"Quando dás uma esmola, olha nos olhos
do mendigo? Toca na mão dele para sentires a sua carne?", questionou o Papa
na alocução que precedeu a oração do Angelus, após a missa conclusiva do
Sínodo dos Bispos. O Santo Padre refletiu sobre a cura do cego Bartimeu
e os elementos essenciais do encontro com Jesus: o grito, a fé e o
caminho.
Thulio Fonseca - Vatican News
Neste domingo (27/10), após a missa de encerramento do Sínodo dos
Bispos na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco dirigiu-se à janela do
Palácio Apostólico para o Angelus. Na alocução que precedeu a
tradicional oração mariana, dirigida aos fiéis reunidos na Praça de São
Pedro, o Pontífice refletiu novamente sobre o Evangelho do dia (Mc
10,46-52), que relata o encontro de Jesus com Bartimeu, um cego que,
ignorado pela multidão, é acolhido por Cristo. Francisco destacou os
três aspetos fundamentais desse encontro: o grito do cego, a sua fé e o
novo caminho que o leva a seguir Jesus.
O olhar compassivo do Senhor
O Santo Padre iniciou destacando o grito de Bartimeu, aquele mendigo à
margem da multidão, que ao clamar a Jesus afirma a sua existência: "Eu
existo, olha para mim." Segundo o Papa, este grito não é somente um
pedido de ajuda, mas um clamor de identidade, uma afirmação da sua
dignidade e necessidade de ser visto e acolhido. "Sim, Jesus vê e ouve o
cego mendigo, com os ouvidos do corpo e do coração," explicou
Francisco, ao ressaltar o olhar compassivo do Senhor.
O segundo aspeto abordado foi a fé. Ao confiar em Jesus, Bartimeu
encontra a cura: "Vai, a tua fé te salvou." O Papa sublinhou que o
Senhor observa como Bartimeu olha para Ele e convidou todos a refletir:
"Como olho eu para um mendigo? Eu ignoro-o? E olho-o como Jesus? Sou
capaz de entender as suas perguntas, o seu grito de ajuda? Quando dás a
esmola, olhas nos olhos do mendigo? Tocas na sua mão para sentires sua
carne?"
No próximo devemos ver Jesus
Por fim, o terceiro aspeto do encontro é o caminho. Segundo o
Pontífice, "cada um de nós também é como Bartimeu, cego por dentro, que
segue Jesus assim que nos aproximamos d'Ele", e completou: "Quando te aproximas de um pobre e te faz sentir próximo, é Jesus que se aproxima de ti na pessoa daquele pobre. Por favor, não façamos confusão: a
esmola não é beneficência. Aquele que recebe mais graça através da
esmola é quem a dá, porque se faz olhar pelos olhos do Senhor."
"Rezemos juntos a Maria, a aurora da salvação, para que guarde o nosso caminho na luz de Cristo", concluiu o Papa Francisco.
«É no silêncio que encontramos Deus, e é no silêncio que descobrimos quem realmente somos.» Bento XVI
Parece, por vezes, que temos medo do silêncio perante Deus e às vezes até perante os outros.
Realmente
há momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento em que são lidos
tantos textos bíblicos ou de reflexão, são feitas tantas orações, são
cantados tantos cânticos, que não há espaço para o silêncio, para a
interioridade, para a contemplação, para a adoração, para a escuta do
que Deus nos quer dizer ao coração.
Claro
que os momentos de oração vocal, de cânticos, de textos bíblicos ou de
reflexão, são, obviamente, muito importantes, mas, na adoração ao
Santíssimo Sacramento, é da maior importância o silêncio.
Estar
perante Deus e não se colocar à escuta, não se estar em silêncio
gozando aquele momento e não deixar outros fazê-lo também, é uma pena,
porque Deus nos fala sempre no silêncio.
Quem
não teve já momentos em que, sentado ou passeando em silêncio com uma
pessoa amiga, viveu um encontro sem palavras, de uma união perfeita, que
encheu o coração?
Se isso acontece com as pessoas amigas, quanto mais não acontecerá no nosso encontro com Deus, em adoração.
“Encher”
os momentos de adoração com textos lidos em voz alta, cânticos
contínuos e orações sucessivas, acaba por quase nos afastar do centro da
adoração, que deve ser também e sempre o nosso encontro pessoal com
Cristo.
Cada
um, quando vai para um momento de adoração pode levar a sua Bíblia ou
um livro de reflexão, e então, nalgum tempo desse momento de adoração,
fazer a sua leitura e meditação para si próprio, e essa leitura,
iluminada pelo Espírito Santo, é também uma forma de Ele nos falar no
silêncio.
Lembremo-nos sempre da frase de Samuel: «Fala, Senhor, que o teu servo escuta!» 1 Sm 3, 10
Como queremos nós escutar Deus se não nos calamos, se não fazemos silêncio exterior e interior?
E
como a oração, o silêncio é também um processo de aprendizagem, em que o
Espírito Santo nos vai guiando e ajudando a silenciarmos o nosso
coração e a nossa mente.
É,
por vezes, muito incómodo estarmos num momento de adoração, querermos
fazer silêncio, colocarmo-nos à escuta, mas não conseguimos, porque quem
orienta lê inúmeros textos, entremeados de cânticos e orações escritas,
de tal modo que, a partir de uma certa altura, já nem damos a devida
atenção ao que é dito, nem isso nos serve de reflexão.
Rezar o terço em voz alta numa adoração ao Santíssimo?
Sim, com certeza, mas há tantos momentos para o rezar porquê fazê-lo durante uma adoração?
Parece que estamos apenas a preencher tempo!
Obviamente
que cada um tem a sua própria espiritualidade, mas quando lemos os
mestres da oração, que são sempre verdadeiros adoradores, o silêncio é
uma constante nas suas reflexões, porque é no silêncio que se escuta
Deus.
É que, muitas vezes, esse modo de preencher os momentos de adoração, poderá ser mais “ruído” do mundo, do que silêncio de Deus.
Façamos
muitas vezes e durante bastante tempo silêncio em nós, sobretudo na
adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e seremos com certeza
surpreendidos como Deus fala ao nosso coração, à nossa vida quando a Ele
nos entregamos.
«O
silêncio é difícil, mas torna o homem capaz de se deixar conduzir por
Deus. Do silêncio nasce o silêncio. Por Deus, o silencioso, podemos
aceder ao silêncio. E o homem é incessantemente surpreendido pela luz
que então resplandece. O silêncio é mais importante do que qualquer
outra obra humana, porque exprime Deus. A verdadeira revolução vem do
silêncio; conduz-nos para Deus e para os outros para nos colocar humilde
e generosamente ao seu serviço.»
Pensamento 68 - A Força do silêncio - Cardeal Robert Sarah
Na Missa presidida pelo Papa Francisco na
Praça de São Pedro neste 20 de outubro, foram elevados à honra dos altares
os franciscanos Manuel Ruiz López e sete companheiros e os leigos
Francisco, Mooti e Raffaele Massabkis, conhecidos como "Mártires de
Damasco"; Pe. José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da
Consolata; Ir. Elena Guerra, conhecida como "Apóstola do Espírito
Santo" e a canadense Ir. Marie-Léonie Paradis, fundadora das Pequenas
Irmãs da Sagrada Família de Sherbrooke.
Santa Missa e Canonização HOMILIA DO SANTO PADRE Praça de São Pedro XXIX Domingo do Tempo Comum, 20 de outubro de 2024
Jesus pergunta a Tiago e a João: «Que quereis que vos faça?» (Mc 10, 36). E logo a seguir, desafia-os: «Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?» (Mc
10, 38). Jesus faz perguntas e, deste modo, ajuda-nos a discernir,
porque as perguntas fazem-nos descobrir o que está dentro de nós,
iluminam o que trazemos no coração. e que tantas vezes não sabemos.
Deixemo-nos interpelar pela Palavra do Senhor. Imaginemos que ele nos
pergunta a cada um de nós: «O que queres que faça por ti?»; e a segunda
pergunta «podes beber o meu cálice?»
Com estas perguntas, Jesus traz ao de cima o vínculo e as
expectativas que os discípulos nutrem para com ele, com as luzes e
sombras próprias de qualquer relação. Com efeito, Tiago e João estão
ligados a Jesus, mas têm pretensões. Manifestam o desejo de estar perto
dele, mas apenas para ocupar um lugar de honra, para desempenhar um
papel importante, para “na sua glória, se sentarem um à sua direita e
outro à sua esquerda” (cf. Mc 10, 37). Torna-se evidente que
pensam em Jesus como Messias, um Messias vitorioso, glorioso e esperam
que Ele partilhe a sua glória com eles. Veem em Jesus o Messias, mas
pensam nele segundo a lógica do poder.
Jesus não se detém nas palavras dos discípulos, mas vai mais fundo,
escuta e lê o coração de cada um deles e também de cada um de nós. E
durante o diálogo, por meio de duas perguntas, procura trazer à tona o
desejo que existe dentro daqueles pedidos.
Primeiro, pergunta: «Que quereis que vos faça?»; e esta interrogação
revela os pensamentos dos seus corações, traz à luz as expectativas
escondidas e os sonhos de glória que os discípulos cultivam
secretamente. É como se Jesus perguntasse: “Quem queres que eu seja para
ti?” E, assim, desmascara o que eles realmente desejam: um Messias
poderoso e , um Messias vitorioso que lhes dê um lugar de honra. E
tantas vezes na Igreja ocorre esse pensamento: a honra, o poder...
Depois, com a segunda pergunta, Jesus desmente esta imagem de Messias
e ajuda-os, deste modo, a mudar de olhar, isto é, a converterem-se:
«Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou
batizado?». Revela-lhes, desta maneira, que não é o Messias que eles
pensam que é; é o Deus de amor, que se abaixa para chegar aos que estão
em baixo; que se faz fraco para levantar os fracos; que trabalha pela
paz e não pela guerra; que veio para servir e não para ser servido. O
cálice que o Senhor vai beber é a oferta da sua vida, e a sua vida que
nos foi dada por amor, até à morte e morte de cruz.
E, portanto, à sua direita e à sua esquerda estarão dois ladrões,
suspensos na cruz como Ele e não instalados confortavelmente em lugares
de poder; dois ladrões pregados com Cristo na dor e não sentados na
glória. O rei crucificado, o justo condenado torna-se escravo de todos:
este é verdadeiramente o Filho de Deus! (cf. Mc 15, 39). Vence
não quem domina, mas quem serve por amor. Repitamos: vence não quem
domina, mas quem serve por amor. É o que nos recorda também a Carta aos
Hebreus: «não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das
nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós» (Heb 4, 15).
Neste momento, Jesus pode ajudar os discípulos a converterem-se, a
mudarem de mentalidade: «Sabeis como aqueles que são considerados
governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como
os grandes exercem o seu poder» (Mc 10, 42). Mas não deve ser
assim para aqueles que seguem um Deus que se fez servo a fim de chegar a
todos com o seu amor. Quem segue Cristo, se quiser ser grande deve
servir, aprendendo d’Ele.
Irmãos e irmãs, Jesus revela os pensamentos, Jesus revela os
pensamentos, revela os desejos e as projeções no nosso coração,
desmascarando por vezes as nossas expectativas de glória, domínio, de
poder, de vaidade. Ele ajuda-nos a pensar já não segundo os critérios do
mundo, mas segundo o estilo de Deus, que se faz último para que os
últimos sejam erguidos e se tornem os primeiros. Faz-se último para que
os últimos sejam reerguidos e se tornem os primeiros. Muitas vezes,
estas perguntas de Jesus, com o seu ensinamento sobre o serviço, são tão
incompreensíveis, incompreensíveis para nós como o eram para os
discípulos. Porém, seguindo-O, percorrendo os Seus passos e acolhendo o
dom do Seu amor que transforma a nossa maneira de pensar, também nós
podemos aprender o estilo de Deus o estilo de Deus: o serviço. Não
esqueçamos as três palavras que mostram o estilo de Deus para servir:
proximidade, compaixão e ternura. Deus se faz próximo para servir; se
faz compassivo para servir; se faz terno para servir. Proximidade,
compaixão e ternura…
É a isto que devemos aspirar: não ao poder, mas ao serviço. O serviço
é o estilo de vida cristão. Não se trata de uma lista de coisas a
fazer, como se, uma vez realizadas, pudéssemos considerar terminado o
nosso turno. Quem serve com amor não diz: “agora toca a outro”. Este é
um pensamento de empregados, não de testemunhas. O serviço nasce do amor
e o amor não conhece fronteiras, não faz cálculos, mas gasta-se e
dá-se. O amor não se limita a produzir para ter resultados, nem é uma
prestação ocasional; é sim algo que nasce do coração, um coração
renovado pelo amor e no amor.
Quando aprendemos a servir, cada gesto de atenção e cuidado, cada
expressão de ternura, cada obra de misericórdia torna-se um reflexo do
amor de Deus. E assim todos nós - e cada um de nós - continuamos a obra
de Jesus no mundo.
Nesta luz podemos recordar os discípulos do Evangelho, que hoje são
canonizados. Ao longo da história conturbada da humanidade, foram servos
fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria, como o
Irmão Manuel Ruiz Lopez e seus companheiros. Trata-se de sacerdotes e
consagradas fervorosos, e fervorosos de paixão, da paixão missionária,
como o Padre Giuseppe Allamano, a Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã
Elena Guerra. Estes novos santos viveram o estilo de Jesus: o serviço. A
fé e o apostolado que realizaram não alimentaram neles desejos mundanos
e avidez de poder; pelo contrário, eles fizeram-se servidores dos seus
irmãos, criativos em fazer o bem, firmes nas dificuldades, generosos até
ao fim.
Supliquemos com confiança a sua intercessão, para que também nós
possamos seguir Cristo, segui-lo no serviço, e tornarmo-nos testemunhas
de esperança para o mundo.