domingo, 29 de agosto de 2021

Angelus: culpar tudo e todos é perder tempo. Purificar é derrotar o mal dentro de nós

 
 
 
É tempo de purificar: este é o convite do Papa Francisco. "Se olharmos dentro de nós, encontraremos quase tudo aquilo que detestamos fora." Que Maria, então, purifique nosso coração, superando o vício de culpar os outros e de reclamar de tudo.
 

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

"Há um modo infalível para vencer o mal: começar a derrotá-lo dentro de nós." Assim o Papa Francisco comenta o Evangelho deste domingo, 22º do Tempo Comum.

A Liturgia mostra alguns escribas e fariseus escandalizados com a atitude dos discípulos de Jesus por não lavarem as mãos antes de tocar os alimentos.

“Porque Jesus e os seus discípulos ignoram estas tradições?”, questiona o Papa, explicando que para o Mestre é importante restabelecer a fé ao seu centro. É um risco observar formalidades externas colocando em segundo lugar o coração da fé. "Também nós muitas vezes 'maquilhamos' a alma." Para Francisco, trata-se do risco de uma religiosidade da aparência: aparecer bem por fora, esquecendo de purificar o coração.

“Há sempre a tentação de ‘sistematizar Deus’ com alguma devoção exterior, mas Jesus não se contenta com este culto. Não quer exterioridade, quer uma fé que chegue ao coração.”

Palavras revolucionárias

A este espanto dos escribas e fariseus, Jesus responde: "O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora. Mas é de dentro do coração humano que saem as más intenções".

O Papa define estas palavras como “revolucionárias”, porque Jesus inverte a perspetiva: não faz mal o que vem de fora, mas o que nasce de dentro.

Isto diz respeito também a nós, observa o Pontífice.  Com frequência, pensamos que o mal provenha sobretudo de fora: dos comportamentos dos outros, de quem pensa mal de nós, da sociedade.

“É sempre culpa dos ‘outros’: das pessoas, de quem governa, do azar. Parece que os problemas chegam sempre de fora. E passamos o tempo a distribuir as culpas; mas passar o tempo a culpar os outros é perder tempo.”

Culpar os outros é perda de tempo

Nervosismo, ressentimento, tristeza e acidez afastam Deus do coração: “Não se pode ser realmente religioso na lamentação”, recorda ainda Francisco.

“Peçamos hoje ao Senhor que nos liberte de culpar os outros. Peçamos na oração a graça de não desperdiçar o tempo poluindo o mundo com reclamações, porque isto não é cristão.”

O convite de Jesus é a olhar a vida e o mundo a partir do nosso coração, pedindo que Ele o purifique para tornar o mundo mais limpo. “Se olharmos dentro de nós, encontraremos quase tudo aquilo que detestamos fora”, afirma o Papa.

Portanto, indica Francisco, há um modo infalível para vencer o mal: começar a derrotá-lo dentro de nós. Os primeiros Pais da Igreja e também muitos monges, acrescenta o Pontífice, afirmam que o primeiro passo no caminho da santidade é acusar-mo-nos a nós mesmos.

"Quantos de nós, num momento do dia ou da semana é capaz de se acusar a si mesmo? 'Sim, mas esta pessoa fez-me isto, fez aquilo, o outro fez uma barbaridade... Mas eu faço o mesmo. É uma sabedoria: aprender a acusar a nós mesmos. Tentem fazer isto, far-vos-á bem. A mim faz bem, quando consigo."

“Que a Virgem Maria, que transformou a história através da pureza do seu coração, nos ajude a purificar o nosso, superando antes de tudo o vício de culpar os outros e de reclamar de tudo.”

Vatican News

Papa: não podemos permanecer indiferentes. Oração e jejum pelo Afeganistão

 
 Aeroporto de Cabul foi fechado para os civis 
 
 
"Estou a falar seriamente: intensificar a oração e praticar o jejum, pedindo ao Senhor misericórdia e perdão." De modo particular, o Papa dirigiu-se aos cristãos para que não fiquem indiferentes aos acontecimentos no Afeganistão
 

Vatican News

“Não podemos ficar indiferentes!”

O Papa Francisco foi contundente ao falar do Afeganistão, neste domingo, no final da oração do Angelus.

O Pontífice afirmou que acompanha com grande preocupação a situação no país e é partícipe do sofrimento das pessoas que perderam familiares e amigos nos ataques suicidas da quinta-feira passada, e também das pessoas que procuram ajuda e proteção.

Francisco confia à misericórdia de Deus os mortos e agradece a quem trabalha para ajudar a “população tão provada”, em especial as mulheres e as crianças.

O apelo do Papa é para que se continue a assistir os necessitados e a rezar para que o diálogo e a solidariedade levem a estabelecer uma convivência pacífica e fraterna, oferecendo esperança para o futuro do país.

“Em momentos históricos como este, não podemos permanecer indiferentes: à história da Igreja que nos ensina isto. Como cristãos, esta situação compromete-nos. Por isto, dirijo um apelo a todos para intensificar a oração e a praticar o jejum: oração e jejum, oração e penitência. Este é o momento para fazê-lo. Estou a falar seriamente: intensificar a oração e praticar o jejum, pedindo ao Senhor misericórdia e perdão."

O risco de ataques 

A ameaça de ataques no Afeganistão permanece elevada, enquanto os Estados Unidos continuam a correr contra o tempo para retirar todo o seu pessoal do país até 31 de agosto. A ameaça é crível, segundo Washington, o que não exclui atos terroristas mesmo em solo dos Estados Unidos.  

Os milicianos, que agrediram os civis que faziam fila nos caixas eletrónicos para levantar dinheiro, dizem estarem prontos para assumir o controlo total do aeroporto em breve, logo que os militares e civis dos EUA partirem. Entretanto, eles isolaram todo o aeroporto, impedindo o acesso aos afegãos que ainda esperam ser evacuados do país, dos quais 100.000 ficaram retidos. Itália e Reino Unido já enceraram a ponte área. Na próxima semana, os talibãs afirmam que será anunciado o novo governo, enquanto já foram cortaram quase todas as redes de Internet e telecomunicações na província nordeste de Panshir, uma das duas áreas, juntamente com a de Baghlan, não controlada por eles, mas pelos homens da resistência.

A situação da infância

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) adverte que há 300.000 crianças necessitadas de ajuda. Muitos foram obrigados a abandonar as suas casas após a chegada dos talibãs e um milhão de crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição grave. Além disto, mais de 4 milhões de crianças, incluindo mais de 2 milhões de meninas, estão fora da escola.

Vatican News

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

A propósito da leitura de São Paulo sobre as mulheres

 

 

Nota de esclarecimento da Conferência Episcopal Portuguesa – Lisboa, 24 de agosto de 2021

As leituras da Eucaristia do domingo passado tiveram ecos diversificados sobre o seu sentido e oportunidade, justamente lidas no contexto vivo e atual das perspetivas preocupantes da situação das mulheres no Afeganistão. Sem entrar em polémicas, é preciso ver com atenção alguns aspetos da leitura de São Paulo, procurando fazer justiça ao sentido do texto.

Antes de mais, é preciso olhar o texto na sua inteireza, para se dar conta do seu sentido no próprio contexto. Por isso, aqui fica a primeira parte do texto que foi lido, que diz respeito ao tema em questão, tirado da Carta aos Efésios:

“Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as mulheres se devem submeter em tudo aos maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela… Assim devem os maridos amar as suas mulheres, como os seus corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher, e serão dois numa só carne. É grande este mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja.”

Tenha-se em conta que Paulo se situa no contexto legal do direito familiar romano, que concedia melhores direitos às mulheres do que a maioria das culturas da época, mas que não deixava de pôr em relevo o papel do marido como “pater familias – pai de família”, como titular da família no seu conjunto e garantia dos direitos e deveres de cada um e o seu funcionamento relacional e social. Este quadro permaneceu nas gerações sucessivas, concretamente no direito português, até há pouco tempo. Paulo não põe em causa o direito romano, mas dá-lhe uma interpretação nova, à luz de Cristo, “Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo”, que Ele ama até dar por ela a vida.

O que causa “escândalo”, nos dias de hoje, é o conceito de “submissão” proposto à mulher. Não se trata, porém, de algo exclusivamente aplicada às mulheres, mas a todos. A leitura começa precisamente por dizer: “Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo.” Em Paulo, esta submissão não significa menor importância ou subserviência, mas o dar prioridade aos outros, como forma de atenção e cuidado; não centrar a vida e o pensar em si próprio, mas no amor que deve regular todo o relacionamento entre pessoas.

Paulo aplica este quadro jurídico-social à instituição familiar, como princípio da mútua atenção e cuidado, afirmando duas coisas. Em primeiro lugar, dê-se o devido cuidado e prioridade (submeta-se) à relação familiar que tem como representante social o marido, na sua relação com a esposa. Este princípio básico, que se aplica à mulher, mas igualmente aos outros membros da família, é completado com aquilo que o “pai de família” representa: o amor, antes de mais aplicado ao amor entre os esposos: “Maridos, amai as vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela”.

Esta proposta, necessariamente complementar à que é dirigida à mulher, deve ser vista com duas perspetivas que aclaram todo o texto. Primeiramente, o “amor” e a “submissão” não se aplicam apenas a um dos esposos, mas são a lei básica do relacionamento humano, segundo o Evangelho: “Saberão todos que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros.” Em segundo lugar, a medida do amor é reportada a Cristo, que “amou a Igreja e Se entregou por ela”.

É à luz de Cristo que se entende a dimensão do amor, até à total entrega e ao dom da vida por aqueles que se ama. E é também essa a norma para a correta interpretação de qualquer autoridade, representatividade ou primazia. Não se trata de mandar submeter ou depreciar ninguém, mas de cuidar e dar prioridade no dom e no serviço do dia a dia. Na perspetiva de Jesus, bem presente em Paulo, a liderança é serviço e dom de si mesmo, pois Ele veio “não para ser servido, mas para servir e dar a vida”. O verdadeiro exemplo e medida de submissão e de serviço, como dom e amor, é o próprio Jesus, para os esposos e para qualquer outro membro da família e da Igreja.

Dito isto, pode-se dizer: então porque não se muda o texto, para que não se deem interpretações incorretas? A pergunta tem a sua razão de ser, mas é claro para a Igreja e para quem quiser interpretar textos e tradições com origem noutras culturas e noutros tempos: os textos não se mudam, mas educam-se os leitores a entendê-los e a atualizá-los. Por exemplo, não se mudam os versos épicos de Camões, porque não correspondem à mentalidade atual e até, em alguns casos, podem causar escândalo. Isso seria cair na arbitrariedade e na ditadura das modas e na imposição da cultura única. É por isso que se estuda Camões nas escolas, para que todos tenham acesso à beleza dos seus versos, dentro dos condicionalismos da sua época.

A Palavra de Deus permanece viva e atual e é importante que seja escutada sempre com a sua sonoridade original. O próprio Jesus deu o exemplo de leitura ao relê-la e reinterpretá-la à luz da nova realidade que era Ele próprio e a situação daqueles a quem se dirigia. Conservar a Palavra de Deus e a Tradição é continuar a fazê-las soar em assembleias vivas, como as pautas de música dos grandes autores, constantemente atuais, porque continuam a alegrar corações, a criar sonhos e a gerar estéticas novas, cada vez que se executam.

[NOTA CEP – PDF]

Papa Francisco: viver sem medo de ser verdadeiro. O hipócrita não sabe amar

 
 
 
Na catequese, o Pontífice convidou os cristãos inspirarem-se em Paulo, homem reto que não tem medo da verdade. A hipocrisia, afirmou, pode colocar em perigo a unidade na Igreja.
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

A hipocrisia foi o tema da Audiência Geral desta quarta-feira (25/08). Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, o Papa Francisco citou um episódio narrado pelo Apóstolo ocorrido em Antioquia.

O protagonista é Pedro e o que está em jogo é a relação entre a Lei e a liberdade. O objeto da crítica foi o comportamento de Pedro à mesa, que mudou de acordo com a companhia. A Lei proibia aos judeus, partilhar refeições com não judeus. Pedro estava à mesa sem qualquer dificuldade com os cristãos que tinham vindo do paganismo, mas quando alguns cristãos de Jerusalém, circuncidados, chegaram à cidade, ele já não o fez, para não incorrer nas críticas deles. Isto é grave aos olhos de Paulo, até porque Pedro estava a ser imitado por outros discípulos e o seu comportamento criou uma divisão injusta na comunidade.

Paulo recorda aos cristãos que eles não devem absolutamente escutar aqueles que pregam a necessidade de serem circuncidados e assim ficar “sob a Lei” com todas as suas prescrições. Na sua repreensão, Paulo usa um termo que permite entrar nos méritos da sua reação: hipocrisia (cf. Gl 2, 13).

A observância da Lei por parte dos cristãos levou a este comportamento hipócrita, que o Apóstolo pretende combater com força e convicção.

 

 Papa saúda fiéis na Sala Paulo VI

Fingir é maquilhar a alma

Para Francisco, hipocrisia é o medo da verdade. As pessoas preferem fingir do que ser elas mesmas. "É como maquilhar a alma, maquilhar as atitudes, o modo de proceder: não é a verdade." Fingir impede a coragem de dizer a verdade abertamente, e assim facilmente se evita a obrigação de a dizer sempre, em todo o lado e apesar de tudo.

"O fingimento leva a isto: às meias verdades", disse ainda o Papa. E as meias verdades são um fingimento, são um modo de agir não verdadeiro e que impede a coragem, de dizer abertamente a verdade. Num ambiente em que as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, o vírus da hipocrisia propaga-se facilmente.

O Papa recorda que há vários exemplos na Bíblia onde a hipocrisia é combatida, como o velho Eleazar, e situações em que Jesus repreende fortemente aqueles que parecem justos no exterior, mas no interior estão cheios de falsidade e iniquidade.

“O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente: limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência.”

O hipócrita não sabe amar

Há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer, adverte Francisco: no trabalho, na política e até mesmo na Igreja, onde “é particularmente detestável”. “Infelizmente, existe hipocrisia na Igreja. Há muitos cristãos e ministros hipócritas.”

Francisco encerra a sua catequese citando as palavras de Jesus: «Seja este o vosso modo de falar: sim, sim, não, não; tudo o que for além disto procede do espírito do mal» (Mt 5, 37).

“Irmãos e irmãs, pensemos nisto que Paulo condena: a hipocrisia; e que Jesus condena: a hipocrisia. E não tenhamos medo de sermos verdadeiros, de dizer a verdade, de sentir a verdade, de nos conformar à verdade. Assim poderemos amar. O hipócrita não sabe amar. Agir de outra forma é pôr em perigo a unidade na Igreja, aquela pela qual o próprio Senhor rezou.”

Vatican News

domingo, 22 de agosto de 2021

O Papa no Angelus: deixemos que Cristo nos coloque em crise

 
 
 
"Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás, preocupemo-nos antes, se não nos colocar em crise, porque talvez tenhamos diluído a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e converter pelas suas ‘palavras de vida eterna’", disse Francisco no Angelus deste domingo, 22 de agosto, XXI Domingo do Tempo Comum. "Que Maria Santíssima, que carregou o seu Filho Jesus na carne e se uniu ao seu sacrifício, nos ajude a dar sempre testemunho da nossa fé com a vida concreta", rezou o Papa
 

Raimundo de Lima - Vatican News

“Não devemos procurar Deus em sonhos e imagens de grandeza e poder, mas devemos reconhecê-lo na humanidade de Jesus e, consequentemente, na dos irmãos e irmãs que encontramos no caminho da vida.”

Foi o que disse o Papa na alocução que precedeu o Angelus, ao meio-dia deste XXI Domingo do Tempo Comum, neste dia 22 de agosto, rezando a oração mariana com os fiéis e peregrinos presentes na Praça de S. Pedro.

Jesus, o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida

Explicando a Liturgia do dia, Francisco destacou que o Evangelho  (Jo 6, 60-69) mostra-nos a reação da multidão e dos discípulos ao discurso de Jesus após o milagre dos pães. Jesus convidou a interpretar esse sinal e a acreditar n’Ele, que é o verdadeiro pão descido do céu, o pão da vida; e revelou que o pão que Ele dará é a sua a carne e o seu sangue.

Estas palavras, disse o Santo Padre, soam duras e incompreensíveis aos ouvidos do povo, tanto que, a partir daquele momento, muitos dos seus discípulos voltam atrás, ou seja, deixam de seguir o Mestre. Então Jesus pergunta aos Doze: "Não quereis também vós partir?", e Pedro, em nome de todo o grupo, confirma a decisão de ficar com Ele: "Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus".

O Pontífice deteve-se brevemente na atitude daqueles que se retiram e voltam para trás, decidindo não seguir mais Jesus. De onde nasce essa descrença? Qual é o motivo desta recusa? – perguntou Francisco.

O escândalo da encarnação de Deus

“As palavras de Jesus causam grande escândalo: Ele está a dizer que Deus escolheu manifestar-se e trazer a salvação na fraqueza da carne humana. A encarnação de Deus é o que suscita escândalo e que representa para estas pessoas - mas muitas vezes também para nós - um obstáculo. De facto, Jesus afirma que o verdadeiro pão da salvação, que transmite a vida eterna, é a sua própria carne; que para entrar em comunhão com Deus, antes de observar as leis ou cumprir os preceitos religiosos, é preciso viver uma relação real e concreta com Ele.”

O Santo Padre prosseguiu ressaltando que Deus fez-se carne e sangue: abaixou-se ao ponto se tornar homem como nós, humilhou-se a ponto de assumir o nosso sofrimento e pecado, e pede-nos para procurá-lo, portanto, não fora da vida e da história, mas no relacionamento com Cristo e com os irmãos e irmãs.

"Loucura" do Evangelho

Ainda hoje, a revelação de Deus na humanidade de Jesus pode causar escândalo e não é fácil de aceitar. É o que S. Paulo chama de "loucura" do Evangelho diante daqueles que procuram os milagres ou a sabedoria do mundo (cf. 1 Cor 1, 18-25).

E este "escândalo" é bem representado pelo sacramento da Eucaristia: que sentido pode haver, aos olhos do mundo, ajoelhar-se diante de um pedaço de pão? Por que motivo alimentar-se assiduamente deste pão?

“Diante do gesto prodigioso de Jesus que alimenta milhares de pessoas com cinco pães e dois peixes, todos o aclamam e querem levá-lo em triunfo. Mas quando Ele mesmo explica que este gesto é o sinal do seu sacrifício, ou seja, do dom da sua vida, da sua carne e do seu sangue, e que aqueles que o querem seguir devem assimilá-lo, na sua humanidade dada por Deus e pelos outros, então não, este Jesus não agrada mais”, observou o Papa.

Deixemo-nos colocar em crise

"Não nos surpreendamos se Jesus Cristo nos coloca em crise. Aliás, preocupemo-nos se não nos coloca em crise, porque talvez tenhamos diluído a sua mensagem! E peçamos a graça de nos deixar provocar e converter pelas suas 'palavras de vida eterna'", frisou Francisco.

Após a oração mariana, o Pontífice saudou os fiéis presentes na praça provenientes de vários países e de diferentes regiões da Itália. Encontgravam-se também numerosos grupos de jovens aos quais o Papa dirigiu o seu encorajamento para trilhar no caminho do Evangelho.

Vatican news

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O Papa: recebemos de Deus a graça de nos tornarmos seus filhos para viver no amor

 
 
Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade. ”Fár-nos-á bem perguntarmo-nos se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei, ou se estamos bem conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor”, disse o Papa na catequese da audiência geral desta quarta-feira (18/08), ao falar sobre o valor propedêutico da Lei, segundo o ensinamento do Apóstolo São Paulo
 

Raimundo de Lima - Vatican News

“Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.” Foi o que disse o Papa na audiência geral desta quarta-feira, (18/08) na Sala Paulo VI, no Vaticano, ao falar sobre o valor propedêutico da Lei, dando prosseguimento à sua série de catequeses sobre a Carta aos Gálatas.

São Paulo ensinou-nos que os “filhos da promessa” (Gl 4, 28), através da fé em Jesus Cristo, não estão sob o vínculo da Lei, mas são chamados ao estilo de vida exigente na liberdade do Evangelho. No entanto, a Lei existe, observou o Pontífice.

O papel da Lei, segundo São Paulo

Portanto, na catequese de hoje, perguntamo-nos: qual é, segundo a Carta aos Gálatas, o papel da Lei?  No trecho que ouvimos – disse o Santo Padre referindo-se à leitura proposta antes de sua catequese (Gl 3, 23-25) - Paulo diz que a Lei foi como um pedagogo. É uma bonita imagem, que merece ser compreendida no seu justo significado.

Parece que o Apóstolo sugere que os cristãos dividem a história da salvação, e também a própria história pessoal, em dois momentos: antes de se tornarem crentes e depois de terem recebido a fé. No centro está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus, que Paulo pregou a fim de suscitar a fé no Filho de Deus, fonte da salvação, explicou o Papa.

Por conseguinte, continuou Francisco, partindo da fé em Cristo, há um “antes” e um “depois” em relação à própria Lei. A história anterior é determinada pelo facto de estar “sob a Lei”; a história subsequente deve ser vivida seguindo o Espírito Santo (cf. Gl 5, 25). É a primeira vez que Paulo usa esta expressão: estar “sob a Lei”. O significado subjacente implica a ideia de uma servidão negativa, típica dos escravos. O Apóstolo torna-o explícito dizendo que quando se está “sob a Lei” é como estar “vigiado” e “preso”, uma espécie de custódia preventiva. Este tempo, diz São Paulo, durou muito e perpetua-se enquanto se vive em pecado.

Prosseguindo a sua catequese, o Pontífice chamou a atenção para o facto de que a relação entre a Lei e o pecado será explicada de uma forma mais sistemática pelo Apóstolo na sua Carta aos Romanos, escrita alguns anos após a Carta aos Gálatas.

Livres da lei, servimos num espírito novo

Em síntese, a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas conscientes do próprio pecado. Aliás, como ensina a experiência comum, o preceito acaba por estimular a transgressão.

Na Carta aos Romanos, escreve: “Quando estávamos na carne, as paixões pecaminosas, fortalecidas pela lei, operavam nos nossos membros e produziam frutos para a morte. Agora, porém, livres da lei, estamos mortos para o que nos sujeitara, de modo que servimos num espírito novo e não segundo uma lei antiquada” (7, 5-6).

De modo lapidário, enfatizou o Santo Padre, Paulo expõe a sua visão da Lei: “O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei” (1 Cor 15, 56). Neste contexto, a referência ao papel pedagógico desempenhado pela Lei assume o seu pleno sentido.

No sistema escolar da antiguidade, explicou Francisco, o pedagogo não tinha a função que lhe atribuímos hoje, ou seja, dar educação de um rapaz ou de uma jovem. Naquela época, ele era um escravo cuja tarefa consistia em acompanhar o filho do dono ao mestre e depois trazê-lo para casa. Desta forma tinha de o proteger do perigo e vigiar para que não se comportasse mal. A sua função era bastante disciplinar. Quando o rapaz se tornava adulto, o pedagogo cessava as suas funções.

A função da Lei na história de Israel

Dito isto, o Pontífice frisou ainda que a referência à Lei nestes termos permite que são Paulo esclareça a sua função na história de Israel.

“A Torá tinha sido um ato de magnanimidade por parte de Deus para com o seu povo. Certamente teve funções restritivas, mas ao mesmo tempo protegeu o povo, educou-o, disciplinou-o e sustentou-o na sua fraqueza.”

É por esta razão que o Apóstolo reflete sucessivamente ao descrever a fase da menoridade: “Enquanto o herdeiro é menino, em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo, pois está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos subjugados pelos elementos do mundo” (Gl 4, 1-3).

Amadurecimento da fé e superação da Lei

Em suma, a convicção do Apóstolo é que a Lei tem certamente uma função positiva, mas limitada no tempo. A sua duração não pode ser prolongada para além disso, pois está ligada à maturação dos indivíduos e à sua escolha de liberdade. Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade.

Francisco concluiu afirmando que “este ensinamento sobre o valor da lei é muito importante e merece ser considerado cuidadosamente para não cair em equívocos nem dar passos falsos. Far-nos-á bem perguntarmo-nos se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei, ou se estamos bem conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor.”

Vatican News

domingo, 15 de agosto de 2021

O Papa no Angelus: a humildade é o segredo para alcançar o Céu

 
 Papa Francisco no Angelus  (Vatican Media) 
 
 
Francisco disse na sua alocução no dia da Solenidade da Assunção que "Maria, na sua pequenez, conquista os céus primeiro. O segredo do seu sucesso está precisamente em se reconhecer pequena e necessitada". Com Deus, somente aqueles que se reconhecem como nada são capazes de receber tudo. 
 

Silvonei José - Vatican News

"No Evangelho deste domingo, Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu, destaca-se o Magnificat. Este cântico de louvor é como uma fotografia" da Mãe de Deus. Maria 'alegra-se em Deus, porque olhou para a humildade da sua serva'. A humildade é o segredo de Maria. É a humildade que atraiu o olhar de Deus para ela." Estas são palavras do Papa Francisco antes do Angelus na solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria, pronunciadas da janela do seu escritório no Palácio Apostólico do Vaticano diante dos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de S. Pedro. "O olho humano - continuou o Papa - procura a grandeza e fica deslumbrado com o que é vistoso. Deus, por outro lado, não olha para as aparências, mas para o coração e encanta-se com a humildade. Hoje, olhando para Maria assunta, podemos dizer que a humildade é o caminho que leva ao céu":

A palavra 'humildade' vem do latim humus, que significa 'terra'", disse o Papa. É paradoxal: para chegar ao topo, ao céu, tens que permanecer baixo, como a terra! Jesus ensina: "Aquele que se humilha será exaltado. Deus não nos exalta pelos nossos dons, pelas nossas riquezas e habilidades, mas pela nossa humildade. Deus exalta quem se abaixa, quem serve. Maria, de facto, a si mesma não atribui outro 'título' a não ser de serva: ela é "a serva do Senhor". Ela não diz mais nada sobre si mesma, ela não procura mais nada para si mesma.

Hoje, então, - enfatizou Francisco - podemo-nos perguntar: como vivo a humildade? Procuro ser reconhecido por outros, afirmar-me e ser elogiado, ou penso em servir? Eu sei escutar, como Maria, ou será que eu só quero falar, receber atenção? Eu sei ficar em silêncio, como Maria, ou estou sempre a falar? Será que sei dar um passo  atrás, evitar brigas e discussões ou apenas tento sobressair?

"Conquista primeiro os céus"

Maria, na sua pequenez, conquista primeiro os céus". O segredo do seu sucesso está precisamente em reconhecer-se pequena e necessitada", sublinhou o Papa Francisco. Com Deus, somente aqueles que se reconhecem como nada são capazes de receber tudo. Somente aqueles que se esvaziam são preenchidos por Ele. E Maria é a "cheia de graça" precisamente pela sua humildade. Para nós também, a humildade é o ponto de partida, o início de nossa fé. É fundamental ser pobre em espírito, ou seja, necessitados de Deus. Aquele que está cheio de si mesmo não dá espaço a Deus, mas aquele que permanece humilde permite que o Senhor realize grandes coisas. O poeta Dante chama a Virgem Maria de "humilde e elevada mais do que criatura''.

O Papa Francisco disse seqguidamrnte que é bom pensar que a criatura mais humilde e alta da história, a primeira a conquistar os céus com todo o seu ser, de corpo e alma, passou a maior parte da sua vida entre as paredes da sua casa, no quotidiano. Os dias da cheia de graça não foram muito impressionantes. Eram muitas vezes iguais, no silêncio: no exterior, nada de extraordinário. Mas o olhar de Deus permaneceu sempre sobre ela, admirado pela sua humildade, a sua disponibilidade, pela beleza do seu coração, nunca tocada pelo pecado.  Esta é uma grande mensagem de esperança para nós; para ti, que vives  dias iguais, cansativos e muitas vezes difíceis.

 

 Fiéis na Praça São Pedro - Angelus  

 

Vamos celebrá-la hoje com o amor de filhos

Maria recorda-nos hoje que Deus também te chama  para este destino de glória - continuou o Papa . "Estas não são palavras bonitas, é a verdade. Não é um final feliz engenhosamente criado, uma ilusão piedosa ou uma falsa consolação. Não, é a pura realidade, viva e verdadeira como Nossa Senhora  assunta ao Céu".

O Papa então convidou os fiéis presentes na Praça de S. Pedro: Vamos celebrá-la hoje com o amor de filhos, animados pela esperança de um dia estar com ela no Céu!

Francisco pediu então que todos rezassem a Nossa Senhora para que ela nos possa acompanhar no caminho da Terra para o céu. Pediu ainda a Nossa Senhora que nos recorde que o segredo do caminho está contido na palavra humildade. E que a pequenez e o serviço são os segredos para alcançar a meta''.

 

 Vatican News

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O Papa na audiência geral: crer em Jesus Cristo conduz-nos à verdadeira vida

 
 
“Aqueles que procuram a vida precisam de olhar para a promessa e para a sua realização em Cristo”. Palavras do Papa Francisco ao refletir sobre a “Lei” na Carta aos Gálatas do Apóstolo Paulo, na Audiência Geral desta quarta-feira, 11 de agosto, na Sala Paulo VI 
 

Jane Nogara - Vatican News

Na Audiência desta quarta-feira (11/08) o Papa Francisco continuou as suas catequeses sobre a Carta aos Gálatas com o tema de hoje “Porque, então, a Lei? Esta é a questão que, seguindo S. Paulo, queremos aprofundar hoje, para reconhecer a novidade da vida cristã animada pelo Espírito Santo”, explicou o Papa.

“Quando Paulo fala da Lei refere-se normalmente à Lei mosaica, à lei de Moisés, aos Dez Mandamentos. Estava relacionada com a Aliança que Deus tinha estabelecido com o seu povo”. “A Lei - segundo vários textos do Antigo testamento - é a coleção de todas as prescrições e regras que os israelitas devem observar, em virtude da Aliança com Deus”. “A observância da Lei garantiu ao povo os benefícios da Aliança e o vínculo especial com Deus”. “A ligação entre Aliança e Lei era tão estreita que as duas realidades eram inseparáveis. A lei é a expressão de que uma pessoa, um povo está em aliança com Deus”.

Intuições de Paulo sustentado pela graça

Por isso, observa Francisco, “é fácil compreender como os missionários que se tinham infiltrado entre os Gálatas tiveram uma boa oportunidade de reivindicar que a adesão à Aliança também implicava a observância da Lei de Moisés”. E o Papa explica que assim chegamos ao foco da questão: “É precisamente sobre este ponto que podemos descobrir a inteligência espiritual de S. Paulo e as grandes intuições que ele expressou, sustentado pela graça que recebeu para sua missão evangelizadora”.

“O Apóstolo explica aos Gálatas que, na realidade, a Aliança e a Lei não estão ligadas de modo indissolúvel. Pois a Aliança estabelecida por Deus com Abraão estava fundamentada sobre a fé no cumprimento da promessa e não sobre a observância da Lei, que ainda não existia. Pois, se a herança se obtivesse pela Lei, já não proviria da promessa”

Desta forma Paulo alcançou um primeiro objetivo: “a Lei não é a base da Aliança porque veio mais tarde”.

Viver no Espírito Santo que liberta da Lei

“Dito isto, não se deve pensar que S. Paulo era contra a Lei mosaica. Várias vezes nas suas Cartas, defende a sua origem divina e afirma que desempenha um papel muito específico na história da salvação”, esclarece o Papa.

“No entanto, a Lei não dá vida, não oferece o cumprimento da promessa, pois não está em condições de a poder cumprir. Aqueles que procuram a vida precisam de olhar para a promessa e para a sua realização em Cristo”

Por fim Francisco conclui:

"Caríssimos, esta primeira exposição do Apóstolo aos Gálatas apresenta a novidade radical da vida cristã: todos aqueles que têm fé em Jesus Cristo são chamados a viver no Espírito Santo, que liberta da Lei e ao mesmo tempo a leva ao cumprimento segundo o mandamento do amor".

"Isto é muito importante, a lei leva-nos a Jesus. Mas alguns de vós podem dizer-me: Mas, Padre, uma coisa: isto significa que se eu rezar o Credo, não tenho que cumprir os mandamentos"? Não, os mandamentos são atuais no sentido de que são 'pedagogos' que te levam ao encontro com Jesus, mas se deixares de lado o encontro com Jesus e quiseres dar maior importância aos mandamentos, este foi o problema destes missionários fundamentalistas que se intrometiam entre os Gálatas para desorientá-los. Que o Senhor nos ajude a ir adiante no caminho dos mandamentos, mas olhando o amor de Cristo com o encontro com Cristo sabendo que o encontro com Jesus é mais importante do que todos os mandamentos".

Vatican News

domingo, 8 de agosto de 2021

Papa Francisco: "Só o pão da vida alimenta as nossas almas"

 
 
“O verdadeiro pão da vida é o que nos faz viver, ao contrário sobrevivemos, porque só Ele alimenta as nossas almas, dá-nos a força para amar e perdoar, dá ao coração a paz que procuramos, dá a vida para sempre quando a vida aqui termina”. Palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo, 8 de agosto 
 

Jane Nogara – Vatican News

“Eu sou o pão da vida”: este é o tema aprofundado pelo Papa Francisco no Angelus deste domingo, 8 de agosto na Praça de S. Pedro. Referindo-se ao Evangelho de hoje, o Papa convidou a refletir sobre o “que significa o pão da vida”, observando que “que têm fome não pedem comida refinada e cara, pedem pão. Os desempregados não pedem salários enormes, mas sim o ‘pão’ de um emprego. Jesus revela-se como o pão, ou seja, o essencial, o necessário para a vida de cada dia”

Só o pão da vida alimenta as nossas almas

O verdadeiro pão da vida, continua o Papa, é o que nos faz viver, ao contrário sobrevivemos porque:

“Só Ele alimenta as nossas almas, só Ele nos perdoa daquele mal que não podemos vencer por nós mesmos, só Ele nos faz sentir amados mesmo que todos nos decepcionem, só Ele nos dá a força para amar e perdoar nas dificuldades, só Ele dá ao coração a paz que procuramos, só Ele dá a vida para sempre quando a vida aqui termina”

Recordando que Jesus fala por parábolas, na expressão “Eu sou o pão da vida” ele resume todo o seu ser e toda a sua missão. Isto será visto plenamente no final, na Última Ceia. Ao dar a própria vida, a própria carne, o próprio coração, para que possamos ter a vida Jesus faz com que desperte em nós a maravilha diante do dom da Eucaristia.

A adoração enche a vida de maravilha

Francisco recorda-nos:

“Ninguém neste mundo, não importa o quanto ame outra pessoa, pode fazer-se alimento para ela. Deus o fez, e o faz, por nós. Renovemos esta maravilha. Façamo-lo adorando o Pão da Vida, porque a adoração enche a vida de maravilha”

Porém, as pessoas escandalizam-se com as suas palavras “Eu sou o pão que desceu do céu”, será que também nós estaríamos mais à vontade com um Deus que está no céu sem se intrometer? E o Pontífice afirma:

“Deus tornou-se homem para entrar na concretude do mundo. E a ele interessa tudo das nossas vidas. Jesus deseja esta intimidade connosco”

Ele que é o pão

Concluindo:

O que ele não deseja? Ser relegado para segundo plano – Ele que é o pão -, ser negligenciado e posto de lado, ou colocado em questão apenas quando precisamos”.

Por fim Francisco convidou para que pelo menos uma vez por dia “antes de partir o pão, convidar Jesus, o pão da vida, pedir-lhe simplesmente que abençoe o que fizemos e o que não conseguimos fazer”.

Que a Virgem Maria, na qual o Verbo se fez carne, nos ajude a crescer dia após dia na amizade com Jesus, o pão da vida”.

Vatican News

domingo, 1 de agosto de 2021

Festa em Honra de N. Sra. da Piedade

 

 

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Para recordar o cortejo do ano transato

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Papa: aprender da amizade com Jesus o amor desinteressado e sem cálculo pelos outros

 
 
 
É justo apresentar ao coração de Deus as nossas necessidades, mas o Senhor, que age bem para além das nossas expetativas, deseja viver connosco sobretudo uma relação de amor. E o amor verdadeiro é desinteressado, é gratuito: não se ama para receber um favor em troca!" 
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

No centro de uma fé imatura não existe Deus, mas as nossas necessidades. Assim, para viver uma relação de amor verdadeiro com o Senhor, devemos interrogar-nos sobre os motivos pelo qual O procuramos, fugindo assim da tentação idolátrica que leva a procurá-Lo apenas para o “próprio uso e consumo”, e depois de satisfeitos, “esquecermo-nos dele”.

Jesus o Pão da vida: a narrativa do Evangelho de João da liturgia deste XVIII Domingo do Tempo Comum, ofereceu ao Santo Padre a ocasião para exortar-nos a procurar uma relação com Deus que “vá além das lógicas do interesse e do cálculo”, ou seja, a ter com Ele uma relação de amor.

Dirigindo-se aos fiéis e turistas reunidos na Praça de S. Pedro a uma temperatura de 34ºC, Francisco comenta que as pessoas que testemunharam a multiplicação dos pães não compreenderam o significado do gesto, “restringiram-se ao milagre externo e ao pão material.”

 


 Fiéis e turistas na Praça de S. Pedro para o Angelus 

 

O risco da "tentação idolátrica"

Neste sentido, o Papa propõe, a primeira pergunta que poderíamos fazer a nós mesmos: “Porque procuramos o Senhor? Porque procuro o Senhor? Quais são as motivações da minha fé, da nossa fé?”:

“Temos necessidade de discernir isto, porque entre as tantas tentações que temos na vida, entre as tantas tentações há uma que poderíamos chamar de tentação idolátrica. É aquela que nos leva a procurar Deus para o nosso próprio uso e consumo, para resolver os problemas, para obter, graças a Ele, o que não conseguimos obter sozinhos, por interesse.

Passar de uma fé mágica para uma fé que agrada a Deus

Vem então uma segunda questão: "Mas, como fazer para purificar a nossa procura de Deus? Como passar de uma fé mágica, que só pensa nas próprias necessidades, para uma fé que agrada a Deus?”. E é o próprio Jesus que responde, afirmando que “a obra de Deus é acolher Aquele que o Pai enviou, ou seja, Ele mesmo, Jesus”:

“Não é acrescentar práticas religiosas ou observar especiais preceitos; é acolher Jesus, é acolhê-Lo na vida, é viver uma história de amor com Ele. Será Ele quem purificará a nossa fé. Sozinhos, não somos capazes. Mas o Senhor deseja uma relação de amor connosco: antes das coisas que recebemos e fazemos, existe Ele a ser amado. Existe uma relação com Ele que vai para além das lógicas do interesse e do cálculo.”

A partir da amizade com Jesus, aprender a amarmos uns aos outros

E isto – disse Francisco - vale não só em relação a Deus, mas também nas nossas relações humanas e sociais:

“[ Quando procuramos sobretudo a satisfação das nossas necessidades, corremos o risco de usar as pessoas e de instrumentalizar as situações para os nossos objetivos.  Quantas vezes ouvimos sobre uma pessoa: 'Mas ele usa as pessoas e depois esquece-se'. Usar as pessoas em proveito próprio, é feio! E uma sociedade que coloca no centro os interesses, em vez das pessoas, é uma sociedade que não gera vida. O convite do Evangelho é este: em vez de nos preocuparmos apenas com o pão material que nos alimenta, acolhamos Jesus como o pão da vida e, a partir da amizade com Ele, aprendamos a amar-nos uns aos outros. Com gratuidade e sem cálculos.  Amor gratuito e sem cálculos, sem usar as pessoas, com gratuidade, com generosidade, com magnanimidade.]”

Rezemos agora à Virgem Santa - disse o Santo Padre ao concluir - Aquela que viveu a mais bela história de amor com Deus, para que nos conceda a graça de nos abrirmos ao encontro com o seu Filho.

Vatican News