos bíblicos ou de reflexão, são, obviamente, muito importantes, mas, na adoração ao Santíssimo Sacramento, é da maior importância o silêncio.

Estar perante Deus e não se colocar à escuta, não se estar em silêncio gozando aquele momento e não deixar outros fazê-lo também, é uma pena, porque Deus nos fala sempre no silêncio.

Quem não teve já momentos em que, sentado ou passeando em silêncio com uma pessoa amiga, viveu um encontro sem palavras, de uma união perfeita, que encheu o coração?

Se isso acontece com as pessoas amigas, quanto mais não acontecerá no nosso encontro com Deus, em adoração.

“Encher” os momentos de adoração com textos lidos em voz alta, cânticos contínuos e orações sucessivas, acaba por quase nos afastar do centro da adoração, que deve ser também e sempre o nosso encontro pessoal com Cristo.

Cada um, quando vai para um momento de adoração pode levar a sua Bíblia ou um livro de reflexão, e então, nalgum tempo desse momento de adoração, fazer a sua leitura e meditação para si próprio, e essa leitura, iluminada pelo Espírito Santo, é também uma forma de Ele nos falar no silêncio.

Lembremo-nos sempre da frase de Samuel: «Fala, Senhor, que o teu servo escuta!» 1 Sm 3, 10

Como queremos nós escutar Deus se não nos calamos, se não fazemos silêncio exterior e interior?

E como a oração, o silêncio é também um processo de aprendizagem, em que o Espírito Santo nos vai guiando e ajudando a silenciarmos o nosso coração e a nossa mente.

É, por vezes, muito incómodo estarmos num momento de adoração, querermos fazer silêncio, colocarmo-nos à escuta, mas não conseguimos, porque quem orienta lê inúmeros textos, entremeados de cânticos e orações escritas, de tal modo que, a partir de uma certa altura, já nem damos a devida atenção ao que é dito, nem isso nos serve de reflexão.

Rezar o terço em voz alta numa adoração ao Santíssimo?
Sim, com certeza, mas há tantos momentos para o rezar porquê fazê-lo durante uma adoração?
Parece que estamos apenas a preencher tempo!

Obviamente que cada um tem a sua própria espiritualidade, mas quando lemos os mestres da oração, que são sempre verdadeiros adoradores, o silêncio é uma constante nas suas reflexões, porque é no silêncio que se escuta Deus.

É que, muitas vezes, esse modo de preencher os momentos de adoração, poderá ser mais “ruído” do mundo, do que silêncio de Deus.

Façamos muitas vezes e durante bastante tempo silêncio em nós, sobretudo na adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e seremos com certeza surpreendidos como Deus fala ao nosso coração, à nossa vida quando a Ele nos entregamos.

«O silêncio é difícil, mas torna o homem capaz de se deixar conduzir por Deus. Do silêncio nasce o silêncio. Por Deus, o silencioso, podemos aceder ao silêncio. E o homem é incessantemente surpreendido pela luz que então resplandece. O silêncio é mais importante do que qualquer outra obra humana, porque exprime Deus. A verdadeira revolução vem do silêncio; conduz-nos para Deus e para os outros para nos colocar humilde e generosamente ao seu serviço.»
Pensamento 68 - A Força do silêncio - Cardeal Robert Sarah


Marinha Grande, 21 de Outubro de 2024
Joaquim Mexia Alves
 

domingo, 20 de outubro de 2024

Papa na Missa com canonizações: “Vence não quem domina, mas quem serve por amor"

 
 
Na Missa presidida pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro neste 20 de outubro, foram elevados à honra dos altares os franciscanos Manuel Ruiz López e sete companheiros e os leigos Francisco, Mooti e Raffaele Massabkis, conhecidos como "Mártires de Damasco"; Pe. José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata; Ir. Elena Guerra, conhecida como "Apóstola do Espírito Santo" e a canadense Ir. Marie-Léonie Paradis, fundadora das Pequenas Irmãs da Sagrada Família de Sherbrooke.

Santa Missa e Canonização
HOMILIA DO SANTO PADRE
Praça de São Pedro
XXIX Domingo do Tempo Comum, 20 de outubro de 2024

Jesus pergunta a Tiago e a João: «Que quereis que vos faça?» (Mc 10, 36). E logo a seguir, desafia-os: «Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?» (Mc 10, 38). Jesus faz perguntas e, deste modo, ajuda-nos a discernir, porque as perguntas fazem-nos descobrir o que está dentro de nós, iluminam o que trazemos no coração. e que tantas vezes não sabemos.

Deixemo-nos interpelar pela Palavra do Senhor. Imaginemos que ele nos pergunta a cada um de nós: «O que queres que faça por ti?»; e a segunda pergunta «podes beber o meu cálice?»

Com estas perguntas, Jesus traz ao de cima o vínculo e as expectativas que os discípulos nutrem para com ele, com as luzes e sombras próprias de qualquer relação. Com efeito, Tiago e João estão ligados a Jesus, mas têm pretensões. Manifestam o desejo de estar perto dele, mas apenas para ocupar um lugar de honra, para desempenhar um papel importante, para “na sua glória, se sentarem um à sua direita e outro à sua esquerda” (cf. Mc 10, 37). Torna-se evidente que pensam em Jesus como Messias, um Messias vitorioso, glorioso e esperam que Ele partilhe a sua glória com eles. Veem em Jesus o Messias, mas pensam nele segundo a lógica do poder.

Jesus não se detém nas palavras dos discípulos, mas vai mais fundo, escuta e lê o coração de cada um deles e também de cada um de nós. E durante o diálogo, por meio de duas perguntas, procura trazer à tona o desejo que existe dentro daqueles pedidos.

Primeiro, pergunta: «Que quereis que vos faça?»; e esta interrogação revela os pensamentos dos seus corações, traz à luz as expectativas escondidas e os sonhos de glória que os discípulos cultivam secretamente. É como se Jesus perguntasse: “Quem queres que eu seja para ti?” E, assim, desmascara o que eles realmente desejam: um Messias poderoso e , um Messias vitorioso que lhes dê um lugar de honra. E tantas vezes na Igreja ocorre esse pensamento: a honra, o poder...

Depois, com a segunda pergunta, Jesus desmente esta imagem de Messias e ajuda-os, deste modo, a mudar de olhar, isto é, a converterem-se: «Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?». Revela-lhes, desta maneira, que não é o Messias que eles pensam que é; é o Deus de amor, que se abaixa para chegar aos que estão em baixo; que se faz fraco para levantar os fracos; que trabalha pela paz e não pela guerra; que veio para servir e não para ser servido. O cálice que o Senhor vai beber é a oferta da sua vida, e a sua vida que nos foi dada por amor, até à morte e morte de cruz.

E, portanto, à sua direita e à sua esquerda estarão dois ladrões, suspensos na cruz como Ele e não instalados confortavelmente em lugares de poder; dois ladrões pregados com Cristo na dor e não sentados na glória. O rei crucificado, o justo condenado torna-se escravo de todos: este é verdadeiramente o Filho de Deus! (cf. Mc 15, 39). Vence não quem domina, mas quem serve por amor. Repitamos: vence não quem domina, mas quem serve por amor. É o que nos recorda também a Carta aos Hebreus: «não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós» (Heb 4, 15).

Neste momento, Jesus pode ajudar os discípulos a converterem-se, a mudarem de mentalidade: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder» (Mc 10, 42). Mas não deve ser assim para aqueles que seguem um Deus que se fez servo a fim de chegar a todos com o seu amor. Quem segue Cristo, se quiser ser grande deve servir, aprendendo d’Ele.

Irmãos e irmãs, Jesus revela os pensamentos,  Jesus revela os pensamentos, revela os desejos e as projeções no nosso coração, desmascarando por vezes as nossas expectativas de glória, domínio, de poder, de vaidade. Ele ajuda-nos a pensar já não segundo os critérios do mundo, mas segundo o estilo de Deus, que se faz último para que os últimos sejam erguidos e se tornem os primeiros. Faz-se último para que os últimos sejam reerguidos e se tornem os primeiros. Muitas vezes, estas perguntas de Jesus, com o seu ensinamento sobre o serviço, são tão incompreensíveis, incompreensíveis para nós como o eram para os discípulos. Porém, seguindo-O, percorrendo os Seus passos e acolhendo o dom do Seu amor que transforma a nossa maneira de pensar, também nós podemos aprender o estilo de Deus o estilo de Deus: o serviço. Não esqueçamos as três palavras que mostram o estilo de Deus para servir: proximidade, compaixão e ternura. Deus se faz próximo para servir; se faz compassivo para servir; se faz terno para servir. Proximidade, compaixão e ternura…

É a isto que devemos aspirar: não ao poder, mas ao serviço. O serviço é o estilo de vida cristão. Não se trata de uma lista de coisas a fazer, como se, uma vez realizadas, pudéssemos considerar terminado o nosso turno. Quem serve com amor não diz: “agora toca a outro”. Este é um pensamento de empregados, não de testemunhas. O serviço nasce do amor e o amor não conhece fronteiras, não faz cálculos, mas gasta-se e dá-se. O amor não se limita a produzir para ter resultados, nem é uma prestação ocasional; é sim algo que nasce do coração, um coração renovado pelo amor e no amor.

Quando aprendemos a servir, cada gesto de atenção e cuidado, cada expressão de ternura, cada obra de misericórdia torna-se um reflexo do amor de Deus. E assim todos nós - e cada um de nós - continuamos a obra de Jesus no mundo.

Nesta luz podemos recordar os discípulos do Evangelho, que hoje são canonizados. Ao longo da história conturbada da humanidade, foram servos fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria, como o Irmão Manuel Ruiz Lopez e seus companheiros. Trata-se de sacerdotes e consagradas fervorosos, e fervorosos de paixão, da paixão missionária, como o Padre Giuseppe Allamano, a Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã Elena Guerra. Estes novos santos viveram o estilo de Jesus: o serviço. A fé e o apostolado que realizaram não alimentaram neles desejos mundanos e avidez de poder; pelo contrário, eles fizeram-se servidores dos seus irmãos, criativos em fazer o bem, firmes nas dificuldades, generosos até ao fim.

Supliquemos com confiança a sua intercessão, para que também nós possamos seguir Cristo, segui-lo no serviço, e tornarmo-nos testemunhas de esperança para o mundo.

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