domingo, 27 de dezembro de 2020

No Angelus, Papa anuncia Ano “Família Amoris laetitia”

 

  Angelus com o Papa na Biblioteca Apostólica  (Vatican Media)  

 
A intenção do Pontífice ao anunciar este Ano especial é “prosseguir o percurso sinodal” que levou à publicação do documento. Com efeito, Amoris laetitia é fruto da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada de 4-25 de outubro de 2015 sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.

Jackson Erpen e Bianca Fraccalvieri - Vatican News

No Angelus deste domingo, 27, dia em que a Igreja celebra a Sagrada Família, o Papa Francisco anunciou a convocação de um “Ano especial dedicado à Família Amoris laetitia”, que será inaugurado em 19 de março de 2021, dia de São José e quinto aniversário de publicação da Exortação Apostólica. O encerramento está marcado para junho de 2022. Será "um ano de reflexão" e uma oportunidade para "aprofundar os conteúdos do documento":

“Estas reflexões serão colocados à disposição das comunidades eclesiais e das famílias para acompanhá-las no seu caminho. Desde agora, convido todos a aderir às iniciativas que serão promovidas ao longo do ano e coordenadas pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Confiemos à Sagrada Família de Nazaré, em particular à São José, esposo e pai solícito, este caminho com as famílias de todo o mundo.”

Família de Nazaré, modelo para todas as família do mundo

O Angelus deste domingo, também foi rezado na Biblioteca do Palácio Apostólico, pois como Francisco tinha explicado no Angelus na festa de Santo Estêvão, “devemos fazer assim, para evitar que as pessoas venham para a Praça” e assim colaborar com as disposições dadas pelas Autoridades, “para ajudar todos a escapar desta pandemia.”

Dirigindo-se a quem o acompanhava pelos meios de comunicação, o Papa chamou a atenção para o facto de que “o Filho de Deus quis ter necessidade, como todas as crianças, do calor de uma família”, e precisamente por isso, “porque é a família de Jesus, a de Nazaré é a família modelo, em que todas as famílias do mundo podem encontrar o seu ponto de referência seguro e uma inspiração segura. Em Nazaré brotou a primavera da vida humana do Filho de Deus, no momento em que Ele foi concebido pela ação do Espírito Santo no seio virginal de Maria.”

Família evangeliza com exemplo de vida

Jesus passou a sua infância com alegria na Casa de Nazaré, envolvido “pela solicitude maternal de Maria e pela solicitude de José, em quem Jesus pôde ver a ternura de Deus”.

Ao imitar a Sagrada Família, somos chamados a redescobrir o valor educativo do núcleo familiar: isto requer que seja fundado no amor que regenera sempre as relações, abrindo horizontes de esperança. Em família poder-se-á experimentar uma comunhão sincera quando ela é casa de oração, quando os afetos são sérios, profundos, puros, quando o perdão prevalece sobre a discórdia, quando a dureza quotidiana do viver é amenizada pela ternura recíproca e pela serena adesão à vontade de Deus. Desta forma, a família abre-se à alegria que Deus dá a todos aqueles que sabem dar com alegria. Ao mesmo tempo, encontra energia espiritual para se abrir ao exterior, aos outros, ao serviço dos irmãos, à colaboração para a construção de um mundo sempre novo e melhor; capaz, por isso, de ser portadora de estímulos positivos; a família evangeliza com o exemplo de vida.

“Em família poder-se-á experimentar uma comunhão sincera quando ela é casa de oração, quando os afetos são profundos e puros, quando o perdão prevalece sobre a discórdia, quando a dureza quotidiana do viver é amenizada pela ternura recíproca e pela serena adesão à vontade de Deus.”

Dá licença, perdão, obrigado

O Papa recordou que nas famílias existem problemas, que às vezes se briga, “mas somos humanos, somos fracos, e todos temos às vezes este facto de que brigamos em família”. Mas a recomendação, já feita noutras oportunidades, é que não se acabe o dia sem fazer as pazes, pois “a guerra fria no dia seguinte é muito perigosa”. E lembrou as três palavras fundamentais para que o ambiente em família seja bom: dá licença, perdão, obrigado. “Não serrm invasivos”, agradecer sempre, pois “a gratidão é o sangue da alma nobre”, e depois pedir perdão, das três, a palavra mais difícil de dizer.

Famílias, fermento de uma nova humanidade

E o exemplo de evangelizar com a família, continuou então Francisco, é o chamamento que nos é feito pela festa de hoje, que nos repropõe o ideal de amor conjugal e familiar, assim como foi enfatizado na Exortação Apostólica Amoris laetitia

Ao concluir, o Papa pediu à Virgem Maria, que” faça com que as famílias de todo o mundo fiquem cada vez mais fascinadas pelo ideal evangélico da Sagrada Família, para assim se tornar fermento de nova humanidade e de uma nova solidariedade concreta e universal.”

A oração de Francisco pelas famílias marcadas pelas feridas da incompreensão e da divisão.

Após rezar o Angelus, ao saudar as famílias, grupos e fiéis que acompanham pelos meios de comunicação, o Santo Padre dirigiu o seu pensamento em particular “às famílias que nos últimos meses perderam um familiar ou foram provadas pelas consequências da pandemia. Penso também nos médicos, enfermeiras e todo o pessoal de saúde cujo grande empenho na linha de frente do combate à propagação do vírus teve repercussões significativas na vida familiar”.

O Papa também confiou ao Senhor “todas as famílias, especialmente as mais provadas pelas dificuldades da vida e pelas feridas da incompreensão e da divisão. O Senhor, nascido em Belém, conceda a todos a serenidade e a força para caminharem unidos no caminho do bem”.

Vatican News

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa - Transcrição

 

 

(Transcrição das palavras proferidas na mensagem emitida na TV e na Rádio)


Muito Boa Noite. Muito obrigado pela oportunidade que me dão de desejar a todos um Santo e Feliz Natal!

Este Natal é especial, com a pandemia que ainda temos por diante e que a tantos atinge de forma direta e indireta. Deixo uma especial saudação a todos aqueles que estão na primeira linha do combate a esta pandemia, no sistema de saúde, nas famílias e em tantas outras instâncias onde se procura responder a tão grande desafio.

Este Natal também nos obriga a restrições especiais na maneira de o celebrar e de o festejar. Mas, talvez isso também nos possa chamar a atenção para o que é essencial nesta data, para que seja verdadeiramente uma comemoração do que aconteceu há dois mil anos. Isso é importante porque, como sabemos, poucos acontecimentos na história da humanidade tiveram tanto reflexo e tanta repercussão na própria sociedade e na cultura onde este anúncio chegou. De tal maneira, que muitas outras manifestações de tipo cultural – no sentido genérico do termo –, com festejos e expressões públicas de alegria, se foram juntando ao longo dos séculos. E, ultimamente, até muito potenciadas, o que se compreende porque esta também é uma ocasião de as famílias se encontrarem, de os amigos se reverem ou, pelo menos, comunicarem mais proximamente. 

Como referi anteriormente, as circunstâncias deste ano podem-nos levar a concentrar a atenção naquilo que originou toda esta comemoração natalícia e que cada presépio nos lembra, ou seja, o nascimento de Alguém. “Natal” significa nascimento e, efetivamente, assim aconteceu quando nasceu Jesus. Nasceu menino, como todos nós nascemos, acompanhado por sua mãe, Nossa Senhora, pelo seu pai adotivo, São José, por aqueles pastores que acorreram e, mais tarde, por aqueles magos do Oriente. Eram gente que procurava e quem procura, encontra (cf Mt 7, 8). Não eram muitos, mas foi isso exatamente o que aconteceu, segundo os relatos dos Evangelhos. É importante retomarmos esta originalidade do Natal para que ele não se perca entre tantas outras comemorações que, na roda do ano, vão surgindo com esta ou aquela motivação e que poderiam, de alguma maneira, diluir o significado do Natal.

Eu creio que este significado autêntico do que aconteceu em Belém e que nós celebramos a cada 25 de dezembro também responde à atual situação que a pandemia nos trouxe, com tantas consequências, não só no campo da saúde, com a sobrecarga do nosso sistema para responder a um desafio tão grande, mas em todo o lado: no emprego, na escola, no desporto, na cultura... São circunstâncias tão especiais que agora nos tocam.

Mas, porque é que o que aconteceu verdadeiramente no Natal nos dá uma luz, uma perspetiva, uma pista, para respondermos a esta situação? Porque, para nós, crentes – e também para muitos outros, através de uma convicção que ultrapassa as fronteiras confessionais –, o que ali aconteceu, sendo, aparentemente, tão pouco (é um menino que nasce, num sítio tão pobre, como era uma gruta, como era um presépio) mas que ganhou toda esta repercussão, mostra-nos o modo divino de ser e acontecer neste mundo.

Chamamos àquela família – porque está envolvida nesta realidade – uma “Sagrada Família”. “Sagrado” já nos transporta para Deus e para as coisas que, a partir de Deus, acontecem. Mas, para crentes e não crentes, esta realidade diz-nos que para respondermos a grandes desafios, temos que começar pelas pequenas coisas. É do pouco que se vai ao muito, é do perto que se vai ao longe, é do pequeno que se vai ao grande. Foi exatamente o que aconteceu, ao contrário de muitas outras coisas que, na altura, como depois, nos enchem os olhos e os ouvidos de notícias, mais ou menos espaventosas, que depois se diluem. Com o correr dos séculos, duraram o que duraram. O que ali aconteceu, naquela gruta, naquele presépio, tão pequeno que era, teve tal força que se impôs, como se impõe agora, com uma mensagem que nós não sentimos antiga, sentimo-la de agora.

Colhemos então esta lição, em cada família, em cada estabelecimento de saúde, em cada lugar de ensino, em cada mundo empresarial, em cada comunidade, seja onde for:  para respondermos a grandes desafios, comecemos por aquilo que é mais pequeno e que é mais próximo, em cada pessoa que se apresenta, em cada problema que temos que enfrentar. Não nos deixemos alienar por aquilo que não podemos fazer e respondamos, desde já, como acreditamos que Deus nos respondeu: no Menino que nasce, em tudo aquilo que é mais concreto, mais simples e mais imediato. Porque é exatamente essa a porta que se abre. A porta para o futuro está em cada presente. E o Natal diz-nos isso mesmo: é a maneira convicta, sincera como nós respondemos ao problema de quem está diante de nós. E pode ser na nossa casa ou em qualquer outro local onde passemos o dia. Responde-se exatamente aí e, assim, abre-se uma porta para o futuro. Assim aconteceu há dois mil anos e essa porta nunca mais se fechou. 

O Papa Francisco, no ano passado, por esta altura, dirigiu-nos uma mensagem (Carta Apostólica ‘Admirabile Signum’ [Sinal admirável]) muito bela acerca disto mesmo, ou seja, da atenção ao presépio e ao primeiro acontecer do Natal de Cristo neste mundo. Este ano, mandou-nos outra mensagem (Carta Apostólica ‘Patris Corde’ [com coração de pai]), também muito bela, acerca de São José, aquele José que adotou aquela criança e tomou conta de sua mãe, num mistério que o ultrapassava infinitamente, mas ao qual dedicou toda a vida. É isto que somos chamos a fazer também: imitar José, acolhendo a vida com toda a surpresa com que ela aparece e, depois, servindo-a, na vida deste Jesus continuado que a cada um de nos se apresenta. Comecemos na casa de cada um. 

Um Santo e Feliz Natal para todos!

NOTA: Se estiver a utilizar o seu TELEMÓVEL, o acesso ao VIDEO contido nesta página, apenas será possível se seguir as instruções indicadas AQUI

Patriarcado de Lisboa

Homilia da Missa do Dia do Natal

 


A eterna lição do Natal

De novo em Natal, para um Natal sempre novo. Assim podemos dizer e assim deve ser, hoje também. Hoje, quando as condições sanitárias nos obrigam a grandes cuidados e nos restringem as habituais convivências. Hoje, quando tantas famílias se preocupam com algum membro atingido pela pandemia e tantos profissionais da saúde se desdobram no tratamento de doentes. Hoje, quando os responsáveis dos vários setores se mantém vigilantes e ativos para que a vida de todos se mantenha segura e sustentável. Hoje, quando ainda há tanto a fazer para que a ninguém falte abrigo, alimentação e trabalho. Hoje, quando os nossos idosos não podem receber as visitas dos seus e tantos cuidadores se desvelam para não lhes faltar o conforto. Hoje, quando por esse mundo além e aquém se multiplicam refugiados e emigrantes forçados, que têm inegável direito a ser acolhidos e respeitados em qualquer lugar onde cheguem. Não consta que São José tenha encontrado dificuldades de maior, quando se refugiou no Egito, com o Menino e Sua Mãe.
Hoje, da parte de Deus, é seguramente Natal. Da nossa parte há de sê-lo também, no que a cada um lhe caiba e no que a todos compete. Da parte de Deus, como em Belém de Judá há dois milénios, aconteceu com tal força própria que acabou por se repercutir na cultura e na sensibilidade humanas, com inegável persuasão e até para além da confessionalidade estrita.
Mesmo quando não o celebram liturgicamente, mesmo quando as circunstâncias parecem contradizê-lo, mesmo quando não o nomeiam expressamente, homens e mulheres do mundo inteiro, crianças, adultos ou idosos, esperam o “Natal”, buscam-lhe os sinais e adivinham-lhe a necessidade, ainda como esperança. Desejam que “seja Natal todos os dias”, aspiram à paz que anuncia, descontentam-se por não ser assim, finalmente e já. 
O Natal de Cristo tornou-se lição universal e este dia é o seu exame para todos. - Como nos classificaremos este ano, depois das dificuldades enfrentadas, pessoal, social e até eclesialmente falando? Positiva é certamente a nota relativa à vontade de responder às incidências da pandemia, por entidades públicas e particulares. Vontade de responder que foi geral e muitas vezes abnegada, aumentando o esforço e superando lacunas, também por parte de paróquias e instituições religiosas. Mas é essa boa vontade, solidária, competente e criativa, que permitirá aumentar ainda mais a classificação geral das provas natalícias de ano para ano.

Se a lição do Natal se tornou tão forte e duradoura, tal se deve essencialmente ao facto de ser divina, surpreendentemente divina. As lições que a humanidade pretende dar-se só por si, valem o que valem, por vezes muito, mas sempre de menos. Nunca conseguem ir além do humano, demasiadamente humano, mesmo que se destinem a todos, ou a todos se queiram impor. 
Nas sucessivas formas culturais e civilizacionais, marcam-se inícios, apogeus e declínios. Nunca se volta exatamente ao ponto de partida, porque algo se acumulou entretanto, como experiência convivida e alguma inovação alcançada. Mas nunca basta e somam-se interrupções e atrasos. Por vezes apresentam-se como “progressos civilizacionais” autênticos retrocessos humanitários, como no que diz respeito à integralidade da vida humana, quando deixa de ser legalmente protegida em todo o seu devir e não se usam os recursos que o progresso científico nos oferece para o fazer, de forma positiva e generalizada, até ao termo natural de cada um. 
A lição do Natal é divina, porque ninguém o imaginava do modo como realmente foi. Desde que a humanidade ganhou consciência de si, manifestou vontade em ter alguma ciência da divindade, plural ou singular. Mas dificilmente saiu de si própria, transpondo-se para o além, agigantando a sua pequenez, procurando segurança algures. Dos primeiros traços que deixou, nas paredes de grutas ou construções pré-históricas, aos grandes edifícios dos primeiros e últimos impérios, ressalta sempre e sobretudo a projeção humana além de si – hesitante, situada e finalmente impossível. 

Mas «o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. E nós vimos a sua glória…». Neste magnífico hino das origens cristãs, está a lição do Natal plenamente enunciada, colocando-nos a atenção, a contemplação e a devoção no exclusivo ponto onde devem estar, isto é, na irredutível iniciativa divina. 
Não seremos nós a dizer Deus, é Deus que unicamente se diz. Podemos concluir que razoavelmente é assim e sem alternativa capaz. Mas a iniciativa foi sua e em pleno contraste com qualquer construção humana, por mais intelectual e bem propositada que fosse. 
Deus verbaliza-se, diz-se naquele Menino único onde cabem todas as idades, ligando a fragilidade da carne à realidade absoluta d’Aquele que a assume e ressuscita. Não deixará de ser “carne”, sentindo e sofrendo, do presépio à cruz, mas sanando-a pela constante ligação a Deus Pai, no Espírito que compartilham e nos inclui também.
Esta autorrevelação de Deus, dito em Jesus, seu Verbo incarnado, aconteceu ali, naquele tempo e lugar. Mas, exatamente por ser divina, irrompe por todo o espaço e tempo, preenchendo toda a “carne” da humanidade que sente e que sofre, que ri e que chora, que oferece ou implora. 
Deixemo-nos surpreender pela constante e inesgotável lição do Natal. Este é o presépio a que devemos acorrer como os pastores, gente pobre e disponível; ou depois os magos, gente desinstalada e à procura. Com todas as figurações que o seu dia-a-dia nos trouxer, aí mesmo e só aí “veremos a sua glória”. 
Santo Ireneu, no segundo século cristão, escreveu que «a glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus». Felicíssima síntese e arco perfeito, de Deus para o homem e do homem para Deus, como no Natal se admira e contempla. Na humanidade renascida do Verbo incarnado está a glória de Deus, a plena manifestação do seu poder, que é o seu amor criador.
Não o perdendo nunca, da vista e do coração, viveremos também e plenamente. Com o salmista cantaremos: «Em Vós Senhor está a fonte da vida. Na vossa luz veremos a luz» (Sl 36, 10)!      


Sé de Lisboa, 25 de dezembro de 2020


+ Manuel, Cardeal-Patriarca    


Mensagem de Natal do Papa: Jesus nasce para todos, não só para alguns

 

 Mensagem de Batal e Benção Urbi et Orbi 

 
Ao conceder a bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo), o Papa Francisco rezou pelas populações mais atingidas pela crise ecológica, social e económica agravada pela pandemia. No continente americano, um dos mais afetados pelo coronavírus, pediu o fim da corrupção e da insegurança, e citou o Chile e a Venezuela.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

No dia de Natal, o Papa Francisco concedeu a tradicional bênção Urbi et Orbi, desta vez não da sacada central da Basílica de São Pedro, mas a poucos metros do local, na Sala das Bênçãos.

A Praça de São Pedro não está fechada, mas as pessoas não podem circular devido ao lockdown decretado pelo governo italiano nos dias de festas.

Como sempre, a bênção é antecedida por uma longa mensagem em que o Pontífice apresenta os seus votos de Feliz Natal a todos os países e regiões que vivem períodos conturbados.

Fraternidade mais necessária do que nunca

Desta vez, a mensagem teve como fio condutor a última Encíclica publicada pelo Papa Francisco, “Fratelli tutti”.

“O nascimento é sempre fonte de esperança, é vida que desabrocha, é promessa de futuro. E este Menino – Jesus – «nasceu para nós»: um «nós» sem fronteiras, sem privilégios nem exclusões.”

Graças a este Ele, todos podemos dirigir-nos a Deus e chamá-lo de «Pai». Assim, todos podemos ser realmente irmãos: “de continentes diversos, de qualquer língua e cultura, com as nossas identidades e diferenças, mas todos irmãos e irmãs”.

Neste momento histórico marcado pela crise ecológica e por graves desequilíbrios económicos e sociais, agravados pela pandemia, o Papa considera a fraternidade como valor mais necessário do que nunca. Não uma fraternidade feita de ideais abstratos mas baseada no amor real, capaz de compadecer-me dos sofrimentos alheios, mesmo que o outro não seja da minha família, da minha etnia, da minha religião.

Vacina para todos

O primeiro pensamento do Papa foi para as pessoas mais frágeis, os doentes e quantos neste tempo se encontram desempregados ou em graves dificuldades pelas consequências económicas da pandemia, “bem como as mulheres que nestes meses de confinamento sofreram violências domésticas”.

Francisco renovou o seu apelo aos governantes para que a todos seja garantido o acesso às vacinas e aos tratamentos.

“No Natal, celebramos a luz de Cristo que vem hoje ao mundo e Ele vem para todos: não só para alguns. Hoje, neste tempo de escuridão e incertezas pela pandemia, aparecem várias luzes de esperança, como a descoberta das vacinas.”

A dor da guerra

O Papa fez um apelo também em prol de tantas crianças que em todo o mundo, especialmente na Síria, Iraque e Iémen, ainda pagam o alto preço da guerra.

A Síria foi novamente citada junto aos países que no Oriente Médio e no Mediterrâneo oriental sofrem com tensões, como o Iraque, em particular os yazidis, a Líbia, Israel, Palestina e o Líbano.

O Pontífice mencionou ainda Nagorno-Karabakh, bem como as regiões orientais da Ucrânia. Na África, o apelo de paz foi feito em prol de Burkina Faso, Mali, Níger e Etiópia.

O Papa dirigiu um pensamento especial aos habitantes da região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, vítimas da violência do terrorismo internacional. Sudão do Sul, Nigéria e Camarões também foram exortados a continuar pelo caminho da fraternidade e do diálogo.

Esperança para o continente americano

Quanto à América, Francisco fez votos de esperança, já que o continente foi particularmente afetado pelo coronavírus, “que exacerbou os inúmeros sofrimentos que o oprimem, muitas vezes agravados pelas consequências da corrupção e do narcotráfico”.

Nomeadamente, citou o Chile, para que supere as recentes tensões sociais, e a Venezuela, para que ponha fim ao sofrimento.

Na Ásia, pediu a proteção de Deus às populações flageladas por calamidades naturais, sobretudo nas Filipinas e Vietnam, e não se esqueceu do povo Rohingya: “Jesus, nascido pobre entre os pobres, leve esperança às suas tribulações”.

Redescobrir a família como berço de vida

Queridos irmãos e irmãs, concluiu Francisco, “resignar-se à violência e à injustiça significaria recusar a alegria e a esperança do Natal”.

“Neste dia de festa, dirijo uma saudação particular a todas as pessoas que não se deixam subjugar pelas circunstâncias adversas, mas esforçam-se por levar esperança, consolação e ajuda, socorrendo quem sofre e acompanhando quem está sozinho.”

Por fim, o último pensamento do Papa foi paea as famílias que hoje não se podem reunir. “Para todos, seja o Natal a ocasião propícia para redescobrirem a família como berço de vida e de fé. Feliz Natal para todos!”

Vatican Newa

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Homilia na Missa da Noite de Natal


O modo de Deus acontecer no mundo

Celebremos verdadeiramente o Natal. Celebremo-lo sem passar depressa demais pelas palavras e pelo difícil contexto em que o fazemos este ano, tão marcado pela pandemia e as suas consequências no campo da saúde, do trabalho e da vida em geral.
É neste contexto que celebramos o Natal de Cristo. Sabemos como se tornou motivo direto e indireto de outras coisas, legítimas certamente, como a reunião familiar, as iluminações e as prendas, as saudações e os bons votos a presentes e ausentes. Ainda bem que assim foi e continua a ser, embora condicionados pelas atuais restrições. Não se reduza a boa vontade, que encontra sempre modo de chegar aos outros, pois o coração vence as distâncias.  
Importa, porém, não deixar que outros motivos diluam ou encubram o que realmente originou o Natal. Muito menos que o contradigam, como se fizéssemos deste dia algo diferente do que ele foi.
Natal significa nascimento – e nascimento de Jesus Cristo. Os Evangelhos da Infância de Jesus dizem-nos o que aconteceu, no mais profundo desse acontecer. Estão envoltos em motivos bíblicos, que preenchem o significado do presépio de Belém. Se bem repararmos, o essencial é ter sido assim, de modo tão original e interpelante, hoje como então. 
A originalidade do nascimento de Cristo, como admirou na altura e nos admira agora, interroga-nos a todos e esclarece os crentes sobre aquilo a que podemos chamar a surpresa de Deus neste mundo. 
Reparemos que há muitos séculos se vinha desenvolvendo na tradição profética de Israel a expetativa de um Messias (= Cristo), cheio do Espírito de Deus para anunciar a Boa Nova aos pobres. Assim se apresentou Jesus, anos mais tarde, na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4, 18). Aliás, entre os próprios romanos, havia quem anunciasse a chegada duma nova idade do mundo, coincidente com o Império de Octávio César Augusto…  
Grandes expetativas, mas dificilmente aproximáveis do modo, tão desprovido e simples, como Jesus nasceu, viveu e morreu. Ou como os crentes O sentem agora, bem presente nas suas vidas, tão forte como discreto “Emanuel”, que que dizer “Deus connosco” – proposta permanente e imposição nenhuma.
Deus connosco, como Deus acontece no mundo e nas vidas. Não O imaginemos doutra forma, pois só nos veríamos a nós, mais ou menos sonhados e fantasiados. Fixemo-nos no Presépio e no concreto daquela situação e respetivos circunstantes.

Creio que esta fixação no presépio de Belém nos ajudará especialmente no momento atual, com as dificuldades sobrevindas e que a muitos atingem gravemente, por esse mundo além ou aquém. Contemplado com persistência e devoção, aquele Menino reflete-se em tantos outros, nascidos ou por nascer, cujas famílias também não encontram lugar apropriado e capaz. Entrevemo-Lo já, no seu percurso depois, próximo dos pobres de todas as pobrezas, inteiramente solidário em palavras e obras.
Mas tudo começou daquele modo, num lugar recôndito e tão diverso de Roma com o seu imperador, ou mesmo de Jerusalém com o seu rei. Isto mesmo nos importa, para sabermos como fazer agora, diante da vida própria e alheia, como nos toca a todos e a tanta gente pesa.
Se quisermos realmente celebrar e viver este Natal de 2020, façamo-lo à única luz daquela noite em Belém de Judá. Aceitemos cada um como sinal de Deus a aparecer neste mundo, sobretudo nos mais carentes e frágeis. O presépio onde nasceu pode ser agora a cama dum hospital, ou o leito doméstico dum doente. A solidão que envolvia aquele reduzido grupo, pode ser hoje a que entristece tantas pessoas sós e à espera da visita que tarda ou da mensagem que não chega. Sejamos para os outros os presentes que o Menino não teve. Neles nos espera, no grande presépio do mundo.

A eterna lição do Natal de Cristo é o modo de Deus nos acontecer. Convertamo-nos de vez ao modo divino de ser e de fazer. Veio ao nosso encontro numa pequenez inaudita. Viveu poucos anos num espaço limitado. Aí mesmo lançou à terra a mais pequena das sementes, que foi sempre crescendo pelo mundo além. Dois milénios depois, estamos nós aqui, celebrando e confirmando a força invencível da fragilidade divina.
Nós aqui, neste templo vetusto. Outros mais longe, onde nem os templos se podem levantar, ou permanecer seguros. Mas o Natal sempre cresce, com a força que só Deus lhe garante. 
Aprendemos assim o certíssimo modo de ir resolvendo as coisas, mesmo as mais difíceis. Chegando ao muito pelo pouco, ao grande pelo pequeno e à humanidade de todos pela atenção a cada um. Mais do que com grandiosos projetos e meios formidáveis, as grandes obras começam com grandes corações. Corações que se fortalecem na medida em que acolhem o Coração divino. Esse mesmo que pulsou naquela noite abençoada. 
Dois mil anos de Evangelho, nas mais diversas latitudes e circunstâncias, por vezes bem difíceis como foram e como são, garantem-nos absolutamente que é assim. Alarga-se continuamente o portal do Presépio de Belém.

Há um ano, o Papa Francisco dirigiu-nos uma belíssima mensagem, para nos fixar o olhar no Presépio, sem nos distrairmos com motivos que nos alheiem dele e do seu verdadeiro significado. Este ano, noutro magnífico texto, apresenta-nos a figura tutelar de São José, que, adotando Jesus, nos adota também a nós. Assim escreve: «O objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo» (Carta apostólica Patris corde, conclusão).
São José acompanha-nos sempre, sobretudo com o seu exemplo, cumprindo uma missão que o ultrapassava mas não dispensava. Acompanhemos os outros, como São José cuidou do Menino que Deus lhe confiou. 

- Com Jesus, Maria e José, houve e continuará a haver Natal neste mundo!

Sé de Lisboa, 24-25 de dezembro de 2020

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O Papa: no presépio, Jesus mostra-nos o caminho da ternura, para sermos humanos

 Papa Francisco durante a Audiência Geral 

"O Natal tornou-se uma festa universal e até quem não acredita sente o encanto deste evento. Contudo, os cristãos sabem que o Natal é um acontecimento decisivo, um fogo eterno que Deus acendeu no mundo, e não pode ser confundido com coisas efêmeras", disse Francisco durante a Audiência Geral.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Nesta catequese, no período que antecede o Natal, gostaria de oferecer alguns pontos de reflexão em preparação para a celebração do Natal. Na Liturgia da Noite ressoará o anúncio do anjo aos pastores: «Não tenham medo! Eu anuncio-vos a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de David nasceu para vós um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá dá de sinal: encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura.»

Com estas palavras o Papa Francisco iniciou a catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (23/12), sobre o Natal, realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.

O Natal tornou-se uma festa universal e até quem não acredita sente o encanto deste evento. Contudo, os cristãos sabem que o Natal é um acontecimento decisivo, um fogo eterno que Deus acendeu no mundo, e não pode ser confundido com coisas efêmeras. É importante que não seja reduzido a uma celebração meramente sentimental ou consumista. No domingo passado, eu chamei a atenção para este problema, sublinhando que o consumismo sequestrou-nos o Natal. Não! O Natal não deve reduzir-se a uma festa somente sentimental e consumista, cheia de presentes e felicitações, mas pobre de fé cristã. E também pobre de humanidade. Portanto, é necessário refrear uma certa mentalidade mundana, incapaz de compreender o núcleo incandescente da nossa fé, que é o seguinte: «E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade». Este é o centro do Natal. Aliás, é a verdade do Natal.

Segundo o Papa, “o Natal convida-nos a refletir, por um lado, sobre a dramaticidade da história, em que homens e mulheres, feridos pelo pecado, procuram incessantemente a verdade, a misericórdia e a redenção; e, por outro, sobre a bondade de Deus, que veio ao nosso encontro para nos comunicar a Verdade que salva e para nos tornar participantes da sua amizade e da sua vida. Este é um dom de graça. Isto é pura graça. Sem merecimento nosso. Tudo é graça. Recebemos este dom de graça através da simplicidade e da humanidade do Natal, e ele pode remover dos nossos corações e das nossas mentes o pessimismo que hoje se difundiu causado pela pandemia”.

“Podemos superar esta sensação de desconcerto inquietador, sem nos deixarmos dominar pelas derrotas e fracassos, na consciência redescoberta de que aquele Menino humilde e pobre, escondido e indefeso, é o próprio Deus, que se fez homem para nós. Jesus nasceu há dois mil anos atrás e isto diz respeito a mim? Diz respeito a mim, a ti, a cada um de nós. Jesus é um de nós. Deus em Jesus é um de nós.” Segundo Francisco, “esta realidade nos dá-nos muita alegria e coragem. Deus não nos desdenhou, não passou ao nosso lado, não desprezou a nossa miséria, não se vestiu de um corpo aparente, mas assumiu plenamente a nossa natureza e condição humana. É um de nós. É como nós. Nada excluiu, exceto o pecado, a única coisa que Ele não tem. Toda a humanidade está n’Ele. Ele assumiu tudo o que somos, tal como somos. Isto é essencial para a compreensão da fé cristã. O Natal é a festa do Amor encarnado e nascido para nós em Jesus Cristo. Ele é a luz dos homens que resplandece nas trevas, que dá sentido à existência humana e a toda a história”.

“Queridos irmãos e irmãs, que estas breves reflexões nos ajudem a celebrar o Natal com maior consciência. Mas há outra forma de preparação que quero lembrar, tanto a vós como a mim, e que está ao alcance de todos: meditar um pouco em silêncio diante do presépio”, e acrescentou:

O presépio é uma catequese daquela realidade, daquilo que aconteceu naquele ano, naquele dia, e que ouvimos no Evangelho. Por este motivo, no ano passado escrevi uma Carta, que nos fará bem reler. Intitula-se “Admirabile signum”, “Sinal admirável”. Na escola de São Francisco de Assis, podemos tornar-nos um pouco crianças, permanecer em contemplação da cena da Natividade, deixando que renasça em nós a admiração da forma “maravilhosa” como Deus quis vir ao mundo.

“Peçamos a graça do estupor”, disse ainda o Papa, “diante deste mistério, desta realidade tão tenra, tão bonita, tão próxima do nosso coração que o senhor nos dê a graça do estupor encontrá-lo, para nos aproximar dele, para nos aproximar a todos nós. Isto fará renascer em nós a ternura”. A seguir, disse:

Noutro dia em diálogo com alguns cientistas, falava-se sobre a inteligência artificial e sobre robôs. Existem robôs programados para fazer tudo. E eu perguntei: mas o que um robô nunca poderá fazer? Eles pensaram. Fizeram propostas e por fim entraram de acordo numa coisa: a ternura. Isto um robô não poderá sentir. E isto é o que Deus nos traz hoje. Uma maneira maravilhosa em que Deus quis vir ao mundo e isto faz renascer em nós a ternura, a ternura humana que é próxima da ternura de Deus e hoje temos grande necessidade de ternura! Precisamos muito de carícia humana diante de tanta miséria! Se a pandemia nos obrigou a estar mais distantes, Jesus, no presépio, mostra-nos o caminho da ternura para estarmos próximos, para sermos humanos. Sigamos este caminho. Feliz Natal!

Vatican News

domingo, 20 de dezembro de 2020

O Papa no Angelus: consumismo sequestrou-nos o Natal, o importante é Jesus

 Angelus 
 
“Para que Jesus nasça em nós, preparemos o coração, rezemos, não nos deixemos levar pelo consumismo. ‘Ah, tenho que comprar presentes, tenho que fazer isto, isto...’ Aquele frenesim de fazer coisas, coisas, coisas... o importante é Jesus. Consumismo: o consumismo, irmãos e irmãs, sequestrou-nois o Natal. O consumismo não está na manjedoura de Belém: ali está a realidade, a pobreza, o amor. Preparemos o coração como o de Maria: livre do mal, acolhedor, pronto para receber Deus", disse o Papa no Angelus deste IV Domingo do Advento

Raimundo de Lima - Vatican News

“Hoje, às portas do Natal, Maria convida-nos a não adiar, a dizer ‘sim’. Cada ‘sim’ custa, mas é sempre menos do que o custo para ela daquele corajoso e pronto ‘sim’, aquele ‘faça-se em mim segundo a tua palavra’ que nos trouxe a salvação.” Foi o que disse o Papa no Angelus ao meio-dia deste IV Domingo do Advento, em que o Evangelho repropõe a narração da Anunciação, que nos traz o “sim” de Maria a Deus.

"Alegra-te", diz o anjo a Maria, "conceberás um filho, dá-lo-ás à luz e o chamarás Jesus" (Lc 1,28.31). “Parece ser um anúncio de pura alegria, destinado a fazer a Virgem feliz: quem entre as mulheres da época não sonhava em tornar-se a mãe do Messias?”, perguntou Francisco na alocução que precedeu a oração mariana.

“Mas, junto com a alegria, essts palavras predizem a Maria uma grande provação. Por quê? Porque naquele momento ela estava ‘prometida em casamento’ com José. Em tal situação  explicou o Pontífice – a Lei de Moisés estabelecia que não deveria haver relações e coabitação.

Maria disse "sim" a Deus, arriscando tudo

Tendo um filho, prosseguiu o Santo Padre, Maria teria transgredido a Lei, e as penalidades para as mulheres eram terríveis: estava previsto o apedrejamento. Certamente a mensagem divina encheu o coração de Maria, de luz e força; contudo, ela viu-se diante de uma escolha crucial: dizer "sim" a Deus, arriscando tudo, inclusive a sua vida, ou recusar o convite e seguir o seu caminho comum.

“O que fez ela? Respondeu assim: ‘Faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1,38). Faça-se: é o famoso fiat de Maria. Mas na língua em que o Evangelho é escrito, há mais do que isto. A expressão verbal indica um forte desejo, a vontade firme de que algo se torne realidade.”

Por outras palavras, Maria não diz: "Se tem que acontecer, que aconteça..., se não pode ser feito de outra forma...". Não, não expressa uma aceitação fraca e remissiva, mas um desejo forte e vivo. Não é passiva, mas ativa. Não é subjugada por Deus, adere a Deus.

“É uma enamorada disposta a servir o seu Senhor, em tudo e imediatamente. Poderia ter pedido um pouco de tempo para pensar sobre isto, ou maiores explicações sobre o que aconteceria; talvez estabelecer alguma condição... Ao contrário, não toma tempo, não faz Deus esperar, não adia.”

Os adiamentos na nossa vida

Quantas vezes a nossa vida é feita de adiamentos, inclusive na vida espiritual! “Sei que é bom para mim rezar, mas hoje não tenho tempo; sei que ajudar alguém é importante, mas hoje não posso. Amanhã o farei, isto é, nunca”, observou Francisco.

Tendo ressaltado o “sim” incondicional de Maria que nos trouxe a salvação, o Santo Padre perguntou:

“E nós, quais ‘sim’ podemos dizer? Neste tempo difícil, em vez de nos lamentarmos do que a pandemia nos impede de fazer, façamos algo por aqueles que têm menos: não o enésimo presente para nós e para os nossos amigos, mas para um necessitado em quem ninguém pensa!”

Não nos deixemos levar pelo consumismo

E antes da oração mariana o Papa deixou-nos outro conselho: “para que Jesus nasça em nós, preparemos o coração, rezemos, não nos deixemos levar pelo consumismo. ‘Ah, tenho que comprar presentes, tenho que fazer isto, isto...’ Aquele frenesim de fazer coisas, coisas, coisas... o importante é Jesus. Consumismo: o consumismo, irmãos e irmãs, sequestrou-nos o Natal. O consumismo não está na manjedoura de Belém: ali está a realidade, a pobreza, o amor. Preparemos o coração como o de Maria: livre do mal, acolhedor, pronto para receber Deus".

"Faça-se em mim segundo a tua palavra". É a última frase da Virgem neste último domingo do Advento, e é o convite para dar um passo concreto em direção ao Natal. “Porque se o nascimento de Jesus não toca na nossa vida, passa em vão.” No Angelus diremos também agora: "realize-se em mim a tua palavra": que Nossa Senhora nos ajude a dizê-lo com a vida, disse o Papa, concluindo, antes da oração mariana.

Vatican News

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CEP - Mensagem de Natal: "Vem Senhor Jesus, dá-nos a tua Luz"

 
 

Mensagem de Natal da Conferência Episcopal

1. Se o Advento é Deus que vem encher o nosso tempo de “Bom-Dia”, e provocar-nos a responder e fazer assim também, o Natal é Deus que vem nascer em Belém e no nosso coração também. Não se trata, pois, de um Deus que vive apenas para si mesmo, que pensa apenas em si mesmo, que se ama apenas a si mesmo, que não é afetado por nada do que é nosso, permanecendo, por isso, instalado no seu mundo dourado, alheado da nossa situação. Não, o Deus do Advento e do Natal é um Deus em missão, que desce ao nosso chão, nos toma pela mão e se faz nosso irmão.

2. Que Luz é esta que arde em Belém? A Luz do Natal não é a luz natural, do sol e da lua (Isaías 60,19; Apocalipse 21,23); é a Luz pessoal, primeira e verdadeira, que vem a este mundo (João 1,9; 8,12), e alumia, alumia, alumia, irradia, irradia, irradia, Luz sem noite e sem dia (Zacarias 14,7), de Alto-a-baixo erguida, como um manto de orvalho caída, como uma ermida, uma jazida de Luz e de Jesus. Eis o Natal de Jesus em Belém. O que fostes ver, pastores, o que fostes ver a Belém? Fomos ver Jesus, fomos ver a Luz Gerada e o seu Gerador. Oh que Luz grande, que Lume novo, que Amor imenso, que centelhas de fogo vimos saltar daquela Chama sempre acesa (Cântico dos Cânticos 8,6), que chama e ama, e converte em relhas de arado cada arma (Isaías 2,4; Miqueias 4,3). Vimos ainda que aquela Lareira não se confina em Belém, mas se estende pela Terra inteira, e alumia e acende cada humano coração de Paz e Bem. A Luz e o Lume e o volume do Amor novo dessa Central Luminosa e Térmica expandem-se por invisíveis fios de altíssima e finíssima tensão que é urgente levar de artéria em artéria, de mão em mão, de coração a coração.

3. «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Isaías 9,5). Oh Emanuel, oh Deus connosco, no meio de nós! Esta Luz nova não a quis ver Acaz, teve medo dela, não a viu Herodes, não a viram os guardas, não a viram os sábios, que arrastavam os olhos por velhos alfarrábios (Mateus 2,3-6). Viram-na os pastores, viram-na os magos, pegaram nela à mão, levaram-na aos lábios, deitaram-na no coração.

4. Havia lá uma sala, em grego katályma, onde se acomodavam os hóspedes que estavam de passagem (Lucas 2,7). Mas não havia nessa sala lugar para os pobres que Deus conduzia do país da meia-noite, entre eles José e Maria, que estava grávida e quase a dar à luz (cf. Jeremias 31,8). Foi por isso que Jesus, a Luz, vai nascer no estábulo ali ao lado, que os animais gratuitamente acederam partilhar com Ele. Ali mesmo é acariciado, bafejado de ternura, carinhosamente enfaixado e deposto na manjedoura (Lucas 2,12). Isaías 1,3 antecipou a cena e gravou, com o fulgor da sua pena, o manso boi e o pacífico jumento comendo as flores de açucena da vara de José sentado ao Lume e bafejando depois suavemente o Menino de perfume. Enquanto os meigos animais vão comer à mão do dono, o meu povo, diz Deus, não me conhece e perde-se nos buracos de ozono. Se o jumento corou e o boi se ajoelhou, não deixemos nós de orar também. Contemplemos longamente o Presépio. Mas contemplemos já também a Cruz de Jesus. E voltemos a olhar para aquela sala adormecida e esterilizada, onde não há lugar nem para eles nem para nós (Lucas 2,7), mas olhemos já também, em contraluz, para aquela sala grande da Ceia da Páscoa, onde há sempre lugar para eles e para nós (Lucas 22,11). Passemos também o nosso olhar contemplativo por aquele Menino bafejado de carinho, cuidadosamente enfaixado e deposto na manjedoura. Mas não deixemos de ver também já e ao mesmo tempo Jesus descido da Cruz, também carinhosamente enfaixado (cf. João 19,40), excessivamente perfumado (cf. João 19,39) e deposto no sepulcro (cf. João 19,41). Tanta Páscoa no Natal. Tanto Natal na Páscoa. Mistério condensado de Luz e de Jesus.

5. Uma tal inundação de Luz e de Jesus, uma Chama assim, reclama a nossa atenção e o nosso Sim. Vendo bem, com toda a atenção, verificamos que só os pobres, com o olhar limpo e o coração puro, entram verdadeiramente neste quadro sublime do Natal de Jesus. Estão lá já Maria, José, o Menino, os animais e os pastores. Consideremos outra vez os pastores! Eram os últimos da sociedade, descartados e desprezados, não praticantes de nenhuma religião oficial. Todavia, para espanto nosso, são eles que recebem do céu o Sinal (Lucas 2,12), que Acaz não quis ver (cf. Isaías 7,12), e rejubilam, correm, rezam, cantam e entram no quadro daquele estábulo, no retábulo daquele Natal de Jesus. Têm direito a treze versículos na narrativa do Evangelho de Lucas! Em contraponto, os senhores do mundo – César Augusto, imperador romano, e Pôncio Quirino, prefeito romano da Síria –, não entram sequer no quadro, ficam petrificados no caixilho, no caixilho histórico-geográfico, e são despachados com um único versículo cada um! Despachados. Sim, porque o Deus do Natal dispersa os soberbos, depõe os poderosos, despede os ricos, mas acolhe os pobres, exalta os humildes, sacia os famintos (cf. Lucas 1,51-53), com o pão do céu que manifesta a doçura, literalmente a glicose de Deus pelos seus filhos queridos (cf. Sabedoria 16,21).

6. Perante tão intensa página de beleza, que Deus sonhou e escreveu no Presépio de Belém, e escreve e sonha Hoje aqui também, compete-nos “sonhar para a frente”, um sonho diurno, proativo, que traz à tona ideias ou ideais que não pedem tanto interpretação, mas sobretudo elaboração! Fica então aberto o laboratório do Natal. O laboratório das vacinas, mas sobretudo o laboratório da nossa vida, do Amor, da Paz e da Alegria, pois é necessário produzir esperança e encanto neste tempo de pandemia e de tristeza, de indiferença e de aspereza, com datas, mas sem estações, com meios, mas sem canções. É necessário embalar as crianças e os velhinhos, os que trabalham, os que sofrem e os que morrem. Há tanta gente ao abandono. Mas este é o tempo de contemplar o Presépio, de viver com alegria a estação do Natal e de acolher a surpresa de Deus, que em missão nos visita com a riqueza da pobreza (2 Coríntios 8,9). Vem, Senhor Jesus! O mundo precisa tanto da tua Luz!

Lisboa, 15 de dezembro de 2020

CEP

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Menos consumista e mais autêntico: os votos do Papa para este Natal

 

NOTA: Se estiver a utilizar o seu TELEMÓVEL, o acesso ao VIDEO contido nesta página, apenas será possível se seguir as instruções indicadas AQUI

"Este ano, aguardam-nos restrições e dificuldades, mas pensemos no Natal da Virgem Maria e de São José: não foi 'um mar de rosas', disse Francisco, afirmando ser esta uma ocasião para "purificar" o sentido do Natal.

Vatican News

Um Natal menos consumista e mais religioso e autêntico: estes foram os votos do Papa Francisco ao final da Audiência Geral de hoje.

O Pontífice fez referência à crise mundial vivida em decorrência da pandemia, afirmando que esta pode ser uma oportunidade para "purificar" o modo como vivemos o nascimento de Jesus.

“Gostaria de exortar a todos a "apressar o passo" rumo ao Natal, aquele verdadeiro, isto é, o nascimento de Jesus Cristo. Este ano, aguardam-nos restrições e dificuldades, mas pensemos no Natal da Virgem Maria e de São José: não foi 'um mar de rosas'. Quantas dificuldades eles tiveram! Quantas preocupações! Não obstante, a fé, a esperança e o amor os guiaram e ampararam. Que seja assim também para nós! Que esta dificuldade também nos ajude a purificar um pouco o modo de viver o Natal, de festejar, saindo do consumismo: que seja mais religioso, mais autêntico, mais verdadeiro.”

Vatican Bews

O Papa: a oração é o nosso coração, quem não ama, faz de conta que reza

 

NOTA: Se estiver a utilizar o seu TELEMÓVEL, o acesso ao VIDEO contido nesta página, apenas será possível se seguir as instruções indicadas AQUI

"A oração preocupa-se pelo homem. Simplesmente pelo homem. Aquele que não ama o irmão não reza seriamente", disse Francisco na catequese da Audiência Geral.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

“A oração de intercessão” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (16/12), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico.  

“Quem reza nunca deixa o mundo para trás. Se a oração não recolhe as alegrias e tristezas, as esperanças e angústias da humanidade, torna-se uma atividade “decorativa”, um comportamento superficial, um teatro, um comportamento intimista”, disse o Pontífice.

Segundo o Papa, “todos precisamos de interioridade: de nos retirarmos para um espaço e um tempo dedicado ao nosso relacionamento com Deus. Mas isto não significa fugir da realidade. Na oração, Deus “toma-nos e abençoa.nos, e depois reparte.nos e oferece-nos”, pela fome de todos”. “Todo o cristão é chamado a tornar-se, nas mãos de Deus, pão repartido e partilhado. Uma oração concreta, que não seja uma fuga”, frisou o Papa.

A oração é o nosso coração

“Assim, homens e mulheres de oração procuram a solidão e o silêncio, não para não serem incomodados, mas para ouvir melhor a voz de Deus. Por vezes retiram-se do mundo, na intimidade do seu quarto, como o próprio Jesus recomenda, mas onde quer que estejam, mantêm sempre a porta do seu coração bem aberta”, disse o Papa, acrescentando:

Qualquer pessoa pode bater à porta de um orante e encontrar nele ou nela um coração compassivo, que reza sem excluir ninguém. A oração é o nosso coração, e a nossa voz torna-se coração e voz de muitas pessoas que não sabem rezar, não rezam, não querem rezar, ou estão impossibilitadas de rezar. Somos o coração e a voz dessas pessoas que sobe a Jesus, e sobe ao Pai, como intercessores. Na solidão separamo-nss de tudo e de todos para encontrar tudo e todos em Deus.

Segundo Francisco, desta forma “o orante reza pelo mundo inteiro, carregando sobre os ombros as suas dores e os seus pecados".

“Reza por todos e por cada pessoa: é como se ele fosse a “antena” de Deus neste mundo. Em cada pobre que bate à porta, em cada pessoa que perdeu o sentido das coisas, aquele que reza vê o rosto de Cristo.”

O Catecismo escreve: «Interceder, pedir a favor de outrem, é próprio,  [...] dum coração conforme cim a misericórdia de Deus». "Isto é belíssimo! Quando rezamos, estamos em sintonia com a misericórdia de Deus. Misericórdia em relação aos nossos pecados. Deus é misericordioso connosco, mas também misericórdia com todos aqueles que pediram para rezar por eles ou por quem queremos rezar. Em sintonia com o coraçao de Deus. Esta é a verdadeira oração. Em sintonia com a misericórdia de Deus. Quando intercedo por alguém, rezo por alguém é porque Cristo diante do Pai é intercessor, reza por nós fazendo ver ao Pai as chagas das suas mãos. Jesus está fisicamente com o seu corpo diante do Pai. Está fisicamente diante do Pai. Rezar é fazer como Jesus, interceder em Jesus ao Pai pelos outros. Isso é muito bonito”, disse o Papa.

A oração preocupa-se pelo homem. Simplesmente pelo homem. Aquele que não ama o irmão não reza seriamente. Alguém pode dizer: no sumo do ódio não se pode rezar. No sumo da indiferença não se pode rezar.

“A oração encontra-se no espírito de amor. Quem não ama, faz de conta rezar ou pensa que reza, mas não reza, pois falta o espírito que é o amor.”

Na Igreja, aquele que conhece a tristeza ou a alegria do outro vai mais ao fundo do que aquele que investiga os “sistemas máximos”. É por isso que existe uma experiência do humano em cada oração, porque as pessoas, por muitos erros que possam cometer, nunca devem ser rejeitadas nem descartadas.

Somos todos folhas da mesma árvore

Segundo o Papa, quando uma pessoa movida “pelo Espírito Santo, reza pelos pecadores, não faz seleções, não emite juízos de condenação: reza por todos. E também reza por si. A lição da parábola do fariseu e do publicano é sempre viva e relevante: não somos melhores do que qualquer outra pessoa, somos todos irmãos numa afinidade de fragilidade, de sofrimento e de pecado”. O fariseu rezava de uma forma soberba: “Eu agradeço-te senhor porque não sou como eles”. “Isto não é oração. É olhar-se no espelho. Olhar-se no espelho mascarado pela soberbia”, disse Francisco.

O mundo avança graças à "cadeia de orantes que intercedem, e que na sua maioria são desconhecidos, mas não a Deus! A Igreja, em todos os seus membros, tem a missão de praticar a oração de intercessão. Em particular, é dever de todos aqueles que têm um papel de responsabilidade: pais, educadores, ministros ordenados, superiores de comunidades. Tal como Abraão e Moisés, devem por vezes “defender” perante Deus as pessoas que lhes foram confiadas. Na realidade, trata-se de olhar para elas com os olhos e o coração de Deus, com a sua mesma invencível compaixão e ternura. Rezar com ternura pelos outros.”

O Papa concluiu, dizendo que “somos todos folhas da mesma árvore: cada desprendimento lembra-nos a grande piedade que devemos nutrir, na oração, uns pelos outros. Rezemos uns pelos outros, fará bem a nós e a todos”.

Vatican News

sábado, 12 de dezembro de 2020

O Ano de São José: um presente para toda a Igreja

 
 Até ao dia 8 de dezembro de 2021, a Igreja vive o Ano dedicado a São José 

 
A convocação do "Ano de São José" nasce do coração paternal de Francisco, que deseja chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

Bruno Franguelli, sj

Na comemoração dos 150 anos da proclamação de São José como guardião universal da Igreja, pelo Papa Pio IX, o Papa Francisco acaba de dar um grande presente à Igreja, o “Ano de São José” através da Carta Apostólica Patris Corde “Coração de Pai”. Esta Carta, como o próprio título sugere, é cheia de afeto. Nasce do coração paternal de Francisco, que deseja, por meio dela, chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

A Tradição Cristã manteve sempre uma especial atenção à importância do sim de Maria, mas nem sempre reconheceu com a mesma consciência a importância do sim de José, o carpinteiro de Nazaré, a quem Maria estava prometida em casamento. Foi crucial a aceitação de José para que o plano da Salvação de Deus pudesse ser realizado. A Sagrada Escritura não esconde as dificuldades pessoais que São José precisou de enfrentar ao receber o anúncio de que a sua futura esposa, sem ter contacto com homem algum, estava grávida.

O Evangelho dá a José o título de justo (Mt 1,19), termo raríssimo e concedido a pouquíssimos personagens na Sagrada Escritura. Justamente porque equivale â palavra santo que, no Antigo Testamento, é um atributo reservado somente a Deus (Ecle 7,20). Isto revela muito sobre a integridade, os valores e a santidade da vida de José. Era um homem fiel a Lei, observador dos mandamentos e preceitos da Torah. Por isso, com a sua obediência a Deus, escuta a voz do anjo e não teme em aceitar Maria como esposa e assumir o Filho de Deus como o seu próprio filho.

A vida de São José e de Maria não será nada fácil. Terão de enfrentar as dificuldades das mais diversas. Eram pobres. O termo que conceitua a profissão de José em grego é tekton que não significa simplesmente carpinteiro, mas aquele que constrói, uma espécie de artesão. José, na verdade era um artista. Ganhava pouco e, como muitos pais de família, viveu a angústia de não poder dar conforto e segurança aos seus. Esta tristeza José sentiu na pele, principalmente quando viu a sua esposa a dar à luz em lugar paupérrimo, no frio e na miséria. Sabemos que as dificuldades de José não terminaram na gruta de Belém. Imediatamente após o nascimento de Jesus, obedeceu ao anjo e conduziu a sua família ao Egipto para proteger o recém-nascido das ambições perversas de Herodes. Assim, tornaram-se migrantes. Podemos imaginar o pobre José, a procurar um emprego, tentando oferecer o mínimo para a sua família em terras estrangeiras do Egito.

O Papa Francisco, lembra na sua Carta Patris Corde, tantos pais que, infelizmente, não conseguem oferecer nem mesmo o básico aos seus filhos. José retorna a Nazaré e lá, ensina o menino Jesus a trabalhar, a entender a dura realidade da vida, será um pai presente. A carta do Papa também traz uma belíssima constatação. O facto de Jesus ser tão respitador para com as mulheres, homem de oração e próximo dos mais sofredores, pode-nos revelar tanto da figura do pai que teve, com quem aprendeu tudo isto. Às vezes imaginamos Jesus como se já tivesse nascido pronto. Mas, na verdade, a própria Escritura revela que Jesus teve de aprender gradualmente. O episódio do encontro de Jesus aos doze anos no Templo de Jerusalém revela-nos que ele retornou a Nazaré e era obediente ao Pai e á Mãe. E ainda nos revela que ele crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52). Assim, José, a partir da sua própria obediência a Deus, e na escuta atenta de Deus, cria o filho. Obediência que se dá no acolhimento, no acompanhamento.

José é um pai presente. O papa recorda a carência que temos de esposos e pais como José. Ele não compreendeu tudo. Ele acolheu tudo. José não se impôs na vida do filho, mas acompanhou Jesus na escolha do seu próprio caminho. E assim, a figura de São José oculta-se e não temos mais informações sobre ele na Bíblia. Mas o pouco que temos já nos é suficiente para reconhecer a sua importância ímpar na vida de Jesus e no plano da Salvação. O Papa Pio IX, então, ao declarar São José, patrono universal da Igreja, estava a dizer que assim como o guardião da família de Nazaré foi capaz de proteger o Filho de Deus, também segue a  proteger a Igreja que é extensão do Corpo Místico de Cristo.

A missão de José no escondimento e na missão oculta, tem tanto a dizer aos homens de hoje. O Papa Francisco recorda tantos homens e mulheres que, de maneira especial, durante a pandemia, arriscam as suas vidas para cuidar e proteger as pessoas vítimas desta enfermidade. A Carta Apostólica Patris Corde e o Ano de São José são um convite a cada um de nós para conhecer e imitar aquele homem justo e santo, que mesmo sem compreender tudo, acolheu tudo.

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amém.

Vatican Nerws