«É no silêncio que encontramos Deus, e é no silêncio que descobrimos quem realmente somos.» Bento XVI
Parece, por vezes, que temos medo do silêncio perante Deus e às vezes até perante os outros.
Realmente
há momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento em que são lidos
tantos textos bíblicos ou de reflexão, são feitas tantas orações, são
cantados tantos cânticos, que não há espaço para o silêncio, para a
interioridade, para a contemplação, para a adoração, para a escuta do
que Deus nos quer dizer ao coração.
Claro
que os momentos de oração vocal, de cânticos, de textos bíblicos ou de
reflexão, são, obviamente, muito importantes, mas, na adoração ao
Santíssimo Sacramento, é da maior importância o silêncio.
Estar
perante Deus e não se colocar à escuta, não se estar em silêncio
gozando aquele momento e não deixar outros fazê-lo também, é uma pena,
porque Deus nos fala sempre no silêncio.
Quem
não teve já momentos em que, sentado ou passeando em silêncio com uma
pessoa amiga, viveu um encontro sem palavras, de uma união perfeita, que
encheu o coração?
Se isso acontece com as pessoas amigas, quanto mais não acontecerá no nosso encontro com Deus, em adoração.
“Encher”
os momentos de adoração com textos lidos em voz alta, cânticos
contínuos e orações sucessivas, acaba por quase nos afastar do centro da
adoração, que deve ser também e sempre o nosso encontro pessoal com
Cristo.
Cada
um, quando vai para um momento de adoração pode levar a sua Bíblia ou
um livro de reflexão, e então, nalgum tempo desse momento de adoração,
fazer a sua leitura e meditação para si próprio, e essa leitura,
iluminada pelo Espírito Santo, é também uma forma de Ele nos falar no
silêncio.
Lembremo-nos sempre da frase de Samuel: «Fala, Senhor, que o teu servo escuta!» 1 Sm 3, 10
Como queremos nós escutar Deus se não nos calamos, se não fazemos silêncio exterior e interior?
E
como a oração, o silêncio é também um processo de aprendizagem, em que o
Espírito Santo nos vai guiando e ajudando a silenciarmos o nosso
coração e a nossa mente.
É,
por vezes, muito incómodo estarmos num momento de adoração, querermos
fazer silêncio, colocarmo-nos à escuta, mas não conseguimos, porque quem
orienta lê inúmeros textos, entremeados de cânticos e orações escritas,
de tal modo que, a partir de uma certa altura, já nem damos a devida
atenção ao que é dito, nem isso nos serve de reflexão.
Rezar o terço em voz alta numa adoração ao Santíssimo?
Sim, com certeza, mas há tantos momentos para o rezar porquê fazê-lo durante uma adoração?
Parece que estamos apenas a preencher tempo!
Obviamente
que cada um tem a sua própria espiritualidade, mas quando lemos os
mestres da oração, que são sempre verdadeiros adoradores, o silêncio é
uma constante nas suas reflexões, porque é no silêncio que se escuta
Deus.
É que, muitas vezes, esse modo de preencher os momentos de adoração, poderá ser mais “ruído” do mundo, do que silêncio de Deus.
Façamos
muitas vezes e durante bastante tempo silêncio em nós, sobretudo na
adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e seremos com certeza
surpreendidos como Deus fala ao nosso coração, à nossa vida quando a Ele
nos entregamos.
«O
silêncio é difícil, mas torna o homem capaz de se deixar conduzir por
Deus. Do silêncio nasce o silêncio. Por Deus, o silencioso, podemos
aceder ao silêncio. E o homem é incessantemente surpreendido pela luz
que então resplandece. O silêncio é mais importante do que qualquer
outra obra humana, porque exprime Deus. A verdadeira revolução vem do
silêncio; conduz-nos para Deus e para os outros para nos colocar humilde
e generosamente ao seu serviço.»
Pensamento 68 - A Força do silêncio - Cardeal Robert Sarah
Marinha Grande, 21 de Outubro de 2024
Joaquim Mexia Alves
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