terça-feira, 30 de março de 2021

domingo, 28 de março de 2021

Semana Santa 2021 - Homilia de Domingo de Ramos na Paixão do Senhor

 

 

A vitória de Deus

A entrada de Jesus em Jerusalém, naquele dia de hoje, correspondeu imediatamente às antigas expetativas de muitos, alvoroçados pelo que ouviam dizer dele e do que fizera. Na verdade, tanto se contava, há dois ou três anos já, da Galileia à Judeia, tão ao encontro de antigas profecias… E o que Ele mesmo dissera, ecoando palavras e promessas que a tradição guardava, dos antigos reis aos profetas, deixando entender que nele se cumpriam…
Por isso irrompiam as exclamações. Ali vinha Ele, montado num jumentinho, como se profetizara do Messias Rei que chegaria: “Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino do nosso pai David que está a chegar. Hossana nas alturas!” (Mc 11, 9-10). 
Compreende-se e aceita-se que assim fosse, sobretudo quando a situação daquele povo era exatamente o contrário. Sob um império pagão que o oprimia, à mercê de governadores cruéis como Pilatos, tudo contradizia o que fora séculos atrás, jamais esquecidos. Isso mesmo acicatava a esperança de muitos e até provocava a revolta de alguns, que de tempos a tempos se insurgiam contra o domínio romano. 
Facilmente encontravam seguidores. Faziam-no mesmo em revolta armada, duramente reprimida depois. Anos mais tarde, foi uma dessas revoltas que levou os romanos a arrasarem o templo, como Jesus avisara. E não foi a última, até à destruição da cidade inteira, no século seguinte… Talvez haja uma referência a tais despistes messiânicos na conhecida frase de Jesus: «… o Reino do Céu tem sido objeto de violência e os violentos apoderam-se dele à força» (Mt 11, 12). 
A confusão existia, mesmo no círculo dos discípulos. Dias depois, no Getsémani, ainda aconteceria assim, aquando da prisão de Jesus: «Um dos que estavam com Jesus levou a mão à espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe uma orelha. Jesus disse-lhe: “Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada”» (Mt 26, 51-52). Lição difícil de aprender…
Como igualmente sabemos, os próprios romanos suspeitavam das intenções de Jesus e Pilatos condenou-o por isso, como atesta o título que lhe mandou pôr na cruz; e mesmo que Jesus rejeitasse qualquer conotação bélica ou política da sua realeza.
Mas era assim a expetativa vulgar. Não a intenção de Jesus, como nunca o fora, aliás. Lembramos o que sucedera tempos antes, quando o quiseram fazer rei, depois da multiplicação dos pães: «Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte» (Jo 6, 15).
Mas, não sendo essa a intenção de Jesus, era bem a expetativa de muitos. Terá sido até o motivo da deceção do Iscariotes, que passou de discípulo a traidor. - E também doutros, que o aclamaram com ramos e daí a dias lhe pediram a morte no pretório de Pilatos? Fica a pergunta, certamente para eles, mas não só para eles…

 

NOTA: Se utilizar o seu TELEMÓVEL e não conseguir aceder ao VIDEO contido nesta página, siga as instruções indicadas AQUI 

Na verdade, não foi apenas naquela altura que aconteceram despistes e deceções em relação a Jesus e ao que esperavam dele. Dois mil anos de Cristo no mundo, como a ressurreição lhe alargou a presença, acrescentam numerosos exemplos àqueles primeiros dias – outros tantos alertas para nós.
Não faltaram nem faltam situações de perseguição, em que os mártires testemunham o modo vitorioso de Cristo, ganhando a vida que com ele entregam. Mas noutros sobrevém a deceção duma vitória meramente humana e pouco duradora. Como não faltam situações de torpor espiritual; ou de revestimento, assim dito, “cristão” de sociedades e épocas, em que o contraste evangélico se dilui e ofusca. – Como se o fim dos tempos viesse cedo demais, sendo tanto o que falta ultimar em Cristo! Este engano, tão repetido, ontem e ainda hoje, deu sempre azo a frustrações e abandonos. Às vezes com boa vontade, mas não com vontade convertida.
Primeiro, o Evangelho há de chegar a toda a terra – alargada aos confins do mundo inteiro. Mundo que espiritualmente ultrapassa qualquer geografia, para tocar o mais profundo e decisivo da alma de cada um. E falta tanto, sobretudo porque muitos que o escutaram não tiveram “ouvidos para ouvir”. Lembremos o aviso de Jesus: «Este Evangelho do Reino será proclamado em todo o mundo, para se dar testemunho diante de todos os povos. E então virá o fim» (Mt 24, 14). Uma meta que havemos de alcançar, se convertermos o desejo em missão. 
Expetativas mundanas e expetativas divinas, realmente tão diferentes. De Deus há, isso sim, a vontade permanente de nos reaver como filhos. Para tal, teve de fazer da sua própria Palavra criadora uma Palavra redentora, que superasse na humanidade e por dentro dela, toda a distância que alongámos d’Ele. Assim aconteceu em Cristo, que se fez um de nós para nos fazer de Deus. 

Caminho tão difícil, que passou pela morte, para a preencher de vida, sendo essa a vitória de Deus.
Essa sim era o último inimigo a vencer – não os romanos ou outro que fosse, para um messianismo demasiado fácil, como tantos esperavam com aquelas aclamações dúbias e inconstantes.
Nos dias que se seguem, meditaremos de novo e ainda mais nos derradeiros que Jesus passou na terra, para que tudo se ultimasse nele, finalmente nele e ao seu único modo. Em tempos tão difíceis como estes, entre tanto sofrimento passado e tanta interrogação para o futuro, fixemo-nos na cruz onde expirou, para que o seu Espírito se espalhasse em toda a terra, como vários sinais hoje o confirmam. Assim os oferece a abnegação de muitos e assim os reconhecemos gratamente nós.
Não os procuremos por de fora, mas aí mesmo onde se somam diariamente gestos solidários, saúdes cuidadas, solidões acompanhadas e trabalhos mantidos. Em tudo o que houver de vida entregue, aí mesmo a cruz triunfa agora. A cruz de Cristo, que salva a cruz do mundo. 
- Era a única vitória que Deus queria, como Jesus a conseguiu e o Espírito a difunde. Só esta perpetuará os ramos e os hossanas deste dia!

 
Sé de Lisboa, 28 de março de 2021
+ Manuel, Cardeal-Patriarca 

Patriarcado de Lisboa

Angelus. O Papa: ao longo da via-sacra diária, aproximemo-nos dos irmãos necessitados

 
 Missa e Angelus na Basílica Vaticana, neste Domingo de Ramos, início da Semana Santa 
 28.03.2021 (Vatican Media) 
 
 
Pela segunda vez, vivemos a Semana Santa no contexto da pandemia e do agravamento da crise económica. “Nesta situação histórica e social, o que faz Deus? Toma a cruz. Jesus toma a tua cruz, ou seja, assume o peso do mal que tal realidade implica, o mal físico, psicológico e sobretudo espiritual, porque o Maligno aproveita-se das crises para semear desconfiança, desespero e discórdia”, disse o Papa no Angelus este Domingo de Ramos (28/03), início da Semana Santa

Raimundo de Lima – Vatican News

No términus da Eucaristia presidida pelo Papa na Basílica de São Pedro, antes da bênção final da Missa deste Domingo de Ramos, em que celebramos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, Francisco conduziu o Angelus.

Na alocução que precedeu a oração mariana, Francisco ressaltou que entramos na Semana Santa, recordando que pela segunda vez a vivemos em contexto da pandemia. “No ano passado estávamos mais chocados, este ano estamos mais provados. E a crise económica tornou-se grave”, frisou.

Deus toma a cruz, Jesus toma a cruz

“Nesta situação histórica e social, o que faz Deus? Toma a cruz. Jesus toma a tua cruz, ou seja, assume o peso do mal que tal realidade implica, o mal físico, psicológico e sobretudo espiritual, porque o Maligno aproveita-se das crises para semear desconfiança, desespero e discórdia”, continuou o Pontífice.

“E nós? O que devemos fazer? A Virgem Maria, a Mãe de Jesus que é também a sua primeira discípula, mostra-nos. Ela seguiu o seu Filho. Tomou sobre si a sua própria parcela de sofrimento, de escuridão, de abatimento, e percorreu o caminho da paixão, mantendo a lâmpada da fé acesa no seu coração. Com a graça de Deus, também nós podemos fazer este caminho”, exortou o Papa, acrescentando:

“Ao longo da via-sacra diária, encontramos os rostos de tantos irmãos e irmãs em dificuldade: não passemos adiante, deixemos que o coração seja movido para a compaixão e nos aproximemos. No momento, como o Cirineu, poderemos pensar: "Por que logo eu?" Mas depois descobriremos o presente que, sem o nosso mérito, nos foi dado. Que Nossa Senhora, que nos precede sempre no caminho da fé, nos ajude.”

Vatican News

O Papa no Domingo de Ramos: Jesus sobe à cruz para descer ao nosso sofrimento

 

 A Santa Missa do Domingo de Ramos, presididas pelo Papa Francisco, na Basílica de S. Pedro- 22.03.21 (Vatican Media) 

 
“No Crucificado, vemos Deus humilhado, o Onipotente reduzido a um descartado. E, com a graça do assombro, compreendemos que, acolhendo quem é descartado, aproximando-nos de quem é humilhado pela vida, amamos Jesus, porque Ele está nos últimos, nos rejeitados”, disse o Papa Francisco neste Domingo de Ramos, início da Semana Santa, na missa celebrada esta manhã (28/03) na Basílica de S. Pedro

 

Raimundo de Lima – Vatican News

O Papa Francisco presidiu na manhã deste domingo (28/03), na Basílica de S. Pedro, a missa do Domingo de Ramos, início da Semana Santa, em que celebraremos os mistérios da Paixão, morte e Ressurreição de Cristo.

Com uma presença limitada de fiéis no respeito às medidas sanitárias previstas devido às exigências que a crise pandémica da Covid-19 impõe, a celebração teve início com a tradicional bênção dos ramos, que recorda a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém.

O rito foi feito aos pés do Altar da Confissão da Basílica Vaticana: os fiéis tinham nas mãos os ramos de oliveira. Depois de abençoar os ramos e ser lido um breve texto do Evangelho que narra a entrada de Jesus em Jerusalém, o Papa dirigiu-se ao altar da Cátedra, prosseguindo a missa.

Olhar para a cruz

“Nesta Semana Santa, ergamos o olhar para a cruz a fim de recebermos a graça do assombro”, disse o Pontífice na sua homilia, destacando, entre outros, a necessidade de se passar da admiração à surpresa.

Todos os anos, disse, esta liturgia cria em nós uma atitude de espanto, de surpresa: “passamos da alegria de acolher Jesus, que entra em Jerusalém, à tristeza de O ver condenado à morte e crucificado. É uma atitude interior que nos acompanhará ao longo da Semana Santa. Abramo-nos, pois, a esta surpresa”, exortou.

“Jesus começa logo por surpreender-nos. O seu povo acolhe-O solenemente, mas Ele entra em Jerusalém num jumentinho”, continuou Francisco. Pela Páscoa, o seu povo espera o poderoso libertador, mas Jesus vem cumprir a Páscoa com o seu sacrifício. O seu povo espera celebrar a vitória sobre os romanos com a espada, mas Jesus vem celebrar a vitória de Deus com a cruz, observou.

“O que se passou com aquele povo que, em poucos dias, passou dos ‘hossanas’ a Jesus ao grito ‘crucifica-O’? Aquelas pessoas seguiam mais uma imagem de Messias do que o Messias. Admiravam Jesus, mas não estavam prontas para se deixarem surpreender por Ele.”

Diferença entre surpresa e admiração

A surpresa é diferente da admiração, destacou. A admiração pode ser mundana, porque procura os próprios gostos e anseios; a surpresa, ao contrário, permanece aberta ao outro, à sua novidade, frisou o Papa, acrescentando:

“Também hoje há muitos que admiram Jesus: falou bem, amou e perdoou, o seu exemplo mudou a história... Admiram-No, mas a vida deles não muda. Porque não basta admirar Jesus; é preciso segui-Lo no seu caminho, deixarmo-nos interpelar por Ele: passar da admiração à surpresa.”

E qual é o aspeto do Senhor e da sua Páscoa que mais nos surpreende? – perguntou Francisco, respondendo: “o facto de Ele chegar à glória pelo caminho da humilhação. Triunfa acolhendo a dor e a morte, que nós, súcubos à admiração e ao sucesso, evitaríamos”.

Isto surpreende, observou o Papa, “ver o Omnipotente reduzido a nada; vê-Lo, a Ele, Palavra que sabe tudo, ensinar-nos em silêncio na cátedra da cruz; ver o Rei dos reis que, por trono, tem um patíbulo; ver o Deus do universo despojado de tudo; vê-Lo coroado de espinhos em vez da glória; vê-Lo, a Ele bondade em pessoa, ser insultado e vexado”.

Não estamos sozinhos: Deus está connosco em cada ferida

O Pontífice disse que Jesus sofreu toda esta humilhação para tocar até ao fundo a nossa realidade humana, para atravessar toda a nossa existência, todo o nosso mal; para Se aproximar de nós e não nos deixar sozinhos no sofrimento e na morte; para nos recuperar, para nos salvar.

“Jesus sobe à cruz para descer ao nosso sofrimento. Prova os nossos piores estados de ânimo: o falimento, a rejeição geral, a traição do amigo e até o abandono de Deus. Experimenta na sua carne as nossas contradições mais dilacerantes e, assim, as redime e transforma. O seu amor aproxima-se das nossas fragilidades, chega até onde mais nos envergonhamos.”

Agora sabemos que não estamos sozinhos, frisou o Santo Padre. “Deus está connosco em cada ferida, em cada susto: nenhum mal, nenhum pecado tem a última palavra. Deus vence, mas a palma da vitória passa pelo madeiro da cruz. Por isso, os ramos e a cruz estão juntos”, explicou.

Se a fé perde o assombro, torna-se surda

Peçamos a graça do assombro. A vida cristã, sem surpresa, torna-se cinzenta, disse o Pontífice. “Como se pode testemunhar a alegria de ter encontrado Jesus, se não nos deixamos surpreender cada dia pelo seu amor espantoso, que nos perdoa e faz recomeçar?”

Se a fé perde o assombro, torna-se surda: já não sente a maravilha da graça, deixa de sentir o gosto do Pão da vida e da Palavra, fica sem perceber a beleza dos irmãos e o dom da criação. Nesta Semana Santa, ergamos o olhar para a cruz a fim de recebermos a graça do assombro, exortou o Papa.

Francisco observou que o Espírito Santo é Aquele que nos dá a graça do assombro, convidando-nos a recomeçar do espanto, a olhar para o Crucificado.

Jesus está nos últimos, nos rejeitados

“No Crucificado, vemos Deus humilhado, o Omnipotente reduzido a um descartado. E, com a graça do assombro, compreendemos que, acolhendo quem é descartado, aproximando-nos de quem é humilhado pela vida, amamos Jesus, porque Ele está nos últimos, nos rejeitados.”

O Evangelho de hoje, imediatamente depois da morte de Jesus, mostra-nos o ícone mais belo da surpresa. É a cena do centurião, que, “ao vê-Lo expirar daquela maneira, disse: ‘Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!’”, frisou o Santo Padre, concluindo com uma exortação:

“Hoje, Deus ainda surpreende a nossa mente e o nosso coração. Deixemos que nos impregne deste assombro, olhemos para o Crucificado e digamos também nós: ‘Vós sois verdadeiramente Filho de Deus. Vós sois o meu Deus’.”

Vatican News

quarta-feira, 24 de março de 2021

"À Quinta Acontece!"

 

 

Se não sabes bem o que te apetece, então participa no "À Quinta Acontece!"
 
 
ID da Reunião: 955 5817 5837
 
Palavra-Passe: 21mjAU
 
Paróquia de Alenquer

Francisco: Maria estava e está presente durante os dias da pandemia

 
 O Papa Francisco durante a Audiência Geral desta quarta feira 
 
 
"Maria está sempre ali, com a sua ternura maternal. As orações  dirigidas a Ela não são vãs. Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no coração, que não têm a força para sair mas que Deus conhece melhor do que nós", disse o Papa na sua catequese.

 

Vatican News

"Rezar em comunhão com Maria" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (24/03), véspera da Solenidade da Anunciação.

"Sabemos que a via mestra da oração cristã é a humanidade de Jesus. Com efeito, a confiança típica da oração cristã não teria sentido se o Verbo não se tivesse encarnado, doando-nos no Espírito a sua relação filial com o Pai. Ouvimos na Escritura sobre o encontro dos discípulos, as mulheres pias e Maria, a rezar depois da ascensão de Jesus, a primeira comunidade cristã que esperava o dom de Jesus, a promessa de Jesus", disse o Pontífice, acrescentando:

Cristo é o Mediador, Cristo é a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai. É o único redentor, não existem co-redentores com Cristo, é único, é o mediador por excelência, é o mediador. Cada oração que elevamos a Deus é por Cristo, com Cristo e em Cristo, e realiza-se graças à sua intercessão. O Espírito Santo alarga a mediação de Cristo a todos os tempos e lugares: não há outro nome no qual podemos ser salvos. Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens.

"Da mediação única de Cristo adquirem significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção, em primeiro lugar à Virgem Maria, a mãe de Jesus", disse ainda o Papa. "Ela ocupa um lugar privilegiado na vida e, portanto, também na oração do cristão, porque é a Mãe de Jesus. As Igrejas do Oriente representaram-na frequentemente como a Odigitria, aquela que “indica o caminho”, ou seja, o Filho Jesus Cristo".

A seguir, o Papa lembrou-se de uma "pintura antiga da Odigitria na Catedral de Bari. Simples. Nossa Senhora a mostrar Jesus, nu. Depois colocaram nele uma roupa para cobrir a nudez, mas a verdade é que Jesus nu, ele mesmo homem que nasceu de Maria é o mediador e ela mostra o mediador. É a Odigitria". "Na iconografia cristã a sua presença está em toda a parte, às vezes até com grande destaque, mas sempre em relação ao Filho e em função d'Ele. As suas mãos, o seu olhar, a sua atitude são um “catecismo” vivo e indicam sempre o âmago, o centro: Jesus. Maria está totalmente voltada para Ele ao ponto em que podemos dizer que é mais discípula do que mãe. Aquela indicação nas Bodas de Caná. Ela mostra sempre Cristo. É a primeira discípula", sublinhou.

Segundo Francisco, "este é o papel que Maria desempenhou ao longo de toda a sua vida terrena e que conserva para sempre: ser a humilde serva do Senhor. A certa altura, nos Evangelhos, Ela parece quase desaparecer; mas volta nos momentos cruciais, como em Caná, quando o Filho, graças à sua intervenção solícita, fez o primeiro “sinal”, e depois no Gólgota, ao pé da Cruz".

"Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto, como vemos em certos afrescos ou quadros medievais."

Jesus confiou-nos Maria como mãe, não como deusa, não co-redentora, mas como mãe. É verdade que a piedade cristã dá rsempre a Maria títulos bonitos, como faz um filho com a mãe. Quantas coisas bonitas diz um filho a uma mãe a quem quer bem! As coisas bonitas que a Igreja, os santos dizem a Maria não tiram a unicidade redentora de Cristo. Ele é o único redentor. São expressões de amor de um filho a uma mãe. Às vezes exageradas, mas o amor nós sabemos, faz-nos fazer coisas exageradas.

Como dizem os Evangelhos, Maria é a “cheia de graça”, “bendita sois vós entre as mulheres”. Depois, à oração da Ave-Maria foi acrescentado o título “Theotokos”, “Mãe de Deus”, sancionado pelo Concílio de Éfeso.

"Maria está sempre presente à cabeceira dos seus filhos que deixam este mundo. Se alguém se encontra sozinho e abandonado, Ela está ali perto, tal como estava próxima do seu Filho quando todos o tinham abandonado", disse ainda o Papa, acrescentando:

Maria estava e está presente durante os dias da pandemia, perto das pessoas que infelizmente concluíram o seu caminho terreno numa condição de isolamento, sem o conforto da proximidade dos seus entes queridos. Maria está sempre ali, com a sua ternura maternal.

As orações a Ela dirigidas não são vãs. Mulher do “sim”, que aceitou prontamente o convite do Anjo, responde também às nossas súplicas, ouve as nossas vozes, até aquelas que permanecem fechadas no coração, que não têm a força para sair mas que Deus conhece melhor do que nós. Como e mais do que todas as mães bondosas, Maria defende-nos nos perigos, preocupa-se connosco, até quando estamos ocupados com os nossos afazeres e perdemos o sentido do caminho, colocando em perigo não só a nossa saúde, mas a nossa salvação. Maria está ali e reza por nós, ora por quem não reza. Porque Ela é a nossa Mãe!

Vatican News

domingo, 21 de março de 2021

Carta aos diocesanos

 

 

Caríssimos diocesanos de Lisboa, já tão próximos da Páscoa do Senhor

Dirijo-vos algumas palavras de grande proximidade e companhia, a todos vós que viveis no Patriarcado, na vida laical ou consagrada, diaconal ou sacerdotal. Todos somos Povo de Deus a caminho da Páscoa eterna, com tantas outras pessoas de boa vontade, neste mundo que vive entre alegrias e esperanças, entre lutos e dores que compartilhamos.

A Páscoa de Jesus foi há quase dois milénios já. Desde então temos a sua presença ressuscitada entre nós, assegurando a vitória da vida em todas as situações que a requerem e como n’Ele aconteceu. A sua presença junto dos enfermos do corpo ou do espírito, de quem estava fora da convivência geral ou da solidariedade necessária, de quem já nada esperava dos outros ou da própria vida, era sempre luz, alento e recomeço. Assim aconteceu com Jesus e continua a acontecer pelo seu Espírito através de muitas pessoas que lhe repetem os gestos junto dos necessitados de agora. 

O tempo difícil que vivemos trouxe muita dor e muito luto. Foi também ocasião para se redobrarem cuidados públicos e particulares no campo da saúde e da segurança em geral, com grande abnegação e entrega. Reconhecemos em tudo isso os sinais da ressurreição. Assim continuará a ser, porque Jesus continuará connosco enquanto o mundo for mundo, reforçando a solidariedade humana com o seu amor novo, que vai sempre mais além do que alcançaríamos sozinhos.

Nos dias que se seguem, havemos de redobrar a atenção aos trechos bíblicos que a Igreja oferece na liturgia diária. São palavras de espírito e vida, que nos identificarão com a paixão, morte e ressurreição de Cristo, para salvação nossa e de outros através de nós.

Quanto às celebrações que faremos, com alguma presença entretanto permitida, peço-vos muita atenção às normas sanitárias publicamente exigidas e às indicadas pela Conferência Episcopal Portuguesa (Orientações de 8 de maio de 2020). Façamos tudo para que a pandemia não alastre e novo confinamento não se imponha. Celebrações mais intervaladas e breves, com presença limitada e fisicamente espaçada; ambientes arejados; uso de máscaras e desinfetante das mãos; comunhão na mão e omissão de aglomerações antes e depois de cada celebração… Tudo são modos comprovados de prevenir o alastramento da pandemia. Assim os observaremos, para que os contactos não degenerem em contágios.

Caríssimos, vivamos este tempo litúrgico com devoção e compromisso. As transmissões audiovisuais continuarão a complementar ou a superar a redução da presença física nas celebrações. A graça divina não tem fronteiras e recompensará o que a caridade obrigue. 

Em oração e companhia, com os irmãos Bispos que comigo servem a diocese,


+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Lisboa, 21 de março de 2021, Quinto Domingo da Quaresma

Patriarcado de Lisboa

“Há sempre maneira de efetivar a compaixão!”

 
 

Na Jornada Diocesana da Juventude que reuniu online, esta tarde, mais de mil jovens, o Cardeal-Patriarca de Lisboa deixou o desafio a seguir o exemplo da “compaixão” de Jesus e pediu “proximidade”. Mesmo com as restrições aos contactos físicos, “há sempre maneira de chegarmos ao coração dos outros”, defendeu D. Manuel Clemente.

“Compaixão – esta palavra é o segredo da atuação de Jesus”, começou por definir o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na catequese proferida, esta tarde, na Jornada Diocesana da Juventude (JDJ) que, este ano, devido à pandemia, decorreu via Zoom. A partir da leitura do Evangelho que relata a Ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7, 11-17), D. Manuel Clemente apelou aos jovens para não passarem adiante dos problemas sem se compadecerem. “Salvo muitos exemplos que, agora, neste tempo de pandemia têm sido muito férteis, nós compadecemo-nos pouco”, alertou. “Jesus não passa adiante... Jesus repara naquele cortejo fúnebre e compadece-se. Esta é a chave do Evangelho. Este é um Deus que repara em nós, como nós estamos, em qualquer situação que seja e, sobretudo, nas situações de maior abatimento”, sublinhou o Cardeal-Patriarca nesta intervenção que se inseriu no itinerário “Rise up”, no contexto de preparação para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023. “Quando, daqui a algum tempo, nos encontrarmos na Jornada Mundial da Juventude, vindos de todo o mundo, poderemos compartilhar esse Jesus que em cada um se repercute neste ‘hoje’ constante que nunca mais acaba. Jesus é sempre o ‘hoje’ de Deus”, afirmou D. Manuel Clemente, lembrando que “já só faltam 27 meses” para Lisboa receber o encontro internacional de jovens.

 

 NOTA: Se utilizar o seu TELEMÓVEL e não conseguir aceder ao VIDEO contido nesta página, siga as instruções indicadas AQUI 

 

Ir ao encontro dos outros
Nesta iniciativa organizada pelo Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa e que teve como tema: “Levanta-te e vive”, o Cardeal-Patriarca de Lisboa incidiu a sua reflexão também no facto de “Jesus não se ter compadecido de longe, mas ter-se aproximado e tocado” o jovem que é apresentado no Evangelho de São Lucas. “Jesus toca e é nessa altura que levanta aquele jovem. A palavra ‘levantar’, nos evangelhos, tem o mesmo significado da palavra ‘ressuscitar’. Não é apenas um levantar físico, é o levantar total, é um levantar da alma, é a vida a ressurgir porque Jesus toca e a vida ressurge”, explicou D. Manuel Clemente, alertando que esta “lição” deve ser também uma “consequência para todos nós”. “Se somos tocados por esta caridade, por esta compaixão, aproximemo-nos e não fiquemos de fora, a olhar de longe” porque “não há nada mais triste do que uma pessoa ficar fechada em si mesmo, no seu egoísmo, no seu egocentrismo”. “Nós só somos pessoas na medida em que saímos de nós para irmos ao encontro dos outros”, frisou. 


Há gente à espera

Mesmo que a atual pandemia restrinja os contactos físicos, “há sempre maneira de chegarmos ao coração dos outros”, considerou o Cardeal-Patriarca. “Há tanta gente, à nossa volta, à espera que façamos como Jesus, ou seja, que lhe cheguemos com uma Palavra” para dizer: “não definhes, não fiques encerrado em ti próprio, mas levanta-te, ressurge, vamos embora – que quer dizer ‘em boa hora’!”. “Esta é que é a boa nova!”, concluiu D. Manuel Clemente, deixando duas perguntas para orientar a reflexão dos jovens: “Em que ocasião concreta me senti tocado pela compaixão de Jesus?” e “Em que momentos fui sinal de Jesus para o outro, ajudando-o também a levantar-se?”.
No final deste encontro online, o Cardeal-Patriarca de Lisboa anunciou que a próxima edição da JDJ vai decorrer ainda este ano, no dia 21 de novembro, Solenidade de Cristo Rei - data indicada pelo Papa Francisco para assinalar edição diocesana da Jornada Mundial da Juventude. “Esperemos que já nos possamos encontrar presencialmente”, desejou D. Manuel Clemente. 
O diretor do Serviço da Juventude, João Clemente, indicou que o local escolhido será Queluz, retomando assim os trabalhos já desenvolvidos pela organização para a JDJ de 2020 e que foi cancelada devido à pandemia.

Patriarcado de Lisboa

O Papa Francisco: quem quiser ver Jesus, olhe para a cruz

 
 
  Papa no Angelus na Biblioteca do Palácio Apostólico  (Vatican Media)  
 
 
No Angelus deste domingo o Papa recordou "a grande responsabilidade de nós cristãos e de as  nossas comunidades". Nós também", frisou o Pontífice, "devemos responder com o testemunho de uma vida que se doa no serviço". "Enquanto a semente morre, é o momento em que a vida brota".
 

Silvonei José – Vatican News

"Ainda hoje inúmeras pessoas, muitas vezes sem dizer de forma implícita, gostariam de "ver Jesus", encontrá-lo, conhecê-lo. Disto compreendemos a nossa grande responsabilidade de cristãos e das nossas comunidades. Também devemos responder com o testemunho de uma vida que se doa no serviço. Uma vida que toma sobre si o estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura e doa-se no serviço. Trata-se de plantar sementes de amor, não com palavras que voam para longe, mas com exemplos concretos, simples e corajosos": foi o que disse o Papa Francisco durante o Angelus deste domingo recitado na Biblioteca do Palácio Apostólico do Vaticano.

"Não com condenações teóricas, mas com gestos de amor". Então o Senhor, com a sua graça, faz-nos dar frutos, mesmo quando o terreno é árido por causa de incompreensões, dificuldades ou perseguições ou pretensões de moralismos clericais: este é um terreno árido. Precisamente, então na provação e na solidão, enquanto a semente morre, é o momento – enfatiza o Papa - no qual a vida brota, para produzir frutos maduros no seu próprio tempo.

É neste entrelaçamento de morte e vida – continuou o Papa - que podemos experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do amor que se doa sempre, no estilo de Deus.

Para todo o homem que quer procurar Jesus "é a semente escondida pronta para morrer a fim de dar muitos frutos": o Papa Francisco ilustra com estas palavras o Evangelho em que S- João relata um episódio ocorrido nos últimos dias da vida de Jesus, pouco antes de Sua Paixão. Enquanto se encontra em Jerusalém para a festa da Páscoa, alguns gregos expressam o desejo de vê-lo. Eles aproximam-se do apóstolo Felipe e dizem-lhe: "Queremos ver Jesus".

A cruz expressa o amor

No pedido daqueles gregos", diz o Pontífice, "podemos discernir o pedido que tantos homens e mulheres, de todos os lugares e de todas as épocas, dirigem à Igreja". Jesus responde ao pedido dos gregos com estas palavras: "Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado". [...] Se o grão de trigo cai na terra e não morre, permanece sozinho; mas se morre, dá muito fruto". Para conhecer e compreender Cristo, explica Francisco, "o grão de trigo que morre na terra", deve-se olhar para a cruz.

Faz-nos pensar no sinal da cruz, - continuou o Papa - que ao longo dos séculos tornou-se o emblema por excelência dos cristãos. Aqueles que querem "ver Jesus" hoje, talvez vindo de países e culturas onde o cristianismo é pouco conhecido, o que vêem eles antes de tudo? Qual é o sinal mais comum que eles encontram? O crucifixo. Nas igrejas, nos lares dos cristãos, até mesmo usado no seu próprio corpo. O importante é que o sinal seja coerente com o Evangelho: a cruz não pode deixar de expressar o amor, o serviço, o dom de si sem reservas: só assim é verdadeiramente a "árvore da vida", da vida superabundante.

Que a Virgem Maria – concluiu Francisco - nos ajude a seguir Jesus, a caminhar fortes e felizes no caminho do serviço, para que o amor de Cristo possa brilhar em todas as nossas atitudes e se torne cada vez mais o estilo de nossa vida diária".

   

 

Vatican News

sexta-feira, 19 de março de 2021

A arte e São José, guardião silencioso da Sagrada Família

 

  S. José no Mariotto di Nardo (Musei Vaticani) 1385 ca. 

Paolo Ondarza – Vatican News

Nos Evangelhos Canónicos ele não profere uma única palavra: José é o homem a quem o Senhor revela os seus planos durante o sono. Os Livros Apócrifos atribuem-lhe frases curtas e lacóicas, que o descrevem como o guardião silencioso da Sagrada Família.

  

Inscrição de Severa, 330 ca. d.C. Museu Pio Cristão, Museus do Vaticano 

O silêncio na arte dos primeiros séculos

Sandro Barbagallo, curador do Departamento de Coleções Históricas dos Museus do Vaticano e autor do livro "São José na Arte. Iconologia e iconografia do Guardião silencioso do Redentor", publicado pela editora Musei Vaticani explica: "Durante os primeiros quatro séculos de cristianismo São José não é mencionado na iconografia".  Os que, observando a laje sepulcral de 330 d.C., das Catacumbas de Priscilla, conhecida como a Inscrição de Severa e mantida no Museu Pio Cristão no Vaticano, identificam o carpinteiro na figura representada atrás de Maria e Jesus, dentro da cena da Adoração dos Magos, estão a tropeçar num erro interpretativo. O personagem que aponta para a estrela é na verdade o profeta Balaão, não José.

 

  A Anunciação, detalhe com São José, 432-440 ca. Basílica de Santa Maria Maior, Roma 

Os mosaicos de Santa Maria Maior

Para encontrar a primeira representação do esposo de Maria, temos que esperar pelo Concílio de Éfeso, que no século V sancionou o dogma do nascimento virginal de Nossa Senhora, e ir à Basílica Liberiana de Santa Maria Maior, em Roma. "Aproximadamente em 440", continua Barbagallo, "encontramos José em várias cenas dos mosaicos que decoram o arco triunfal: é apresentado como um belo homem de quarenta anos com cabelos fartos e encaracolados, vestido com o clássico traje romano". Segurando na mão o bastão que se tornaria seu sinal distintivo. A referência é a narração extraída dos Livros Apócrifos que conta como surgiu a escolha do marido de Maria.

 

  Giotto , Núpcias da Virgem Maria, 1303-1305 ca. Capela Scrovegni, Pádua  

O bastão florido e o lírio

"Desde a sua infância, a Virgem viveu dentro do Templo de Jerusalém. Quando chegou à idade do casamento, o sumo sacerdote foi chamado para expressar a sua opinião sobre a escolha do futuro marido, e ele remeteu a decisão à vontade de Deus. Todos os candidatos foram convidados a entregar um bastão, cada um dos quais foi colocado dentro da Sancta Sanctorum. Durante uma noite de oração, apenas um destes floresceu: era o de José". O bastão não representa, portanto, o símbolo do poder, do patriarcado ou do pastor. As flores de lírio que florescem na sua superfície, são emblemáticas da escolha feita pelo Espírito Santo por um homem puro.

Jovem ou idoso?

"No início do século XIV Giotto na Capela Scrovegni retratou o duplo episódio da entrega dos bastões e a floração do que foi entregue por José". Nos afrescos de Pádua a barba é branca, um homem mais velho. Mas o pai putativo de Jesus era jovem ou idoso? Se em Santa Maria Maior ele é retratado como jovem, mais tarde, nos tempos modernos, ele seria retratado velho e cansado. Este é o caso, por exemplo, das obras de grandes artistas como Guido Reni. A escolha da idade está ligada à sensibilidade individual do pintor.

 

  Inspiração de estátuas clássicas. O São José de Guido Reni comparado com o Sileno segurando a criança Dionísio, uma cópia romana do século II a.C. de um original de Lísipo  

São Bernardino de Sena - recorda Sandro Barbagallo - advertia os artistas que retratavam José como um homem velho. Considerava-os tolos porque se o homem fosse muito idoso, não teria dificuldade em viver em castidade no seu casamento com a jovem Maria. Pelo contrário, a sua santidade é enfatizada pela representação da sua juventude, na plenitude da sua maturidade viril".

Entre os artistas que deram a José o rosto de um homem de meia-idade, destaca-se Rafael, que na "Núpcias da Virgem" que se encontra na Pinacoteca de Brera "apresenta-o como um homem de cinquenta anos, enfatizando assim o aspeto da pureza".

 

  Rafael Sanzio, A núpcias da Virgem, 1504, Pinacoteca de Brera, Milão  

Secundário, mas essencial

José é uma figura secundária comparada ao "fiat" de Maria, mas ele é essencial para custodiar e proteger em primeiro lugar, a sua esposa, um tabernáculo vivo, e depois o Menino, o Verbo Encarnado e a Sagrada Família. "Durante o parto - observa Barbagallo - José não está presente, afasta-se para procurar a ajuda de uma parteira. Mas reaparece durante a adoração dos Magos e dos pastores. Imediatamente depois, o anjo advertiu-o num sonho para fugir para o Egipto e foi ele quem conduziu Maria e o seu Filho para a segurança, trazendo-os depois de volta para Nazaré. Ele é o pai putativo que permitiu a Jesus crescer em saúde e sabedoria até aparecer na cena pública".

A bênção e o trânsito

Pouco ou nada se sabe sobre a morte deste homem santo, no entanto, muitas vezes a arte tem representado o seu trânsito com base na narração apócrifa. "É um momento importante porque se passa na presença de Maria e de Jesus o qual, antes de morrer, promete-lhe o Paraíso. Graças à iconologia da morte de José, desenvolveu-se a tradição devocional da chamada "boa morte". José, de facto, é o santo padroeiro dos moribundos porque é a primeira pessoa a morrer com a bênção do Filho de Deus”.

José e os Papas

Sisto IV em 1479 incluiu a festa no Breviário e no Missal Romano. Pio IX o proclamou Patrono da Igreja Universal em 8 de dezembro de 1870. O mesmo Pontífice quis celebrar José nos afrescos da Sala Imaculada no Vaticano, confiados ao pintor Francesco Podesti. Desde então, os sucessores de Pedro prestaram várias vezes homenagem ao Esposo da Virgem: de Leão XIII a Pio X, de Bento XV a Pio XI e Pio XII.

 

 Franciszka Bergmana, São José, detalhe do anel do pescador, 1899 Santuário de São José, Wadowice, Polónia  

Os dois anéis papais não destruídos

João XXIII quis dedicar-lhe um altar no transepto sul da Basílica de São Pedro decorado pelo pintor Achille Funi e doou o seu anel papal ao santuário polaco de Kalisz, onde é venerada uma pintura "milagrosa" de São José. Na Polónia é conservado outro anel papal oferecido ao Esposo da Virgem Maria. Foi doado por João Paulo II à Igreja de Wadowice, onde ele passou a sua infância e que é dedicada ao putativo pai de Jesus. O "anel do pescador" foi colocado entre os dedos de São José pintado em 1899 por Franciszka Bergmana na igreja carmelita da terra natal de São João Paulo II.

Francisco e José

Uma referência a José é encontrada na flor presente no brasão do Papa Francisco, que iniciou o seu ministério precisamente no dia 19 de março de 2013 e dedicou este ano para celebrar a memória do pai putativo de Jesus. "A devoção do Papa - conclui Barbagallo - é representada pela figura do São José adormecido: no seu quarto, Francisco tem uma estatueta do santo adormecido, sob a qual ele coloca as suas orações por escrito". "Quando tenho um problema ou dificuldade", disse o Santo Padre, "escrevo-o num pedaço de papel e coloco-o debaixo de São José, para que ele sonhe com ele".

Vatican News

quarta-feira, 17 de março de 2021

"À Quinta Acontece!" e celebrações da Solenidade de S. José

 

 
 

Queridos amigos e irmãos,

Abrindo a nossa Conferência Episcopal Portuguesa a possibilidade de retomarmos as celebrações com a participação dos fiéis, vimos convidar a todos a celebrarmos juntos a Solenidade de São José. Isto porque o Papa Francisco escolheu consagrar este ano ao santo que acolheu Jesus como filho, Maria como esposa, a Igreja como família, sua protegida. Não poderia haver melhor momento para reiniciarmos as nossas celebrações paroquiais. Que São José, padroeiro da Igreja Universal, permaneça a nosso lado e nos acompanhe nos caminhos da vida.

Aproveitamos também para enviar o link para a próxima "À Quinta Acontece!", dia 18:

 https://zoom.us/j/95558175837?pwd=b1VxSk5MMHpGZ1haZldPcGs1NTRIdz09

Palavra-Passe: 21mjAU. 

Votos de uma santa Quaresma para todos!

Com um abraço em Cristo,

P. Francisco

P. Tiago


Papa Francisco: São José, homem sábio a quem confiar a vida

 

 Sagrada Família: S. José, Jesus e Maria 
 

No final da Audiência Geral, o Papa recordou a Solenidade de São José, sexta-feira 19 de março, e o início do Ano da Família Amoris laetitia. Do esposo de Maria, para o qual convocou um Ano especial, Francisco sublinhou a sua capacidade de "compreender e colocar em prática o Evangelho".
 

Benedetta Capelli – Vatican News

"Um grande santo" a quem entregar a própria existência. Assim, o Papa Francisco recordou a próxima Solenidade de São José, na saudação em italiano, no final da Audiência Geral, desta quarta-feira (17/03). "Sejam sábios como ele, prontos para compreender e colocar em prática o Evangelho", acrescentou o Pontífice.

Na vida, no trabalho, na família, nos momentos de alegria e tristeza São José procurou e amou constantemente o Senhor, merecendo o elogio das Escrituras como um homem justo e sábio. Invocá-lo sempre, especialmente nos momentos difíceis que possam encontrar. A todos a minha bênção!

Também na saudação em polaco, Francisco recordou São José e o início do Ano da Família Amoris Laetitia:

Que Maria, Rainha da Polónia, obtenha para as famílias a visão evangélica do matrimónio, na compreensão recíproca e no respeito pela vida humana. Abenço o de coração todos vós e todos aqueles que participarão nas iniciativas promovidas para as celebrações do Ano mencionado.

O coração de Pai

Não uma figura silenciosa, mas um homem que escuta, que aceita o plano de Deus para a sua vida e da sua família. São José é um santo amado sobretudo pelo Papa Francisco que lhe dedicou uma intensa carta apostólica "Patris Corde - com um Coração de Pai" em memória dos 150 anos da declaração como Padroeiro universal da Igreja, e ao mesmo tempo dedicou-lhe o Ano de São José até 8 de dezembro de 2021. Francisco destaca diferentes características do pai putativo de Jesus. Ele chama-o de pai amado, pai na ternura, na obediência e no acolhimento, pai de coragem criativa, trabalhador, sempre na penumbra. 

Aquele que acolhe a fragilidade

Em algumas destas características se concentrou o Comitê de São José que reúne várias realidades diferentes, mas todas inspiradas ao Padroeiro universal da Igreja, como os Oblatos, os Josefinos de Murialdo, as Irmãs Murialdinas, as Franciscanas Missionárias do Menino Jesus e muitas outras. Desde terça-feira (16/03), no canal YouTube do Comité de São José, às 15h, é possível assistir a vídeos que oferecem reflexões de biblistas, religiosos e religiosas sobre os aspetos de São José como "pai na obediência" ou "pai no acolhimento", com imagens que vêm de Roma, Nápoles e Asti, cidades onde existem basílicas ou santuários dedicados ao esposo de Maria. O pe. Luigi Testa, Oblato de São José, é um dos membros do Comité de São José:

Pe. Testa: O Papa Francisco esclarece desde o início da Carta, que embora o Evangelho fale pouco sobre São José, diz "o suficiente". Esta já é uma primeira afirmação importante porque geralmente, na pregação comum ou na linguagem comum, diz-se sempre pouco saber sobre José, mas os dados bíblicos dizem-nos que se sabe o suficiente. Depois, esta Carta Apostólica é muito significativa porque sonda o coração de São José como se estivesse a entrar nas pregas deste coração. Além do fato de que não o considera apenas como um coração de ternura, um coração capaz de obediência, de acolhimento, de coragem criativa e trabalhador, mas é significativo que na figura de São José o Papa vê uma figura comum, que pode ser um ponto de referência para muitas pessoas. Tudo isto se declina na vida espiritual, na vida ordinária, na vida quotidiana.

A seu ver, qual é a relevância de São José hoje? Como podemos olhar para ele neste tempo de pandemia que condiciona a nossa vida, condiciona também muitas escolhas?

Pe. Testa: São José ensina-nos antes de tudo a acolher as nossas fraquezas com profunda ternura, a acolher as situações de fragilidade, de precariedade que em nós vemos e ao nosso redor com a atitude de confiança, de delicadeza, de atenção, evitando o desânimo. Ajuda-nos a saber ler nas pregas da história a possibilidade de ouvir a voz do Senhor que vem para nos tranquilizar e não nos deixa à mercê de nós mesmos. Diante das dificuldades, diz o Papa Francisco, pode haver a atitude de quem abandona o campo ou a atitude de quem de alguma forma se inventa, José deve-se esforçar, deve-se ocupar. Pensemos nesta pandemia, como nas nossas atividades pastorais tivemos que nos projetar de outras maneiras, com outras modalidades para chegar às pessoas e estar perto delas.

Sexta-feira é o dia de São José e também começa o Ano de Amoris laetitia, um ano especial dedicado à família. De que forma São José pode ser um farol para a família de hoje?

Pe. Testa: São José não é apenas um personagem em si, mas uma pessoa em relação. Toda a sua vida foi determinada por Maria e Jesus. Ele teve que acolher Maria como sua esposa, acolher Jesus como filho, respondeu a uma missão particular. A família constitui o fundamento essencial também para a vida de Jesus. Jesus nasceu dentro do matrimónio, mesmo que por obra do Espírito Santo. Portanto, neste ano dedicado a São José e depois no Ano da Família para recordar os 5 anos de Amoris laetitia, a figura do pai putativo encaixa-se perfeitamente porque na família de Nazaré temos o reflexo da Trindade celeste. São José é aquele que se torna senhor na sua casa, mas como sinal da custódia. Daí a atenção e a delicadeza para com a mulher, para com Maria, porque José nos ensina muito deste ponto de vista ainda hoje. De facto, existem mulheres que vivem dramas nas suas situações familiares. Há atenção e delicadeza para com Jesus porque o faz crescer, aprendendo também a morrer como pai. Portanto, existe este cuidado e atenção pela família e por cada família, seguida de um cuidado maior pela Igreja, família dos filhos de Deus.

À alguns dias atrás, falando aos confessores, Francisco sugeriu rezar a São José para que eles pudessem receber o dom da paternidade. Como o senhor reflete a paternidade da Igreja ligada a São José na sua vida de religioso?

Pe. Testa: Esta paternidade requer atenção, delicadeza, desapego, senso de maturidade, oblação. Somos Oblatos de São José, portanto, oferecidos a Deus como São José aos cuidados dos interesses de Jesus. Não devemos cultivar os nossos interesses pessoais ou a afirmação de nós mesmos, mas para dar espaço ao outro, através da escuta e do silêncio. São José é um mestre nisso porque é o homem da escuta, mas também o homem do silêncio, não porque está calado e não tem nada a dizer ou não tem palavras, mas porque a sua é uma atitude profundamente contemplativa, de acolhimento desta Palavra, esperando o aceno de Deus. Na experiência confessional, esta atenção e delicadeza são necessárias para que o outro se sinta acolhido pelo que é, não tanto pelo pecado ou pelo erro que cometeu, mas porque é uma pessoa que deve ser acompanhada, ajudada e, acima de tudo, apoiada na sua fragilidade.

Quais os frutos que o senhor gostaria de ver colhidos durante este ano dedicado a São José? Qual é o seu desejo?

Pe. Testa: O meu desejo é de que se aprofunde São José do ponto de vista da reflexão teológica, a partir dos dados bíblicos, a sua figura como parte essencial dos mistérios da vida de Cristo Senhor. Depois, eu espero que o amor por este grande santo cresça, não apenas a devoção, mas também o conhecimento teológico, o conhecimento dos mistérios de Cristo, porque ele tem muito a dizer à vida diária sobre o sentido e o papel da paternidade, que não é algo a ser colocado de lado.

Vatican News