quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Papa: rezemos pelo fim da pena de morte no mundo

 
 
Na intenção de oração para setembro, no vídeo da Rede Mundial de Oração do Papa, o Pontífice aborda o tema da abolição da pena de morte, uma ação que "não oferece justiça às vítimas, mas encoraja a vingança", afirma ele, ao acrescentar que "a pena de morte é inadmissível". Por isso, conclama todos a rezar pelo fim dessa prática que ainda é aplicada em 55 países. 
 

Andressa Collet - Vatican News

“Cada dia mais pessoas em todo o mundo dizem não à pena de morte. Para a Igreja, isso é um sinal de esperança.”

Assim o Pontífice inicia o Vídeo do Papa de setembro que pede pelo o fim da pena de morte no mundo, uma intenção de oração que o Santo Padre confia à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. Nesta edição, Francisco então indica que a rejeição a essa prática está a aumentar no mundo, o que a Igreja vê como "um sinal de esperança". De facto, de acordo com dados das Nações Unidas, cerca de 170 Estados aboliram a pena de morte, impuseram uma moratória à sua utilização na lei ou na prática, ou suspenderam as execuções durante mais de 10 anos. No entanto, a pena de morte ainda é aplicada em 55 países, em vários continentes. 

A posição da Igreja sobre a pena de morte

De João Paulo II a Bento XVI, os Pontífices pronunciaram-se fortemente contra o uso da pena de morte pelos governos nas últimas décadas. O Papa Francisco foi mais longe ao aprovar em 2018 um novo parágrafo do Catecismo condenando claramente a pena de morte e expressando o compromisso da Igreja na sua total abolição. 

"Do ponto de vista jurídico, a pena de morte já não é necessária. A sociedade pode reprimir eficazmente o crime sem privar definitivamente o infrator da possibilidade de redimir-se. Em toda condenação, deve haver sempre uma janela de esperança. A pena de morte não oferece justiça às vítimas, mas encoraja à vingança. E impede qualquer possibilidade de se desfazer um possível erro judicial. Por outro lado, moralmente a pena de morte é inadequada; ela destrói o dom mais importante que recebemos: a vida."

No vídeo deste mês, que chega num momento marcado por notícias de sentenças de morte e execuções em várias partes do mundo, o Papa faz o apelo não só aos cristãos, mas a todas as pessoas de boa vontade. 

"Não esqueçamos que, até ao último momento, uma pessoa pode converter-se e pode mudar. E, à luz do Evangelho, a pena de morte é inadmissível. O mandamento 'não matarás' refere-se tanto ao inocente como ao culpado. Apelo, pois, a todas as pessoas de boa vontade para que se mobilizem pelo fim da pena de morte em todo o mundo."

“Rezemos para que a pena de morte, que atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa, seja abolida nas leis de todos os países do mundo.”

O padre Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, comentou sobre esta intenção: "Este mês, o Papa Francisco convida-nos a rezar pelo fim da pena de morte, reiterando o que disse em Fratelli tutti e especificou no Catecismo da Igreja Católica: 'A Igreja está determinada a propor a sua abolição em todo o mundo. Porquê? Porque mesmo no último momento uma pessoa pode converter-se, reconhecer os seus crimes e mudar. A pena de morte, por outro lado, é como colocar-se no lugar de Deus. Com a condenação, determina-se que uma pessoa nunca será capaz de mudar, o que não sabemos'. Neste mês de setembro, o Papa convida-nos a rezar e a nos mobilizarmos para apoiar as associações e organizações que lutam pelo fim da pena de morte".

Vatican News

domingo, 28 de agosto de 2022

O Papa no Perdão Celestino: humildade e mansidão para testemunhar a misericórdia

 

 

“Todos podemos experimentar um ‘terremoto da alma’, que nos coloca em contacto com a própria fragilidade, limitações e miséria. Nestas circunstâncias, pode-se aprender a mansidão, que junto com a humildade levam a guardar e testemunhar a misericórdia”. Palavras do Papa Francisco na homilia deste domingo (28) na cidade de L’Aquila por ocasião do “Perdão Celestino”
 

Jane Nogara - Vatican News

Na Basílica de Collemaggio em L’Aquila, o Papa Francisco presidiu à Santa Missa na segunda etapa da sua visita pastoral neste domingo, 28 de agosto. Ao falar aos fiéis na sua homilia o Papa inicio, recordando que os Santos são uma fascinante explicação do Evangelho. Pois as suas vidas, disse Francisco, são o ponto privilegiado a partir do qual podemos vislumbrar a boa nova que Jesus veio proclamar, ou seja, que Deus é nosso Pai e todos somos amados por Ele. Este é o coração do Evangelho, e Jesus é a prova deste Amor, da sua encarnação, do seu rosto.

A grandeza de Celestino V

“Hoje celebramos a Eucaristia num dia especial para esta cidade e esta Igreja: o Perdão Celestino”. Lembramos erroneamente a figura de Celestino V como "aquele que fez a grande recusa", segundo a expressão de Dante na Divina Comédia; mas Celestino V não era o homem do "não", ele era o homem do "sim". “De facto”, explica ainda Francisco, “não há outra maneira de realizar a vontade de Deus a não ser assumindo a força dos humildes”.

A força dos humildes

“A humildade”, disse, “não consiste em nos desvalorizarmos, mas naquele realismo saudável que nos faz reconhecer o nosso potencial e também as nossas misérias. Partindo precisamente das nossas misérias, a humildade faz-nos desviar o olhar de nós mesmos e voltar o nosso olhar para Deus, Aquele que pode fazer tudo e também obtém para nós o que não podemos ter por nós mesmos”.

“A força dos humildes é o Senhor, não as estratégias, os meios humanos, as lógicas deste mundo”

“Neste sentido”, pondera o Papa, “Celestino V foi uma corajosa testemunha do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder poderia prendê-lo e administrá-lo. Nele admiramos uma Igreja livre das lógicas do mundo e testemunhamos plenamente o nome de Deus que é a Misericórdia.

A misericórdia

Há muitos século que L’Aquila, mantém vivo o dom que o próprio Papa Celestino V lhe deixou. “É o privilégio de lembrar a todos que com a misericórdia, e somente com a misericórdia, a vida de cada homem e de cada mulher pode ser vivida com alegria”.

“Misericórdia é a experiência de nos sentirmos acolhidos, restaurados, fortalecidos, curados, encorajados. Ser perdoado é experimentar aqui e agora o que mais se aproxima da ressurreição. O perdão vai da morte à vida, da experiência da angústia e da culpa à da liberdade e da alegria”

Compreender a dor dos outros

Falando aos presentes que sofreram por causa do terremoto de 2009, Francisco recordou que “aqueles que sofreram devem ser capazes de valorizar o seu próprio sofrimento, devem compreender que na escuridão que viveram, também lhes foi dado o dom de compreender a dor dos outros”. Recordando aos presentes:

“Vocês podem cuidar da misericórdia porque sofreram a experiência da miséria”

Refletindo que “todos na vida, sem necessariamente experimentar um terremoto, podem, por assim dizer, experimentar um ‘terremoto da alma’, que os coloca em contacto com a sua própria fragilidade, as suas próprias limitações, a sua própria miséria”. “Nesta experiência", disse, "pode-se perder tudo, mas também se pode aprender a verdadeira humildade. Nestas circunstâncias, a pessoa pode deixar-se enfurecer pela vida, ou pode aprender a mansidão”.

“Humildade e mansidão, portanto, são as características de alguém cuja tarefa é guardar e testemunhar a misericórdia”

Servir e não ser servido

Por fim o Papa recordou a todos os presentes:

O cristão sabe que a sua vida não é uma carreira à maneira deste mundo, mas uma carreira à maneira de Cristo, que dirá de si mesmo, que veio para servir e não para ser servido (cf. Mc 10, 45). Enquanto não compreendermos que a revolução do Evangelho reside neste tipo de liberdade, continuaremos a testemunhar guerras, violência e injustiça, que nada mais são do que o sintoma externo de uma falta de liberdade interior. Onde não há liberdade interior, egoísmo, individualismo, sobrepõem-se interesse próprio e opressão".

Vatican News

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Papa Francisco: a guerra é uma loucura de todos os lados

 
  Guerra na Ucrânia  
 
O Papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira recordou os seis meses de guerra na Ucrânia: "Penso em tanta crueldade, tantos inocentes que estão a pagar a loucura, a loucura de todos os lados porque a guerra é uma loucura e ninguém na guerra pode dizer: "não, eu não sou louco". A loucura da guerra".
 

Silvonei José - Vatican News

“Renovo o meu convite para implorar a paz do Senhor para o amado povo ucraniano que sofre o horror da guerra há seis meses”: palavras do Papa Francisco na conclusão da Audiência geral desta quarta-feira na Sala Paulo VI, no Vaticano. O Santo Padre fez votos de que sejam tomadas medidas concretas para acabar com a guerra e evitar o risco de um desastre nuclear em Zaporizhzhia.

Trago no meu coração os prisioneiros, especialmente aqueles em condições frágeis, e peço às autoridades responsáveis que trabalhem para a sua libertação e penso nas crianças, tantos mortos, tantos refugiados, temos aqui, são tantos, tantos feridos, tantas crianças ucranianas e crianças russas que se tornaram órfãs e a orfandade não tem nacionalidade, perderam o pai ou a mãe, sejam russos, sejam ucranianos.

 

 O Papa Francisco durante a Audiência geral 

 

Francisco fala de tanta crueldade:

Penso em tanta crueldade, tantos inocentes que estão a pagar a loucura, a loucura de todos os lados porque a guerra é uma loucura e ninguém na guerra pode dizer: "não, eu não sou louco". A loucura da guerra.

O Papa dirigiu o seu pensamento àquela pobre jovem que voou pelos ares devido a uma bomba colocada debaixo do assento do seu carro, em Moscovo. Os inocentes pagam pela guerra. Os inocentes.

Pensemos nesta realidade e digamos uns aos outros: a guerra é uma loucura. E aqueles que beneficiam tanto da guerra como do comércio de armas são criminosos, que matam a humanidade.

O pensamento de Francisco foi também para outros países que estão em guerra, como a Síria, há mais de 10 anos: “pensemos na guerra no Iemen, onde tantas crianças passam fome, pensemos nos Rohingya que viajam pelo mundo devido à injustiça de serem expulsos das suas terras”, disse o Papa.

Mas hoje, de maneira especial, seis meses desde o início da guerra, pensemos na Ucrânia e na Rússia, ambos os países que consagrei ao Imaculado Coração de Maria, que ela, Mãe, olhe para esses dois países amados, olhe para a Ucrânia, olhe para a Rússia, e que Ela nos traga a paz! Precisamos de paz!

 

  Sala Paulo VI  

Vatican News

domingo, 21 de agosto de 2022

O Papa: a porta estreita de Jesus torna-nos capazes de acolher a verdadeira vida

 

 O Papa Francisco no Angelus deste Domingo 

"A medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. Portanto, trata-se de uma porta estreita não porque seja destinada a poucos, mas porque ser de Jesus significa segui-lo, comprometer a vida no amor, no serviço e no dom de nós como Ele fez, que passou pela porta estreita da cruz", disse Francisco no Angelus deste domingo.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (21/08), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice recordou a passagem do Evangelho de Lucas da liturgia deste domingo, em que alguém pergunta a Jesus: "São poucos aqueles que se salvam?". E o Senhor responde: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita".

Segundo o Papa, "a porta estreita é uma imagem que poderia assustar-nos, como se a salvação fosse destinada apenas a poucos eleitos ou aos perfeitos. Mas isto contradiz o que Jesus ensinou em muitas ocasiões; e de facto, um pouco mais adiante, Ele afirma: "Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.". Portanto, essa porta é estreita, mas está aberta para todos! Não se esqueçam disto: a todos! A porta está aberta para todos!"

"Para entender melhor, é preciso interrogarmo-nos sobre o que é essa porta estreita. Jesus pega na imagem da vida daquela época e provavelmente refere-se ao facto de que, ao cair da noite, as portas da cidade eram fechadas e apenas uma, menor e mais estreita, permanecia aberta: para voltar para casa só se podia passar por ali", sublinhou Francisco.

A seguir, o Papa convidou a pensar no que Jesus diz: "Eu sou a porta: Quem entra por mim, será salvo".

Significa que para entrar na vida de Deus, na salvação, é preciso passar por Ele, não por outro, por Ele, acolhè-Lo e a sua palavra. Assim como para entrar na cidade era preciso "medir-se" com a única porta estreita que permanecia aberta, a do cristão é uma vida " à medida de Cristo", fundada e modelada Nele. Significa que a medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. Portanto, trata-se de uma porta estreita não porque seja destinada a poucos, mas porque ser de Jesus significa segui-lo, comprometer a vida no amor, no serviço e no dom de nós mesmos como Ele fez, que passou pela porta estreita da cruz.

Segundo o Papa, "entrar no projeto de vida que Deus nos propõe requer restringir o espaço do egoísmo, reduzir a presunção de autossuficiência, baixar a estatura da soberba e do orgulho, vencer a preguiça para atravessar o risco do amor, mesmo quando envolve a cruz".

Pensemos concretamente nos gestos de amor diários que realizamos com dificuldade: nos pais que se dedicam aos filhos fazendo sacrifícios e abrindo mão do tempo para si mesmos; nos que cuidam dos outros e não apenas dos próprios interesses, quantas pessoas são assim, boas; nos que se dedicam ao serviço dos idosos, dos mais pobres e dos mais frágeis; nos que trabalham com afinco, suportando dificuldades e talvez incompreensões; nos que sofrem por causa da fé, mas continuam a rezar e amando; nos que, em vez de seguir os seus instintos, respondem ao mal com o bem, encontram a força para perdoar e a coragem para recomeçar.

Estes "são alguns exemplos de pessoas que não escolhem a porta larga do seu próprio conforto, mas a porta estreita de Jesus, de uma vida passada no amor. Estes, diz hoje o Senhor, serão reconhecidos pelo Pai muito mais do que aqueles que acreditam que já foram salvos e, na realidade, são "trabalhadores da injustiça", disse ainda Francisco.

"Irmãos e irmãs, de que lado queremos estar? Preferimos o caminho fácil de pensar apenas em nós mesmos ou da porta estreita do Evangelho, que coloca em crise o nosso egoísmo, mas nos torna capazes de acolher a verdadeira vida que vem de Deus e nos torna felizes? De que lado estamos?", perguntou o Papa, pedindo para que "Nossa Senhora, que seguiu Jesus até à cruz, nos ajude a medira nossa vida Nele, para entrar na vida plena e eterna".

Vatican News

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Papa: a aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana

 
  Papa Francisco com uma criança na Audiência geral  
 
"Dar testemunho de fé diante de uma criança é semear aquela vida, dar testemunho de humanidade e de fé é a vocação dos idosos. Dar às crianças a realidade que viveram como testemunho, dar o testemunho. Nós, velhos, somos chamados a isso, a dar testemunho, para que elas o levem em frente." Sabedoria, idosos com o seu testemunho credível às crianças, às quais não se deve desmiticar a imagem de um Deus com cabelos brancos, que não é um símbolo bobo, mas uma imagem bíblica, nobre e terna.
 

Vatican News

“O testemunho dos idosos é credível para as crianças: os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem.”

São as últimas catequeses sobre a velhice, como anunciado pelo Papa na Audiência Geral da última quarta-feira. E na de hoje, Francisco de uma forma quase poética falou desta aliança entre os idosos e as crianças, aliança esta que salvará a família humana.

A sua inspiração baseia-se nas palavras do sonho profético de Daniel que evocam uma visão de Deus misteriosa e ao mesmo tempo esplêndida, e que são retomadas no Livro do Apocalipse e referem-se a Jesus Ressuscitado, que aparece ao Vidente como Messias, Sacerdote e Rei, eterno, omnisciente e imutável e diz-lhe: "Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos. " Assim – disse o Papa - a última barreira de temor e angústia que a teofania sempre despertou, desaparece: o que vive tranquiliza-nos:

Neste entrelaçamento de símbolos há um aspeto que talvez nos ajude a entender melhor a ligação desta teofania com o ciclo da vida, o tempo da história, o senhorio de Deus sobre o mundo criado. E este aspeto tem a ver precisamente com a velhice.

 

 Sala Paulo VI - Audiência geral 

De facto, explicou, "a visão transmite uma impressão de vigor e força, nobreza, beleza e encanto. O vestido, os olhos, a voz, os pés, tudo é esplêndido. Os seus cabelos, porém, são cândidos: como a lã, como a neve. Como os de um idoso".

O termo bíblico mais comum para indicar ancião – acrescentou - é "zaqen": de "zaqan", que significa "barba":

O cabelo branco é o símbolo antigo de um tempo muito longo, de um passado imemorável, de uma existência eterna. Não devemos desmitificar tudo para as crianças: a imagem de um Deus idoso com cabelos brancos não é um símbolo bobo, é uma imagem bíblica, nobre e também terna. A figura que no Apocalipse está entre os castiçais de ouro sobrepõe-se à do "Antigo dos dias" da profecia de Daniel. É velho quanto toda a humanidade, e ainda mais. É antigo e novo como a eternidade de Deus.

O Santo Padre recorda que nas Igrejas Orientais, a festa da Apresentação do Senhor, celebrada em 2 de fevereiro, é uma das doze grandes festas do ano litúrgico. Ela destaca o encontro entre a humanidade, representada pelos idosos Simeão e Ana, com Cristo, o Senhor, o Filho eterno de Deus feito homem. "Um belo ícone dele pode ser admirado em Roma nos mosaicos de Santa Maria in Trastevere".

Na liturgia bizantina, o bispo reza com Simeão: 'Este é Aquele que nasceu da Virgem: é o Verbo, Deus de Deus, Aquele que se fez carne para nós e salvou o homem'. E continua: "Que se abra hoje a porta do céu: o Verbo eterno do Pai, tendo assumido um princípio temporal, sem deixar a sua divindade, é apresento por sua vontade ao templo da Lei pela Virgem Mãe, e o ancião o toma nos seus braços".

 Sala Paulo VI - Audiência geral 

O Papa recorda ainda as palavras que o bispo reza com Simeão na liturgia bizantina, palavras que expressam a profissão de fé dos quatro primeiros Concílios Ecuménicos, que são sagrados para todas as Igrejas. Mas – acrescentou - "o gesto de Simeão é também o mais belo ícone da especial vocação da velhice: apresentar as crianças que vêm ao mundo como um dom ininterrupto de Deus, sabendo que uma delas é o Filho gerado na intimidade mesma de Deus, antes de todos os séculos":

Assim, a velhice, encaminhada em direção de um mundo no qual finalmente poderá irradiar-se, sem obstáculos, o amor que Deus colocou na Criação, deve realizar este gesto de Simeão e de Ana, antes de partir:

A velhice deve dar testemunho - para mim este é o cerne, o mais central da velhice - a velhice deve dar testemunho às crianças da sua bênção: ela consiste na sua iniciação - bela e difícil - ao mistério de um destino à vida que ninguém pode aniquilar. Nem mesmo a morte. Dar testemunho de fé diante de uma criança é semear aquela vida, dar testemunho de humanidade e de fé é a vocação dos idosos. Dar às crianças a realidade que viveram como testemunho, dar o testemunho. Nós, velhos, somos chamados a isso, a dar testemunho, para que elas o levem em frente.

 

 Sala Paulo VI - Audiência geral 

E o testemunho dos idosos – salientou - é credível para as crianças: "os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem":

Quando a pessoa idosa abençoa a vida que lhe vem ao encontro, deixando de lado todo o ressentimento pela vida que está a partir, é irresistível.  Não é amargurado porque o tempo passa e ele está por partir, não. É com aquela alegria do bom vinho, do vinho que ficou bom com os anos. O testemunho dos idosos une as idades da vida e as próprias dimensões do tempo: passado, presente e futuro, porque eles não são a memória, são o presente e também a promessa. É doloroso - e prejudicial - ver que as idades da vida são concebidas como mundos separados, em competição entre elas, cada um tentando viver à custa do outro. E isto não está certo. A humanidade é antiga, muito antiga, se olharmos para o tempo do relógio. Mas o Filho de Deus, que nasceu de uma mulher, é o Primeiro e o Último de todos os tempos. Isto significa que ninguém fica fora da sua eterna geração, fora da sua maravilhosa força, fora da sua proximidade amorosa.

Então, do próprio Francisco, uma afirmação também profética: "A aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana":

A aliança - e digo, aliança - a aliança dos velhos e das crianças salvará a família humana. Onde as crianças, onde os jovens falam com os velhos, há um futuro; se não houver este diálogo entre velhos e jovens, o futuro não é claro. A aliança dos velhos e das crianças salvará a família humana. Poderíamos, por favor, devolver às crianças, que devem aprender a nascer, o testemunho terno dos idosos que possuem a sabedoria do morrer? Esta humanidade, que com todo o seu progresso parece-nos como um adolescente nascido ontem, será capaz de reavivar a graça de uma velhice que mantém firme o horizonte do nosso destino? A morte é certamente uma passagem difícil na vida, para todos nós: é uma passagem difícil. Todos nós partiremos, mas não é fácil. Mas a morte é também a passagem que encerra o tempo da incerteza e joga fora o relógio. Pois a beleza da vida, que não tem mais uma data de expiração, começa precisamente ali.

Vatican News

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O Papa Francisco: Magnificat, "o cântico da esperança"

 

  Papa Francisco no Angelus  (Vatican Media)  
 

No Angelus desta segunda-feira, Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, o Papa explicou o significado do Magnificat, o canto da Mãe de Jesus que nos foi transmitido pelo Evangelho de Lucas, que narra a obra de Deus na história e também anuncia uma inversão de valores, profetizando o que Jesus dirá. 

 

Silvonei José – Vatican News

“A Virgem Maria profetiza: profetiza que ter o primeiro lugar não é o poder, o sucesso e o dinheiro, mas o serviço, a humildade e o amor”. Foi o que disse o Papa Francisco no Angelus desta segunda-feira, Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria.

O Evangelho – disse Francisco - propõe-nos o diálogo entre Maria e a sua prima Isabel. “Quando Maria entra em casa e saúda Isabel, diz-lhe: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre". Estas palavras, cheias de fé, alegria e encanto, passaram a fazer parte da "Ave Maria". Cada vez que recitamos esta oração tão bonita e familiar, fazemos como Isabel: saudamos Maria e a bendizemos, porque ela traz-nos Jesus. Maria acolhe a bênção de Isabel e responde com o cântico, um presente para nós, para toda a história, o Magnificat. é um canto de louvor, que poderíamos definir como "o cântico da esperança".

É um hino de louvor e exultação pelas grandes coisas que o Senhor realizou nela, mas Maria vai mais longe:

“Contempla a obra de Deus em toda a história do seu povo. Diz, por exemplo, que o Senhor "derrubou do trono os poderosos, exaltou os humildes, saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos".

 

  Angelus Praça São Pedro  

Pequena e humilde

Mas quer-nos dizer algo de mais importante”, destaca o Papa Francisco:

Ela, pequena e humilde, foi elevada e – festejamos hoje – levada à glória do Céu, enquanto os poderosos do mundo estão destinados a permanecer de mãos vazias. Nossa Senhora, noutras palavras, anuncia uma mudança radical, uma inversão de valores. Enquanto fala com Isabel tendo Jesus no ventre, antecipa o que o seu Filho dirá, quando proclamará bem-aventurados os pobres e humildes e advertirá os ricos e os que confiam na sua própria autossuficiência.

A Virgem, portanto, profetiza que a ter o primeiro lugar não é o poder, o sucesso e o dinheiro, mas o serviço, a humildade e o amor. "Olhando para ela na glória, compreendemos que o verdadeiro poder é o serviço e que reinar significa amar. E que este é o caminho para o céu".

Francisco destaca que a inversão profética anunciada por Maria toca a vida de cada um de nós se acreditamos “que amar é reinar e servir é poder. Que a meta do meu viver é o Céu, o paraíso? Ou preocupo-me somente com coisas terrenas, materiais? E ainda, observando os acontecimentos do mundo, deixo-me tomar pelo pessimismo ou, como a Virgem, sei perceber a obra de Deus que, com mansidão e pequenez, realiza grandes coisas?

 

 Angelus Praça São Pedro 

Maria canta a esperança

“Maria, hoje canta a esperança e reacende em nós a esperança: nela vemos a meta do caminho: ela é a primeira criatura que com tudo de si, de corpo e alma, chega vitoriosa à meta do Céu”.

Maria - continuou o Papa -, “mostra-nos que o Céu está ao alcance da mão, se também nós não cedermos ao pecado, louvarmos a Deus com humildade e servirmos aos outros com generosidade.

Não ceder ao pecado. Mas, alguém pode dizer: "Mas, padre, eu sou fraco" - "Mas o Senhor está sempre perto de ti, pois é misericordioso". Não se esqueçam qual é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Sempre perto de nós com o seu estilo.

O Papa Francisco concluiu afirmando que Maria, nossa Mãe, “toma-nos pela mão, acompanha-nos à glória, convida-nos a regozijar-nos pensando no paraíso. Bendigamos Maria com a nossa oração e peçamos-lhe um olhar profético, capaz de vislumbrar o Céu na terra”.

Vat5ican News

domingo, 14 de agosto de 2022

Papa: a fé verdadeira é um fogo aceso para nos manter despertos e laboriosos

 
  Papa Francisco na janela do apartamento pontifício para o Angelus  (Vatican Media)  
 
"Nas nossas comunidades arde o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou arrastamo-nos no cansaço e no hábito?", questionou o Papa, recordando que a fé não é uma "canção de ninar" que nos embala para nos fazer adormecer. Antes pelo contrário, devemos ser inflamados pelo fogo do amor de Deus com o desejo de lançá-lo no mundo, para que cada um possa descobrir a ternura do Pai e experimentar a alegria de Jesus, que dilata o coração e torna a vida mais bela! 
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"O Evangelho não deixa as coisas como estão; quando passa e é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão."

A passagem de Lucas do Evangelho deste XX Domingo do Tempo Comum: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!", inspirou a reflexão do Papa no Angelus dominical. E logo no início da sua locução, dirigindo-se aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, perguntou "de que fogo" Jesus está a falar e qual o significado das suas palavras para nós, hoje.

Jesus - explicou Francisco - veio trazer o Evangelho ao mundo, a boa nova do amor de Deus. Neste sentido, o Evangelho "é como um fogo, porque se trata de uma mensagem que, quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios de viver, desafia a sair do individualismo, a vencer o egoísmo, a passar da escravidão do pecado e da morte para a nova vida do Ressuscitado."

O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão

Ou seja, o Evangelho não deixa as coisas como estão, "quando passa, é ouvido e recebido, as coisas não permanecem como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão:

Não oferece uma falsa paz intimista, mas acende uma inquietude que nos coloca a caminho, impele a abrirmo-nos a Deus e aos irmãos. É precisamente como o fogo: enquanto nos aquece com o amor de Deus, quer queimar os nossos egoísmos, iluminar os lados obscuros da vida - todos os temos - , consumir os falsos ídolos que nos escravizam.

Fogo do Espírito Santo transforma e purifica

E como Jesus é inflamado por esse fogo do amor de Deus, entrega-se na primeira pessoa, até à morte e de cruz, para fazê-lo arder no mundo:

“Ele está cheio do Espírito Santo, que é comparado ao fogo, e com a sua luz e a sua força, revela o rosto misericordioso de Deus e dá plenitude aos que são considerados perdidos, derruba as barreiras das marginalizações, cura as feridas do corpo e da alma, renova uma religiosidade reduzida a práticas externas. Por isso é fogo: transforma, purifica”

Mas, "o que significa para nós então essa palavra de Jesus, do fogo?", perguntou o Santo Padre:

Ela convida-nos a reacender a chama da fé, para que ela não se torne uma realidade secundária, ou um meio de bem-estar individual, que nos faz fugir dos desafios da vida e do compromisso na Igreja e na sociedade.

Fé não é uma "canção de ninar", é fogo

Francisco então cita um teólogo, que dizia que "a fé em Deus não nos conforta como gostaríamos", ou seja, dando-nos uma "ilusão paralisante ou uma satisfação serena, mas permitir-nos agir":

“A fé, em suma, não é uma "canção de ninar" que nos embala para nos fazer adormecer. A fé verdadeira é um fogo, um fogo aceso para nos manter despertos e laboriosos mesmo durante a noite!”

Baseado nisso, o Papa propõe alguns questionamentos:

Sou apaixonado pelo Evangelho? Leio o Evangelho com frequência? Levo-o comigo? A fé que professo e celebro coloca-me numa tranquilidade bem-aventurada ou acende em mim o fogo do testemunho? Podemos questoinar sobre isto, também como Igreja: nas nossas comunidades arde o fogo do Espírito, a paixão pela oração e pela caridade, a alegria da fé, ou arrastamo-nos no cansaço e no hábito, com o rosto embotado e a lamentação nos lábios e as fofocas a cada dia?

Deixar-se inflamar pelo fogo do amor de Deus

E então, o convite para examinarmos na nossa vida, se "somos inflamados pelo fogo do amor de Deus e queremos "lançá-lo" no mundo, levá-lo a todos, para que cada um possa descobrir a ternura do Pai e experimentar a alegria de Jesus, que dilata o coração e torna a vida bela.

Ao concluir,  o pedido a rezar à Virgem Santa nesta intenção: "Que ela, que acolheu o fogo do Espírito Santo, interceda por nós."

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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Papa: a existência na terra é o tempo da iniciação à vida, que só encontra realização em Deus

 
  Papa Francisco na Sala Paulo VI para a Audiência Geral  
 
 "Uma velhice que é consumida no desânimo das oportunidades perdidas causa desânimo a si próprio e a todos. Ao contrário, a velhice vivida com mansidão e respeito pela vida real dissolve definitivamente a incompreensão de um poder que deve ser suficiente para si e para o próprio sucesso."
 

Vatican News

"A velhice é nobre, não precisa usar maquilhagem para mostrar a sua nobreza". Depois da pausa no mês de julho e da reflexão na última semana dedicada à sua Viagem Apostólica ao Canadá, o Papa Francisco retomou na Audiência Geral desta quarta-feira as suas catequeses - as últimas - sobre a velhice, "tempo projetado para a realização".

Numa Sala Paulo VI repleta de fiéis, Francisco começou por explicar que o Evangelho de São João faz-nos entrar na comovente intimidade do momento em que Jesus se despede dos seus, com palavras de consolação e com uma promessa. O tempo de vida que resta aos discípulos será marcado por fragilidades e desafios, mas também pelas bênçãos oriundas da fé na promessa do Senhor.

Com a chegada da velhice, uma vez que as obras da fé não dependem mais da energia e do ímpeto característicos da juventude e da idade adulta, chega também o tempo propício para o testemunho desta espera no cumprimento da promessa, que constitui o nosso verdadeiro destino: um lugar à mesa com Deus, nos céus.

"Seria interessante - disse o Papa - ver se existe alguma referência específica nas Igrejas locais, destinada a revitalizar este ministério especial da espera no Senhor, encorajando os carismas individuais e as qualidades comunitárias da pessoa idosa", e faz uma observação:

“Uma velhice que é consumida no desânimo das oportunidades perdidas causa desânimo a si próprio e a todos. Ao contrário, a velhice vivida com mansidão, vivida com respeito pela vida real dissolve definitivamente a incompreensão de um poder que deve ser suficiente para si e para o próprio sucesso. Dissolve até a incompreensão de uma Igreja que se adapta à condição do mundo, pensando assim que governa definitivamente a sua perfeição e realização.”

Quando nos libertamos desta presunção - disse o Santo Padre - o tempo do envelhecimento que Deus nos concede já é em si mesmo uma daquelas obras “maiores” de que Jesus fala:

Recordemos que “o tempo é superior ao espaço”. É a lei da iniciação. A nossa vida não se destina a fechar-se em si mesma, numa perfeição terrestre imaginária: está destinada a ir além, através da passagem da morte, porque a morte é uma passagem. Na verdade, o nosso lugar estável, o nosso ponto de chegada não é aqui, é ao lado do Senhor, onde Ele habita para sempre.

Em suma, na terra “somos aprendizes da vida”,  aqui começa o processo do nosso "noviciado", diz o Pontífice, “que, no meio de mil dificuldades, aprendendo a apreciar o dom de Deus, honrando a responsabilidade de o partilhar e de o fazer frutificar para todos”. E “o tempo da vida na terra é a graça desta passagem”.

A presunção de parar o tempo - disse o Papa - “querer juventude eterna, a riqueza ilimitada, poder absoluto”, não só é impossível, mas também delirante.

“[ A nossa existência na terra é o tempo da iniciação à vida: é vida, mas que te leva em frente a uma vida plena, a iniciação daquela vida mais plena, que só encontra realização em Deus. Somos imperfeitos desde o início e continuamos imperfeitos até ao fim. No cumprimento da promessa de Deus, a relação inverte-se: o espaço de Deus, que Jesus nos prepara com todos os cuidados, é superior ao tempo da nossa vida mortal. Eis: a velhice aproxima a esperança desta realização. A velhice conhece definitivamente o significado do tempo e as limitações do lugar em que vivemos a nossa iniciação. A velhice é sábia por isso, os idosos são sábios por isso. Por isso é credível quando nos convida a regozijarmo-nos com o passar do tempo: não é uma ameaça, é uma promessa. A velhice é nobre, não precisa de se maquilhar para mostrar a própria nobreza. Talvez a maquilhagem venha quando falta a nobreza.]”

Na velhice há "a profundidade do olhar da fé". "O mundo de Deus é um espaço infinito, sobre o qual a passagem do tempo já não tem qualquer peso (...). Na nossa pregação, o Paraíso é muitas vezes, com razão, cheio de felicidade, luz e amor. Talvez lhe falte um pouco de vida. Nas parábolas, Jesus falava do Reino de Deus, dando-lhe mais vida. Será que já não somos capazes de o fazer?", pergunta Francisco.

Ao concluir, o Papa oferece uma síntese da sua catequese sobre a terceira idade, vista na perspetiva da passagem para a vida eterna:

A velhice é a fase da vida mais adequada para difundir a boa notícia de que a vida é uma iniciação para uma realização definitiva. Os velhos são uma promessa, um testemunho de promessa. E o melhor ainda está por vir. O melhor ainda está por vir. É como a mensagem do velho e da velha que acreditam, o melhor ainda está por vir. Deus nos conceda a todos uma velhice capaz disso. Obrigado!

Vatican News

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O Papa: viagem ao Canadá, nova página do caminho da Igreja com os povos indígenas

 
 
A peregrinação penitencial do Papa Francisco ao Canadá: foi o tema da Audiência Geral desta quarta-feira (03). Reflexões sobre a memória, reconciliação e cura, concluindo com a esperança e a procura de um equilíbrio saudável entre a modernidade e as culturas ancestrais
 

Jane Nogara - Vatican News

Na Audiência Geral desta quarta-feira (03), a primeira depois da pausa durante o mês de julho, o Papa Francisco entrou na Sala Paulo VI caminhando, sem a cadeira de rodas que o acompanhou nos últimos meses e partilhou com os presentes algumas reflexões sobre a recente viagem apostólica ao Canadá. Explicando a motivação disse: “Foi uma viagem diferente de qualquer outra. Com efeito, a principal motivação era encontrar os povos originais para lhes expressar a minha proximidade e tristeza, e pedir perdão pelo mal que lhes foi causado por aqueles cristãos, incluindo muitos católicos, que no passado colaboraram nas políticas de assimilação forçada e de resgate dos governos daquela época”.

Uma nova página

Depois de afirmar que com a viagem ao Canadá inicia uma nova página do caminho que a Igreja percorre com os povos indígenas, o Papa recordou que o lema da viagem “Caminhar juntos” mostra este objetivo.

“Um caminho de reconciliação e cura, que pressupõe conhecimento histórico, escuta dos sobreviventes, consciência e sobretudo conversão e mudança de mentalidade”

Recordando sempre os muitos defensores dos povos indígenas e da sua cultura, mas, “por outro lado, infelizmente, não faltaram aqueles que participaram em programas que hoje compreendemos que são inaceitáveis e contrários ao Evangelho”, disse o Papa.

Peregrinação penitencial

Portanto – continuou - foi uma peregrinação penitencial. Houve muitos momentos de alegria, mas o sentido e o tom geral foram de reflexão, arrependimento e reconciliação. Francisco explicou que “juntos fizemos memória: a boa memória milenar da história destes povos, em harmonia com a sua terra, e a dolorosa memória dos abusos que sofreram, até nas escolas residenciais, por causa das políticas de assimilação cultural”.  

“Após a memória – continuou - o segundo passo no nosso caminho foi o da reconciliação. Não um compromisso entre nós - isso seria uma ilusão, uma encenação - mas um deixar-nos reconciliar por Cristo, que é a nossa paz. Fizemo-lo tomando como referência a figura da árvore, central para a vida e a simbologia dos povos indígenas".

Cura

“Memória, reconciliação e, por fim, cura. Demos este terceiro passo do caminho nas margens do lago de Santa Ana, precisamente nos dias da festa dos Santos Joaquim e Ana.

“Todos nós podemos haurir de Cristo, fonte de água viva, e ali, em Jesus, vimos a proximidade do Pai que nos dá a cura das feridas e também o perdão dos pecados”

Esperança

“Deste percurso de memória, reconciliação e cura nasce a esperança para a Igreja, no Canadá e em toda a parte. Os discípulos de Emaús - disse Francisco - caminharam com Jesus ressuscitado: com Ele e graças a Ele passaram do fracasso à esperança”. 

Promover as culturas originais

Seguidamente o Papa retoma o percurso da viagem recordando que o caminho com os povos indígenas foi a espinha dorsal desta viagem apostólica: “Nela se inserem os dois encontros com a Igreja local e com as Autoridades do país. “Perante os Governantes, os Líderes indígenas e o Corpo diplomático, reafirmei a vontade ativa da Santa Sé e das Comunidades católicas locais de promover as culturas originais, com caminhos espirituais apropriados e com atenção aos costumes e línguas dos povos”.

Recuperar equilíbrio saudável

Depois de observar que a mentalidade colonizadora está hoje presente em várias formas de colonização ideológica, ameaçando as tradições e nivelando as diferenças, e principalmente negligenciando frequentemente os deveres para com os mais débeis e frágeis afirmou:

“Trata-se, portanto, de recuperar um equilíbrio saudável, uma harmonia entre a modernidade e as culturas ancestrais, entre a secularização e os valores espirituais”

"E isto desafia diretamente a missão da Igreja, enviada a todo o mundo para testemunhar e “semear” uma fraternidade universal que respeita e promove a dimensão local com as suas múltiplas riquezas”. 

Por fim Francisco disse que o “no sinal de esperança, foi o último encontro, na terra dos Inuits, com jovens e idosos. E asseguro-lhes - continuou - que nestes encontros, especialmente no último, tive que sentir como uma bofetada a dor daquelas pessoas, o quanto elas perderam ... os idosos que perderam os seus filhos e não sabiam onde foram eles  parar, por causa desta política de assimilação. Foi um momento muito doloroso, mas era preciso encarar de frente: temos que encarar de frente os nossos erros, os nossos pecados". 

Até no Canadá este é um binómio-chave, um sinal dos tempos: jovens e idosos em diálogo para caminhar juntos na história entre memória e profecia”. O Papa concluiu dizendo: "Que a fortaleza e a ação pacífica dos povos indígenas do Canadá sejam um exemplo a fim de que todos os povos nativos não se fechem, mas ofereçam a sua indispensável contribuição para uma humanidade mais fraterna, que saiba amar a criação e o Criador".

Vatican News

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Papa pede orações pelo "valor, esforço e sacrifício" dos pequenos e médios empresários

 
 
No vídeo de intenção de oração que Francisco confia a toda a Igreja para este mês de agosto, o convite para rezar pelos pequenos e médios empresários. Aqueles que, por exemplo, têm um comércio ou uma loja "investem na vida, gerando bem-estar, oportunidades e trabalho". Sublinhando o impacto negativo que a crise tem nas pequenas e médias empresas 
 

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Foi divulgado o Vídeo do Papa com as inteções de Oração para agosto, confiado por Francisco à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. Este mês, o Santo Padre reza "para que os pequenos e médios empresários, duramente atingidos pela crise económica e social, possam encontrar os meios necessários para continuar as suas atividades ao serviço das comunidades em que vivem".

A crise que estamos a atravessar 

"Como resultado da pandemia e das guerras, o mundo enfrenta uma grave crise socio-económica", diz o Papa, salientando que os pequenos e médios empresários estão entre os mais atingidos. De acordo com dados do Banco Mundial de 2021, uma em cada quatro empresas perdeu metade do seu volume de negócios devido à pandemia. Além disso, o apoio público é fraco precisamente onde ele é mais necessário: nos países pobres e para as pequenas empresas. 

Neste sentido, o Papa Francisco elogia aqueles que "com coragem, esforço e sacrifício, investem na vida, gerando bem-estar, oportunidades e trabalho". Os pequenos e médios empresários incluem aqueles que gerenciam uma loja, um restaurante ou uma oficina. Mas também aqueles que trabalham na limpeza ou no transporte, artesãos, entre muitos outros. São "aqueles que não aparecem nas listas dos mais ricos e poderosos e, apesar das dificuldades, criam empregos, mantendo a sua responsabilidade social". 

O Pe. Frédéric Fornos S.J., Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, comentou sobre esta intenção: "As crises que estamos a viver são - como diz o Papa - um 'momento Noé', uma oportunidade para construir algo diferente. Neste sentido, os pequenos e médios empresários são de grande importância, a sua força criativa, a sua capacidade de fornecer soluções a partir de baixo. Sem eles não teria sido possível atravessar a crise da pandemia de Covid, e eles continuam mais necessários do que nunca. É por isso que é importante rezar por eles".

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