Benedetta Capelli – Vatican News
"Um grande santo" a quem entregar a própria existência. Assim, o Papa Francisco recordou a próxima Solenidade de São José, na saudação em italiano, no final da Audiência Geral, desta quarta-feira (17/03). "Sejam sábios como ele, prontos para compreender e colocar em prática o Evangelho", acrescentou o Pontífice.
Na vida, no trabalho, na família, nos momentos de alegria e tristeza São José procurou e amou constantemente o Senhor, merecendo o elogio das Escrituras como um homem justo e sábio. Invocá-lo sempre, especialmente nos momentos difíceis que possam encontrar. A todos a minha bênção!
Também na saudação em polaco, Francisco recordou São José e o início do Ano da Família Amoris Laetitia:
Que Maria, Rainha da Polónia, obtenha para as famílias a visão evangélica do matrimónio, na compreensão recíproca e no respeito pela vida humana. Abenço o de coração todos vós e todos aqueles que participarão nas iniciativas promovidas para as celebrações do Ano mencionado.
O coração de Pai
Não uma figura silenciosa, mas um homem que escuta, que aceita o plano de Deus para a sua vida e da sua família. São José é um santo amado sobretudo pelo Papa Francisco que lhe dedicou uma intensa carta apostólica "Patris Corde - com um Coração de Pai" em memória dos 150 anos da declaração como Padroeiro universal da Igreja, e ao mesmo tempo dedicou-lhe o Ano de São José até 8 de dezembro de 2021. Francisco destaca diferentes características do pai putativo de Jesus. Ele chama-o de pai amado, pai na ternura, na obediência e no acolhimento, pai de coragem criativa, trabalhador, sempre na penumbra.
Aquele que acolhe a fragilidade
Em algumas destas características se concentrou o Comitê de São José que reúne várias realidades diferentes, mas todas inspiradas ao Padroeiro universal da Igreja, como os Oblatos, os Josefinos de Murialdo, as Irmãs Murialdinas, as Franciscanas Missionárias do Menino Jesus e muitas outras. Desde terça-feira (16/03), no canal YouTube do Comité de São José, às 15h, é possível assistir a vídeos que oferecem reflexões de biblistas, religiosos e religiosas sobre os aspetos de São José como "pai na obediência" ou "pai no acolhimento", com imagens que vêm de Roma, Nápoles e Asti, cidades onde existem basílicas ou santuários dedicados ao esposo de Maria. O pe. Luigi Testa, Oblato de São José, é um dos membros do Comité de São José:
Pe. Testa: O Papa Francisco esclarece desde o início da Carta, que embora o Evangelho fale pouco sobre São José, diz "o suficiente". Esta já é uma primeira afirmação importante porque geralmente, na pregação comum ou na linguagem comum, diz-se sempre pouco saber sobre José, mas os dados bíblicos dizem-nos que se sabe o suficiente. Depois, esta Carta Apostólica é muito significativa porque sonda o coração de São José como se estivesse a entrar nas pregas deste coração. Além do fato de que não o considera apenas como um coração de ternura, um coração capaz de obediência, de acolhimento, de coragem criativa e trabalhador, mas é significativo que na figura de São José o Papa vê uma figura comum, que pode ser um ponto de referência para muitas pessoas. Tudo isto se declina na vida espiritual, na vida ordinária, na vida quotidiana.
A seu ver, qual é a relevância de São José hoje? Como podemos olhar para ele neste tempo de pandemia que condiciona a nossa vida, condiciona também muitas escolhas?
Pe. Testa: São José ensina-nos antes de tudo a acolher as nossas fraquezas com profunda ternura, a acolher as situações de fragilidade, de precariedade que em nós vemos e ao nosso redor com a atitude de confiança, de delicadeza, de atenção, evitando o desânimo. Ajuda-nos a saber ler nas pregas da história a possibilidade de ouvir a voz do Senhor que vem para nos tranquilizar e não nos deixa à mercê de nós mesmos. Diante das dificuldades, diz o Papa Francisco, pode haver a atitude de quem abandona o campo ou a atitude de quem de alguma forma se inventa, José deve-se esforçar, deve-se ocupar. Pensemos nesta pandemia, como nas nossas atividades pastorais tivemos que nos projetar de outras maneiras, com outras modalidades para chegar às pessoas e estar perto delas.
Sexta-feira é o dia de São José e também começa o Ano de Amoris laetitia, um ano especial dedicado à família. De que forma São José pode ser um farol para a família de hoje?
Pe. Testa: São José não é apenas um personagem em si, mas uma pessoa em relação. Toda a sua vida foi determinada por Maria e Jesus. Ele teve que acolher Maria como sua esposa, acolher Jesus como filho, respondeu a uma missão particular. A família constitui o fundamento essencial também para a vida de Jesus. Jesus nasceu dentro do matrimónio, mesmo que por obra do Espírito Santo. Portanto, neste ano dedicado a São José e depois no Ano da Família para recordar os 5 anos de Amoris laetitia, a figura do pai putativo encaixa-se perfeitamente porque na família de Nazaré temos o reflexo da Trindade celeste. São José é aquele que se torna senhor na sua casa, mas como sinal da custódia. Daí a atenção e a delicadeza para com a mulher, para com Maria, porque José nos ensina muito deste ponto de vista ainda hoje. De facto, existem mulheres que vivem dramas nas suas situações familiares. Há atenção e delicadeza para com Jesus porque o faz crescer, aprendendo também a morrer como pai. Portanto, existe este cuidado e atenção pela família e por cada família, seguida de um cuidado maior pela Igreja, família dos filhos de Deus.
À alguns dias atrás, falando aos confessores, Francisco sugeriu rezar a São José para que eles pudessem receber o dom da paternidade. Como o senhor reflete a paternidade da Igreja ligada a São José na sua vida de religioso?
Pe. Testa: Esta paternidade requer atenção, delicadeza, desapego, senso de maturidade, oblação. Somos Oblatos de São José, portanto, oferecidos a Deus como São José aos cuidados dos interesses de Jesus. Não devemos cultivar os nossos interesses pessoais ou a afirmação de nós mesmos, mas para dar espaço ao outro, através da escuta e do silêncio. São José é um mestre nisso porque é o homem da escuta, mas também o homem do silêncio, não porque está calado e não tem nada a dizer ou não tem palavras, mas porque a sua é uma atitude profundamente contemplativa, de acolhimento desta Palavra, esperando o aceno de Deus. Na experiência confessional, esta atenção e delicadeza são necessárias para que o outro se sinta acolhido pelo que é, não tanto pelo pecado ou pelo erro que cometeu, mas porque é uma pessoa que deve ser acompanhada, ajudada e, acima de tudo, apoiada na sua fragilidade.
Quais os frutos que o senhor gostaria de ver colhidos durante este ano dedicado a São José? Qual é o seu desejo?
Pe. Testa: O meu desejo é de que se aprofunde São José do ponto de vista da reflexão teológica, a partir dos dados bíblicos, a sua figura como parte essencial dos mistérios da vida de Cristo Senhor. Depois, eu espero que o amor por este grande santo cresça, não apenas a devoção, mas também o conhecimento teológico, o conhecimento dos mistérios de Cristo, porque ele tem muito a dizer à vida diária sobre o sentido e o papel da paternidade, que não é algo a ser colocado de lado.
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