domingo, 29 de outubro de 2023

Papa Francisco: a Igreja que sonhamos é adoradora e serva de todos e dos últimos

 
 
Francisco presidiu a celebração eucarística de conclusão do Sínodo dos Bispos no Vaticano e exortou cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos a crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo: "é aqui que está o coração de tudo" para fazer "a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama. Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia".
 

Andressa Collet - Vatican News

Uma Basílica de São Pedro com cerca de 5 mil fiéis neste domingo (29) para rezar junto do Papa Francisco, que presidiu a missa de conclusão do Sínodo dos Bispos. A homilia foi especialmente dirigida aos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos que, durante um mês, se viram empenhados na Sala Paulo VI, no Vaticano, para a XVI Assembleia Geral Ordinária. O pedido do Pontífice, segundo a reflexão do Evangelho do dia (Mt 22, 36) sobre "o princípio inspirador de tudo", foi de "crescer na adoração a Deus e no serviço do próximo".

De facto, quando nos interrogamos sobre «Qual é o maior mandamento?» (Mt 22, 36), explica o Papa, a resposta de Jesus é clara: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 37-39). Com a conclusão do Sínodo, "é importante fixar o «princípio e fundamento», do qual uma vez e outra tudo começa: amar a Deus com toda a vida e amar o próximo como a ti mesmo". Mas, questiona o próprio Papa, como traduzir tal impulso de amor? Francisco propõe "dois verbos, dois movimentos do coração": adorar e servir.

A adoração é essencial na Igreja

A adoração "é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito" de Deus e, infelizmente, neste momento, disse o Papa, "perdemos o hábito da adoração": "esta maravilha própria da adoração é essencial na Igreja".

“Que esta seja uma atividade central para nós, pastores: dediquemos diariamente um tempo à intimidade com Jesus, Bom Pastor, diante do sacrário. Adorar. Que a Igreja seja adoradora! Adore-se o Senhor em cada diocese, em cada paróquia, em cada comunidade! Porque só assim nos voltaremos para Jesus, e não para nós mesmos.”

Mas, alerta Francisco, na Sagrada Escritura, o amor ao Senhor aparece frequentemente associado à luta contra toda a idolatria, porque os ídolos são obra do homem: "quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos".

Servir

O segundo verbo proposto pelo Papa é o servir, como acontece no mandamento maior, já que "Cristo liga Deus e o próximo, para que não apareçam jamais separados. Não existe uma experiência religiosa que seja surda ao grito do mundo, uma verdadeira experiência religiosa. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado ao próximo". Assim, a reforma da Igreja deve ser conduzida através da adoração e do serviço:

"Adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres. [...] Irmãos e irmãs, penso naqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz."

Assim, com a conclusão da Assembleia Sinodal, nesta «conversação do Espírito», disse o Papa, a experiência foi rica da "terna presença do Senhor", da "beleza da fraternidade", sempre "à escuta do Espírito. Hoje não vemos o fruto completo deste processo", comentou ainda o Pontífice, mas o Senhor deverá guiar e ajudar todos "a ser Igreja mais sinodal e missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho":

“Esta é a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, sem nunca exigir antes um atestado de «boa conduta». Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia.”

Vatican News

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

O Papa: apelo pela libertação dos reféns e entrada de ajudas humanitárias em Gaza

 
Ajuda humanitária destinada aos palestinos em Gaza passa pela passagem de Rafah (ANSA)
 
Na audiência geral desta quarta-feira Francisco volta mais uma vez ao seu pensamento para a grave situação na Palestina e Israel, esperando caminhos de paz para o Médio Oriente e estendendo o seu olhar para a atormentada Ucrânia e outras regiões feridas pela guerra. O Papa lembra o Dia de Oração, na próxima sexta-feira, para implorar a paz no mundo 
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Ao final da audiência geral desta quarta-feira, 25 de outubro, na Praça de São Pedro, falando aos fiéis e peregrinos de língua italiana, o Santo Padre mais uma vez voltou ao seu pensamento para a grave situação na Palestina e Israel, pedindo a libertação dos reféns e o acesso às ajudas humanitárias em Gaza:

Penso sempre na grave situação na Palestina e em Israel. Incentivo à libertação dos reféns e a entrada das ajudas humanitárias em Gaza. Continuo a orar por aqueles que sofrem, a esperar por caminhos de paz no Médio Oriente, na atormentada Ucrânia e noutras regiões feridas pela guerra. Lembro a todos que depois de amanhã, sexta-feira, 27 de outubro, viveremos um dia de jejum, oração e penitência. Às 18 horas, na Praça de São Pedro, reuniremo-nos para rezar, implorando a paz no mundo.

Chamado à esperança

Também na saudação aos fiéis e peregrinos de língua portuguesa, o Papa no chamou-nos à esperança convidando-nos a confiar à Virgem Maria a urgência da paz:

Neste tempo, não deixemos que as nuvens dos conflitos escondam o sol da esperança. Entreguemos, antes, a Nossa Senhora a urgência da paz, para que todas as culturas se abram ao sopro de harmonia do Espírito Santo.

Vatican News

Papa: é preciso pregar o evangelho com coragem e liberdade

 
 
Durante a sua catequese, na Praça de São Pedro, o Papa destacou o legado dos Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos. Francisco enfatizou a abordagem que os irmãos tinham no seu modo de evangelizar, que priorizava a língua materna e a liberdade espiritual: “uma pessoa é livre quanto mais corajosa ela for e não se deixar acorrentar por tantas situações que tiram a sua liberdade”. 
 

Thulio Fonseca - Vatican News

O Papa Francisco, na manhã nublada desta quarta-feira, 25 de outubro, deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico. O Pontífice abordou na sua reflexão o testemunho de dois irmãos muito famosos no Oriente cristão, ao ponto de serem chamados de "apóstolos dos eslavos": os Santos Cirilo e Metódio.

Nascidos na Grécia no século IX, numa família aristocrática, renunciaram à carreira política para se dedicarem à vida monástica. Os irmãos foram enviados como missionários à Grande Morávia, que na época incluía vários povos, em parte já evangelizados, mas entre os quais ainda sobreviviam muitos costumes e tradições pagãs. O príncipe da época solicitou um mestre que explicasse a fé cristã na língua deles.

A importância de evangelizar na língua materna

"O primeiro empenho de Cirilo e Metódio foi estudar profundamente a cultura daqueles povos", afirmou Francisco, "e para anunciar o Evangelho e rezar com aquele povo, foi preciso um instrumento próprio, adequado e específico, resultando na criação do alfabeto glagolítico. Nesta língua, Cirilo traduziu a Bíblia e textos litúrgicos. A partir daquele ato, as pessoas sentiram que aquela fé cristã já não era mais 'estrangeira', mas tornou-se a sua fé, falada na língua materna. Pensem: dois monges gregos que dão um alfabeto aos Eslavos. Foi essa abertura de coração que enraizou o Evangelho entre eles".

"Naquela época, alguns latinos de mente fechada", destacou o Papa, "diziam que Deus só poderia ser louvado nas três línguas escritas na cruz: hebraico, grego e latim. Mas Cirilo respondeu com força: Deus quer que cada povo o louve na própria língua. Juntamente com o seu irmão Metódio, recorreram ao Papa, que aprovou os seus textos litúrgicos em língua eslava, colocou-os sobre o altar da igreja de Santa Maria Maior e cantou com eles os louvores do Senhor segundo aqueles livros".

Unidade, inculturação e liberdade

Francisco recordou que São João Paulo II, ao contemplar o testemunho daqueles dois evangelizadores, escolheu-os como co-patronos da Europa e escreveu a Encíclica "Slavorum Apostoli", na qual destacou três aspecos importantes.

"O primeiro ponto", ressaltou o Papa, "é o da unidade: naquela época, gregos, o Papa e eslavos viviam uma cristandade indivisa na Europa, que colaborava para evangelizar. Um segundo aspeto importante é o da inculturação", continuou Francisco. "A evangelização da cultura e a inculturação mostram que estes pontos estão intimamente ligados. Não se pode pregar um Evangelho de modo abstrato, destilado: o Evangelho deve ser inculturado e também é uma expressão da cultura".

O último aspeto, sublinhou, é o da liberdade: "na pregação, precisamos de liberdade, mas a liberdade requer sempre coragem. Uma pessoa é livre quanto mais corajosa for, sem se deixar acorrentar por tantas coisas que lhe tiram a liberdade".

"Irmãos e irmãs, peçamos aos Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos, para que sejamos instrumentos da liberdade na caridade na vida do nosso próximo. Sejamos criativos, persistentes e humildes, através da oração e do serviço", concluiu o Papa.

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domingo, 22 de outubro de 2023

Parem! A guerra é uma derrota, a destruição da fraternidade humana

Crianças olham para danos num café em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de outubro de 2023, durante as batalhas em curso entre Israel e o grupo palestino Hamas. (Foto de Mahmud HAMS/AFP)

Após rezar o Angelus, com o pensamento voltado para Israel, Palestina e Ucrânia, Francisco fez mais um apelo pelo fim de todos os conflitos, em particular pela libertação dos reféns em Gaza. O Papa reitera o convite para um dia de jejum e oração em 27 de outubro. 
 

Vatican News

É o décimo sexto dia de guerra: mais de 4.000 mortos entre os palestinos, 1.400 entre os israelitas, 212 são os reféns.

“É preocupante a possível ampliação do conflito enquanto tantas frentes de guerra já estão abertas no mundo. Silenciem as armas, ouçam o grito de paz dos pobres, das pessoas, das crianças", tinha dito o Papa na Audiência Geral da última quarta-feira. Mas a escalada de violência na Terra Santa que se seguiu nestes dias, continua a trazer preocupação e dor:

"Mais uma vez o meu pensamento dirige-se para o que está a acontecer em Israel e na Palestina", disse logo após rezar o Angelus com os milhares de fiéis presentes na Praça de São Pedro. "Estou muito preocupado, entristecido, rezo e estou próximo de todos aqueles que sofrem, os reféns, os feridos, as vítimas e a seus familiares."

Diante das notícias que  continuam a chegar do conflito no Médio Oriente, Francisco demonstrou particular preocupação pela "grave situação humanitária em Gaza", dizendo-se entristecido de "que também o hospital anglicano e a paróquia greco-ortodoxa tenham sido atingidos nos últimos dias". E renovou o eu apelo "para que sejam abertos espaços, que a ajuda humanitária continue a chegar e que os reféns sejam libertados":

A guerra, cada guerra que há no mundo – penso também na martirizada Ucrânia – é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, é uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parem! Parem!

O Pontífice reitera o seu convite feito na Audiência Geral da última quarta-feira para um dia de jejum e oração pela paz:

Recordo que para a próxima sexta-feira, 27 de outubro, convoquei um dia de jejum, oração e penitência, e que naquela tarde, às 18 horas, em São Pedro, teremos uma hora de oração para implorar a paz no mundo.

Dia Mundial das Missões e saudações aos diversos grupos presentes na Praça São Pedro

Na sequência, o Santo Padre recordou o Dia Mundial das Missões celebrado neste domingo, 22 de outubro, e cuja mensagem tinha sido publicada na Solenidade da Epifania do Senhor, em 6 de janeiro:

Hoje celebramos o Dia Mundial das Missões, que tem como tema “Um coração ardente, pés que caminham”. Duas imagens que dizem tudo!

Seguiram-se então as saudações aos diversos grupos reunidos na Praça de São Pedro para o tradicional encontro dominical com o Papa. Entre os quais:

Saúdo todos vós, romanos e peregrinos, em particular as Irmãs Siervas de los Pobres hijas del Sagrado Corazón de Jesús, de Granada; os membros do Centro Académico Romano Fundación; a Confraria do Señor de los Milagros, dos peruanos em Roma: e obrigado, obrigado pelo vosso testemunho! Continuem assim, com essa piedade tão bela...

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Papa no Angelus: Somos do Senhor, não pertencemos a nenhum "César" de turno

 
 
"Não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum 'César' deste mundo. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano", disse Francisco no Angelus dominical.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

"Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus": este versículo do Evangelho deste 29o. Domingo do Tempo Comum inspirou a reflexão do Papa no Angelus dominical.

Diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, Francisco comentou o episódio extraído de São Mateus, que narra a cilada que alguns fariseus e herodianos armam contra Jesus. Vão até Ele e perguntam-lhe: "É lícito ou não pagar imposto a César?".

"É uma farsa", explica o Pontífice. Pois se Jesus legitimar o imposto, coloca-se da parte de um poder político pouco tolerado pelo povo, enquanto se disser para não pagá-lo, pode ser acusado de rebelião contra o império.  O Mestre, porém, foge desta trapaça. Pede que lhe mostrem uma moeda, que traz impressa a imagem de César, diz-lhes: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (v. 21).

Estas palavras de Jesus tornaram-se de uso comum, prossegue o Papa, mas às vezes foram utilizadas de modo erróneo para falar das relações entre Igreja e Estado. Jesus não quer separar “César” e “Deus”, ou seja, a realidade terrena e daquela espiritual.

"Às vezes, também nós pensamos assim: uma coisa é a fé com as suas práticas e outra coisa é a vida de todos os dias. Não. Esta é uma 'esquizofrenia', como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política e assim por diante."

O homem e o mundo pertencem a Deus!

Na realidade, Jesus dá a César e a Deus a sua devida importância. A César – isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e económicos – pertence o cuidado com a ordem terrena e os cidadãos contribuem promovendo o direito, a justiça e pagando honestamente os impostos. Mas a Deus pertence o homem, todo o homem e todo o ser humano.

“Isto significa que nós não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum 'César' de turno. Somos do Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Sobre a moeda, portanto, há a imagem do imperador, mas Jesus recorda-nos que na nossa vida está impressa a imagem de Deus, que nada e ninguém pode obscurecer. A César pertencem as coisas do mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não o esqueçamos!”

Francisco então dirige algumas perguntas aos fiéis: "Sobre a moeda deste mundo está a imagem de César, mas tu, que imagem levas dentro de ti? De quem é a imagem na tua vida? Nós lembramo-nos de pertencer ao Senhor ou deixamo-nos plasmar pelas lógicas do mundo e fazemos do trabalho, da política e do dinheiro os nossos ídolos a adorar?"

E concluiu fazendo votos de que a Virgem Santa nos ajude a reconhecer e honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano.

Vatican News

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O Papa: evangelizar é ter Jesus no centro do coração, é “perder a cabeça” por Ele

 
O Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)
 
Na catequese da Audiência Geral, Francisco propôs como exemplo de zelo apostólico São Charles de Foucauld, "uma figura que é profecia para o nosso tempo, que testemunhou a beleza de comunicar o Evangelho por meio do apostolado da mansidão".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico na Audiência Geral desta quarta-feira (18/10). Aos fiéis presentes na Praça de São Pedro, o Pontífice propôs São Charles de Foucauld, "homem que fez de Jesus e dos seus irmãos mais pobres a paixão da sua vida".

Depois de ter vivido uma juventude longe de Deus, sem acreditar em nada a não ser na busca desordenada do prazer, Charles de Foucauld revela a razão do seu viver. Ele escreve: «Perdi o meu coração por Jesus de Nazaré». Segundo o Papa, "o irmão Carlos recorda-nos que o primeiro passo para evangelizar é ter Jesus no centro do coração, é “perder a cabeça” por Ele. Se isto não acontece, dificilmente conseguiremos mostrá-lo com a vida".

Em vez disto, corremos o risco de falar de nós mesmos, do nosso grupo, de uma moral ou, pior ainda, de um conjunto de regras, mas não de Jesus, do seu amor, da sua misericórdia. Vejo isto em alguns movimentos novos que estão a seguir. Falam da sua visão da humanidade, falam da sua espiritualidade, da própria espiritualidade. Eles sentem-se numa estrada nova. Mas, por que não falam de Jesus? Falam de muitas coisas, de organização, de caminho espiritual, mas não sabem falar de Jesus. Perguntemo-nos então: tenho Jesus no centro do meu coração, perdi um pouco a cabeça por Ele?

Aconselhado pelo seu confessor, Charles de Foucauld "vai à Terra Santa para visitar os lugares onde o Senhor viveu e caminhar por onde o Mestre caminhou. Em particular, é em Nazaré que compreende que devia formar-se na escola de Cristo. Vive uma relação intensa com Ele, passa longas horas a ler os Evangelhos e sente-se seu pequeno irmão. Conhecendo Jesus, nasce nele o desejo de torná-lo conhecido". "Acontece sempre assim, quando cada um de nós conhece mais Jesus, nasce o desejo de torná-lo conhecido, de partilhar este tesouro", ressaltou o Papa, "com a vida, porque «toda a nossa existência – escreve o Irmão Carlos – deve gritar o Evangelho». Muitas vezes na nossa existência gritamos mundanidade, gritamos coisas estúpidas, coisas estranhas. Mas, ele diz: não, toda a nossa existência deve gritar o Evangelho".

"Ele decide então estabelecer-se em regiões distantes para gritar o Evangelho no silêncio, vivendo no espírito de Nazaré, na pobreza e no escondimento. Vai ao deserto do Saara, entre os não-cristãos, e chega a eles como amigo e irmão, levando a mansidão de Jesus-Eucaristia. Fica em oração aos pés de Jesus, diante do tabernáculo, cerca de dez horas por dia, certo de que a força evangelizadora está ali e sentindo que é Jesus a aproximá-lo de tantos irmãos e irmãs distantes. Estou convencido de que nós perdemos o sentido da adoração. Devemos recuperá-lo. Começando por nós consagrados, pelos bispos, sacerdotes, religiosas, todos os consagrados. Perder tempo diante do tabernáculo. Recuperar o sentido da adoração", disse o Papa.

«Todo o cristão é apóstolo» escreve Charles de Foucauld a um amigo leigo, a quem recorda que «perto dos padres são necessários leigos que vejam o que o padre não vê, que evangelizem com uma proximidade de caridade, com uma bondade para todos, com um afeto sempre pronto a doarem-se. "Leigos santos e não carreiristas, mas aqueles leigos, aquele leigo, leiga apaixonados pelo Senhor, que fazem entender ao padre que ele não é um funcionário, mas um mediador, um sacerdote. Quanto nós sacerdotes precisamos ter perto de nós leigos esses leigos que acreditam realmente e com o seu testemunho ensinam-nos o caminho", sublinhou.

Desta forma, Charles de Foucauld "antecipa os tempos do Concílio Vaticano II, intui a importância dos leigos e compreende que o anúncio do Evangelho diz respeito a todo o povo de Deus".

São Charles de Foucauld, é uma figura que é profecia para o nosso tempo, que testemunhou a beleza de comunicar o Evangelho por meio do apostolado da mansidão: ele, que se sentia um “irmão universal” e acolhia a todos, mostra-nos a força evangelizadora da mansidão, da ternura. Não nos esqueçamos que o estilo de Deus são três palavras: proximidade, compaixão e ternura. Deus está sempre próximo, tem sempre compaixão e é sempre terno, e o testemunho cristão deve seguir esta estrada de proximidade, compaixão e ternura. E ele era assim manso e terno.

"Desejava que quem o encontrasse visse, por meio da sua bondade, a bondade de Jesus. A bondade é simples e pede que sejamos pessoas simples, que não tenham medo de dar um sorriso. Com o sorriso, com a sua simplicidade irmão Carlos dava testemunho do Evangelho, nunca proselitismo, nunca, mas testemunho. A evangelização não se faz por proselitismo, mas pelo testemunho, pela atração. Pecamos enfim, se levamos em nós e aos outros a alegria cristã, a mansidão cristã, a ternura cristã, a compaixão cristá, a proximidade cristã", concluiu o Papa.

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domingo, 15 de outubro de 2023

O Papa: basta de guerras! Elas são sempre uma derrota

 
  Bombardeio israelita sobre Gaza (ANSA)  
 
No Angelus, o veemente apelo de Francisco para o Médio Oriente: os mortos já são muitos. Não vemos nada além de sangue inocente na Terra Santa, assim como na Ucrânia. O Papa convida as pessoas a participarem num dia de oração e jejum pela paz na terça-feira, 17 de outubro
 

Vatican News

"As guerras são sempre uma derrota. Sempre!". No final do Angelus deste domingo (15), Francisco expressou tristeza pelo "que está a acontecer em Israel e na Palestina" e convidou todos os fiéis a unirem-se à Igreja na Terra Santa e dedicarem-se na próxima terça-feira, 17 de outubro, à oração e ao jejum". "A oração - explicou - é uma força mansa e santa para se opor à força diabólica do ódio, do terrorismo e da guerra".

O Papa renovou "o apelo pela libertação dos reféns", depois pediu "veementemente" que "as crianças, os doentes, os idosos, as mulheres e todos os civis não sejam vítimas do conflito", que o direito humanitário seja respeitado: "sobretudo em Gaza, onde é urgente e necessário garantir corredores humanitários e ajudar toda a população".

Irmãos e irmãs, muitos já morreram. Por favor, não deixem que mais sangue inocente seja derramado, nem na Terra Santa, nem na Ucrânia, nem em nenhum outro lugar! Basta!

Hospital anglicano em Gaza é atingido

O número de mortos em Gaza subiu para 2.329, e o número de feridos chega a 9.714. Na manhã deste domingo, chegaram notícias de que o hospital anglicano Arab Ahli, em Gaza, foi atingido por ataques israelitas.  Nas médias sociais, o arcebispo anglicano de Jerusalém, Hosam Naoum, pede que as pessoas orem pela paz e explica que "dois andares do hospital foram danificados e quatro pessoas ficaram feridas. A sala de ultrassom e mamografia foi danificada".

Israel abre novo corredor humanitário

Enquanto isto, Israel abriu um novo corredor humanitário para os civis de Gaza por três horas, entre as 10h e as 13h deste domingo, garantindo que "não atingirá a rota indicada pelo nosso mapa para chegar a essa área". Também alertou que só lançará "operações militares significativas" quando os civis deixarem Gaza, desmentindo a acusação do Hamas de que um comboio de civis palestinos que fugiam do norte da Faixa de Gaza tinha sido atingido num ataque. De acordo com o New York Times, que cita fontes militares israelitas, a invasão terrestre da Faixa de Gaza "inicialmente programada para o fim de semana" foi "adiada por vários dias, pelo menos em parte devido às condições climáticas que tornaram mais difícil para os pilotos israelitas e operadores de drones fornecerem cobertura aérea às tropas terrestres". 

Alta tensão na fronteira com o Líbano

Enquanto isto, em resposta ao lançamento de mísseis antitanque pelo Hezbollah a partir do Líbano, um dos quais resultou na morte de um civil israelota e deixou vários feridos, Israel isolou "uma área de até quatro quilómetros da fronteira norte" com o País dos cedros e começou a atacar posições militares da organização islâmica xiita em território libanês.

Vatican News

O Papa: ao ajudar os pobres, estamos com o Senhor, que está presente neles

 
 
É bom estar com o Senhor, abrir espaço para Ele. Onde? Na Missa, na escuta da Palavra, na oração e também na caridade, porque ao ajudar os fracos ou pobres, ao fazer companhia aos solitários, ao ouvir os que pedem atenção, ao consolar os que sofrem, estamos com o Senhor, que está presente nos necessitados: disse o Papa no Angelus deste XXVIII Domingo do Tempo Comum
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Como respondo aos convites de Deus? Que espaço dou a Ele nos meus dias? A qualidade da minha vida depende dos meus negócios e do meu tempo livre ou do meu amor pelo Senhor e pelos meus irmãos e irmãs, sobretudo pelos mais necessitados?

Foram as perguntas do Papa na alocução que precedeu o Angelus deste XXVIII Domingo do Tempo comum, ao comentar o Evangelho do dia, que nos fala de um rei que prepara um banquete de casamento para o seu filho. Na sua reflexão, Francisco convidou-nos a dedicar tempo a Deus, que nos alivia e cura o nosso coração.

O Santo Padre ressalta ser o rei da parábola, um homem poderoso, mas acima de tudo é um pai generoso, que convida a participar na sua alegria. Em particular, ele revela a bondade do seu coração no facto de que não força ninguém, mas convida todos, mesmo que este modo de agir o exponha à possibilidade da rejeição.

Observemos, continua o Pontífice: ele prepara um banquete, oferecendo gratuitamente uma oportunidade de encontro, de festa. É isto que Deus prepara para nós: um banquete, para estarmos em comunhão com Ele e entre nós. E nós, todos nós, somos, portanto, os convidados de Deus. Mas um banquete de casamento requer tempo e envolvimento da nossa parte: requer um "sim".

Este é o tipo de relacionamento que o Pai nos oferece: chama-nos para estar com Ele, deixando-nos a possibilidade de aceitar o convite ou não. Ele não nos oferece uma relação de sujeição, mas de paternidade e de filiação, que é necessariamente condicionada pelo nosso livre consentimento.

Francisco evidencia que sendo amor, o Senhor respeita ao máximo a nossa liberdade: Deus propõe-se, nunca se impõe. Como sabemos, desta parábola muito conhecida, os convidados rejeitam o convite. Eles não se importaram, pois pensaram nas suas próprias coisas. E aquele rei que é pai, Deus, o que faz? Não desiste, continua a convidar, na verdade, estende o convite, até encontrar aqueles que o aceitam, entre os pobres. Entre eles, que sabem que não têm muito mais, muitos vêm, até encherem a sala.

Irmãos e irmãs, quantas vezes não atendemos ao convite de Deus porque estamos ocupados pensando nas nossas próprias coisas! Muitas vezes lutamos para ter o nosso próprio tempo livre, mas hoje Jesus convida-nos a encontrar o tempo que nos liberta: o tempo para dedicar a Deus, que nos alivia e cura o nosso coração, que aumenta a paz, a confiança e a alegria em nós, que nos salva do mal, da solidão e da perda de sentido.

O Papa concluíu a sua reflexão lembrando que é bom estar com o Senhor e exortando-nos a abrir espaço para Ele nas nossas vidas, porque vale a pena, disse, indicando-nos onde dar espaço para Deus.

É bom estar com o Senhor, abrir espaço para Ele. Onde? Na Missa, na escuta da Palavra, na oração e também na caridade, porque ao ajudar os fracos ou pobres, ao fazer companhia aos solitários, ao ouvir os que pedem atenção, ao consolar os que sofrem, estamos com o Senhor, que está presente nos necessitados. Muitos, porém, acham que essas coisas são “perda de tempo” e, por isso, fecham-se no seu mundo particular; e isyo é triste.

Por fim, o Santo Padre pediu que Nossa Senhora, que com um "sim" abriu espaço para Deus, nos ajud a não sermos surdos aos seus convites.

Vatican News

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Francisco: o perdão é a carícia de Deus a todos nós

 
 
Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco citou Santa Josefina Bakhita como exemplo de zelo apostólico. "Esta é a carícia que ela nos ensina: humanizar. Humanizar a nós mesmos e humanizar os outros", disse o Papa. "A vida de Santa Bakhita tornou-se uma parábola existencial de perdão", sublinhou.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

No caminho de catequeses sobre o zelo apostólico, o Papa Francisco convidou, nesta quarta-feira (11/10), na Audiência Geral, a deixarmo-nos "inspirar pelo testemunho de Santa Josefina Bakhita, uma santa sudanesa".

Infelizmente, há meses o Sudão é dilacerado por um terrível conflito armado sobre o qual pouco se fala hoje. Rezemos pelo povo sudanês, para que possa viver em paz! Mas a fama de Santa Bakhita ultrapassou todas as fronteiras e chegou a todos aqueles a quem foi negada identidade e dignidade.

Santa Josefina Bakhita nasceu em Olgossa, em Darfur, "martirizado Darfur", sublinhou o Papa, em 1869. Foi sequestrada aos sete anos e escravizada. "Os seus raptores chamavam-na de “Bakhita”, que significa “afortunada”. Ela passou por oito donos. Os sofrimentos físicos e morais de que foi vítima desde pequena deixaram-na sem identidade. Sofreu crueldades e violências: no seu corpo, tinha mais de cem cicatrizes. Mas ela mesma testemunhou", disse ainda o Papa, citando as seguintes palavras de Santa Bakhita: “Como escrava nunca desesperei, porque sentia uma força misteriosa que me amparava”.

A vocação dos oprimidos é a de libertar 

Segundo Francisco, "muitas vezes a pessoa ferida acaba ferindo; o oprimido facilmente se torna um opressor. Em vez disto, a vocação dos oprimidos é aquela de de se libertarem si mesmos e aos seus opressores, tornando-se restauradores de humanidade. Somente na fraqueza dos oprimidos pode-se revelar a força do amor de Deus que liberta a ambos. Santa Bakhita expressa muito bem esta verdade".

Um dia ela recebeu do seu tutor um pequeno crucifixo e guardou-o como um tesouro. Olhando para o crucifixo, Santa Bakhita "experimenta uma profunda libertação interior porque se sente compreendida e amada e, portanto, capaz de compreender e amar por sua vez". Ela disse: “O amor de Deu acompanhou-me sempre de forma misteriosa... O Senhor me quis tão bem: é preciso querer bem a todos... É preciso ter compaixão!”.

Santa Bakhita ensina-mos a humanizar

Na verdade, compadecer significa querer padecer com as vítimas de tanta desumanidade presente no mundo, como também ter compaixão de quem comete erros e injustiças, não justificando, mas humanizando.

“Esta é a carícia que ela nos ensina: humanizar. Quando entramos na lógica da luta, da divisão entre nós, de sentimentos rmaus, uns contra outros, perdemos humanidade. Muitas vezes pensamos que precisamos de humanidade, de ser mais humanos. Isto é o que nos ensina Santa Bakhita: humanizar, humanizar a nós mesmos e humanizar os outros.”

Santa Bakhita, tornando-se cristã, foi transformada pelas palavras de Cristo que meditava diariamente: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Por isso dizia: “Se Judas tivesse pedido perdão a Jesus, também ele teria encontrado misericórdia”. Segundo o Papa, "a vida de Santa Bakhita tornou-se uma parábola existencial de perdão". "Que bonito dizer de uma pessoa que ela, ele foi capaz de perdoar sempre, sempre. E ela foi capaz de fazer isso sempre. Perdoar, porque depois, seremos perdoados. Não se esqueçam disto O perdão é a carícia de Deus a todos nós", sublinhou.

O perdão liberta

"O perdão tornou-a livre. O perdão recebido primeiro pelo amor misericordioso de Deus e depois o perdão dado fizeram dela uma mulher livre, alegre, capaz de amar. Assim, Bakhita pôde viver o serviço não como uma escravidão, mas como expressão do dom livre de si. Isto é muito importante: feita serva pela força, escolheu então livremente tornar-se serva, carregar nos ombros o fardo dos outros", disse ainda Francisco.

Santa Josefina Bakhita, com o seu exemplo,indica-noa o caminho para finalmente nos libertarmos das nossas escravidões e medos. Ajuda-nos a desmascarar as nossas hipocrisias e os nossos egoísmos, a superar ressentimentos e conflitos, e a encoraja-nos sempre.

"Queridos irmãos e irmãs, o perdão não tira nada, mas acrescenta dignidade à pessoa, faz tirar o olhar de nós mesmos em direção aos outros, para vê-los tão frágeis como nós, mas sempre irmãos e irmãs no Senhor. O perdão é fonte de um zelo que se torna misericórdia e chama a uma santidade humilde e alegre, como a de Santa Bakhita", concluiu o Papa.

Vatican News

domingo, 8 de outubro de 2023

O Papa: parem as armas, o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução

 
  Conflito Israel-Palestina  (AFP or licensors)  
 
Nas palavras de Francisco após o Angelus deste domingo, a sua dor pelo que está a ocorref em Israel. A sua oração é pelas famílias das vítimas e por aqueles que vivem horas de terror e angústia. “Haja paz em Israel e na Palestina!”, o seu apelo, porque “toda guerra é uma derrota”. Dirigindo o seu pensamento a todos os países em conflito, recorda a “martirizada” Ucrânia “que todos os dias sofre tanto”.
 

Antonella Palermo, Silvonei José – Vatican News

“A guerra é uma derrota: toda a guerra é uma derrota! Rezemos pela paz em Israel e na Palestina!”

Após a oração mariana deste primeiro domingo de outubro, o Papa Francisco expressou a sua apreensão e a dor com que acompanha o que está a ocorrer em Israel onde, afirma, “a violência explodiu ainda mais ferozmente, causando centenas de mortos e feridos”.

"Expresso a minha proximidade às famílias das vítimas, rezo por elas e por todos aqueles que vivem horas de terror e angústia. Por favor, parem com os ataques e as armas! e se compreenda que o terrorismo e a guerra não levam a nenhuma solução, mas apenas à morte e ao sofrimento de muitas pessoas inocentes".

Invoquemos a paz sobre os muitos países marcados por conflitos

Depois do Angelus, o Pontífice recorda também que este mês de outubro é dedicado, além das missões, à oração do Terço. Precisamente a Maria o Papa pede para nos dirigirmos a ela, sem parar:

"Não nos cansemos de invocar, por intercessão de Maria, o dom da paz sobre os numerosos países do mundo marcados por guerras e conflitos; e continuemos a recordar a querida Ucrânia, que todos os dias sofre tanto, tão martirizada".

O apelo do Patriarcado de Jerusalém à comunidade internacional

Numa nota publicada no site do Patriarcado Latino de Jerusalém lemos que a improvisa explosão de violência “é muito preocupante pela sua extensão e intensidade. A operação lançada a partir de Gaza e a reação do exército israelita estão a levar-nos de volta aos piores períodos da nossa história recente. As demasiadas vítimas e demasiadas tragédias que as famílias palestinas e israelitas têm de enfrentar criarão ainda mais ódio, divisão e destruirão cada vez mais qualquer perspectiva de estabilidade”. Daí o apelo à comunidade internacional, aos líderes religiosos da região e do mundo, para “fazerem todos os esforços para ajudar a acalmar a situação, restaurar a calma e trabalhar para garantir os direitos fundamentais das pessoas na região”. Acrescenta-se também que "as declarações unilaterais relativas ao status dos locais religiosos e dos locais de culto fazem vacilar o sentimento religioso e alimentam ainda mais o ódio e o extremismo. É, portanto, importante preservar o Status Quo em todos os Lugares Santos na Terra Santa e em Jerusalém em particular". A nota conclui: “o contínuo derramamento de sangue e as declarações de guerra lembram-nos mais uma vez da necessidade urgente de encontrar uma solução duradoura e abrangente para o conflito palestino-israelita nesta terra, que é chamada a ser uma terra de justiça, paz e reconciliação entre os povos. Pedimos a Deus que inspire os líderes mundiais na sua intervenção para a implementação da paz e da concórdia, para que Jerusalém seja uma casa de oração para todos os povos".

Depois do longo dia de ontem, 7 de Outubro, que encerrou as festividades judaicas de Sucot - quando, às primeiras luzes da madrugada, milhares de foguetes começaram a ser lançados de Gaza sobre Israel, apanhados completamente de surpresa - os lançamentos de mísseis e os ataques terrestres continuam a verificarem-se a partir da fronteira sul de Israel. Tel Aviv e Jerusalém foram atingidas. As vítimas israelitas seriam mais de 350, 1.400 os feridos. O Ministério da Saúde de Gaza relata 250 palestinianos mortos e 1.700 feridos.

Vatican News

Papa Francisco: a ingratidão gera violência, um simples ‘obrigado’ pode trazer paz

 
  Angelus - Praça de São Pedro  (Vatican Media)  
 
Papa Francisco no Angelus deste domingo, 27º do Tempo Comum, comentando o Evangelho que narra sobre o proprietário de uma vinha: "uma parábola dramática, com um epílogo triste".
 

Silvonei José – Vatican News

“A ingratidão gera violência, tira a nossa paz e faz-nos sentir e falar gritando, sem paz, enquanto um simples ‘obrigado’ pode trazer paz!”. Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, 27º do Tempo Comum, comentando o trecho do Evangelho que ele chamou de "uma parábola dramática, com um epílogo triste": o de um proprietário de uma vinha que a confia a agricultores, e esses, na época da colheita, quando o proprietário, inicialmente envia os seus servos e depois o seu filho para recolher a colheita, eles maltrata e matam-nos. "E de agricultores tornam-se assassinos", observa o Pontífice, segundo o qual "na raiz dos conflitos há sempre alguma ingratidão, e pensamentos gananciosos."

 

 Papa Francisco 

Segundo Francisco, “com esta parábola, Jesus recorda-nos o que acontece quando o homem se ilude pensando que se pode fazer por si mesmo e esquece a gratidão, esquece a realidade fundamental da vida: que o bem vem da graça de Deus, do seu dom gratuito."

"Quando esquecemos isto, a gratuidade de Deus – sublinhou Francisco -, acaba-se a viver a própria condição e o próprio limite, não mais com a alegria de se sentir amado e salvo, mas com a triste ilusão de não precisar nem de amor nem de salvação." "Sim, deixa de ser amado e encontra-se prisioneiro da própria ganância, da necessidade de ter algo mais do que os outros, de querer ser mais do que os outros", acrescentou.

Para o Papa, “daqui provêm muitas insatisfações e recriminações, muitas incompreensões, muitas invejas; e levados pelo rancor, pode-se cair no redemoinho da violência”. “Perguntemo-nos então – insistiu o Papa: tenho consciência de ter recebido como dom a vida e a fé, e de ser eu mesmo, um dom de Deus? Eu acredito que tudo começa com graça do Senhor? Entendo que sou um beneficiário sem mérito, amado e salvo gratuitamente? E sobretudo, em resposta à graça, sei dizer 'obrigado'?"

E o Papa Francisco enfatizou seguidamente: “As três palavras que são o segredo da convivência humana: obrigado, permissão, perdão. Eu sei como dizer essas três palavras? Obrigado, permissão, perdão, desculpe. Eu sei como pronunciar essas três palavras? É uma palavra pequena, “obrigado” – é uma palavra pequena, “permissão”, é uma palavra pequena para pedir desculpas, “perdão” – esperada todos os dias por Deus e pelos irmãos. Perguntemo-nos se estas pequenas palavras “obrigado”, “permissão”, “perdão, desculpe” estão presentes em nossas vidas”.

 

 Angelus - Praça de São Pedro 
 

Vatican News

domingo, 1 de outubro de 2023

O Papa no Angelus: existe uma grande diferença entre entre o pecado e a corrupção

 
Durante a oração do Angelus, junto com o Papa, participaram cinco crianças representando os cinco continentes
 
“Para o pecador há sempre esperança de redenção; para o corrupto, porém, é muito mais difícil”, destacou o Papa Francisco durante o Angelus deste XXVI Domingo do Tempo Comum. 
 

Thulio Fonseca - Vatican News

Neste domingo, 1º de outubro, o Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, com milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

O Pontífice refletiu a passagem do evangelho que fala de dois filhos, aos quais o pai pede que vão trabalhar na vinha. Um deles responde imediatamente "sim", mas depois não vai. O outro, recusa no momento, mas depois reconsidera e vai.

“O que dizer sobre estes dois comportamentos?”, questionou o Papa, “imediatamente vem à mente que ir trabalhar na vinha exige sacrifício e que sacrificar custa, não acontece espontaneamente, apesar da beleza de reconhecermo-nos filhos e herdeiros”.

Segundo Francisco, o dilema contado não é tanto a resistência em ir trabalhar na vinha, mas a sinceridade, ou a falta dela, diante do pai e diante de si mesmo: “na verdade, nenhum dos dois filhos comporta-se de maneira impecável, um deles mente, enquanto o outro erra, mas permanece sincero”.

O comportamento corrupto

Ao deter-se sobre o filho que diz sim, mas depois não vai, o Papa destacou que ele “não quer fazer a vontade do pai, mas também não quer discutir ou falar sobre isso”. E por este motivo ele esconde-se atrás de um "sim", atrás de um consentimento falso, que encobre a sua preguiça somente para salvar salva sua pele. E deste modo, consegue sobreviver sem conflitos, mas engana e dececiona o pai, desrespeitando-o de uma forma pior do que teria feito com um "não" direto.

O problema com um homem que se comporta desta maneira é que ele não é apenas um pecador, mas um corrupto, porque mente suavemente para cobrir e disfarçar a sua desobediência, sem aceitar qualquer diálogo ou confronto honesto.”

Para o pecador há sempre esperança

“O outro filho”, continuou Francisco, “aquele que diz não, mas depois vai, é sincero. Não é perfeito, mas é sincero”, e manifesta a sua relutância corajosa, “ele assume a responsabilidade pelo seu comportamento e age abertamente”.

O Santo Padre sublinhou, que através da sua atitude honesta como filho, aquele homem “acaba questionando-se, chegando à conclusão de que estava errado e refaz os seus passos”.

“Ele é, poderíamos dizer, um pecador, mas não um corrupto. E para o pecador há sempre esperança de redenção; para o corrupto, porém, é muito mais difícil. Na verdade, o seu falso “sim”, as suas aparências elegantes, mas hipócritas, e as suas ficções que se tornaram hábitos são como uma espessa "parede de borracha", atrás da qual ele se protege dos apelos da consciência.”

"Estes hipócritas fazem muito mal", enfatizou o Papa, pedindo aos fiéis para não se esquecerem deste ensinamento: "pecadores sim, corruptos não".

Sinceridade diante de Deus

Francisco conclui a sua alocução antes da oração mariana com algumas perguntas, convidando os fiéis, à luz destes ensinamentos, a olharem para si mesmos e questionarem:

“Diante do esforço de viver uma vida honesta e generosa, de me comprometer de acordo com a vontade do Pai, estou disposto a dizer "sim" todos os dias, mesmo que isso custe? E quando falho, sou sincero ao confrontar Deus sobre as minhas dificuldades, as minhas quedas, as minhas fragilidades? E quando digo "não", volto atrás? Devemos conversar com o Senhor sobre isto. Quando cometo um erro, estou disposto a arrepender-me, a refazer os meus passos? Ou faço vista grossa e vivo usando uma máscara, preocupando-me apenas em parecer bom e decente? No final das contas, sou um pecador, como todo mundo, ou há algo corrupto em mim? Não te esqueças: pecadores sim, corruptos não.”

“Maria, espelho de santidade, ajude-nos a ser cristãos sinceros”, finalizou o Papa.

Vatican News