sexta-feira, 29 de abril de 2022

Rezar pelas vocações - Mensagem do Cardeal-Patriarca

 

 

Caros amigos

A primeira semana de maio deste ano é dedicada à oração pelas vocações. Vamos vivê-la com toda a convicção, pois estamos certos de que a iniciativa é divina, como em tudo o que respeita ao nosso bem e ao bem dos outros. Melhor dizendo, ao bem dos outros através de nós, que nisso mesmo encontraremos a felicidade. Uma frase de Jesus di-lo claramente: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35).

Afinal é de felicidade que se trata, quando rezamos pelas vocações. Felicidade da Igreja que se alegra com elas, como a messe com a semente que a faz crescer e frutificar, tal como diz uma legenda na fachada do Seminário dos Olivais. Mas felicidade também de cada um de nós, que só se encontrará verdadeiramente a si quando coincidir de consciência e vontade com aquilo para que Deus o criou.

O mais importante na vida é isto mesmo: que cada homem ou mulher deste mundo descubra o que Deus quer de si e lhe corresponda inteiramente. Só assim se “realizará”, pois tornará real e efetivo o que doutro modo ficaria por fazer, contrariando o chamamento divino que está na origem da sua própria vida. Ficaria uma vida por cumprir inteiramente.

Quando São Paulo descobriu e aceitou a vocação apostólica, reconheceu-se assim: «… aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios» (Gl 1, 15-16). E disse de todos nós: «É Deus quem segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir» (Fl 2, 13).

Frases como estas refletem o que o próprio Jesus dizia de si: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou – Deus Pai – e consumar a sua obra» (Jo 4, 34). Na oração que nos ensinou, disse-nos tudo o que importa dizermos a Deus Pai, como nesta frase: «Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu». Esta terra começa por ser cada um de nós, onde a Palavra seja assimilada e dê muito fruto.

Tratando-se duma “semana de oração pelas vocações”, tem de ser sobretudo ocasião para fazermos coincidir o nosso pensamento e a nossa vontade com o pensamento e a vontade de Deus. Façamo-lo por nós e por todos, como o Pai Nosso também se reza no plural.

Já em Mês de Maria, respondamos como Ela ao mensageiro celeste: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Foi assim que por Ela Jesus chegou ao mundo e é assim que por nós continuará a chegar agora. A vocação própria de cada um – sacerdotal, diaconal, consagrada ou laical, todas missionárias a seu modo – traduzirá sempre a única vontade salvadora de Deus.


+ Manuel Clemente

Patriarcado de Lisboa

Festa do Divino Espírito Santo (programa)

 


O Papa: o abuso sexual de crianças ofende a vida no seu florescimento, é inaceitável

 
O Papa Francisco com os membros da Pontifícia Comissão para as Tutela dos Menores

O Pontífice sublinhou que o serviço confiado à Comissão para a Tutela dos Menores deve "ser realizado com cuidado" e requer "a atenção contínua da Comissão, para que a Igreja não seja apenas um lugar seguro para os menores e um lugar de cura, mas seja totalmente confiável na promoção de seus direitos no mundo inteiro. Infelizmente, não faltam situações em que a dignidade das crianças é ameaçada, e isso deveria ser uma preocupação de todos os fiéis e de todas as pessoas de boa vontade".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, nesta sexta-feira (29/04), os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que se reuniram em assembleia plenária esta semana.

O Pontífice sublinhou que o serviço confiado à Comissão para a Tutela dos Menores deve "ser realizado com cuidado" e requer "a atenção contínua da Comissão, para que a Igreja não seja apenas um lugar seguro para os menores e um lugar de cura, mas seja totalmente confiável na promoção dos seus direitos no mundo inteiro. Infelizmente, não faltam situações em que a dignidade das crianças é ameaçada, e isso deveria ser uma preocupação de todos os fiéis e de todas as pessoas de boa vontade".

Assumir a responsabilidade de prevenir os abusos 

“O abuso, em todas as suas formas, é inaceitável. O abuso sexual de crianças é particularmente grave porque ofende a vida no seu florescimento. Em vez de florescer, a pessoa abusada é ferida, às vezes de forma indelével.”

Recentemente recebi uma carta de um pai, cujo filho foi abusado e, por causa disso, não saiu do seu quarto por muitos anos, marcando quotidianamente a família com as consequências do abuso. As pessoas abusadas às vezes sentem-se presas entre a vida e a morte. Estas são realidades que não podemos remover, por mais dolorosas que sejam.

"O testemunho dos sobreviventes é uma ferida aberta no corpo de Cristo que é a Igreja", frisou o Papa, exortando os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores "a trabalharem diligente e corajosamente para tornar conhecidas estas feridas, procurar aqueles que sofrem por causa delas e reconhecer nestas pessoas o testemunho do nosso Salvador sofredor. Cada membro da Igreja, de acordo com o seu status, é chamado a assumir a responsabilidade de prevenir os abusos e trabalhar pela justiça e cura".

Métodos a fim de que a Igreja proteja os menores

A seguir, o Papa disse que com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, estabeleceu formalmente a Comissão como parte da Cúria Romana, dentro do Dicastério para a Doutrina da Fé. Isso não deve colocar em risco a liberdade de pensamento e ação da Comissão ou diminuir a importância das questões por ela tratadas. "Convido-os a estarem vigilantes para que isso não aconteça", ressaltou Francisco.

O Papa pediu aos membros da Comissão para que proponham "os melhores métodos para que a Igreja proteja os menores e as pessoas vulneráveis ​​e ajude os sobreviventes a se curarem, levando em conta que a justiça e a prevenção são complementares". Um serviço que fornece "melhores práticas e procedimentos que podem ser implementados em toda a Igreja".

As sementes lançadas começam a dar bons frutos

Francisco pediu também para que "a tutela e o cuidado das pessoas abusadas se tornem norma em todas as áreas da vida da Igreja. "A sua estreita colaboração com o Dicastério para a Doutrina da Fé e outros Dicastérios deve enriquecer o seu trabalho e ele, por sua vez, enriquecer o da Cúria e das Igrejas locais. Como isto possa ser feito da maneira mais eficaz, deixo para a Comissão e o Dicastério. Trabalhando juntos, eles implementam concretamente o dever da Igreja de proteger aqueles que estão sob a sua responsabilidade. Este dever baseia-se na conceção da pessoa humana na sua dignidade intrínseca, com atenção especial aos mais vulneráveis. O compromisso no âmbito da Igreja universal e das Igrejas particulares concretiza o plano de proteção, cura e justiça, segundo as respetivas competências", sublinhou Francisco.

“As sementes lançadas começam a dar bons frutos. A incidência de abuso de menores por parte do clero tem mostrado um declínio por vários anos nas partes do mundo onde dados e recursos confiáveis ​​estão disponíveis.”

Anualmente, gostaria que vocês me preparassem um relatório sobre as iniciativas da Igreja para a proteção de menores e adultos vulneráveis. Isto pode ser difícil no início, mas peço-vos que comecem por onde for necessário a fim de fornecer um relatório confiável sobre o que está a acontecer e o que precisa de ser mudado, para que as autoridades competentes possam agir. Este relatório será um fator de transparência e responsabilidade e - espero - dará uma indicação clara do nosso progresso neste compromisso. Se não houver progresso, os fiéis continuarão a perder a confiança nos seus pastores, tornando cada vez mais difícil o anúncio e o testemunho do Evangelho.

Vatican News

quarta-feira, 27 de abril de 2022

O Papa: restabelecer a ponte forte entre jovens e idosos

 
 
Francisco disse que o Livro de Rute "contém também um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações: onde a juventude se mostra capaz de dar novo entusiasmo à idade madura, quando a juventude dá novo entusiasmo aos idosos, a velhice mostra-se capaz de reabrir o futuro para a juventude ferida". 
 

Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice na Audiência Geral, desta quarta-feira (27/04), realizada na Praça de S. Pedro. "Noemi, a aliança entre gerações que abre o futuro" foi o tema deste encontro semanal.

A catequese de Francisco foi inspirada no "maravilhoso Livro de Rute, uma preciosidade da Bíblia", que "ilumina a beleza dos laços familiares: gerados pela relação de um casal, mas que vão além do vínculo do casal. Em comparação com o Cântico dos Cânticos, o Livro de Rute é como o outro painel do díptico do amor nupcial. Tão importante como essencial, celebra o poder e a poesia que devem habitar os laços de geração, parentesco, dedicação e fidelidade que envolvem toda a constelação familiar".

Valioso ensinamento sobre a aliança das gerações

Sabemos que os clichés sobre os laços de parentesco criados pelo matrimónio, especialmente entre sogra e nora, falam contra esta perspectiva. Mas, precisamente por esta razão, a palavra de Deus torna-se preciosa. A inspiração da fé pode abrir um horizonte de testemunho que vai contra os preconceitos mais comuns, um horizonte que é precioso para toda a comunidade humana. Convido-vos a redescobrir o livro de Rute! Especialmente na meditação sobre o amor e na catequese sobre a família.

A seguir, o Papa disse que "este pequeno livro contém também um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações: onde a juventude se mostra capaz de dar novo entusiasmo à idade madura, quando a juventude dá novo entusiasmo aos idosos, a velhice mostra-se capaz de reabrir o futuro para a juventude ferida".

Os mundos são de novo pacificados

"No início, a idosa Noemi, embora movida pelo afeto das noras, viúvas dos seus dois filhos, é pessimista quanto ao seu destino num povo que não é o seu. Ela encoraja afetuosamente as jovens viúvas a regressarem às suas famílias para reconstruírem a própria vida", disse o Papa. "Movida pela dedicação de Rute, Noemi sairá do seu pessimismo e até tomará a iniciativa, abrindo um novo futuro para Rute. Ela instrui e encoraja Rute, a viúva do seu filho, a conquistar-se um novo marido em Israel. Booz, o candidato, mostra a sua nobreza, defendendo Rute dos homens seus empregados. Infelizmente, este é um risco que também se verifica hoje", sublinhou Francisco.

"O novo matrimónio de Rute é celebrado e os mundos são de novo pacificados. As mulheres de Israel dizem a Noemi que Rute, a estrangeira, vale “mais de sete filhos” e que o matrimónio será uma “bênção do Senhor”. Noemi, que era amargurada, dizia que o seu nome era amargura, revive, renasce e na sua velhice conhecerá a alegria de desempenhar um papel na geração de um novo nascimento", disse ainda o Papa, acrescentando:

Vejam quantos “milagres” acompanham a conversão desta idosa! Ela converte-se ao compromisso de se tornar disponível, com amor, para o futuro de uma geração ferida pela perda e em risco de abandono. As frentes de recomposição são as mesmas que, de acordo com as probabilidades desenhadas pelos preconceitos do senso comum, deveriam gerar fraturas insuperáveis. Em vez disso, a fé e o amor permitem que sejam superados: a sogra supera o ciúme do próprio filho amando o novo vínculo de Rute; as mulheres de Israel superam a desconfiança em relação ao estrangeiro; a vulnerabilidade da jovem sozinha, perante o poder do homem, reconcilia-se com uma relação cheia de amor e respeito.

A sogra: mãe do seu cônjuge, avó dos seus filhos

"Tudo isto porque a jovem Rute persistiu em ser fiel a um vínculo exposto ao preconceito étnico e religioso", frisou o Papa, que a propósito da sogra disse:

Hoje, a sogra é um personagem mítico, a sogra, não digo que pensamos nela como o diabo, mas sempre se pensa nela de maneira má. A sogra é a mãe do seu marido, é a mãe da sua esposa. Pensemos hoje nesse sentimento um pouco impregnado de que a sogra quanto mais longe, melhor. Não! Ela é mãe, é idosa. Uma das coisas mais bonitas das avós é ver os netos, quando os filhos têm filhos, elas revivem. Olhem bem a relação que vocês têm com as vossas sogras e se às vezes são um pouco especiais, elas deram-lhe a maternidade do seu cônjuge, deram-lhe tudo. Ao menos façam-nas felizes, que continuem a sua velhice com felicidade. E se têm algum defeito que seja corrigido. Digo também a vocês sogras: cuidado com a língua, porque a língua é um dos pecados mais feios das sogras. Tenham cuidado!

A seguir, o Papa recomendou aos jovens que conversem "com os seus avós, que conversem com os idosos e que os idosos conversem com os jovens". "Devemos restabelecer esta ponte forte, há uma corrente de salvação e felicidade ali. Que o Senhor nos ajude desta forma a crescer em harmonia nas famílias, aquela harmonia construtiva que vai do idoso ao jovem, aquela bela ponte que devemos proteger e conservar", concluiu.

Vatican News

domingo, 24 de abril de 2022

O Papa renova apelo pela trégua na Ucrânia: som das armas prevalece sobre os sinos da Ressurreição

 
 2022.03.24 Regina Coeli 
 
“Renovo o apelo a uma trégua pascal, sinal mínimo e tangível de uma vontade de paz. Detenha-se o ataque para que se possa ir ao encontro dos sofrimentos da população exausta. Detenha-se, obedecendo às palavras do Ressuscitado, que no dia de Páscoa repete aos seus discípulos: «A paz esteja convosco!»”
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Após a oração do Regina Coeli neste II Domingo de Páscoa, o Papa Francisco renovou o seu apelo por uma trégua pascal na Ucrânia.

Ao saudar as várias Igrejas orientais, católicas e ortodoxas, que celebram hoje a Páscoa de acordo com o calendário juliano, o Pontífice afirmou:

“Seja Ele a doar a paz, ultrajada pela barbárie da guerra. Justamente hoje perfaz dois meses desde o início desta guerra: que ao contrário de parar, agravou-se.”

Nesses dias que são os mais santos e solenes para todos os cristãos, prosseguiu o Papa, é triste que se sinta ainda mais o tilintar das armas, em vez do som dos sinos que anunciam a ressurreição. E é triste que as armas estejam a ocupar mais e sempre o lugar da palavra.

“Renovo o apelo a uma trégua pascal, sinal mínimo e tangível de uma vontade de paz. Detenha-se o ataque para que se possa ir ao encontro dos sofrimentos da população exausta. Detenha-se, obedecendo às palavras do Ressuscitado, que no dia de Páscoa repete aos seus discípulos: «A paz esteja convosco!»”

Dirigindo-se aos fiéis, Francisco pediu que intensifiquem a oração pela paz e que tenham a coragem de dizer e manifestar que a paz é possível. Aos líderes políticos, exortou que ouçam a voz do povo, que quer a paz e não uma escalada do conflito.

Camarões

Outro pedido de paz foi dirigido aos Camarões. Os bispos realizam este domingo uma peregrinação com os seus fiéis, ao  Santuário mariano de Marianberg, para consagrar novamente o país à Mãe de Deus e colocá-lo sob a sua proteção.

"Rezemos em particular pelo regresso da paz ao país, que há mais de cinco anos, em várias regiões, foi dilacerado pelas violências", suplicou o Papa.

"Elevemos também nós a nossa súplica, junto dos irmãos e irmãs dos Camarões, para que Deus, por intercessão da Virgem Maria, conceda em breve uma paz verdadeira e duradoura a este amado país."

Vatican News

Regina Coeli: É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, do que uma fé forte, mas presunçosa

 
 2022.04.24 Regina Coeli 
 
O Apóstolo Tomé foi o tema da alocução do Santo Padre que precedeu a oração do Regina Coeli neste II Domingo de Páscoa. Tomé representa todos nós, disse o Papa, e nos ensina que "é melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre volta a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes.”
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Após celebrar a missa na Basílica Vaticana neste Domingo da Misericórdia, o Papa Francisco rezou a oração do Regina Coeli.

Aos milhares de fiéis e peregrinos na Praça de S. Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho deste último dia da Oitava de Páscoa, concentrando-se no Apóstolo Tomé, “que representa todos nós”.

Assim como ele, disse o Papa, também nós temos dificuldade em acreditar que Jesus ressuscitou. Mas não nos devemos envergonhar, pois Cristo não procura cristãos perfeitos, que ostentam uma fé segura sem jamais duvidar. "Tenho medo quando vejo cristãos ou associações de cristãos que creem ser perfeitos."

A “aventura da fé”, como a definiu Francisco, é feita de luzes e sombras, alternando momentos de consolação e entusiasmo, com cansaços e perdições.

Mas não devemos temer as crises, "não são um pecado", afirma o Papa, pois ajudam a reconhecermo-nos necessitados, tornammo-nos humildes, reavivam a necessidade de Deus.

“É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que regressa sempre a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes.”

Diante das incertezas de Tomé, observou Francisco, a atitude de Jesus é única: Ele “pôs-se no meio”.

“Jesus não se rende, não se cansa de nós, não se assusta com as nossas crises e fraquezas. Ele volta sempre.”

Jesus volta quando as portas estão fechadas, quando duvidamos,  e fá-lo não com sinais poderosos, mas com as suas chagas.

Ele espera somente que O chamemos, o invoquemos ou, como fez Tomé, protestemos, apresentando as nossas necessidades e incredulidades. Ele volta porque é paciente e misericordioso, vem para “abrir os cenáculos dos nossos medos”.

Francisco concluiu convidando os fiéis a relembrarem a última vez que viveram um momento de crise e se fecharam nos seus problemas, deixando Jesus de fora. E a prometeram que, da próxima vez, irão à ssprocura de Jesus.

“Assim, também nos tornaremos capazes da nos compaixão, de aproximar sem rigidez e sem preconceitos as chagas dos outros. Que Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, nos acompanhe no caminho de fé e de amor.”

Vatican News

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O Papa: honrar os idosos, reconhecer a sua dignidade

 
  
Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco disse que "incentivar os jovens, mesmo indiretamente, a uma atitude de suficiência - e até de desprezo - em relação à velhice, a sua fraqueza e a sua precariedade, produzem coisas horríveis. Abre caminho para excessos inimagináveis". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"Honra o pai e a mãe: o amor pela vida vivida" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (20/04), realizada na Praça de S. Pedro.

Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice, dizendo que "as experiências da nossa fragilidade, diante das situações dramáticas e às vezes trágicas da vida, podem acontecer em qualquer momento da existência. No entanto, na velhice podem causar menos impressão e induzir a uma espécie de vício, até mesmo de incómodo, nos outros".

Respeito e cuidado da vida de qualquer pessoa

Segundo o Papa, "as feridas mais graves da infância e da juventude causam um sentimento de injustiça e rebelião, uma força de reação e luta. Ao contrário, as feridas, mesmo graves, da velhice são inevitavelmente acompanhadas pelo sentimento de que a vida não se contradiz, porque já foi vivida".

Na experiência humana comum, o amor - como se costuma dizer - é descendente: não volta à vida que está atrás de nós com a mesma força com que se derrama na vida que ainda está à nossa frente. A gratuiticidade do amor também aparece nisto: os pais souberam sempre disto, os idosos aprendem isto cedo. No entanto, a revelação abre caminho para uma restituição diferente do amor: é a estrada para honrar quem nos precedeu.

 

O Papa Francisco no Papamóvel, na Audiência Geral desta quarta-feira

 

De acordo com Francisco, não se trata apenas de honrar o pai e a mãe, mas "a geração e as gerações anteriores, cuja despedida também pode ser lenta e prolongada, criando um tempo e um espaço de convivência duradoura com as outras idades da vida. Noutras palavras, trata-se da velhice da vida. Honra é uma boa palavra para enquadrar este âmbito de restituição do amor que diz respeito aos idosos. Hoje, redescobrimos o termo "dignidade" para indicar o valor do respeito e do cuidado da vida de qualquer pessoa. Dignidade, aqui, equivale essencialmente a honra".

O desprezo que desonra os idosos, desonra a todos nós

O Papa convidou a pensar "nesta bela declinação do amor que é a honra. O cuidado dos doentes, o apoio a quem não é auto-suficiente, a garantia do sustento, podem carecer de honra. Falta honra quando o excesso de confiança, em vez de se expressar como delicadeza e afeto, ternura e respeito, se transforma em aspereza e prevaricação. Quando a desorientação é censurada e até punida, como se fosse uma falta. Quando perplexidade e confusão se tornam uma abertura para chacota e agressão. Pode até acontecer em casa, nos asilos, bem como nos escritórios ou nos espaços abertos da cidade".

Incentivar os jovens, mesmo indiretamente, a uma atitude de suficiência - e até de desprezo - em relação à velhice, a sua fraqueza e a sua precariedade, produzem coisas horríveis. Abre caminho para excessos inimagináveis. Os jovens que largam fogo na coberta de um "mendigo", por considerá-lo um descarte humano, são a ponta do iceberg, ou seja, do desprezo por uma vida que, longe das atrações e impulsos da juventude, já aparece como uma vida de descarte. Esse desprezo, que desonra os idosos, na verdade desonra a todos nós.

 

 O Papa Francisco chega ao adro da Basílica de S. Pedro 
 

Segundo o Papa, devemos oferecer "o melhor apoio social e cultural a quantos são sensíveis a esta forma decisiva de "civilização do amor". Não é uma questão de cosméticos e cirurgia plástica. Pelo contrário, é uma questão de honra, que deve transformar a educação dos jovens em relação à vida e suas fases".

Descartar o idoso é um pecado grave

A seguir, Francisco convidou os pais a aproximarem os filhos, as crianças, os jovens aos idosos. Quando o idoso estiver doente, um pouco fora de si, deixar que eles se aproximem dele. O Papa então contou uma história pessoal de quando estava em Buenos Aires e gostava de visitar os asilos. Uma vez perguntou a uma senhora idosa: "A senhora tem quantos filhos?" - “Tenho quatro, todos casados, com netos...”, e começou a falar-lhe da família. "E eles vêm?" - “Sim, eles vêm  sempre!”.

Quando o Papa saiu do quarto, a enfermeira, que tinha ouvido a conversa disse-lhe: "Padre, ela disse uma mentira para encobrir os filhos. Não vem ninguém há seis meses!”. "Isto é descartar o idoso, é pensar que o idoso é lixo", disse Francisco, acrescentando: Por favor: é um pecado grave. Este é o primeiro grande mandamento, e o único que diz o prémio: "Honra teu pai e tua mãe e terás longa vida na terra". Este mandamento de honrar os idosos dá-nos uma bênção, que é gasta assim: "Terás uma vida longa". Por favor, protejam os idosos, pois eles são a presença da história, a presença da minha família, e graças a eles estou aqui, todos podemos dizer: graças a vós, avô e avó, estou vivo. Por favor, não os deixe sozinhos", concluiu.

 

Vatican News

segunda-feira, 18 de abril de 2022

O Papa: a falsidade, nas palavras e na vida, leva-nos de volta ao túmulo

 
 O Papa Francisco durante o Regina Caeli desta segunda feira, na Oitava da Páscoa 
 
No Regina Caeli desta "Segunda-Feira na Oitava de Páscoa", Jesus "convida-nos a sair dos túmulos dos nossos medos" e recorda-nos que "o Ressuscitado quer tirar-nos dos sepulcros das falsidades e das duplicidades".
 

Mariangela Jaguraba/Silvonei José - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Regina Caeli, nesta "Segunda-Feira na Oitava de Páscoa (18/04), feriado no Vaticano e em Itália, conhecida como "Segunda-feira do Anjo", para lembrar a aparição do anjo às mulheres, anunciando a ressurreição de Jesus.

Segundo Francisco, "os dias da Oitava da Páscoa são como um único dia em que a alegria da Ressurreição é prolongada. Assim, o Evangelho da Liturgia de hoje continua a falar-nos do Ressuscitado, da sua aparição às mulheres que tinham ido ao túmulo". "Jesus vai ao encontro delas e saúda-as. Depois, diz-lhes duas coisas, que serão boas para nós também acolhermos, como um dom da Páscoa", frisou o Papa.

Sair dos túmulos dos nossos medos

Primeiro, ele tranquiliza-as com as seguintes palavras: "Não tenham medo".

O Senhor sabe que os medos são os nossos inimigos diários. Ele também sabe que os nossos medos provêm do grande medo, o medo da morte: medo de desaparecer, de perder entes queridos, de estar doente, de não conseguir fazer mais. Mas, na Páscoa, Jesus venceu a morte. Ninguém mais, portanto, pode dizer-nos de forma mais convincente: "Não tenha medo". O Senhor o diz ali mesmo, ao lado do túmulo do qual Ele saiu vitorioso. Ele convida-nos assim a sair dos túmulos dos nossos medos. Ouçamos bem: sair dos túmulos dos nossos medos, porque eles são como túmulos, eles nos enterram-nos por dentro.

Segundo o Papa, Jesus "sabe que o medo está sempre agachado à porta dos nossos corações e que precisamos de ouvir dizer: não tenhas medo: na manhã de Páscoa como na manhã de cada dia". "Irmão, irmã, que acreditas em Cristo, não tenhas medo! "Eu, diz-nos Jesus, provei a morte por ti, tomei sobre mim o teu mal". Agora, ressuscitei para te dizer: Estou aqui, contigo, para sempre. Não tenhas medo", sublinhou o Pontífice.

A alegria da Páscoa não é para ser guardada para ti mesmo

"Como podemos concretamente combater o medo? ", perguntou o Papa, respondendo com a segunda coisa que Jesus disse às mulheres: "Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão".

Vão e anunciem. O medo fecha-nos sempre em nós mesmos; Jesus, ao invés, faz-nos sair e envia-nos aos outros. Aqui está o remédio. Mas eu, podemos dizer, não sou capaz! Aquelas mulheres certamente não eram as mais adequadas ou preparadas para anunciar o Ressuscitado, mas o Senhor não se importa. A Ele importa que se saia e se anuncie. Porque a alegria da Páscoa não é para ser guardada para ti mesmo. A alegria de Cristo é fortalecida ao doá-la, multiplica-se quando se compartilha. Se nos abrimos e levamos o Evangelho, o nosso coração expande-se e supera o medo. Este é o segredo: anunciar para vencer o medo.

A falsidade leva de volta ao túmulo

O Papa disse que o Evangelho de hoje "diz-nos que o anúncio pode encontrar um obstáculo: a falsidade. Na verdade, o Evangelho narra "um contra-anúncio", o dos soldados que tinham guardado o sepulcro de Jesus. Eles são pagos com "uma boa soma de dinheiro" e recebem estas instruções: "Digam isto: 'Os seus discípulos vieram de noite e roubaram-no enquanto dormíamos'". "Vocês estavam a dormir? Vocês viram no sono quando eles roubaram o corpo? Há ali uma contradição, mas uma contradição que todos acreditam, porque há dinheiro envolvido. É o poder do dinheiro, aquele outro senhor que Jesus diz para nunca servir. Há dois senhores: Deus e o dinheiro. Nunca servir", sublinhou Francisco.

Aqui está a falsidade, a lógica da ocultação, que se opõe à proclamação da verdade. É um lembrete também para nós: a falsidade, nas palavras e na vida, polui o anúncio, corrompe por dentro, leva de volta ao túmulo. A falsidade leva-nos para trás, leva-nos à morte, ao sepulcro. O Ressuscitado, ao invés, quer-nos tirar dos sepulcros, das falsidades e das dependências. Diante do Senhor ressuscitado, existe este outro deus: o deus dinheiro, que suja tudo, que arruína tudo, fecha as portas para a salvação. E isso está por todo lado. Na vida quotidiana, há a tentação de adorar o deus dinheiro.

Segundo Francisco, "nós escandalizamo-nos quando, através da informação, descobrimos mentiras e enganos na vida das pessoas e na sociedade". "Mas, vamos também dar um nome às falsidades que existem dentro de nós! E coloquemos essas nossas opacidades diante da luz de Jesus ressuscitado. Ele quer levar à luz as coisas escondidas, para nos tornar testemunhas transparentes e luminosas da alegria do Evangelho, da verdade que nos liberta", concluiu o Papa, pedindo "a Maria, Mãe do Ressuscitado, que nos ajude a vencer os nossos medos e nos conceda a paixão pela verdade".

Vatican News

domingo, 17 de abril de 2022

Homilia no Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

 

 

Para entender finalmente a Escritura

Ouvimos há pouco a Maria Madalena: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram…». Pois bem, nós estamos aqui neste dia inteiramente pascal porque sabemos onde Ele está. Como direis daqui a pouco: «Ele está no meio de nós!».
Aliás, também a discípula o soube e logo ali bem perto, quando Ele a chamou pelo nome. E depois os discípulos, quando nesse primeiro Domingo Jesus não precisou que lhe abrissem a porta da sala onde estavam para se apresentar no meio deles. E, daí até hoje, é a mesma presença que reconhecemos, preenchendo todo o espaço e todo o tempo: «Ele está no meio de nós!» E dizemo-lo com uma certeza surpreendente, que antecede tudo mais, como evidência que se impõe e o tempo não dilui.
Sim, poderei dizer por todos vós, que a presença de Cristo não é apenas memória do que disse e fez, como desde há dois milénios é transmitida. Não pensamos nele como em mais uma figura do passado, memorável que fosse por algum feito realizado. Guardamos certamente essas figuras e o seu legado, reconhecendo nelas o melhor que a humanidade atingiu e nos legou. Não é pouco e é sobretudo justíssimo que o façamos.
Mas com Jesus Cristo é diferente. Diferente porque não é passado só, mas presente hoje, como será amanhã. Preencheu tão totalmente o pouco espaço-tempo que foi o seu que o alargou a toda realidade em qualquer ocasião que seja. Sim, ressuscitou naquela altura precisa, a seguir ao silêncio do sábado. Mas, sobretudo sim, aí despontou o Domingo que não tem ocaso e o faz contemporâneo de cada um de nós. Assim o experimentamos e confessamos, como companhia permanente e total. Aliás, espera-nos agora aonde nos precede, em toda Galileia deste universo em expansão.
A Páscoa de Jesus abrange-nos como o fez a Saulo na estrada de Damasco, reduzindo tudo o que estava para trás a expetativa ou indício, finalmente compreendido. Trata-se duma presença que relativiza ou inclui todas as outras. A Páscoa de Jesus é um acontecimento absoluto, que reconfigura tudo o mais.

Com ela “ressuscitaremos para a luz da vida”, como pediu a oração coleta. Por isso o batismo que recebemos se chama também “iluminação”. Dêmo-nos conta de que efetivamente assim é, pois que o modo como vemos as coisas, próprias e alheias, só à luz da ressurreição de Cristo se consegue explicar.
Falei do batismo e devo dizê-lo mais devagar. Na antiga definição do sacramento, é obra da graça divina, mas pressupõe que não haja óbice da nossa parte. Daí a consciência que requer a quem o recebe e a quem o pede para outrem. Como acontecia com os primeiros cristãos e ainda sucede agora onde não há liberdade religiosa, implica risco e compromisso. Não se trata de tingir religiosamente a vida que se leva ou quer levar; trata-se, isso sim, de mergulhar profundamente na Páscoa de Cristo, para emergir diferente, com tudo o que ela exige e nos oferece além de nós.
Há inegavelmente um antes e um depois de Cristo, tanto na história do mundo como na história pessoal de cada um. Não é difícil aos historiadores verificarem que assim é, tal a diferença entre o que as culturas e civilizações tocadas pela mensagem cristã foram manifestando no modo de entender a dignidade humana, a relação com os outros e a presença no mundo e o que outras maneiras de ver tinham ou continuam a ter.
Igualmente no que a cada pessoa diz respeito. - Algum de nós pensaria como pensa, sobre si e sobre os outros, sobre a vida e sobre a morte, sobre o sentido ou não-sentido das coisas, se não reconhecesse a Jesus como o Cristo e não O sentisse em si e junto a si, nos múltiplos sinais da sua presença e nas constantes interpelações que vai fazendo?!
Interpelações constantes e redobradas agora, em tempo de profundas mudanças na cultura e na civilização, porque tanto tocam a valorização das coisas como a organização da vida coletiva. Não há campo em que a questão não se ponha e tudo nos coloca hoje numa situação semelhante à daqueles que primeiro viveram a ressurreição de Cristo. Precisamente aqueles que a essa luz pascal perceberam o que realmente vale.
No Ressuscitado compreenderam que a vida se ganha quando se oferece e que viver em Cristo é viver com os outros e para os outros, solidários como Ele foi e nos ensina a ser com todos e cada um, a começar pelos mais frágeis e injustiçados. Precisamente com esses se identificou Cristo crucificado. É estando com eles que mais estamos com Cristo, que assim mesmo ressuscitou.

Isto nos leva à última frase do Evangelho de há pouco. Diz que os discípulos «ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus havia de ressuscitar dos mortos».
Assim como já respondemos a Maria Madalena, dizendo que sabemos onde está o Senhor, digamos agora aos discípulos que sim, que entendemos a Escritura, segundo a qual Jesus havia de ressuscitar dos mortos. E respondamos convictamente tanto a uma como a outra interpelação.
Na verdade, toda a Escritura que antecede a vida de Jesus só encontra “pleno cumprimento” no movimento total que o nunca por demais citado hino da Carta aos Filipenses nos entoa: Sendo de condição divina, Cristo esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo e até à morte e morte de cruz; por isso mesmo Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome (cf. Fl 2, 6 ss).
A promessa feita a Abraão pressupôs também alguma “morte”, no sentido em que perdeu a sua terra e se dispunha a perder o próprio filho. A saída do cativeiro egípcio pressupôs a “morte” de Moisés como príncipe, para se retomar como condutor do povo de Deus. A promessa feita a David viria a concretizar-se bem depois, quando daquele reino já não restava senão a profecia – e como esta se realizou em Jesus, de modo tão inesperado e despossuído de si.
Ressuscitar é renascer de Deus e inteiramente d’Ele, pressupondo o esvaziamento de nós próprios e do que desejaríamos só por nós. Ou melhor, convertendo o que em nós exista de aspiração pessoal mais profunda no perfeito cumprimento da vontade divina, para que seja esta a conduzir-nos, da crucifixão à glória.
Sabendo também que a vontade divina tanto nos quer a nós como quer a todos – e a todos nos oferece como sinais do seu amor. Por isso mesmo a cruz gloriosa tanto nos ergue para o Pai como nos oferece aos irmãos, na haste que se eleva e nos braços que se estendem.
Concretizar hoje mesmo esta verdade, na ação de graças que nos mantém em Deus e no serviço concreto que prestarmos aos outros, é viver a Páscoa por que o mundo espera. Sim, já entendemos que o caminho da ressurreição passa sempre pela cruz. Pois não se trata de fazer o que faríamos sozinhos, mas de oferecer aos outros o que só Deus em nós gera. Assim aconteceu com Cristo e por isso o temos redivivo e tão presente. Assim acontecerá connosco, quando a sua Páscoa for a nossa vida.
Entendeu-o São Paulo, quando também morreu para si e se ganhou em Cristo, dizendo-o depois em frases memoráveis, como esta, que indica um integral percurso cristão: «… Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos» (Fl 3, 10-11).
Façamos Páscoa em nós, para a alargar aos outros em cada momento que seja. Quando morrer totalmente o egoísmo que aliás nos mataria, seja individual seja coletivamente; quando o bem dos outros imperar nas nossas escolhas e atitudes; quando a vontade de Deus nos levar ao serviço de cada um, começando pelos que mais nos requeiram: então o coração alarga-se e a ressurreição desponta. - Cristo está no meio de nós e por nós no meio de todos!

Sé de Lisboa, 17 de abril de 2022

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa

Mensagem Urbi et Orbi: Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível

 
 2022.04.15 Messa di Pasqua e Benedizione Urbi et Ourbi 
 
Cerca de 100 mil pessoas participaram da Missa da Páscoa na Praça de S. Pedro, presidida pelo Papa Francisco, ouviram a sua mensagem pascal e receberam a benção Urbi et Orbi. O pensamento do Pontífice concentrou-se nos vários países e regiões que vivem conflitos, particularmente a Ucrânia. Na América Latina, rezou por quem viu "piorar as suas condições sociais".
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

“Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa! Jesus, o Crucificado, ressuscitou!”

Assim o Papa Francisco saudou os fiéis presentes na Praça de S. Pedro e todos os que acompanharam a missa da Páscoa conectados pelos meios de comunicação em todo o mundo.

Cerca de 100 mil fiéis participaram na cerimónia, que pôde finalmente ser celebrada na Praça, após dois anos de pandemia, com os tradicionais enfeites florais para acolher o anúncio da ressurreição de Cristo. 

Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra

Após a Missa, o Papa dirigiu-se à sacada central da Basílica Vaticana, de onde dirigiu a mensagem Urbi et Orbi (à cidade de Roma e a todo o mundo) e concedeu a Bênção Apostólica. Estava acompanhado pelos cardeais Renato Raffaele Martino e Michael Czerny.

O Pontífice repetiu as palavras de Cristo contidas no Evangelho de João, diante dos olhos incrédulos dos discípulos: «A paz esteja convosco!».

“Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra”, disse o Papa. Com todo o sangue e violência que vimos, temos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado. “Terá porventura sido uma ilusão?”, questionou Francisco, que imediatamente respondeu: “Não. Não é uma ilusão!”.

E hoje, mais do que nunca precisamos Dele, no final de uma Quaresma que parece não ter fim. Em vez de sairmos juntos do túnel da pandemia, demonstramos que existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival.

Por isso temos necessidade do Ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Só Ele o pode fazer.

Crianças vítimas da guerra, mas também da fome

O Papa então dirigiu o seu olhar para todas as realidades que necessitam do anúncio pascal. Falando da “martirizada” Ucrânia, usou termos como crueldade e insensatez e pediu mais uma vez que não se habitue à guerra. De modo especial, citou o sofrimento das crianças não só ucranianas, mas também “as que morrem de fome ou por falta de cuidados médicos, as que são vítimas de abusos e violências e aquelas a quem foi negado o direito de nascer”.

Pediu paz no Médio Oriente, em particular entre israelitas e palestinianos, no Líbano, na Síria e no Iraque. Paz também para a Líbia e para o Iêmen, para Mianmar e para o Afeganistão. Paz para todo o continente africano, particularmente na região do Sahel, na Etiópia, na República Democrática do Congo.

Na América Latina, a "guerra" social

Olhando para o continente americano, a oração do Papa é para que “Cristo ressuscitado acompanhe e assista as populações da América Latina, que, em alguns casos, viram piorar as suas condições sociais nestes tempos difíceis de pandemia, agravadas também por casos de criminalidade, violência, corrupção e tráfico de drogas”.

Falou também do Canadá, para que o Senhor ressuscitado acompanhe o caminho de reconciliação que a Igreja Católica no país está a percorrer com os povos autótones.

A paz é possível!

Francisco concluiu recordando que cada guerra traz consigo consequências que envolvem toda a humanidade: do luto ao drama dos refugiados, até à crise económica e alimentar de que já se veem os primeiros sintomas.

Cristo, todavia, exorta-nos a não nos rendermos ao mal e à violência.

“Deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos!”

Vatican News

sábado, 16 de abril de 2022

Homilia na Vigília Pascal na Noite Santa

 

 

Não nos falta Cristo, não faltemos nós! 


Caríssimos 

Celebrando a Vigília Pascal e rememorando tudo quanto o texto sagrado nos trouxe
, da criação à nova criação de todas as coisas em Cristo, fazemos muito mais do que marcar uma data, ainda que sobremaneira importante.
Importante para nós, que aqui a podemos celebrar em paz; e não menos importante para os que a vivem entre a aflição da guerra, da Ucrânia a outros lugares em que a humanidade apesar de tudo sobrevive. Sobrevivência que a vitória de Cristo sobre a morte assinala e garante. Com eles estamos em oração, somando o nosso querer ao do próprio Deus da paz. Com eles permaneceremos, até que a guerra acabe e ainda depois.
Na verdade, estamos na fonte duma nova vida que nos faz reviver a nós – e por nós certamente a muitos mais, como pode e deve acontecer. A Páscoa é “passagem” de Deus por nós e passagem de tudo para Deus, que, Ele sim, é finalmente a nossa Terra Prometida, convivência eterna e comunhão perfeita.
É também surpresa, circunstanciada e total. Circunstanciada como ouvimos, naquele túmulo vazio que encheu de espanto quem o encontrou assim. Total sobretudo, porque nesse nada do que estava se assinalou o tudo que nos preenche agora: a vida ressuscitada de Cristo, que nos ressuscita também. São verdades que dizemos e cantamos com as palavras que a Liturgia nos oferece e sobretudo certezas com que Deus nos refaz.
A conotação batismal desta Vigília significa isso mesmo, com a Páscoa de Cristo a renovar-nos a nós. Assim o seguimos no percurso que fez, encontrando-o também na cruz deste mundo, como ela subsiste no drama da vida, nossa e dos outros. Aí mesmo encontramos a Cristo, para o seguirmos até ao fim.
Fim que pareceu quase nada naquele túmulo vazio e afinal foi tudo na vida que dali brotou. Porque totalmente entregue foi-nos inteiramente devolvida, como a sentimos em nós e a celebramos sempre, como se lá estivéssemos, como na verdade estamos.
Diante do túmulo vazio, concluamos que ressuscita com Cristo em Deus quem com Cristo se esvazia de si, para ser inteiramente de Deus como filho; e inteiramente para os outros, como verdadeiro irmão.

A tal nos conduz o Espírito batismal que perfaz o caminho de Cristo em cada um de nós. Por essa razão nos chamamos “cristãos”, porque ungidos pelo mesmo Espírito. Trata-se de algo de substantivo, que nos modifica realmente por dentro, e não de adjetivo ocasional e exterior. - Basta de “cristianismos” pretextuais e meramente decorativos, que tanto contrariam a causa do Evangelho!
Vida ressuscitada é vida que se esvazia de si, para ser preenchida pela caridade divina e assim mesmo se eternizar também, porque só a caridade nunca acabará. Foi assim com Jesus, em todo o seu percurso humano. Se pôde dizer um dia: «Eu o Pai somos um só», foi porque nada retinha de si e nada o movia que não fosse a vontade de Deus Pai, que inteiramente assumia como também sua.
Foi, nos trinta e poucos anos que viveu na terra, o que eternamente é em Deus: uma vida inteiramente recebida e inteiramente retribuída. Assim o confessamos no Credo: «Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro». O Espírito que assim o movia é o que nos oferece no batismo, para o sermos igualmente, divinizados e eternos em Deus. Deste modo foi absolutamente para todos, porque a vontade de Deus Pai é a salvação de cada um, como a atuação de Jesus sempre demonstrou. E como há de prosseguir através de quantos recebem o seu Espírito.
É este e só este o critério da santidade. Homens e mulheres de vários tempos e condições, crianças, adultos e anciãos que fossem, são venerados nos altares onde subiram porque antes desceram ao mais chão e comezinho da vida dos outros, nas variadas formas que a dedicação encontra para servir quem precisa. Esvaziados de si, como o túmulo de Cristo estava então, reviveram com Ele na caridade divina.
Tudo isto e melhor dito ouvimo-lo há pouco a São Paulo, como escreveu aos cristãos de Roma, naquele primeiríssimo tempo: «Todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo Batismo na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova».
E não é menos do que isto o que lembraremos daqui a pouco, na renovação das promessas batismais, quando “renunciarmos ao pecado, para vivermos na liberdade dos filhos de Deus”. O pecado é o egoísmo que nos retém em nós; a liberdade dos filhos de Deus é a que Cristo partilha com quem realmente viva de Deus para os outros e com os outros em Deus.

Infelizmente, é certo que o mundo em que vivemos e em que muitos a custo sobrevivem apresenta-se demais como sepulcro fechado, como de facto assim é por tanta morte, destruição e escombro acumulado, por guerras e outros males que não faltam. Também em muitas vidas impedidas de nascer e noutras que desesperam de viver. Também em muitas solidões e abandonos, que contrariam a verdade inquestionável de que “viver é conviver”.
Nestas e noutras situações é de sepulcros fechados que se trata e com pesada pedra a bloqueá-los. Nesta Vigília, porém, clareada numa intensa luz pascal, o sepulcro vazio já proclama a vitória da vida sobre a morte, quando a própria morte se transformar em vida, pela inteira caridade que a preencha. Assim com Cristo – e por Cristo em nós e por nós onde chegarmos.
O Evangelho dizia-nos há pouco que, vendo o túmulo vazio e apenas as ligaduras que restavam, «Pedro voltou para casa admirado com o que tinha sucedido». Também nós, que sabemos já o que o apóstolo ainda não sabia em tal momento, não perdemos decerto a admiração por tudo o que a Páscoa nos oferece na inesgotável novidade da vitória de Cristo sobre a morte.
Por isso também voltaremos admirados para casa. E admiraremos muitos mais, quando a nossa própria vida for, em Cristo, geradora de vida para os outros, sobretudo onde houver maior urgência em que aconteça. - Não nos falta Cristo, não faltemos nós!


Sé de Lisboa, 16-17 de abril de 2022


+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa

SÁBADO SANTO. Linda reflexão para hoje, no silêncio do nosso coração, escutamos esta oração!

  

RCC Ponta Delgada

sexta-feira, 15 de abril de 2022

A oração do Papa na Via-Sacra: Senhor, desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão

 
 Via-Sacra no Coliseu de Roma 
 
A Via-Sacra voltou a ser realizada no Coliseu de Roma, com a participação de milhares de fiéis. Um momento tocante foi representado por duas mulheres, uma ucraniana e outra russa, que juntas carregaram a Cruz na XIII Estação, que narra a morte de Cristo.
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

A Paixão de Cristo encarnada na vida das famílias: o Coliseu de Roma concentrou hoje as alegrias e cruzes dos lares, durante a Via-Sacra desta Sexta-feira Santa, com a participação de dez mil pessoas.

Adentrando na cotidianidade de pais, avós e filhos, foram tocados temas da atualidade, como a educação, a pobreza, a migração, a pandemia, a doença e também a guerra. De facto, um dos momentos mais tocantes foi vivido durante a XIII Estação, que narra a morte de Jesus. Neste momento, a Cruz é carregada por duas famílias, uma ucraniana e outra russa, em especial por duas mulheres amigas que trabalham juntas em Roma. A câmara flagra o olhar de cumplicidade entre elas, enquanto o Pontífice cobre com a mão o seu rosto em profunda oração. 

O texto da meditação foi modificado no decorrer da celebração, para dar mais espaço à oração e ao silêncio, como explicou a Sala de Imprensa da Santa Sé: "Diante da morte, o silêncio é mais eloquente do que as palavras. Detemo-nos, portanto, num silêncio orante e cada um, no coração, reze pela paz no mundo."

No final das 14 estações, o Papa Francisco recitou a seguinte oração:

Pai misericordioso,

que fazeis nascer o sol sobre bons e maus,

não abandoneis a obra das vossas mãos,

pela qual não hesitastes

em entregar o vosso único Filho,

nascido da Virgem,

crucificado sob Pôncio Pilatos,

morto e sepultado no coração da terra,

ressuscitado entre os mortos ao terceiro dia,

aparecido a Maria de Magdala,

a Pedro, aos outros apóstolos e discípulos,

sempre vivo na santa Igreja,

o seu Corpo vivo no mundo.

 

Mantende acesa nas nossas famílias

a lâmpada do Evangelho,

que ilumina alegrias e sofrimentos,

fadigas e esperanças:

cada casa espelhe o rosto da Igreja,

cuja lei suprema é o amor.

Pela efusão do vosso Espírito,

ajudai a despojar-nos do homem velho,

corrompido pelas paixões enganadoras,

e revesti-nos do homem novo,

criado segundo a justiça e a santidade.

 

Segurai-nos pela mão, como um Pai,

para que não nos afastemos de Vós;

convertei ao vosso coração os nossos corações rebeldes,

para que aprendamos a seguir desígnios de paz;

fazei que os adversários se deem as mãos,

para que saboreiem o perdão recíproco;

desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão,

para que, onde há ódio, floresça a concórdia.

 

Fazei que não nos comportemos como inimigos da cruz de Cristo,

para participar na glória da sua ressurreição.

Ele que vive e reina convosco,

na unidade do Espírito Santo,

para sempre.

Amém

Vatican News