quinta-feira, 29 de junho de 2023

Papa no Angelus: Pedro não é um super-herói. A Igreja precisa de pessoas verdadeiras


 
Na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, Francisco rezou o Angelus e inspirou a sua reflexão na seguinte frase do Evangelho de Mateus: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja".
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Depois de celebrar a missa na Basílica Vaticana por ocasião da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, o Papa rezou com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro a oração do Angelus. É feriado no Vaticano e na cidade de Roma, que celebra os seus padroeiros.

 Na sua alocução, Francisco comentou uma frase do Evangelho de Mateus, quando Jesus diz a Simão: "Tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18). Pedro, explicou o Pontífice, é um nome que tem vários significados: pode significar rocha, pedra ou simplesmente pedregulho. E a personalidade do Apóstolo inclui um pouco de todos os três aspetos.

Pedro é uma rocha: em muitos momentos ele é forte e firme, genuíno e generoso. Ele deixa tudo para seguir Jesus. Com franqueza e coragem, ele anuncia Jesus no Templo, antes e depois de ser preso e flagelado. A tradição também nos fala da sua firmeza diante do martírio.

Pedro, porém, é também uma pedra, apta a oferecer apoio aos outros: uma pedra que, fundada em Cristo, atua como apoio aos irmãos para a construção da Igreja. Cuida de quem sofre, promove e encoraja o comum anúncio do Evangelho.

Mas Pedro também é um simples pedregulho: a sua pequenez frequentemente vem à tona. Diante da prisão de Jesus, é tomado pelo medo e nega.o, depois  arrepende-se e chora. Ele esconde-se com os outros no cenáculo, com medo de ser preso. Em Antioquia, sente-se envergonhado por estar com os pagãos convertidos e de acordo com a tradição do Quo vadis, tenta fugir diante do martírio, mas encontra Jesus na estrada e tem coragem para retornar.

Pedro então não é um super-homem, afirmou o Papa: é um homem como nós, que diz "sim" a Jesus com generosidade na sua imperfeição. E é com essa humanidade verdadeira que o Espírito forma a Igreja. “Pedro e Paulo eram pessoas verdadeiras, e nós, hoje mais do que nunca, precisamos de pessoas verdadeiras.”

Francisco dirige-se aos fiéis, exortando-os a fazer algumas perguntas: somos pedras, não pedras de tropeço, mas de construção para a Igreja? Pensando no pedregulho: temos consciência da nossa pequenez? E acima de tudo: nas nossas fraquezas, confiamos no Senhor, que realiza grandes coisas em quem é humilde e sincero?

“Maria, Rainha dos Apóstolos, ajude-nos a imitar a força, a generosidade e a humildade dos Santos Pedro e Paulo.”

Vatican News

 

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Educar é evangelizar: Papa propõe o exemplo de Santa Mary Mackillop

 Pausa na Audiência para um chimarrão 
 
O zelo apostólico da santa australiana Mary Mackillop foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral deste 28 de junho, a última antes da pausa de verão. O tradicional encontro das quartas-feiras será retomado no dia 9 de agosto.
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O Papa realizou hoje na Praça de São Pedro a sua última Audiência Geral antes da pausa de verão. Com efeito, ao tomar a palavra, Francisco agradeceu a "paciência" dos fiéis, que comparecem não obstante o calor. Durante o mês de julho estão suspensas todas as atividades públicas de Francisco, com exceção do Angelus dominical.

A Audiência desta quarta foi também a primeira desde a sua operação no intestino. O Pontífice foi internado no dia 7 de junho e recebeu alta no dia 16. E mesmo sob o forte calor romano, Francisco fez o giro entre os milhares de fiéis presentes na Praça de São Pedro, beijou as crianças, tomou chimarrão e acenou aos peregrinos. Ao dirigir-se a eles, retomou o ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico, destacando figuras exemplares de homens e mulheres que deram a sua vida pelo Evangelho.

O testemunho de hoje veio da Oceânia, mais precisamente da Austrália: Santa Mary Mackillop, fundadora das Irmãs de São José do Sagrado Coração, que dedicou a sua vida à formação intelectual e religiosa dos pobres da zona rural.

Mary MacKillop nasceu nos arredores de Melbourne de pais emigrados da Escócia. Desde jovem, sentiu o chamamento de Deus a servi-Lo e testemunhá-Lo não só com as palavras, mas sobretudo com a vida. E compreendeu que o modo melhor de evangelizar o seu mundo passava pela educação dos jovens, ciente de que a educação católica é uma forma de evangelização. Dedicou-se principalmente aos jovens pobres que habitavam em periferias onde mais ninguém queria ou podia ir.

"E isto é muito importante: no caminho da santidade, os pobres, os marginalizados são os protagonistas e uma pessoa não pode avançar na santidade se não se dedica a eles. São a presença do Senhor", disse o Papa.

Francisco contou que cerca vez leu uma frase que o impressionou, que dizia o seguinte: o protagonista da história é o mendicante. "São eles que chamam à atenção para esta grande injustiça, que é a grande pobreza no mundo. Gasta-se tanto dinheiro para fabricar armas e não para a comida. E não se esqueçam: não existe santidade se de um modo ou de outro não há cuidado com os pobres, com os necessitados, com aqueles que estão um pouco à margem da sociedade."

Falando ainda sobre Santa Mary, o Pontífice prosseguiu recordando que em 19 de março de 1866, dia de São José, ela abriu a primeira escola num pequeno subúrbio. Seguiram-se, depois, muitas outras, inclusive na Nova Zelândia, nas quais os professores eram convidados a acompanhar e encorajar os estudantes rumo a um desenvolvimento integral da sua pessoa, isto é, sem esquecer a dimensão espiritual.

Com efeito, a educação não consiste em encher a cabeça de ideias, mas acompanhar e encorajar os estudantes no caminho de crescimento humano e espiritual, mostrando-lhes quanto a amizade com Jesus dilata os corações e torna a vida mais humana. Esta visão, disse o Papa, é plenamente atual hoje, “quando sentimos a necessidade de um pacto educativo capaz de unir as famílias, as escolas e toda a sociedade”.

O zelo de Mary MacKillop para a difusão do Evangelho levou-a a empreender outras obras de caridade, como a “Casa da Providência” inaugurada em Adelaide para acolher idosos e crianças abandonados. Aliás, o seu segredo foi sempre a fé na Divina Providência, a relação contínua com o Senhor: era em Deus que ela encontrava tranquilidade, readquiria o entusiasmo e reavivava a alegria, mesmo no meio das dificuldades e desafios. “Há muitos anos aprendi a amar a Cruz”, confidenciou certa vez a uma coirmã. "Todos os santos tiveram oposição, inclusive dentro da Igreja. É curioso isto", disse o Papa. 

Francisco concluiu fazendo votos de que o seu discipulado missionário inspire a todos nós, chamados a ser fermento de Evangelho nas nossas sociedades em rápida transformação. “O seu exemplo e a sua intercessão amparem o trabalho quotidiano dos pais, professores, catequistas e de todos os educadores, pelo bem dos jovens e por um futuro mais humano e cheio de esperança.”

Vatican News

domingo, 25 de junho de 2023

Papa no Angelus: não tenha medo de permanecer fiel ao que conta

 
  A oração mariana do Angelus com Francisco neste domingo (25)  
 
"Permanecer fiel ao que conta, custa", afirmou Francisco na alocução que precedeu a oração mariana do Angelus deste domingo (25), como também custa "libertarmo-nos do condicionamento do pensamento comum, custa ser deixado de lado por quem 'segue a onda'". O que importa realmente, segundo Jesus e alertado pelo Papa, "é não deitar fora o bem maior, ou seja, a vida. Não deitar fora a vida. Só isto deve assustar-nos".
 

Andressa Collet - Vatican News

No primeiro domingo (25) de verão deste ano na Praça de São Pedro, um grande número de peregrinos reuniu-se para rezar com o Papa a oração mariana do Angelus. Francisco fez uma reflexão a partir do Evangelho do dia, quando Jesus repete aos discípulos por três vezes: "Não tenhais medo" (Mt 10:26, 28, 31). Uma referência às perseguições que teriam de enfrentar por causa do Evangelho, "uma realidade que é atual ainda hoje", acrescentou Francisco, e que "parece paradoxal: a proclamação do Reino de Deus é uma mensagem de paz e justiça, fundada na caridade fraterna e no perdão, e ainda assim encontra oposição, violência e perseguição". Mesmo assim, a orientação de Cristo é não deixar que o medo paralise, mas temer por outra coisa, que o Papa explica a partir da imagem do vale da "Geena" (cf. v. 28), o grande depósito de lixo de Jerusalém:

“Jesus fala dele para dizer que o verdadeiro medo que se deve ter é aquele de deitar fora a própria vida. E sobre isto Jesus diz: 'sim, tenham medo disso'.”

"Como se dissesse: não se deve ter tanto medo de sofrer mal-entendidos e críticas, de perder prestígio e vantagens económicas para permanecer fiel ao Evangelho, mas de desperdiçar a existência correndo atrás de coisas triviais, que não enchem a vida de significado. E isto é importante para nós. Também hoje, de facto, alguém pode ser ridicularizado ou discriminado se não seguir certos modelos da moda que, no entanto, muitas vezes colocam realidades de segunda categoria no centro: por exemplo, seguir as coisas em vez das pessoas, o desempenho em vez das relações."

Permanecer fiel ao que conta, custa

O Papa, então, deu exemplos: dos pais que precisam se dividir em trabalhar para o sustendo da família e o tempo para ficar com os filhos; dos sacerdotes e religiosas que devem estar comprometidos com o serviço, mas dedicando tempo a Jesus; e dos jovens, com "mil compromissos e paixões: a escola, o esporte, interesses diversos, os celulares e as redes sociais, mas precisam encontrar as pessoas e organizar grandes sonhos". Tudo isso implica "alguma renúncia diante dos ídolos da eficiência e do consumismo", disse Francisco, mas de suma importância para não se perder nas coisas que depois acabam sendo "jogadas fora, como se fazia naquela época em Geena":

“E na Geena de hoje, ao contrário, muitas vezes são as pessoas que acabam ali: pensemos nos últimos, muitas vezes tratados como material de descarte e objetos indesejados. Permanecer fiel ao que conta, custa; custa ir contra a maré, custa libertarmo-nos do condicionamento do pensamento comum, custa ser deixado de lado por quem "segue a onda". Mas não importa. Jesus diz: o que importa é não deitar fora o bem maior, ou seja, a vida. Não deiar fora a vida. Só isto  nos deve assustar.”

Do que tenho eu medo?

Ao finalizar a alocução que precedeu a oração mariana do Angelus deste domingo (25), o Papa convidou os peregrinos presentes na Praça de São Pedro a questionarem-se onde realmente vive o medo de cada um:

"Perguntemo-nos então: eu, do que tenho medo? De não ter o que eu gosto? De não atingir as metas que a sociedade impõe? Do julgamento dos outros? Ou de não agradar ao Senhor e de não colocar em primeiro lugar o seu Evangelho? Maria, sempre Virgem, Mãe Sábia, ajude-nos a sermos sábios e corajosos nas escolhas que fizermos."

 

Vatican News

domingo, 18 de junho de 2023

Francisco: Deus não está distante, mas é Pai. O agradecimento do Papa

 
  Papa Francisco - Angelus  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)  
 
Antes da oração do Angelus deste 11º Domingo do Tempo Comum, o Papa agradeceu as orações e os testemunhos de afeto durante a sua permanência no Hospital Gemelli. Comentando o Evangelho dominical, destacou que o coração do anúncio é "o testemunho gratuito, o serviço" e que, estando perto de Deus, "superamos o medo e sentimos a necessidade de anunciar" o seu amor.
 

Silvonei José – Vatican News

"Desejo expressar a minha gratidão por todos aqueles que demonstraram afeto, cuidado e amizade" durante a sua hospitalização, "e garantiram o apoio da oração". Foi o que disse o Papa Francisco, que voltou neste 11º Domingo do Tempo Comum a recitar o Angelus na Praça de São Pedro, depois de ter sido submetido a uma cirurgia em 7 de junho no Hospital Geral Agostino Gemelli, em Roma. "Esta proximidade para mim tem sido de grande ajuda e conforto", acrescentou olhando pela janela de seu escritório no Palácio Apostólico do Vaticano, "Obrigado de coração".

Deus está perto de nós, ele é Pai, não estamos sozinhos!

Na meditação que precedeu a oração mariana, o Papa recordou a passagem do Evangelho deste Domingo do Tempo Comum, na qual o evangelista Mateus descreve o mandato de Jesus aos discípulos: ""pro­clamai: ‘O Reino dos Céus está próximo’". E ele enfatiza que o coração da proclamação é "testemunho livre, serviço". Como no início da sua pregação, Jesus proclama que o senhorio do amor de Deus "vem entre nós". E isto, comenta, "não é uma notícia entre as outras, mas a realidade fundamental da vida". De facto, "se o Deus do céu está próximo, não estamos sozinhos na terra e, mesmo nas dificuldades, não perdemos a confiança". Esta é a primeira coisa a ser dita às pessoas":

Deus não está distante, mas é Pai, Ele conhece e ama-me; quer segurar a minha mão, mesmo quando passo por caminhos íngremes e irregulares, mesmo quando caio e tenho dificuldade para me levantar e retomar o caminho.

Perto Dele, superamos o medo e anunciamos

E muitas vezes, continua Francisco, " nos momentos em que estou e mais fraco, posso sentir mais forte a sua presença. Ele conhece o caminho, Ele está comigo, Ele é o meu Pai!".  Assim, o mundo, grande e misterioso, "torna-se familiar e seguro, porque a criança sabe que está protegida. Ela não tem medo e aprende a abrir-se: conhece outras pessoas, encontra novos amigos, aprende com alegria coisas que não sabia". Enquanto "cresce nele o desejo de se tornar grande e de fazer as coisas que viu o papai fazer". É por isso que Jesus começa aqui...

Assim o mundo, grande e misterioso, “torna-se familiar e seguro, porque a criança sabe que está protegida. Ela não tem medo e aprende a abrir-se: conhece outras pessoas, encontra novos amigos, aprende com alegria coisas que não sabia”. Enquanto “cresce nela o desejo de se tornar grande e fazer as coisas que viu seu pai fazer”. É por isso que Jesus começa daqui...

é por isso que a proximidade de Deus é o primeiro anúncio: estando perto de Deus, superamos o medo, abrimo-nos para o amor, crescemos no bem e sentimos a necessidade e a alegria de anunciar

 

 

Anunciar a sua proximidade com gestos de amor e esperança

Se quisermos ser bons apóstolos, prossegue o Pontífice esclarecendo, "devemos ser como crianças: sentar "no colo de Deus" e, de lá, olhar para o mundo com confiança e amor, para testemunhar que Deus é Pai, que somente Ele transforma os nossos corações e nos dá aquela alegria e paz que não podemos proporcionar por nós mesmos.

Anunciar que Deus está próximo. Mas como fazer iseo? No Evangelho, Jesus recomenda não dizer muitas palavras, mas fazer muitos gestos de amor e esperança em nome do Senhor. Este é o coração do anúncio: testemunho gratuito, serviço.

Vou dizer-vos uma coisa, acrescentou o Papa: "fico perplexo e muito perplexo, sempre, com os 'faladores' que falam muito e não fazem nada".

Vamo-nos fazer algumas perguntas 

O Papa Francisco então convida interrogarmo-nos: “nós, que acreditamos no Deus próximo, confiamos Nele? Sabemos olhar para a frente com confiança, como uma criança que sabe que está a ser carregada pelo pai? Sabemos como nos sentarmos no colo do Pai com a oração, com a escuta da Palavra, aproximando-nos dos Sacramentos?”

Enfim, perto d’Ele, sabemos como incutir coragem nos outros, aproximarmo-nos daqueles que sofrem e estão sozinhos, daqueles que estão longe e até mesmo daqueles que são hostis a nós?

 

Vatican News

domingo, 11 de junho de 2023

Acompanhado espiritualmente pelos fiéis, o Papa rezou o Angelus de forma privada

 

  Fiéis unidos ao Papa diante do Gemelli na hora do Angelus  (ANSA)  
 

Diante da Policlínica Gemelli, formou-se uma pequena multidão de fiéis, que rezaram o Angelus unidos espiritualmente ao Santo Padre.
 

Vatican News

Como antecipado no comunicado médico de sábado, 10, para "evitar movimentos que pudessem tensionar a parede abdominal", o Papa Francisco rezaria o Angelus deste domingo de forma privada, unindo-se no entanto espiritualmente, "com afeto e gratidão, aos fiéis que desejam acompanhá-lo, onde quer que estivessem".

E assim o foi, como confirmado pelo comunicado do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé. Matteo Bruni informou que durante a manhã deste domingo, o Papa "acompanhou a Santa Missa ao vivo pela televisão e recebeu a Eucaristia". Então, "dirigiu-se à pequena capela do apartamento privado, onde se recolheu em oração para a recitação do Angelus."

Francisco então almoçou "juntamente com os que o assistem nestes dias de hospitalização no apartamento privado (médicos, auxiliares de saúde, enfermeiras, auxiliares e pessoal do Corpo de Gendarmaria)."

Bruni comunicou ainda que a equipe médica informou "que o pós-operatório do Papa Francisco é regular. O Santo Padre continua afebril e hemodinamicamente estável; ela fez fisioterapia respiratória e continuou a se movimentar."

A recordar que no dia 4 de julho de 2021, sete dias após a operação para retirada de uma parte de intestino com divertículos, Francisco tinha recitado o Angelus da janela do apartamento no Gemelli. Mas naquela ocasião - precisou no sábado o Dr. Sergio Alfieri que o acompanha - já se tinha passado uma semana“. No quadro atual – observou o médico - o Papa aceitou o conselho dos médicos de descansar e não fazer mais esforços que pudessem comprometer a malha protética implantada e o reparo da fáscia muscular para uma cicatrização ideal".

Vatican News

domingo, 4 de junho de 2023

Papa: o sinal da cruz é o abraço de Deus que jamais nos abandona

 
 
Na Solenidade da Santíssima Trindade, o Papa falou da "comunhão de amor" que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo numa única família na qual a Igreja deve-se espelhar.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

O Papa rezou o Angelus com milhares de fiéis na Praça de São Pedro neste Domingo em que a Igreja celebra a Solenidade da Santíssima Trindade.

O Evangelho é extraído do diálogo de Jesus com Nicodemos, membro do Sinédrio. Apaixonado pelo mistério de Deus, Nicodemos reconhece em Jesus um mestre divino e, sem que o vejam, vai falar com Ele. Jesus ouve-o e revela-lhe o coração do mistério, dizendo que Deus amou tão profundamente a humanidade ao ponto de enviar o seu Filho ao mundo. Jesus, portanto, o Filho, fala-nos do Pai e do seu amor imenso.

Francisco ressaltou a relação familiar de Pai e Filho. "É uma imagem familiar que, se pensarmos, desequilibra o nosso imaginário sobre Deus. A própria palavra 'Deus', com efeito,  sugere-nos uma realidade singular, majestosa e distante, enquanto ouvir falar de um Pai e de um Filho leva-nos e volta para casa."

Para o Pontífice, podemos pensar Deus através da imagem de uma família reunida à mesa, onde se compartilha a vida, já que a mesa é ao mesmo tempo um altar, símbolo com o qual alguns ícones representam a Trindade.

"Mas não é somente uma imagem, é uma realidade! É realidade porque o Espírito Santo faz-nos degustar a presença de Deus: presença próxima, compassiva e terna. O Espírito Santo faz connosco o mesmo que Jesus faz com Nicodemos: introduz-nos no mistério do novo nascimento, revela-nos o coração do Pai e torna-nos partícipantes da própria vida de Deus."

O convite, portanto, explicou o Papa, é estar à mesa com Deus para partilhar o seu amor. Isto é o que acontece em cada Missa, no altar do banquete eucarístico, onde Jesus se oferece ao Pai e se oferece por nós.

"Sim, irmãos e irmãs, o nosso Deus é comunhão de amor: assim Jesus revelou-nos. E sabem como podemos fazer para recordá-lo? Com o gesto mais simples que aprendemos desde crianças: o sinal da cruz. Traçando a cruz sobre o nosso corpo recordamo-nos quanto Deus nos amou, ao ponto de dar a vida por nós; e repetimos a nós mesmos que o seu amor envolve-nos completamente, de cima a baixo, da esquerda à direita, como um abraço que jamais nos abandona. E, ao mesmo tempo, comprometemo-nos a testemunhar Deus-amor, criando comunhão em seu nome."

Antes de concluir, Francisco propôs algumas perguntas aos fiéis: Testemunhamos Deus-amor? Ou Deus-amor tornou-se, por sua vez, um conceito, algo já conhecido, que não estimula e não provoca mais a vida? Se Deus é amor, as nossas comunidades testemunham-no? Sabem amar? São famílias? Mantemos a porta sempre aberta, sabemos acolher todos, ressalto todos, como irmãos e irmãs? Oferecemos a todos o alimento do perdão de Deus e o vinho da alegria evangélica? Respira-se uma atmosfera doméstica ou parecemos mais um escritório ou um lugar reservado onde entram somente os eleitos?

"Que Maria nos ajude a viver a Igreja como aquela casa em que se ama de modo familiar, a glória de Deus Pai e Filho e Espírito Santo", foi a exortação final do Pontífice.

Vatican News

quinta-feira, 1 de junho de 2023

O Papa: Matteo Ricci seguiu o caminho do diálogo e da amizade com todas as pessoas

 
 
O estudo e a formação despertam interesse e admiração, mas é a coerência da vida cristã que atrai, disse Francisco na Audiência Geral referindo-se à missão do jesuíta que, superando dificuldades e perigos, conseguiu entrar no grande país asiático há 500 anos e anunciar a fé cristã, modelo de inculturação
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

A catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (31/07), teve como exemplo de zelo apostólico o pe. Matteo Ricci, italiano que foi à China.

"Natural de Macerata, na região das Marcas, depois de ter estudado nas escolas dos jesuítas e de ter entrado na Companhia de Jesus, entusiasmado pelos relatórios dos missionários, como muitos outros jovens, seus companheiros, pediu para ser enviado para as missões do Extremo Oriente. Depois da tentativa de Francisco Xavier, mais vinte e cinco jesuítas procuraram, sem sucesso, entrar na China", sublinhou o Papa.

De acordo com Francisco, "Matteo Ricci e um dos seus confrades prepararam-se muito bem, estudando cuidadosamente a língua e os costumes chineses, e no final conseguiram estabelecer-se no sul do país. Foram necessários dezoito anos, com quatro etapas em quatro cidades diferentes, antes de chegar a Pequim, que era o centro. Com constância e paciência, animado por uma fé inabalável, Matteo Ricci conseguiu superar dificuldades e perigos, desconfianças e oposições".

“Ele seguiu sempre o caminho do diálogo e da amizade com todas as pessoas que encontrou, e isto abriu-lhe muitas portas para o anúncio da fé cristã.”

Comportamento de inculturação

A sua primeira obra em língua chinesa foi precisamente um tratado "Sobre a amizade", que teve grande ressonância. Para se integrar na cultura e na vida chinesas, num primeiro período vestia-se como os bonzos budistas, conforme o costume do país, mas depois compreendeu que a melhor maneira era assumir o estilo de vida e os trajes dos eruditos. Estudou profundamente os seus textos clássicos, a fim de poder apresentar o cristianismo em diálogo positivo com a sua sabedoria confucionista e os usos e costumes da sociedade chinesa. Isto chama-se um comportamento de inculturação. Estes missionários souberam “inculturar” a fé cristã em diálogo com a cultura grega.

Segundo o Papa, "a sua excelente preparação científica suscitava o interesse e a admiração dos homens cultos, começando pelo seu famoso mapa-múndi, o mapa de todo o mundo então conhecido, com os diferentes continentes, que revela aos chineses, pela primeira vez, uma realidade fora da China muito mais vasta do que pensavam". 

 

 

De acordo com o Papa, "os conhecimentos matemáticos e astronómicos de Ricci e dos seus seguidores missionários contribuíram para um encontro fecundo entre a cultura e a ciência do Ocidente e do Oriente, que então viverá uma das suas épocas mais felizes, no sinal do diálogo e da amizade. Com efeito, a obra de Matteo Ricci nunca teria sido possível sem a colaboração dos seus grandes amigos chineses, como os famosos “Doutor Paulo” (Xu Guangqi) e o “Doutor Leão” (Li Zhizao)".

A coerência dos evangelizadores

"No entanto, a fama de Ricci como homem de ciência não deve obscurecer a motivação mais profunda de todos os seus esforços: o anúncio do Evangelho. A credibilidade obtida mediante o diálogo científico conferia-lhe autoridade para propor a verdade da fé e da moral cristã, que ele debate de modo aprofundado nas suas principais obras chinesas, como O verdadeiro significado do Senhor do Céu", sublinhou Francisco. "Esses missionários rezavam, pregavam, moviam-se, faziam jogadas políticas, tudo isto, mas rezavam. É o que alimenta a vida missionária, uma vida de caridade, ajudavam os outros, humildade e um total desinteresse por honras e riquezas que levam muitos dos seus discípulos e amigos a aceitar a fé católica porque viam um homem tão inteligente, tão sábio, tão astuto, no bom sentido da palavra, para fazer as coisas e tão fiel, que diziam: O que prega é verdadeiro, é uma personalidade que dá testemunho", disse ainda o Papa.

“Testemunha com a própria vida o que anuncia. Esta é a coerência dos evangelizadores. Isto cabe a todos nós cristãos que somos evangelizadores. Eu posso rezar o Credo de cor, posso dizer todas as coisas que acreditamos, mas se a vida não for coerente com isso, não serve a nada. O que atrai as pessoas é o testemunho de coerência. Nós cristãos, vivemos o que pregamos. Não fazer de conta viver como cristãos e depois viver como mundanos. Fiquem atentos! Olhando para estes missionários, este era italiano, a força maior é a coerência. Eles são coerentes.”

"Matteo Ricci faleceu em Pequim, em 1610, aos 57 anos. Um homem que dedicou toda a sua vida à missão. O espírito missionário de Mateo Ricci é um modelo vivo atual. O seu amor pelo povo chinês é um modelo, mas o que é uma estrada atual é a coerência de vida, o testemunho de sua vida como cristão.

“Ele levou o cristianismo à China. Ele é grande porque é um grande cientista, ele é grande porque é corajoso, ele é grande porque escreveu muitos livros, mas sobretudo é grande porque foi coerente com a sua vocação, coerente com o desejo de seguir Jesus Cristo.”

Irmãos e irmãs, hoje, nós, cada um de nós, interrogue-se: "Sou coerente ou sou um pouco mais ou menos?", concluiu Francisco.

Vatican News