domingo, 30 de abril de 2023

Francisco na Hungria: como Jesus, sejamos portas abertas

 

O Papa Francisco saúda os fiéis presentes na praça Kossuth Lajos após a Santa Missa  (Vatican Media)

Neste quarto domingo da Páscoa, o Papa Francisco presidiu a celebração eucarística na Praça Kossuth Lajos, com a presença de milhares de fiéis húngaros

 

Irmã Grazielle Rigotti, ascj - Vatican News

"É isto o que faz um bom pastor: dá a vida pelas suas ovelhas." Com estas palavras inspiradas pelo evangelho de São João, neste quarto domingo do tempo pascal que o Papa iniciou a sua homilia durante a Santa Missa presidida na Hungria para uma multidão de fiéis. 

A imagem do bom Pastor guiou a reflexão do Santo Padre que ressaltou duas ações que Jesus, segundo o evangelho, realiza pelas suas ovelhas: chama-as e depois fá-las sair.

"Irmãos e irmãs, estando aqui esta manhã, sintamos a alegria de ser povo santo de Deus: todos nascemos do seu chamamento; foi Ele que nos convocou e, por isso, somos o seu povo, o seu rebanho, a sua Igreja. Reuniu-nos aqui para que, embora sendo diversos entre nós e pertencendo a comunidades diferentes, a grandeza do seu amor nos reúna a todos num único abraço." Deste modo, em primeiro lugar o Senhor chama as suas ovelhas, disse Francisco, convidando o povo a recordar o sentido da catolicidade e a fazer memória agradecida, do amor de Jesus por nós. 

“Todos nascemos do Sru chamamento”

A segunda ação então seria, segundo o Pontífice, o movimento de saída. E o ilustra com a imagem da porta: "Este movimento – entrar e sair –, podemos captá-lo a partir doutra imagem que Jesus utiliza: a da porta. Diz Ele: «Eu sou a porta. Se alguém entrar por Mim, estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem» (Jo 10, 9). Ouçamos com atenção isto: há-de entrar e sair. Por um lado, Jesus é a porta que se abriu de par em par a fim de nos fazer entrar na comunhão do Pai e experimentar a sua misericórdia; mas, como todos sabem, uma porta aberta serve não só para entrar, mas também para sair do lugar onde nos encontramos".

“Jesus é a porta que nos faz sair para o mundo”

Assim, no final de sua homilia, o Santo Padre mais uma vez destacou que o movimento de viver "em saída" significa tornar-me como Jesus, uma porta aberta. E exortou: 

"Por favor, abramos as portas! Procuremos ser também nós – com as palavras, os gestos, as atividades quotidianas como Jesus: uma porta aberta, uma porta que nunca se fecha na cara de ninguém, uma porta que a todos permite entrar para experimentar a beleza do amor e do perdão do Senhor."

Vatican News

quarta-feira, 26 de abril de 2023

O Papa: os monges e monjas levam adiante a Igreja com a sua intercessão

 
O  Papa Francisco durante a Audiência Geral  (Vatican Media)
 
Na catequese desta quarta-feira, o Papa citou São Gregório de Narek, Doutor da Igreja, como exemplo de intercessor pelos outros. Francisco disse que "o coração dos monges e das monjas é como uma antena, porque capta o que acontece no mundo e intercedem por ele. Assim, eles vivem em união com o Senhor e com todos".
 

Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre as testemunhas do zelo apostólico, na Audiência Geral desta quarta-feira (26/04), realizada na Praça de São Pedro.

"Começamos por São Paulo e, da última vez, vimos os mártires, que anunciam Jesus com a vida, ao ponto de a entregar por Ele e pelo Evangelho", disse o Pontífice, ressaltando que "existe outro grande testemunho que atravessa a história da fé: o das monjas e dos monges, irmãs e irmãos que renunciam a si e ao mundo para imitar Jesus no caminho da pobreza, da castidade, da obediência e para interceder em favor de todos".

Segundo o Papa, "os monges são o coração pulsante do anúncio: a sua oração é oxigênio para todos os membros do Corpo de Cristo, é a força invisível que sustenta a missão".

"Não é por acaso", recordou Francisco, "que a padroeira das missões é uma monja, Santa Teresa do Menino Jesus" que entendeu que «só o amor impele os membros da Igreja à ação». Descobriu que «o amor abarca em si todas as vocações». «Ó Jesus, meu amor, finalmente encontrei a minha vocação. A minha vocação é o amor. No coração da Igreja, minha mãe, serei o amor», escreveu ela.

Este amor por todos anima a vida dos monges e traduz-se na sua oração de intercessão. A tal respeito, gostaria de citar como exemplo São Gregório de Narek, Doutor da Igreja. É um monge arménio, que viveu por volta do ano 1000 e deixou-nos um livro de orações, no qual foi derramada a fé do povo arménio, o primeiro que abraçou o cristianismo; um povo que, apegado à cruz de Cristo, sofreu muito ao longo da história.

"São Gregório passou quase toda a sua vida no mosteiro de Narek. Ali aprendeu a perscrutar as profundezas da alma humana e, fundindo poesia e oração, alcançou o auge tanto da literatura como da espiritualidade arménia", disse ainda Francisco.

Segundo o Papa, "o aspeto que mais impressiona nele é exatamente a solidariedade universal de que é intérprete".

Entre os monges e monjas existe uma solidariedade universal. Qualquer coisa que acontece no mundo encontra lugar nos seus corações e eles rezam. O coração dos monges e das monjas é como uma antena, porque capta o que acontece no mundo e intercedem por ele. Assim, eles vivem em união com o Senhor e com todos.

Como Jesus, os monges e monjas "carregam sobre si os problemas do mundo, as dificuldades, as doenças e muitas coisas e rezam por eles. Estes são os grandes evangelizadores. Com a palavra, o exemplo, a intercessão e o trabalho quotidiano eles são ponte de intercessão para todas as pessoas e pelos pecados. Eles choram pelos seus pecados, porque todos somos pecadores, e choram pelos pecados do mundo e rezam e intercedem".

"Far-nos-á bem visitar um mosteiro porque ali rez-se e trabalha-se. Cada um tem a sua regra, mas ali as mãos estão sempre ocupadas com o trabalho e com a oração. Que o Senhor nos dê novos mosteiros, monges e monjas que levam adiante a Igreja com a sua intercessão", concluiu o Papa.

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domingo, 23 de abril de 2023

O Papa: é importante reler a história da nossa vida junto com Jesus

 
 
No Regina Coeli, Francisco recordou que neste III Domingo de Páscoa, "o Evangelho narra o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús". Enfatizou a importância de "reler a nossa história junto com Jesus" e a fazer, todas as noites, um exame de consciência, retirando as defesas.
 

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Regina Coeli, deste domingo, 23 de abril, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice recordou que neste III Domingo de Páscoa, "o Evangelho narra o encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos de Emaús".

"São dois discípulos que, resignados com a morte do Mestre, no dia de Páscoa decidem deixar Jerusalém e voltar para casa. Talvez estivessem um pouco inquietos porque ouviram as mulheres que vieram do Sepulcro. Enquanto caminham tristes conversando sobre o ocorrido, Jesus une-se a eles, mas eles não o reconhecem", sublinhou o Papa.

Jesus "pergunta por que estão tão tristes, e eles dizem-lhe: «És tu por acaso, o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu estes dias?»" O Senhor pergunta: "O quê? E eles contam-lhe toda a história. Jesus deixa-lhes contar. Enquanto caminham, ajuda-os a reler os factos de uma maneira diferente, à luz das profecias, da Palavra de Deus, de tudo o que foi anunciado ao povo de Israel. Reler: é o que Jesus faz com eles, ajuda a reler", disse Francisco, detendo-se neste aspeto.

Com efeito, também para nós é importante reler a nossa história junto com Jesus: a história da nossa vida, de um determinado período, dos nossos dias, com as desilusões e esperanças. Por outro lado, também nós, como aqueles discípulos, diante do que nos acontece podemo-nos encontrar perdidos diante dos eventos, sozinhos e incertos, com muitas perguntas, preocupações, desilusões e muitas coisas.

O Evangelho deste domingo "convida-nos a contar tudo a Jesus, com sinceridade, sem medo de incomodá-lo, Ele escuta, sem medo de dizer coisas erradas, sem nos envergonharmos da nossa dificuldade para entender". Segundo o Papa, "o Senhor fica feliz quando nos abrimos a Ele; só assim pode tomar-nos pela mão, acompanhar-nos e fazer arder novamente o nosso coração. Então também nós, como os discípulos de Emaús, somos chamados a passar algum tempo com Ele para que, ao anoitecer, Ele permaneça connosco".

A seguir, o Pontífice propôs uma bela maneira de fazer isso: "dedicar algum tempo, todas as noites, a um breve exame de consciência". Perguntar-se: "O que aconteceu hoje dentro de mim?"

Trata-se de reler o dia com Jesus: abrir-lhe o coração, levar-lhe as pessoas, as escolhas, os medos, as quedas e as esperanças; todas as coisas que aconteceram, para aprender gradualmente a olhar as coisas com outros olhos, com os seus olhos e não apenas com os nossos. Podemos assim reviver a experiência daqueles dois discípulos. Diante do amor de Cristo, até o que parece cansativo e malsucedido pode aparecer sob outra luz: uma cruz difícil de abraçar, a escolha do perdão diante de uma ofensa, uma vingança fracassada, o cansaço do trabalho, a sinceridade que custa, as provações da vida familiar poderão aparecer-nos sob uma luz nova, a luz do Crucificado Ressuscitado, que sabe fazer de cada queda um passo adiante.

"Mas para isso", sublinhou Francisco, "é importante retirar as defesas: deixar tempo e espaço para Jesus, não lhe esconder nada, levar-lhe as misérias, deixar-se ferir pela sua verdade, deixar o coração vibrar ao sopro da sua Palavra".

Podemos começar hoje, dedicando esta noite um momento de oração durante o ququestionarmo-nos: como foi o meu dia? Quais as alegrias, as tristezas, as coisas chatas? Como foi? O que aconteceu? Quais foram as tuas pérolas do dia, talvez escondidas, pelas quais agradecer? Houve um pouco de amor no que eu fiz? Quais são as quedas, as tristezas, as dúvidas e medos para levar a Jesus a fim de que Ele me abra novos caminhos, me levante e me encoraje?

"Que Maria, Virgem sábia, nos ajude a reconhecer Jesus que caminha connosco e a reler, a palavra é reler, diante de Dele todos os dias das nossas vidas", concluiu o Papa.

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domingo, 16 de abril de 2023

Papa defende S. João Paulo II, "objeto de ilações ofensivas e infundadas"

  Viagem apostólica de Papa João Paulo II à Tailândia, em 1984  

Após a oração mariana do Regina Caeli neste domingo (16), Francisco falou do Papa João Paulo II, dizendo estar "certo de interpretar os sentimentos dos fiéis de todo o mundo" e dirigindo "um pensamento de gratidão" à sua memória

 

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Após recitar a oração mariana do Regina Caeli na Praça de . Pedro neste domingo (16), o Papa Francisco defendeu o seu predecessor - S. João Paulo II -, cuja figura tem estado no centro de acusações caluniosas nos últimos dias, ligadas ao caso italiano 'Orlandi': feitas com base em "rumores" anónimos, sem testemunhas ou indícios. Acusações que o Pontífice descreveu como "ilações ofensivas e infundadas".

Eis as palavras de Francisco, que após saudar os grupos da Divina Misericórdia presentes na Praça de São Pedro, acrescentou:

“Certo de interpretar os sentimentos dos fiéis de todo o mundo, dirijo um pensamento de gratidão à memória de S. João Paulo II, nestes dias, objeto de ilações ofensivas e infundadas.”

Vatican News

Papa: encontra Jesus Ressuscitado na comunidade, na Igreja que não é perfeita

 
  Francisco na oração mariana do Regina Caeli deste Domingo (16)  
 
Refletindo sobre o encontro de Jesus Ressuscitado com Tomé, que não acreditou nas feridas do Mestre até não vê-las, Francisco convida-nos a procurar Deus na Igreja, que é o Corpo de Cristo, "aceitando o desafio de permanecer ali, mesmo se não é perfeita" e não "nalguma manifestação religiosa espetacular". E Francisco reforça para não procurar longe e ficar na comunidade, "com os outros; não te vás embora, rezeacom eles, parta o pão com eles”.
 

Andressa Collet - Vatican News

Neste Segundo Domingo de Páscoa e da Divina Misericórdia, o Papa Francisco, na alocução que precedeu a oração mariana do Regina Caeli na Praça de São Pedro, refletiu sobre o Evangelho que traz as duas aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e, em particular, a Tomé (cf. Jo 20,24-29). O "Apóstolo incrédulo", comentou o Pontífice, não foi o único com dificuldades para acreditar, mas acaba representando "um pouco de todos nós. De facto, nem sempre é fácil acreditar", especialmente após sofrer deceções, como no caso de Tomé, que viu o Mestre a ser colocado na cruz como um delinquente: "como confiar novamente?", ponderou o Papa.

Encontrar Jesus np meio da comunidade

Assim, enquanto Tomé saiu, recordou o Papa, Jesus apareceu pela primeira vez aos discípulos na noite de Páscoa e o discípulo não acreditou. E Cristo Ressuscitado fê-lo pela segunda vez, oito dias depois, ao aparecer no meio dos seus discípulos, mostrando as suas feridas, "a prova do seu amor, os canais sempre abertos da sua misericórdia".

“Vamos refletir sobre estes factos. Para acreditar, Tomé gostaria de um sinal extraordinário: tocar as feridas. Jesus mostra-as, mas de uma maneira ordinária, ao chegar diante de todos, na comunidade; não fora. Como que para dizer-lhe: se queres encontrar-me, não procures longe, fica na comunidade, com os outros; e não te vás embora, reza com eles, parte o pão com eles.”

É na comunidade que encontramos Jesus, enfatizou o Papa, onde encontramos "os sinais das feridas: os sinais do Amor que vence o ódio, do Perdão que desarma a vingança, da Vida que vence a morte". No meio dos irmãos, também se partilha "momentos de dúvida e de medo, agarrando-nos ainda mais firmemente a eles".

“Sem a comunidade é difícil encontrar Jesus. Queridos irmãos e irmãs, o convite feito a Tomé também é válido para nós. Nós, onde procuramos o Ressuscitado? Em algum evento especial, em alguma manifestação religiosa espetacular ou marcante, unicamente nas nossas emoções e sensações? Ou na comunidade, na Igreja, aceitando o desafio de permanecer ali, mesmo se não é perfeita?”

O Papa Francisco finalizou a reflexão deste domingo (16) pedindo a intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia, para nos ajudar "a amar a Igreja e a torná-la um lar acolhedor para todos", mesmo no meio às dificuldades:

"Apesar de todas as suas limitações e quedas, que são as nossas limitações e as nossas quedas, a nossa Igreja Mãe é o Corpo de Cristo; e é ali, no Corpo de Cristo, que se encontram impressos, mais uma vez e para sempre, os maiores sinais do seu amor. Vamos interrogarmo-nos, porém, se, em nome desse amor, em nome das feridas de Jesus, estamos dispostos a abrir os braços a quem está ferido na vida, sem excluir ninguém da misericórdia de Deus, mas acolhendo todos; cada um como um irmão, como uma irmã. Deus acolhe todos."

 Vatican News

quarta-feira, 12 de abril de 2023

O Papa: não se anuncia o Evangelho parado, na escrivaninha ou no computador

 
 
Na Audiência Geral desta quarta-feira depois da Páscoa, Francisco falou sobre o zelo evangélico: "Não se anuncia o Evangelho parado, fechado num escritório, na escrivaninha ou no computador a fazer polémicas como "leões do teclado" e substituindo a criatividade do anúncio pelo copiar e colar ideias tiradas daqui e dali". É preciso "estarmos livres de esquemas", "preparados para as surpresas".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu com o ciclo de catequeses sobre a paixão de evangelizar na Audiência Geral, desta quarta-feira (12/04), realizada na Praça de São Pedro.

Há duas semanas atrás, vimos o impulso pessoal de São Paulo pelo Evangelho. Neste encontro semanal com os fiéis, o Santo Padre fez uma reflexão mais profunda sobre o zelo evangélico assim como o Apóstolo dos Gentios o descreve em algumas de suas cartas.

Zelo distorcido, observância de normas humanas e obsoletas

"Paulo não ignora o perigo de um zelo distorcido, orientado numa direção errada. Às vezes nos deparamo-nos com um zelo mal orientado, obstinado na observância de normas puramente humanas e obsoletas para a comunidade cristã", sublinhou o Papa.

Não podemos ignorar a solicitude com que alguns se dedicam a ocupações erradas mesmo na própria comunidade cristã; pode-se vangloriar-se de um falso zelo evangélico enquanto se persegue, na realidade, a vanglória ou as próprias ideias ou um pouco de amor próprio.

No capítulo 6° da carta aos Efésios, Paulo faz uma lista com as "armaduras" para a batalha espiritual. "Entre elas está a prontidão para propagar o Evangelho, traduzida por alguns como 'zelo'", disse o Papa, ressaltando que a prontidão é indicada como um "calçado". "Por quê? Porque aquele que vai anunciar deve mover-se, deve caminhar", respondeu Francisco.

“O zelo evangélico é o apoio no qual se baseia o anúncio, e os anunciadores são um pouco como os pés do corpo de Cristo que é a Igreja. Não há anúncio sem movimento, sem "saída", sem iniciativa. Isto significa que não há cristão se ele não estiver a caminho, se ele não sair de si para pôr-se a caminho e anunciar. Não há anúncio sem movimento, sem caminhar.”

Segundo o Papa, "não se anuncia o Evangelho parado, fechado num escritório, na escrivaninha ou no computador a fazer polémicas como "leões do teclado" e substituindo a criatividade do anúncio pelo copiar e colar ideias tiradas daqui e dali. O Evangelho é anunciado movendo-se, caminhando, indo".

O zelo evangélico é o oposto do desmazelo

O zelo evangélico "denota prontidão, preparação, alacridade. É o oposto do desmazelo, que é incompatível com o amor", sublinhou Francisco, ressaltando que um anunciador deve estar pronto para partir e "sabe que o Senhor passa de forma surpreendente. Ele deve estar livre de esquemas e predisposto a uma ação inesperada e nova: preparado para as surpresas. Aquele que anuncia o Evangelho não pode ser fossilizado em jaulas de plausibilidade ou no "sempre foi feito assim", mas estar pronto para seguir uma sabedoria que não é deste mundo".

Segundo Francisco, "é importante ter esta prontidão para a novidade do Evangelho, esta atitude que é um impulso, uma tomada de iniciativa, um 'ir primeiro'. É um não deixar escapar oportunidades para promulgar o anúncio do Evangelho da paz, aquela paz que Cristo sabe dar mais e melhor do que o mundo".

Por isso exorto-vos a ser evangelizadores que se movem, sem medo, que vão em frente, para levar a beleza de Jesus, para levar a novidade de Jesus que muda tudo. Muda também o coração: Estás disposto a deixar que Jesus mude o teu coração? Ou és um cristão morno, que não se move. Pensa bem: És um entusiasta de Jesus, vais em frente? Pensa um pouco.

Vatican News

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Papa: quando testemunhaste Jesus pela última vez?

 

 As mulheres ensinam-nos que encontramos Jesus, testemunhando-O,afirma Francisco 

 

Francisco rezou a oração mariana do Regina Coeli nesta Segunda-feira do Anjo (10), procurando tocar na consciência de todos ao questionar: diante da experiência das mulheres que encontraram o Cristo Ressuscitado e foram anunciá-Lo, "quando foi a última vez que testemunhei Jesus? Hoje, o que eu faço para que as pessoas que encontro recebam a alegria do seu anúncio?".

 

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Francisco, nesta "Segunda-feira do Anjo" (10) após a Páscoa que recorda a aparição do anjo às mulheres que foram ao túmulo de Jesus, rezou a oração mariana do Regina Coeli para os fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Da janela do seu escritório no Palácio Apostólico neste dia de feriado no Vaticano e em Itália, o Pontífice recordou que foram as discípulas as primeiras a testemunhar o Cristo Ressuscitado, motivadas pelo anjo do Senhor a não terem medo de encontrá-Lo e testemunhá-Lo com alegria.

Encontrar Jesus, testemunhando-O

"Poderíamos perguntar a nós próprios: por que elas?", questiona o Papa no Regina Coeli que, durante o período pascal substitui o Angelus: "por uma razão muito simples", afirma ele, "porque são as primeiras a ir ao sepulcro". Ao contrário de todos os discípulos, elas não ficaram em casa tristes pela história de Jesus que parecia ter terminado. Enfrentando o medo e com muita alegria, descreve o Evangelho (Mt 28,8) ao encontrarem o sepulcro vazio, as mulheres correm para dar aos discípulos o anúncio da Ressureição de Jesus:

“No momento em que vão fazer esse anúncio, Jesus vem ao seu encontro. Observemos bem isto: Jesus encontra-as enquanto vão anunciá-Lo. É bonito isto: Jesus encontra-as, enquanto vão anunciá-Lo. Quando nós proclamamos o Senhor, o Senhor vem a nós.”

"Às vezes pensamos que a maneira para estar perto de Deus seja aquela de mantê-Lo bem perto de nós; porque então, se nos expomos e falamos sobre isto, chegam os julgamentos, as críticas, talvez não saibamos responder a certas perguntas ou provocações, e então é melhor não falar sobre isto e fecharmo-nos: não, isto não é bom. Em vez disto, o Senhor vem enquanto O proclamamos. Encontras sempre o Senhor no caminho do anúncio. Anuncia o Senhor e O encontrarás. Procura o Senhor e O encontrarás. Sempre em caminho, isto que as mulheres nos ensinam: encontra-se Jesus, testemunhando-O. Vamos colocar isto no coração: Jesus encontra-se testemunhando-O." 

Proclamar Jesus como o mais belo presente

O Papa, então, dá um exemplo prático de quando se recebe a notícia de que uma criança nasceu: a primeira intenção é partilhar com alegria entre os amigos já que, ao contá-la, tornamos a novidade ainda mais viva para nós mesmos:

"Se isto acontece por uma boa notícia, de todos os dias, ou de alguns dias importantes, acontece infinitamente mais por Jesus, que não é apenas uma boa notícia, e nem mesmo a melhor notícia da vida, não, mas Ele é a própria vida, Ele é 'a ressurreição e a vida' (Jo 11,25). Sempre que O proclamamos, não fazendo por propaganda ou proselitismo, aquilo não: anunciar é uma coisa, fazer propaganda e proselitismo é outra. O cristão anuncia, aquele que tem outro objetivo faz proselitismo e isso não é bom. Cada vez que O anunciamos, o Senhor vem ao nosso encontro com respeito e amor, como o mais belo presente para se partilhar. Jesus habita ainda mais em nós cada vez que nós O anunciamos." 

"Quando se encontra Jesus", continua Francisco, "nenhum obstáculo pode impedir-nos de proclamá-Lo". Basta pensar nas mulheres do Evangelho que, apesar dos medos e angústias, não guardaram a alegria da Páscoa e foram anunciá-la. Se, ao invés disso, guardamos para nós, alerta o Papa, "talvez é porque ainda não O encontramos verdadeiramente". E o Pontífice finaliza a oração mariana do Regina Coeli tocando a consciência de todos aos questionar:

“Irmãos, irmãs, diante da experiência das mulheres interroguemo-nos: diz-me, quando foi a última vez que testemunhaste Jesus? Quando foi a última vez que eu testemunhei Jesus? Hoje, o que eu faço para que as pessoas que encontro recebam a alegria do seu anúncio? E ainda: alguém pode dizer: esta pessoa é serena, é feliz, é boa porque encontrou Jesus? Da cada um de nós, pode-se dizer isto? Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a sermos alegres anunciadores do Evangelho.”

Vatican News

domingo, 9 de abril de 2023

Papa: Com Cristo renasce a esperança! Apressemo-nos a superar divisões e conflitos

 
 
As palavras de Francisco aos fiéis: "Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O dia mais importante e belo da história: o dia em que Cristo ressuscitou!

O Papa formulou os seus votos de Feliz Páscoa a todos os fiéis na sua mensagem Urbi et Orbi (a Roma e a todo o mundo) no final da missa celebrada numa Praça São Pedro tapeçada  de flores. A cerimónia teve início com a abertura do ícone do Santíssimo Salvador, sob o canto do Aleluia e prosseguiu com a Liturgia da Palavra, sem a homilia, e a Liturgia Eucarística.

As palavras de Francisco aos fiéis: "Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”
 
Diante de cerca de 100 mil romanos e peregrinos, Francisco recordou o significado da Páscoa, isto é, passagem; passagem da morte à vida, do pecado à graça.

“Nele, Senhor do tempo e da história, quero, com o coração repleto de alegria, dizer a todos: feliz Páscoa!”

Que seja para cada um, sobretudo para os sofredores, uma passagem da tribulação à consolação. Afinal, não estamos sós: Jesus, o Vivente, está connosco para sempre. Alegrem-se a Igreja e o mundo, porque podemos “celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo da história”.

Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente, e a humanidade acelera o passo porque vê a meta do seu percurso, o sentido do seu destino: Jesus Cristo. E é chamada a apressar-se ao encontro Dele, esperança do mundo.

Por isso, convidou o Papa, apressemo-nos também nós a superar os conflitos e as divisões, e a abrir os nossos corações aos mais necessitados. Apressemo-nos a percorrer sendas de paz e fraternidade. O caminho é longo e devemos suplicar ao Ressuscitado: “Ajudai-nos a correr ao vosso encontro!”.

 A Praça São Pedro embelezada pelas flores 

Haiti e Nicarágua

Francisco então nomeou os povos e países que mais precisam, neste momento, desta ajuda: são o “amado povo ucraniano”, os russos, sírios e turcos vítimas do terremoto. São ainda israelitas, palestinianos e libaneses. No continente africano, anseiam pela paz de Cristo os tunisinos, etíopes, sul-sudaneses, congoleses, eritreus, nigerianos, malauianos, moçambicanos e burquineses. Na Ásia, o Papa reza pelos birmaneses e pelo martirizado povo rohingya. No continente americano, as preces de Francisco vão para o Haiti, “que há vários anos está a sofrer uma grave crise sociopolítica e humanitária”, e para a Nicarágua, que hoje celebra a Páscoa “em circunstâncias particulares”.

O Pontífice suplicou conforto para os refugiados, os deportados, os prisioneiros políticos e os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, bem como todos aqueles que sofrem com a fome, a pobreza e os efeitos nocivos do narcotráfico, do tráfico de pessoas e de toda a forma de escravidão.

Francisco pede ao Senhor que inspire os responsáveis das nações, para que nenhum homem ou mulher seja discriminado e espezinhado na sua dignidade; para que, no pleno respeito dos direitos humanos e da democracia, se curem estas chagas sociais.

“Irmãos, irmãs, voltemos também nós a encontrar o gosto do caminho, aceleremos o pulsar da esperança, saboreemos a beleza do Céu! (...) Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”

 

 O ícone do Santíssimo Salvador 

Vatican News

sexta-feira, 7 de abril de 2023

Cardeal Cantalamessa: cuidado com o niilismo; Deus é verdade que transcende

 
O Papa presidiu a celelbração na Basílica de S. Pedro, enquanto Cantalamessa pronunciou a homilia
 
O pregador da Casa Pontifícia trouxe para a homilia desta Sexta-feira Santa (7), na Basílica de São Pedro, em celebração presidida pelo Papa, a reflexão sobre a existência de uma narrativa diversa para a morte de Deus, "ideológica, não histórica", proclamada pelo anúncio que Nietzsche põe na boca do "homem louco". Como crentes, convida Raniero Cantalamessa, "é nosso dever mostrar o que está por trás ou sob aquele anúncio".
 

Andressa Collet - Vatican News

No dia em que os fiéis são convidados a fixar o olhar em Jesus Crucificado, que carregou na cruz os pecados de toda a humanidade para salvá-la, o Papa Francisco presidiu a Liturgia da Palavra na Basílica de São Pedro. Na homilia desta Sexta-feira Santa (7) de celebração da Paixão do Senhor, o cardeal Raniero Cantalamessa reforçou o convite para se continuar - "mais convictos do que nunca" - às palavras que dizemos em cada missa há dois mil anos, após a consagração: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.

O homem no lugar de Deus

"A Igreja anuncia e celebra, neste dia, a morte do Filho de Deus na cruz", recorda o pregador da Casa Pontifícia, que logo lembra, porém, da "existência de uma narrativa diversa" para a "morte de Deus - ideológica, não histórica" proclamada "há um século e meio, e hoje, em nosso ocidental descristianizado". Cantalamessa explica que "esta morte diversa de Deus encontrou a sua perfeita expressão no conhecido anúncio que Nietzsche põe na boca do 'homem louco', que chega sem fôlego à praça da cidade: - Para onde foi Deus? – exclamou – É o que vou dizer. Nós o matamos – vocês e eu!... nunca houve ação mais grandiosa e aqueles que nascerem depois de nós pertencerão, por causa dela, a uma história mais elevada do que o foi alguma vez toda essa história".

Uma ideia de que "a história não seria mais dividida em antes de Cristo e depois de Cristo, mas antes de Nietzsche e depois de Nietzsche", ou seja, continua Cantalamessa, o homem, o “super-homem”, o “além-homem”, é colocado no lugar de Deus. "Não demorará, contudo, a se dar conta de que, ao ficar só, o homem não é nada"; pois "estamos errando como num nada infinito”.

A verdade transcendente

Mas, "não nos é lícito julgar o coração de um homem que somente Deus conhece", recorda o pregador da Casa Pontifícia, e também o autor daquele anúncio teve a sua parte de sofrimento na vida. E Cantalamessa recorda a oração de Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). A consequência, porém, que aquele anúncio teve, "aquela sim, podemos e devemos julgar", enfatiza o cardeal, pois acabou virando moda e declinada nos mais diferentes modos:

"O denominador comum a todas estas diversas declinações é o total relativismo em todo campo: ética, linguagem, filosofia, arte e, naturalmente, religião. Nada mais é sólido; tudo é líquido, ou mesmo vaporoso. Na época do romantismo, deleitava-se na melancolia, hoje, no niilismo. Como crentes, é nosso dever mostrar o que está por trás ou sob aquele anúncio, isto é, a trepidação de uma antiga chama, a erupção repentina de um vulcão jamais extinto desde o início do mundo."

Isto é, afirma Cantalamessa: "há uma verdade transcendente que nenhuma narrativa histórica ou raciocínio filosófico poderia nos transmitir": 

“Cristo Jesus, existindo em forma divina, não considerou um privilégio um privilégio ser igual a Deus, mas esvaziou-se, assumindo a forma de servo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspeto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!”

A ressureição conduz à apoteose da vida

Mas "por que falar disto em uma liturgia da Sexta-feira Santa?", questiona-se o cardeal. "Não para convencer os ateus de que Deus não está morto!", porque "para convencê-los são necessários outros meios, mais do que as palavras de um velho pregador. Meios que o Senhor não deixará faltar a quem tem o coração aberto à verdade". O verdadeiro objetivo "é preservar os crentes – quem sabe, talvez apenas alguns estudantes universitários – de serem atraídos para dentro deste vórtice do niilismo, que é o verdadeiro 'buraco negro' do universo espiritual". O pregador da Casa Pontifícia finaliza, então, a homilia:

“'Deus? Nós o matamos – vocês e eu!': Esta coisa tremenda realizou-se, de facto, uma vez na história humana, mas em sentido bem diferente daquele bradado pelo 'homem louco'. Porque é verdade, irmãos e irmãs: fomos nós - vocês e eu - que matamos Jesus de Nazaré! Ele morreu pelos nossos pecados e também pelos de todo o mundo (1Jo 2,2). Mas a sua ressurreição assegura-nos que este caminho não conduz à derrota, mas, graças ao nosso arrependimento, conduz àquela 'apoteose da vida', em vão procurada noutros lugares.”

Tradução das palavras do cardeal Cantalamessa: Fr. Ricardo Farias, ofmcap

Vatican News

quarta-feira, 5 de abril de 2023

O Papa: as nossas feridas podem tornar-se fontes de esperança

 
  O Papa Francisco durante a Audiência Geral  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)  
 
Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira da Semana Santa, Francisco falou que Jesus na cruz transforma a dor em amor: precisamos de simplicidade, para redescobrir o valor da sobriedade, despojando a alma do supérfluo que a oprime.
 

Vatican News - Mariangela Jaguraba

Na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (05/04), realizada na Praça de São Pedro, o Papa Francisco recordou que no Domingo de Ramos, ouvimos a liturgia da Paixão do Senhor que termina com as seguintes palavras: «Selaram a pedra».

"Tudo parece ter acabado. Para os discípulos de Jesus, aquela pedra marca o fim da esperança", frisou o Papa. "O Mestre foi crucificado, morto da maneira mais cruel e humilhante, pendurado num patíbulo infame fora da cidade: um fracasso público, o pior final possível".

Pois bem, aquele desânimo que oprimia os discípulos não nos é totalmente estranho hoje. Também em nós adensam-se pensamentos obscuros e sentimentos de frustração: por que tanta indiferença em relação a Deus? Por que tanto mal no mundo? Por que as desigualdades continuam a aumentar e não chega a paz tão almejada? Por que somos tão apegados à guerra, a fazer o mal uns aos outros? No coração de cada um, quantas expetativas desvanecidas, quantas desilusões! E ainda aquela sensação de que os tempos passados eram melhores e de que no mundo, talvez até na Igreja, as coisas não são como outrora. Em síntese, também hoje a esperança parece às vezes selada sob a pedra da desconfiança.

"Na mente dos discípulos permanecia fixa uma imagem: a cruz. Ali estava concentrado o fim de tudo. Mas pouco tempo depois descobririam na própria cruz um novo início. Do mais terrível instrumento de tortura, Deus obteve o maior sinal do amor. Aquele madeiro de morte, transformado em árvore de vida, lembra-nos que os inícios de Deus começam muitas vezes a partir dos nossos fins: é assim que Ele gosta de fazer maravilhas", sublinhou Francisco.

A seguir, o Papa convidou a olhar "para a árvore da cruz, para que em nós brote a esperança: aquela virtude quotidiana, aquela virtude silenciosa, humilde, mas aquela virtude que nos mantém de pé, que nos ajuda a ir em frente. Sem esperança não se pode viver. Pensamos: onde está a minha esperança? Hoje, olhemos para a árvore da cruz para que brote em nós a esperança: para sermos curados da tristeza – mas, quantas pessoas tristes".

"Quando eu podia caminhar pelas ruas, agora não posso porque não me deixam, gostava de observar o olhar das pessoas. Quantos olhares tristes! Pessoas tristes, pessoas que falavam sozinhas, gente que andava só com o telemóvel, mas sem paz, sem esperança. E onde está hoje a sua esperança? É preciso um pouco de esperança, hein? Para sermos curados da tristeza que nos adoece: há tanta tristeza; para sermos curados da amargura com que poluímos a Igreja e o mundo", disse ainda o Papa.

Olhando para o Crucifixo, vemos "Jesus despojado, ferido, Jesus atormentado. É o fim de tudo? Ali há esperança", sublinhou o Pontífice, acrescentando:

Com efeito, nós temos dificuldade em despojarmo-nos, em fazer a verdade; revestimo-nos de exterioridade, que procuramos e cuidamos, de máscaras para nos disfarçarmos e nos mostrarmos melhores do que somos. Pensamos que o importante é ostentar, de tal modo que os outros falem bem de nós. E adornamo-nos de aparências, de coisas supérfluas; mas assim não encontramos a paz. Depois, a maquilhagem vai embora  olhas-te no espelho com aquela cara feia que tens, mas verdadeira, aquela que Deus ama, não a maquilhada, não. Jesus despojado de tudo  lembra-nos que a esperança renasce fazendo a verdade sobre nós mesmos, dizer a verdade a ti mesmo, abandonando as ambiguidades, libertando-nos da convivência pacífica com as nossas falsidades. Às vezes, estamos tão acostumados a dizer falsidades a nós mesmos que convivemos com elas como se fossem verdades e acabamos envenenados pelas nossas falsidades.

Segundo Francisco, "é necessário regressar ao coração, ao essencial, a uma vida simples, despojada de tantas coisas inúteis, que substituem a esperança". A seguir, o Papa disse que nesta Semana Santa é bom olhar para o nosso guarda-roupa despojarmo-nos das coisas que temos, que não usamos, coisas muitas vezes "coisas desnecessárias". "Nós também temos tantas coisas inúteis dentro do nossos corações – e fora também. Olha para o teu guarda-roupa: olha para ele. Isto é útil, aquilo é inútil, e faz uma limpeza. Olha para o guarda-roupa da alma: quantas coisas inúteis tens, quantas ilusões estúpidas. Voltemos à simplicidade, às coisas reais que não precisam de maqulhagem. Aqui está um bom exercício", disse o Papa.

Olhemos agora pa Jesus ferido. "A cruz mostra os pregos que lhe furam as mãos e os pés, o lado aberto. Mas váriass feridas do corpo acrescentam-se as da alma. Jesus está sozinho: traído, entregue e renegado pelos seus, condenado pelo poder religioso e civil, experimenta até o abandono de Deus."

"Também nós estamos feridos: quem não o está na vida? Quem não carrega as cicatrizes de escolhas passadas, de incompreensões, de dores que permanecem dentro e são difíceis de superar? Mas também de injustiças sofridas, de palavras cortantes, de juízos inclementes?", perguntou Francisco. "Deus não esconde aos nossos olhos as feridas que lhe trespassaram o corpo e a alma. Mostra-as para nos indicar que na Páscoa pode-se abrir uma nova passagem: fazer das próprias feridas furos de luz. Como Jesus, que na cruz não recrimina, mas ama. Ama e perdoa quantos o ferem. Assim converte o mal em bem, assim transforma a dor em amor", sublinhou.

Irmãos e irmãs, a questão não é ser ferido pouco ou muito pela vida, mas a questão é o que fazer com estas feridas. Posso deixá-las infetar no rancor e na tristeza, ou posso uni-las às de Jesus, a fim de que também as minhas chagas se tornem luminosas. Pensem em quantos jovens, quantos jovens, quantos jovens, que não toleram as suas feridas e procuram no suicídio uma via de salvação: hoje, nos nossas cidades, muitos, muitos jovens que não veem saída, que não têm esperança e preferem ir em frente com as drogas, com o esquecimento... coitados! Pensem nisto. E tu, qual é a tua droga, para cobrir as feridas? As nossas feridas podem tornar-se fontes de esperança quando, em vez de nos comiserarmos, enxugamos as lágrimas dos outros; quando, em vez de ter ressentimento pelo que nos é tirado, cuidamos do que falta aos outros; quando, em vez de nos inquietarmos, nos debruçamos sobre quantos sofrem; quando, em vez de ter sede de amor por nós próprios, saciamos a sede de quem precisa de nós.

Segundo o Papa, "só nos reencontraremos, se deixarmos de pensar em nós mesmos. E é agindo assim - diz a Escritura - que a nossa ferida em breve cicatrizará, e a esperança voltará a florescer. Pensem: O que posso fazer pelos outros? Eu estou ferido. Estou ferido pelo pecado, estou ferido pela história, cada um tem a sua ferida. O que eu faço: lambo minhas feridas assim, a vida toda? Ou olho para as feridas dos outros e vou com a experiência ferida da minha vida, curar, ajudar os outros?" "Este é o desafio de hoje, para todos vós, para cada um de vós, para cada um de nós. Que o Senhor nos ajude a seguir em frente", concluiu.

Vatican News

domingo, 2 de abril de 2023

O Papa: Cristo impele-nos a procurá-lo e a amá-Lo nos abandonados

 
 
Cristo na cruz fez-se solidário connosco a fim de que cada um de nós possa  dizer: nas minhas quedas, na minha desolação, quando me sinto traído, descartado e abandonado, Tu estás presente, Jesus; quando não aguento mais, Tu estás lá, estás comigo; nos meus «porquês» sem resposta, estás comigo. Foi o que disse o Papa na Missa deste Domingo de Ramos, início da Semana Santa, celebrada na Praça de São Pedro com a tradicional e solene procissão de ramos
 

Raimundo de Lima – Vatican News

Cristo, abandonado, impele-nos a procurá-Lo e a amá-Lo nos abandonados. Porque neles, não temos apenas necessitados, mas temo-Lo a Ele, Jesus Abandonado, Aquele que nos salvou descendo até ao fundo da nossa condição humana. Por isso deseja que cuidemos dos irmãos e irmãs que mais se parecem com Ele, com Ele no ato extremo do sofrimento e da solidão: disse o Papa na Missa deste Domingo de Ramos (02/04), celebrada na Praça de São Pedro com a tradicional e solene procissão de ramos. Um momento comovente numa praça com mais de cinquenta mil fiéis e peregrinos, com os ramos de oliveira provenientes da região italiana da Úmbria.

«Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?»: é a invocação que a Liturgia nos fez repetir hoje no Salmo Responsorial (Sal 22), sendo também – no Evangelho em que ouvimos – a única pronunciada na cruz por Jesus. Representam, pois, observou Francisco, as palavras que nos conduzem ao coração da paixão de Cristo, ao ponto culminante dos sofrimentos que padeceu para nos salvar.

Sofrimentos do corpo e da alma

Muitos foram os sofrimentos de Jesus. Foram sofrimentos do corpo: das bofetadas às pancadas, da flagelação à coroa de espinhos, até à tortura da cruz. Foram sofrimentos da alma: a traição de Judas, as negações de Pedro, as condenações religiosa e civil, a zombaria dos guardas, os insultos ao pé da cruz, a rejeição de tantos, a falência de tudo, o abandono dos discípulos. E, contudo, prosseguiu o Pontífice, no meio de todo este sofrimento, restava a Jesus uma certeza: a proximidade do Pai. Ele tinha dito: «Eu e o Pai somos um», «Eu estou no Pai e o Pai está em Mim». Mas agora acontece o impensável; antes de morrer, clama: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste

“O Papa ressaltou que estamos perante o sofrimento mais dilacerante, o do espírito: na hora mais trágica, Jesus experimenta o abandono por parte de Deus. Antes disto, nunca chamara o Pai pelo nome genérico de Deus.”

Na Bíblia, o verbo «abandonar» é forte; aparece em momentos de dor extrema: em amores fracassados, rejeitados e traídos; em filhos enjeitados e abortados; em situações de repúdio, viuvez e orfandade; em casamentos gorados, em exclusões que privam dos laços sociais, na opressão da injustiça e na solidão da doença: em suma, nas mais drásticas dilacerações dos vínculos. Cristo levou tudo isto para a cruz, ao carregar sobre Si o pecado do mundo. E, no auge, Ele – Filho unigênito e predileto – experimentou a situação mais estranha no seu caso: a distância de Deus.

Fez-Se solidário connosco até ao ponto extremo

Mas – podemos interrogfarmo-nos – porque foi tão longe? A resposta é uma só: por nós. Fez-Se solidário connosco até ao ponto extremo, para estar connsco até ao fim, para que nenhum de nós se possa imaginar sozinho e irrecuperável. Experimentou o abandono para não nos deixar reféns da desolação e permanecer ao nosso lado para sempre, enfatizou o Pontífice.

Irmão, irmã, Ele o fez por mim, por ti, para que, quando eu, tu ou qualquer outro se vir encurralado à parede, perdido num beco sem saída, precipitado no abismo do abandono, sorvido no redemoinho dos «porquês», saibamos que há uma esperança. Não é o fim, porque Jesus esteve ali e agora está contigo: Ele, o Pai e o Espírito sofreram a distância causada pelo abandono para acolher no seu amor todas as nossas distâncias. A fim de que possa cada um de nós dizer: nas minhas quedas, na minha desolação, quando me sinto traído, descartado e abandonado, Tu estás presente, Jesus; nos meus falhanços, estás comigo; quando me sinto transviado e perdido, quando não aguento mais, Tu estás lá, estás comigo; nos meus «porquês» sem resposta, estás comigo.

Hoje, tantos «cristos abandonados»

É assim que o Senhor nos salva, a partir de dentro dos nossos «porquês». De lá, descerra a esperança. Um amor assim, que dá tudo por nós, até ao fim, pode transformar os nossos corações de pedra em corações de carne, capazes de piedade, ternura e compaixão, prosseguiu o Santo Padre.

Há hoje tantos «cristos abandonados». Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas das nossas estradas e cujo olhar não temos a coragem de fixar; migrantes, que já não são rostos, mas números; reclusos rejeitados, pessoas catalogadas como problemas. Mas há também muitos cristos abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados de forma «elegante»: crianças nascituras, idosos deixados sozinhos, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor.

As pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo

Francisco exortou-nos a lembrar sempre que Jesus abandonado pede -nos para termos olhos e coração para os abandonados. Para nós, discípulos do Abandonado, ninguém pode ser marginalizado, ninguém pode ser deixado a si mesmo; porque – recordemo-lo – as pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo, recordam-nos o seu amor louco, o seu abandono que nos salva de toda a solidão e desolação.

Na sua homilia, ressaltando a presença de Cristo nos abandonados de hoje e de sempre, deixando por um momento o texto previamente preparado, Francisco lembrou um morador de rua que havia encontrado abrigo sob a cobertura da colunata da Praça de São Pedro (Colunata de Bernini) e que há meses atrás veio a falecer, ressaltando que Jesus está com cada um desses irmãos abandonados.

Está com cada um deles, abandonados até à morte. Penso que há algumas semanas atrás, num morador de rua alemão que morreu na colunata, sozinho, abandonado. É Jesus para cada um de nós. Muitos precisam da nossa proximidade, são muitos os abandonados. Também eu preciso que Jesus me acaricie, esteja próximo a mim e por isso vou encontrá-Lo nos abandonados, nos que estão sós.

Peçamos hoje, concluiu o Santo Padre, esta graça: saber amar Jesus abandonado e saber amar Jesus em cada abandonado. Peçamos a graça de saber ver e reconhecer o Senhor que continua a clamar neles. Não permitamos que a sua voz se perca no silêncio ensurdecedor da indiferença. Não fomos deixados sozinhos por Deus; cuidemos de quem é deixado só. Então, só então, faremos nossos os desejos e os sentimentos d’Aquele que por nós «Se esvaziou a Si mesmo».

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