domingo, 31 de outubro de 2021

O Papa: a Palavra de Deus deve ser “ruminada”, deve atingir todos os âmbitos da vida

 
 
 
Francisco disse na alocução que precedeu a oração do Angelus, que a Palavra de Deus "deve ressoar, ecoar dentro de nós. Quando há este eco interior, significa que o Senhor habita no coração". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (31/10), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice ressaltou que o Evangelho fala de um escriba que se aproxima de Jesus e lhe pergunta: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" Jesus responde, citando as Escrituras e afirma que o primeiro mandamento é amar a Deus. A partir daqui, como consequência natural, segue-se o segundo mandamento: amar o próximo como a mim mesmo.

Segundo Francisco, "ouvindo esta resposta, o escriba não só a reconhece como justa, mas ao fazê-lo repete quase as mesmas palavras proferidas por Jesus: "Muito bem, Mestre! É verdade que amá-lo com todo o coração, com toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a mim mesmo, é melhor do que todos os holocaustos e os sacrifícios".

A Palavra de Deus deve ser “ruminada”

"Porque ao dar o seu assentimento, o escriba sente a necessidade de repetir as mesmas palavras de Jesus? Esta repetição parece ainda mais surpreendente se pensarmos que estamos no Evangelho de Marcos, que tem um estilo muito conciso. Então, qual é o sentido desta repetição? Perguntou o Papa.

É um ensinamento para nós que ouvimos, porque a Palavra do Senhor não pode ser recebida como uma notícia qualquer: ela deve ser repetida, assimilada, custodiada. A tradição monástica usa um termo ousado, mas muito concreto: a Palavra de Deus deve ser “ruminada”. Podemos dizer que é tão nutritiva que deve atingir todos os âmbitos da vida: envolver, como diz Jesus hoje, todo o coração, toda a alma, toda a mente, toda a força. Ela deve ressoar, ecoar dentro de nós. Quando há este eco interior, significa que o Senhor habita no coração. E nos diz, como àquele bom escriba do Evangelho: " Não estás longe do Reino de Deus."

Familiarizarmo-nos com o Evangelho

De acordo com o Papa, "o Senhor não procura hábeis comentadores das Escrituras, mas sim corações dóceis que, ao acolherem a sua Palavra, se deixam mudar por dentro. Por isso, é tão importante familiarizarmo-nos com o Evangelho, tê-lo sempre à mão, ter um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, para ler e reler, apaixonando-nos por ele".

Quando fazemos isto, Jesus, a Palavra do Pai, entra no nosso coração, torna-se íntimo e nós damos fruto nele. Tomemos o Evangelho de hoje como exemplo: não basta lê-lo e entender que é preciso amar a Deus e ao próximo. É necessário que este mandamento, o "grande mandamento", ressoe dentro de nós, seja assimilado, torne-se a voz da nossa consciência. Então não permanece letra morta, na gaveta do coração, porque o Espírito Santo faz germinar em nós a semente dessa Palavra, e a Palavra de Deus age, está sempre em movimento, é viva e eficaz. Assim, cada um de nós pode tornar-se uma "tradução" viva, diferente e original, da única Palavra de amor que Deus nos doa. Vemos isto na vida dos santos, por exemplo: nenhum é igual ao outro, são todos diferentes, mas todos com a mesma Palavra de Deus.

O Papa convidou a tomar "o exemplo do escriba. Repitamos as palavras de Jesus, façamos que ressoem em nós: «Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com toda a força e ao próximo como a mim mesmo». E perguntemo-nos: este mandamento orienta realmente a minha vida? Isto reflete-se nos meus dias? Far.nos-á bem hoje à noite, antes de dormir, fazer um exame de consciência sobre esta Palavra, ver se hoje amamos o Senhor e doamos um pouco de bem a quem encontramos. Que todo o encontro seja para doar um pouco de bem, um pouco de amor que vem dessa Palavra. Que a Virgem Maria, na qual o Verbo de Deus se fez carne, nos ensine a acolher no coração as palavras vivas do Evangelho".

Vatican News

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O Papa: o Espírito muda o coração, a burocracia impede o acesso à graça do Espírito

 
 
"A pregação de S. Paulo é totalmente centrada em Jesus e no seu mistério pascal. Aos Gálatas, tentados a basear a sua religiosidade na observância de preceitos e tradições, ele recorda o centro da salvação e da fé: a morte e ressurreição do Senhor", sublinhou Francisco.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de S. Paulo aos Gálatas na Audiência Geral, desta quarta-feira (27/10), na Sala Paulo VI, no Vaticano, sobre o tema "O fruto do Espírito".

"A pregação de S. Paulo é totalmente centrada em Jesus e no seu mistério pascal. Aos Gálatas, tentados a basear a sua religiosidade na observância de preceitos e tradições, ele recorda o centro da salvação e da fé: a morte e ressurreição do Senhor", sublinhou Francisco.

Segundo o Papa, "ainda hoje, muitos procuram a certeza religiosa em vez do Deus vivo e verdadeiro, concentrando-se em rituais e preceitos em vez de abraçar o Deus do amor com todo o seu ser. Esta é a tentação dos novos fundamentalistas, daqueles que têm medo de seguir adiante no caminho e voltam atrás porque se sentem inseguros. Procuram a segurança de Deus e não o Deus da segurança". S- Paulo pede aos Gálatas para que voltem ao essencial, ao Deus que nos dá a vida em Cristo crucificado. Ele testemunha isto na primeira pessoa: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».

Obras da carne e fruto do Espírito

A seguir, o Papa fez a seguinte pergunta: "O que acontece quando encontramos Jesus Crucificado na oração? Acontece o que aconteceu sob a cruz: Jesus entrega o Espírito, ou seja, doa a sua própria vida."

O Espírito, que flui da Páscoa de Jesus, é o princípio da vida espiritual. É Ele que muda o coração: não as nossas obras. É Ele que muda o coração, não as coisas que fazemos, mas a ação do Espírito Santo em nós! É ele quem guia a Igreja, e nós somos chamados a obedecer à sua ação, que vai para onde e como ele quiser. Além disto, foi a constatação de que o Espírito Santo descia sobre todos e que a sua graça agia sem exclusão que convenceu também os mais relutantes dos Apóstolos de que o Evangelho de Jesus era destinado a todos e não a uns poucos privilegiados.

“Aqueles que procuram segurança, o pequeno grupo, afastam-se do Espírito, não deixam a liberdade do Espírito entrar neles. Assim, a vida da comunidade regenera-se no Espírito Santo; e é sempre graças a Ele que alimentamos a nossa vida cristã e continuamos a nossa luta espiritual.”

Segundo o Papa, o combate espiritual é outro grande ensinamento da Carta aos Gálatas. O Apóstolo apresenta duas frentes opostas: por um lado as «obras da carne», por outro o «fruto do Espírito». "Quais são as obras da carne?", perguntou Francisco. "São comportamentos contrários ao Espírito de Deus. Carne é uma palavra que indica o homem na sua dimensão terrena, fechado em si mesmo, numa vida horizontal, onde os instintos mundanos são seguidos e a porta fecha-se ao Espírito, que nos eleva e nos abre a Deus e aos outros. Mas a carne também nos lembra que tudo isto envelhece e passa, apodrece, enquanto o Espírito dá vida. Paulo enumera as obras da carne, que se referem ao uso egoísta da sexualidade, a práticas mágicas que são idolatrias e ao que mina as relações interpessoais, como «contendas, ciúmes, iras, rixas, discórdias, partidos…» Tudo isto é fruto da carne, de um comportamento apenas humano, doentiamente humano. Um ser humano tem os seus valores, mas isto é doentiamente humano."

O fruto do Espírito, ao contrário, é «caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança». Os cristãos, que no batismo se revestiram «de Cristo», são chamados a viver deste modo. Pode ser um bom exercício espiritual ler a lista de S, Paulo e observar a própria conduta, para verificar se corresponde, se a nossa vida está verdadeiramente de acordo com o Espírito Santo, se dá estes frutos. Por exemplo, os três primeiros são amor, paz e alegria: por eles se reconhece se uma pessoa é habitada pelo Espírito. Uma pessoa que está em paz, que é alegre e ama. Com esses três traços, vemos o Espírito.

Tanta burocracia para dar um sacramento

Segundo o Papa, "este ensinamento do Apóstolo é um grande desafio para as nossas comunidades". Por vezes, aqueles que se aproximam da Igreja têm a impressão de estarem perante uma grande quantidade de comandos e preceitos. Isto não é a Igreja, pode ser qualquer associação. Na realidade, a beleza da fé em Jesus Cristo não pode ser apreendida com base em demasiados mandamentos e numa visão moral que, desenvolvendo-se em muitas correntes, pode fazer-nos esquecer a fecundidade original do amor, alimentado pela oração que doa a paz e pelo testemunho jubiloso".

“A vida do Espírito expressa nos sacramentos não pode ser abafada por uma burocracia que impede o acesso à graça do Espírito, autor da conversão do coração. Quantas vezes nós padres ou bispos, fazemos tanta burocracia para dar um sacramento, para acolher as pessoas, e as pessoas dizem: "Não, eu não gosto disso", e vão-se embora. Não veem em nós, muitas vezes, a força do Espírito que regenera, que nos faz novos.”

Rumo à Cop26

Depois da catequese, o Papa saudou os peregrinos de língua inglesa, “especialmente os jovens de vários países envolvidos na COP26 de Glasgow e grupos dos Estados Unidos”. “Sobre todos vós e vossas famílias invoco a alegria e a paz do Senhor”, disse Francisco.

"Sim à vida"

Saudando os fiéis polacos, Francisco recordou que a pedido de uma fundação no país chamada "Sim à vida", abençoou nesta quarta-feira os sinos com o nome "A voz dos nascituros".

Eles têm como destino o Equador e a Ucrânia. Para estas nações e para todos, são um sinal de compromisso a favor da defesa da vida humana desde a concepção até a morte natural. Que o seu som", afirmou o Papa, "anuncie ao mundo o «Evangelho da vida», desperte a consciência dos homens e a memória dos nascituros. Confio à sua oração cada criança concebida, cuja vida é sagrada e inviolável.

Vatican News

domingo, 24 de outubro de 2021

Papa: pedir tudo a Jesus, pois Ele tudo pode

 
 
A exemplo de Bartimeu, ter uma fé concreta, insistente e corajosa - exortou o Papa - expondo com confiança o coração diante do Senhor e levando-Lhe a nossa história e os rostos que fazem parte da nossa vida.
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocos, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, deve ser pedido tudo. Ele não vê a hora para derramar a sua graça e a sua alegria nos nossos corações”.

A fé concreta, insistente e corajosa de Bartimeu foi-nos apresentada como exemplo pelo Papa Francisco, ao refletir no Angelus deste 30º Domingo do Tempo Comum sobre a narrativa apresentada no Evangelho de Marcos (Mc 10, 46-52).

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça S. Pedro, num belo domingo de outono, o Papa começa por destacar a importância deste encontro entre Bartimeu - “um cego que mendiga ao longo do caminho” – e Jesus, que se preparava para entrar em Jerusalém para a Páscoa.

A fé, raiz do milagre

Se os gritos de Bartimeu "Filho de David, Jesus, tem piedade de mim" incomodaram a multidão e os apóstolos, não passaram despercebidos a Jesus, apercebendo-se que a sua voz “é cheia de fé, uma fé que não tem medo de insistir, de bater no coração de Deus, apesar da incompreensão e repreensões. E aqui – ressaltou o Papa - está a raiz do milagre. Na verdade, Jesus disse-lhe: ‘A tua fé te curou’”.

Ou seja, “a fé de Bartimeu, transparece pela sua oração. Não é uma oração tímida, uma oração convencional. Antes de tudo, ele chama o Senhor de "Filho de David", isto é, reconhece-o como Messias, o Rei que vem ao mundo. Depois chama-o pelo nome, com confiança: "Jesus". Não tem medo dele, não se distancia. E assim, de coração, grita ao Deus amigo todo o seu drama: 'Tem piedade de mim!'".

Não pede alguns trocos como faz com os transeuntes. Não, não. Aquele que tudo pode, pede tudo. Às pessoas pede trocos, a Jesus, que pode fazer tudo, pede tudo: “Tem piedade de mim, tem piedade de tudo o que sou”. Não pede uma graça, mas apresenta-se a si mesmo: pede misericórdia para a sua pessoa, para a sua vida. Não é um pedido pequeno, mas é belíssimo, porque invoca a piedade, isto é, a compaixão, a misericórdia de Deus, a sua ternura.

Apresentarmo-nos inteiramente ao Senhor, como somos

“Bartimeu não usa muitas palavras - recorda Francisco -  diz o essencial e confia-se no amor de Deus, que pode fazer a sua vida voltar a florescer realizando o que é impossível aos homens”:

Por isso, não pede esmola ao Senhor, mas manifesta tudo, a sua cegueira e o seu sofrimento, que iam além do não poder ver. A cegueira era a ponta do iceberg, mas no seu coração haveria feridas, humilhações, sonhos desfeitos, erros, remorsos. E ele rezava com o coração.

"E nós - pergunta o Papa - quando pedimos uma graça a Deus, colocamos também na oração a nossa própria história: as feridas, as humilhações, os sonhos desfeitos, os erros, os remorsos?"

E ao sugerir para fazermos nossa a oração “Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!”, o Papa exorta-nos a intyerrogarmo-nos: "Como vai a minha oração?":

É oração corajosa, tem a boa insistência coo aquela de Bartimeu, sabe "agarrar" o Senhor que passa, ou contenta-se em dar-lhe uma saudação formal de vez em quando, quando me lembro? Estas orações mornas não ajudam nada.

Fé viva, oração sincera

Depois – acrescentou Francisco - também podemos interrogarmo-nos se “a nossa oração é “substanciosa”, expõe o coração diante do Senhor: levo a ele a história e os rostos da minha vida? Ou é anémica, superficial, feita de rituais sem afeto e sem coração?“:

Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocos, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, tudo deve ser pedido. Não se esqueçam disto. A Jesus que tudo pode, deve ser pedido tudo, com insistência diante d'Ele. Ele não vê a hora para derramar sua graça e sua alegria nos nossos corações, mas infelizmente somos nós que mantemos distância, talvez por timidez, ou preguiça ou descrença. Tantos de nós, quando rezamos, não acreditamos que o Senhor possa realizar o milagre.

Oração insistente e corajosa

Para ilustrar o resultado de uma oração insistente e expectante, o Papa voltou a contar uma história ocorrida quando era arcebispo na Argentina: com a filha pequena desenganada pelos médicos, um pai viajou 70 km de autocarro até um Santuário mariano. Mesmo estando fechado, ele passou a noite agarrado às grades do portão rezando e clamando: "Senhor, salva-a. Senhor, dá a ela a vida". Ao voltar ao hospital na manhã seguinte, encontrou a esposa que chorava, mas não de tristeza: "Não se entende, não se entende. Os médicos dizem algo estranho: parece curada".

"Aquele grito daquele homem que pedia tudo, foi ouvido pelo Senhor que lhe tinha dado tudo", disse o Papa, acrescentando: "Esta não é uma história, eu vi isto"!:

“Mas temos coragem na oração? Peçamos tudo àquele que pode dar tudo, como Bartimeu, que é um grande mestre, um grande mestre na oração nisto.”

Que Bartimeu – disse ao concluir - seja um exemplo para nós com a sua fé concreta, insistente e corajosa. E que Nossa Senhora, a Virgem orante, nos ensine a dirigirmo-nos a Deus de todo o coração, confiando que Ele escuta atentamente cada oração.

Vatican News

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Francisco: a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade

 

 
"Este menino teve a liberdade de se aproximar e mover-se como se estivesse em casa", disse o Papa, agradecendo ao "menino pela lição que nos deu a todos. Que o Senhor o ajude na sua limitação, no seu crescimento, porque ele deu este testemunho que veio do seu coração".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"A liberdade realiza-se na caridade" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (20/10). O pontífice deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas.

Uma criança aproximou-se do Papa e o Pontífice aproveitou a ocasião para recordar o que Jesus diz a propósito da espontaneidade e da liberdade das crianças. O menino italiano de 10 anos que se aproximou do Papa chama-se Paolo Jr. Ele superou as barreiras de segurança, na Sala Paulo VI, e foi tranquilamente em direção ao Santo Padre. Paolo sofre de atraso cognitivo. Veio a Roma com a sua família de San Ferdinando di Puglia e participou na Audiência Geral.

"Este menino teve a liberdade de se aproximar e mover.se como se estivesse em casa", disse o Papa, lembrando as palavras de Jesus: "Se vós não vos tornardes como crianças, não entrarão no Reino do Céu." Ter a "coragem de aproximar-me do Senhor, de estar aberto ao Senhor, de não ter medo do Senhor.

Testemunho que vem do coração

Agradeço a este menino pela lição que nos deu a todos. Que o Senhor o ajude na sua limitação, no seu crescimento, porque ele deu este testemunho que veio do seu coração. As crianças não têm um tradutor automático do coração para a vida: o coração continua.

São Paulo, na sua Carta aos Gálatas, "introduz-nos gradualmente na grande novidade da fé. Renascidos em Cristo, passamos de uma religiosidade feita de preceitos para uma fé viva, que tem o seu centro na comunhão com Deus e com os irmãos, ou seja, na caridade. Passamos da escravidão do medo e do pecado para a liberdade dos filhos de Deus".

"A liberdade não é uma forma libertina de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas; pelo contrário, a liberdade de Jesus leva-nos a estar – escreve o Apóstolo – «ao serviço uns dos outros». A liberdade em Cristo tem alguma dimensão de escravidão, que nos leva ao serviço, a viver para os outros. Por outras palavras, a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Mais uma vez encontramo-nos perante o paradoxo do Evangelho: somos livres para servir; e não, de fazer o que queremos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos. Isto é Evangelho puro", sublinhou Francisco.

Não existe liberdade sem amor

"Mas como se pode explicar este paradoxo?", perguntou o Papa. A resposta do Apóstolo é simples e exigente: «mediante o amor».

Não existe liberdade sem amor. A liberdade egoísta de fazer o que eu quero não é liberdade, porque ela volta para si mesma. Não é fecunda. Foi o amor de Cristo que nos libertou e é ainda o amor que nos liberta da pior escravidão, a do nosso ego; por conseguinte, a liberdade cresce com o amor. Mas, atenção: não com o amor intimista, das novelas, não com a paixão que simplesmente procura o que nos convém e o que gostamos, mas com o amor que vemos em Cristo, a caridade: este é o amor verdadeiramente livre e libertador. 

O Papa frisou que "para Paulo a liberdade não significa “fazer o que nos apetece”. Este tipo de liberdade, sem um fim e sem referências, seria uma liberdade vazia. Uma liberdade de circo. E de facto deixa um vazio interior: quantas vezes, depois de termos seguido apenas o nosso instinto, nos damos conta de que ficamos com um grande vazio interior e que abusamos do tesouro da nossa liberdade, da beleza de poder escolher o verdadeiro bem para nós mesmos e para os demais. Só esta liberdade é plena, concreta, e nos insere na vida real de cada dia".

Recordar-me dos pobres

Na primeira Carta aos Coríntios, o Apóstolo responde àqueles que têm uma ideia errada de liberdade. «Tudo é lícito!», dizem eles. «Sim, mas nem tudo é benéfico», responde Paulo. «Tudo é lícito!» – «Sim, mas nem tudo edifica», objetou o Apóstolo. E acrescenta: «Ninguém procure o próprio interesse, senão os dos outros».

Esta é uma regra para desmascarar qualquer liberdade egoísta. Aqueles que são tentados a reduzir a liberdade apenas aos próprios gostos, Paulo apresenta a exigência de amor. A liberdade guiada pelo amor é a única que liberta os outros e a nós mesmos, que sabe ouvir sem impor, que sabe amar sem forçar, que constrói e não destrói, que não explora os demais para a sua conveniência e que pratica o bem sem procurar o próprio benefício. Em suma, se a liberdade não estiver ao serviço do bem, corre o risco de ser estéril e de não dar frutos. Por outro lado, a liberdade animada pelo amor conduz aos pobres, reconhecendo no seu rosto o de Cristo.

"Recordar-me dos pobres." Depois da luta ideológica entre Paulo e os apóstolos eles concordaram que o importante é seguir em frente e "não nos esquecermos dos pobres, ou seja, que a tua liberdade como pregador deve ser uma liberdade ao serviço dos outros, não para ti mesmo, para fazeres o que queres".

A pandemia ensinou-nos que precisamos uns dos outros

Francisco recordou uma das mais difundidas concepções modernas de liberdade: "A minha liberdade acaba onde começa a tua". "Mas aqui falta a relação! Trata-se de uma visão individualista. A dimensão social é fundamental para os cristãos", recordou Francisco, permite-lhes "olhar para o bem comum e não para o interesse particular".

O Papa sublinhou que "neste momento histórico, precisamos de redescobrir a dimensão comunitária, não individualista, da liberdade.  

A pandemia ensinou-nos que precisamos uns dos outros, mas não é suficiente sabê-lo, precisamos de o escolher concretamente todos os dias. Decidir sobre aquela estrada. Os outros não são um obstáculo à minha liberdade, mas a possibilidade de a realizar plenamente. A nossa liberdade nasce do amor de Deus e cresce na caridade.

 

 Paolo beija o Papa Francisco durante a Assembleia Geral 

Vatican News

"A minha alma dilacerada". Nas mãos do Papa, a carta de uma vítima de abusos

 
 O Papa Francisco 
 
Francisco recebeu o corajoso testemunho de uma sobrevivente e quis que o presidente da Comissão para a Proteção dos Menores, cardeal O'Malley, o partilhasse com todos os sacerdotes e seminaristas. Nas páginas da missiva, a dor de não poder mais senti-se segura na Igreja, depois o apelo: "Vocês receberam um dom enorme, sejam bons sacerdotes"
 

Salvatore Cernuzio – Vatican News

"O meu nome é... e durante anos fui maltratada por um padre a quem eu deveria chamar de 'irmãozinho' e eu era sua 'irmãzinha'."

O nome não aparece, mas aparece - e dolorosamente clara - a ferida profunda que os abusos sofridos praticados por um sacerdote abriu na alma desta mulher que, mesmo depois de muitos anos, tem dificuldade de começar um caminho de recuperação. Tanto que ela ainda tem medo de ver qualquer sacerdote e não pode sequer ir à missa.

Um alerta aos sacerdotes

A carta escrita em italiano por uma sobrevivente e partilhada com a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores é de partir o coração, mas ao mesmo tempo corajosa. O Papa Francisco pôde vê-la e ler com os seus próprios olhos estas páginas impregnadas de amargura e sofrimento. O Papa também quis que todos os sacerdotes pudessem lê-la, como alerta de um horror que a Igreja está a procurar contrastar com veemência. Seguidamente, autorizou o presidente da Comissão, o cardeal Sean O'Malley, a tornar público este testemunho.

O'Malley: a voz de todas as pessoas feridas

"Neste tempo de renovação e conversão pastoral em que a Igreja enfrenta o escândalo e as feridas de abusos sexuais infligidos em todos os lugares a tantos filhos de Deus, o nosso Santo Padre recebeu um corajoso testemunho oferecido a todos os sacerdotes por uma sobrevivente", escreve o arcebispo de Boston, EUA, numa breve introdução à missiva. "Ao partilhar este testemunho, oferecido a nós por uma vítima cujo nome foi subtraído por razões de anonimato, Sua Santidade o Papa Francisco deseja acolher a voz de todas as pessoas feridas e mostrar a todos os sacerdotes que proclamam o Evangelho o caminho que conduz ao autêntico serviço de Deus em benefício de todos os vulneráveis."

Em nome das crianças

A sobrevivente invoca a vitória da "verdade amorosa" e diz que conta o que experimentou "também em nome das outras vítimas... das crianças que foram profundamente feridas, a quem foi roubadaa  sua infância, pureza e respeito...". Crianças "que foram traídas e das quais se aproveitou de sua confiança sem limites... das crianças cujos corações batem, que respiram, vivem... mas as mataram uma vez (duas, várias vezes)". "As suas almas foram dilaceradas em pequenos pedaços ensanguentados".

"A Igreja é a minha Mãe", diz a mulher, "e dói-me muito quando ela está ferida, quando está suja". "Os adultos que experimentaram esta hipocrisia quando crianças nunca poderão apagá-la das suas vidas. Elas podem esquecer por um pouco de tempo, tentar perdoar, tentar viver uma vida plena, mas as cicatrizes permanecerão nas suas almas, elas não desaparecerão."

Ânsias, medos, distúrbios pós-traumáticos

A autora da carta não esconde as insuportáveis condições de vida em que se encontra atualmente, mesmo depois de anos. "Tento sobreviver, sentir alegria, mas na realidade é uma luta incrivelmente difícil... Tenho distúrbio de identidade dissociativa, distúrbio pós-traumático complexo grave (PTSD), depressão, ansiedades, medo das pessoas, erros e, não durmo e, se consigo adormecer, tenho sempre pesadelos. Às vezes tenho estados, quando estou 'fora', não percebo 'aqui ' e ' agora'. O Meu corpo lembra-se de cada toque...".

"Tenho medo dos padres, de estar nas proximidades deles", conta ela mais adiante. "Ultimamente não posso ir à Santa Missa. Isto amachuca -me muito...". A Igreja, "aquele espaço sagrado era a minha segunda casa", e ele, o sacerdote que dela abusou, "tirou-lhe isto". "Tenho um grande desejo de me sentir segura na Igreja, de não ter medo, mas o meu corpo, as minhas emoções reagem de uma maneira completamente diferente", lê-se no texto, que se conclui com um apelo a cada sacerdote, de todas as idades e países.

Proteger a Igreja

"Gostaria de pedir-ves que protejam a Igreja, o corpo de Cristo! Aquele em que tudo está cheio de feridas e cicatrizes. Por favor, NÃO permitam que essas feridas se aprofundem e que novas feridas ocorram! Vocês são homens jovens e fortes. CHAMADOS! Homens chamados por Deus, para servir a Deus, e através dele, as pessoas... Deus vos chamou para ser seu instrumento entre os homens. Vocês têm uma GRANDE RESPONSABILIDADE! Uma responsabilidade que não é um fardo, mas um DOM! Por favor, tratem desse dom de acordo com o exemplo de Jesus... com HUMILDADE e AMOR!".

Apelo aos sacerdotes: viver a verdade

O apelo torna-se uma súplica comovente e comovedora, movida por um instinto de amor à Igreja: "Por favor, não varramos as coisas para debaixo do tapete, porque depois elas começarão a cheirar mal, a apodrecer e o próprio tapete se decomporá... Percebamos que se ocultarmos estes factos, quando nos calamos sobre eles, ocultamos a sujidade e assim tornamo-nos CÚMPLICES. Se queremos viver na verdade, não podemos fechar os nossos olhos".

"Viver na verdade é viver de acordo com Jesus, ver as coisas através dos seus olhos", continua a carta. Cristo "não fechou os olhos ao pecado diante do pecado e do pecador, mas viveu a VERDADE com AMOR... Com verdade amorosa apontou o pecado e o pecador". "Por favor", escreve a vítima, ainda dirigindo-se aos sacerdotes, "percebam que receberam um enorme presente. O dom de serem um alter Christus, de serem a encarnação de Cristo aqui no mundo. As pessoas, e especialmente as crianças, não veem em vós uma pessoa, mas Cristo, Jesus, em quem elas confiam sem limites". É algo "enorme e forte", mas também "muito frágil e vulnerável". "Por favor - conclui a sobrevivente -, sejam bons sacerdotes".

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domingo, 17 de outubro de 2021

Angelus: a lógica de Cristo é descer do pedestal para servir

 
 
 No Angelus com milhares de fiéis na Praça de S. Pedro, Francisco explicou a diferença dos verbos emergir e imergir segundo a lógica de Cristo. "A busca do prestígio pessoal pode tornar-se numa doença do espírito", advertiu. 
 

Vatican News

Depois de celebrar a missa na Basílica Vaticana, o Papa Francisco rezou com os fiéis reunidos na Praça de S. Pedro a oração do Angelus.

Comentando o Evangelho deste 29º Domingo do Tempo Comum, o Pontífice destacou dois verbos: emergir e imergir.

Marcos narra que dois dos discípulos, Tiago e João, pedem ao Senhor para sentarem-se ao Seu lado na glória, "como primeiros-ministros", causando indignação aos demais. Jesus então ensina que a verdadeira glória obtém-se, vivendo o batismo que estava para receber em Jerusalém, e não elevando-nos sobre os outros.

A palavra batismo significa “imersão”. Portanto, a glória de Deus é amor que se faz serviço, não poder que busca o domínio.

As ciladas da busca do prestígio pessoal

Emergir, explicou o Papa, expressa aquela mentalidade mundana da qual somos sempre tentados: viver todas as coisas, até mesmo as relações, para alimentar a nossa ambição, para subir os degraus do sucesso. A busca do prestígio pessoal, advertiu, pode tornar-se uma doença do espírito. "Isto na Igreja também acontece", lamentou Francisco: "Quantas vezes, nós cristãos, que deveríamos ser os servidores, procuramos galgar, ir avante." É importante verificar sempre as verdadeiras intenções do coração e interrogar-mo-nos se levamos em frente, um serviço somente para sermos notados e louvados.

A esta lógica mundana, Jesus propõe a sua: em vez de elevarmo-se sobre os demais, descer do pedestal para servir. Em vez de emergir sobre os outros, imergir na vida dos outros. O Papa então citou um programa da televisão italiana que veiculou uma reportagem sobre o serviço da Cáritas para que ninguém fique sem alimento: "Preocuparmonos com a fome dos outros, preocuparmo-nos com as necessidades dos outros. São muitos, muitos os necessitados hoje e mais ainda depois da pandemia. Olhar e abaixar-mo-nos no serviço e não procurar galgar para a própria glória".

Eis então o segundo verbo: imergirmo-nos. Jesus não ficou lá no céu, a olhar-nos do alto, mas abaixou-se para lavar os nossos pés. E pede que façamos o mesmo com os outros, com compaixão.

“Mas nós pensamos com compaixão na fome de tantas pessoas? Quando estamos diante da refeição, há uma graça de Deus, que nós podemos comer. Há pessoas que trabalham e não conseguem ter o alimento suficiente para todo o mês. Pensemos nisto! E imergirmo-nos com compaixão, ter compaixão não é um dado de enciclopédia. Não! São pessoas e eu sinto compaixão por essas pessoas?”

Mas para passar do emergir ao imergir, só o empenho não é suficiente. Mas cada um tem dentro de si a força do batismo, daquela imersão em Jesus que impulsiona a segui-Lo, é um fogo que o Espírito acendeu e que deve ser alimentado.

Francisco então concluiu pedindo a Nossa Senhora que nos ajude a encontrar Jesus. “Ela, mesmo sendo a maior, não procurou emergir, mas foi a humilde serva do Senhor e imergiu-se completamente ao nosso serviço para nos ajudar a encontrar Jesus.”

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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

ACOMPANHAR MARIA NO NOVO TESTAMENTO

   

   
 
 

Para entrar em cada reunião Zoom:

https://zoom.us/j/6429275371?pwd=aW01STBSMjNLaXNmN21HRW1zNXNudz09

ID da reunião: 642 927 5371
Senha de acesso: 1234

 

 

14 DE OUTUBRO – Partilha de Expectativas. Apresentação do Programa. Introdução ao Estudo do Novo Testamento.

 

21 DE OUTUBRO O Mundo Judaico no Tempo de Jesus e de Maria.

 

28 DE OUTUBRO A Vida na Igreja nascente: a expansão do Cristianismo pelo mundo; o Concílio de Jerusalém; a hostilidade do mundo em geral (comunidade judaica e sociedade romana; a defesa da verdade).

 

4 DE NOVEMBRO Os Escritos Paulinos (os escritos neotestamentários mais antigos). “Nascido de uma mulher” (Primeiros Passos sobre Maria).

 

11 DE NOVEMBRO Os Evangelhos. A Questão Sinótica. O Evangelho segundo São Marcos (o autor, o destinatário, o texto).

 

25 DE NOVEMBRO O Evangelho segundo São Marcos (o primeiro Evangelho redigido e as suas afirmações acerca de Maria).

 

2 DE DEZEMBRO O Evangelho segundo São Mateus (a autoria, o destinatário, o texto); 

 

9 DE DEZEMBRO – O Evangelho segundo São Mateus (Maria e a novidade de um Evangelho de Infância; edificação do Reino por palavras e obras; a Paixão e os relatos pascais; envio dos discípulos);

 

16 DE DEZEMBRO – A Obra Lucana (a autoria, o destinatário, o texto; o Evangelho de Infância e o papel proeminente de Maria);

 

27 DE JANEIROO Apocalipse - a resposta a um contexto histórico; a simbologia; as Cartas às Sete Igrejas; as Visões Proféticas (Maria e a mulher do Apocalipse; o Epílogo). 

 

3 DE FEVEREIRO – Alguns aspetos históricos e dogmáticos sobre a presença de Maria na Igreja. Balanço final.


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

O Papa: ser católico significa abrir-se a todos os povos e culturas de todos os tempos

 
 
O Papa sublinhou a necessidade de "respeitar a origem cultural de cada pessoa, colocando-a num espaço de liberdade que não seja restringido por qualquer imposição ditada por uma única cultura predominante". Ser católico "não é uma denominação sociológica para nos distinguir dos outros cristãos; católico é um adjetivo que significa universal, catolicidade, universalidade".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"A liberdade cristã, fermento universal de libertação" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (13/10), na Sala Paulo VI, no Vaticano, onde se reuniram milhares de fiéis.

Dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta aos Gálatas, o Papa sublinhou que "S. Paulo considera o âmago da liberdade o facto de que, com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, fomos libertados da escravidão do pecado e da morte. Por outras palavras: somos livres porque fomos libertados, libertados pela graça, não por pagamento, libertados pelo amor, que se torna a lei suprema e nova da vida cristã. O amor. Somos livres porque fomos libertados gratuitamente. Este é o ponto-chave".

Uma fé que não é fé é mundanidade

Segundo Francisco, "esta novidade de vida abre-nos para acolher cada povo e cultura e, ao mesmo tempo, abre cada povo e cultura a uma maior liberdade. Na verdade, S. Paulo diz que para aqueles que aderem a Cristo, já não importa se são judeus ou pagãos. Conta apenas «a fé que atua pela caridade»". Aos detratores, fundamentalistas, que criticam a novidade evangélica, algo não apenas da nossa época, mas que tem uma longa história, Paulo responde com parrésia, dizendo: «Por acaso é aprovação dos homens que estou a procurar, ou é aprovação de Deus? Ou estou a  procurar agradar aos homens? Se estivesse a procurar agradar aos homens, já não seria servo de Cristo». "Uma fé que não é fé é mundanidade", acrescentou Francisco.

Mais uma vez, o pensamento de Paulo mostra-se de uma profundidade inspirada. Para ele, aceitar a fé significa renunciar não ao coração das culturas e tradições, mas apenas ao que pode impedir a novidade e a pureza do Evangelho. Porque a liberdade obtida pela morte e ressurreição do Senhor não entra em conflito com as culturas e tradições que recebemos, mas introduz nelas, nas culturas, nas tradições, uma nova liberdade, uma novidade libertadora, a do Evangelho. Com efeito, a libertação obtida através do batismo permite-nos adquirir a plena dignidade de filhos de Deus, de modo que, enquanto permanecemos firmemente enxertados nas nossas raízes culturais, ao mesmo tempo que nos abrimos ao universalismo da fé, que entra em cada cultura, reconhece os seus germes de verdade presentes e desenvolve-os, levando à plenitude o bem neles contido. Aceitar que fomos libertados por Cristo, pela sua paixão, morte e ressurreição, é aceitar e levar à plenitude verdadeira as diferentes tradições de cada povo. A verdadeira plenitude.

A uniformidade não é regra de vida cristã

Segundo o Pontífice, "no chamamento à liberdade descobrimos o verdadeiro significado da inculturação do Evangelho, ou seja, que o Evangelho pega a cultura na qual vive a comunidade cristã e fala de Cristo com aquela cultura".

“O verdadeiro sentido desta inculturação é ser capaz de proclamar a Boa Nova de Cristo Salvador, respeitando o que é bom e verdadeiro nas culturas.”

"Isto não é fácil! Há muitas tentações para impor o próprio modelo de vida como se fosse o mais evoluído e desejável".

Quantos erros foram cometidos na história da evangelização ao querer impor apenas um modelo cultural, a uniformidade. A uniformidade como regra de vida não é cristã. A unidade sim, mas a uniformidade não. Por vezes, nem sequer renunciaram à violência a fim de fazer prevalecer o próprio ponto de vista. Pensemos nas guerras! Desta forma, a Igreja privou-se da riqueza de tantas expressões locais que têm em si as tradições culturais de povos inteiros. Mas isto é exatamente o oposto da liberdade cristã! Por exemplo, lembro-me quando se estabeleceu a maneira de fazer apostolado na China com o pe. Ricci ou na Índia com pe. De Nobili. Isto não é cristão. Sim, é cristão na cultura do povo.

Respeitar a origem cultural de cada pessoa

O Papa sublinhou a necessidade de "respeitar a origem cultural de cada pessoa, colocando-a num espaço de liberdade que não seja restringido por qualquer imposição ditada por uma única cultura predominante".

“Este é o significado de nos chamarmos católicos, de falarmos da Igreja católica: não é uma denominação sociológica para nos distinguir dos outros cristãos; católico é um adjetivo que significa universal, catolicidade, universalidade, Igreja universal, ou seja, católica.”

"Significa que a Igreja tem em si, na própria natureza, uma abertura a todos os povos e culturas de todos os tempos, pois Cristo nasceu, morreu e ressuscitou para todo

Por outro lado, a cultura está, pela sua natureza, em contínua transformação. Pensemos em como somos chamados a proclamar o Evangelho neste momento histórico de grande mudança cultural, onde parece predominar a tecnologia cada vez mais avançada. Se pretendêssemos falar da fé como se fazia nos séculos passados, correríamos o risco de já não sermos compreendidos pelas novas gerações.

"A liberdade da fé cristã, a liberdade cristã", concluiu o Papa, "não indica uma visão estática da vida, uma visão estática da cultura, mas uma visão dinâmica, uma visão dinâmica também da tradição que cresce, mas com a mesma natureza".

Vatican News