Antonella Palermo – Vatican News
Quase 2.500 quilómetros em linha reta, mas isso não foi obstáculo para estar "um pouco juntos". Por pouco mais de uma hora, o Papa Francisco interagiu à distância com cerca de 400 jovens rapazes e moças que estão a participar no 10º encontro nacional de jovens católicos da Rússia, em São Petersburgo, até 27 de agosto. O Pontíficer ouviu deles dois testemunho, fez-lhes um discurso e respondeu espontaneamente (isto é, sem texto) a algumas perguntas, desde o papel da diplomacia nos conflitos até como viver as uniões matrimoniais apesar de pertencerem a diferentes confissões.
Encontrarem-se unidos sob o manto da Igreja universal
A preciosidade dessas jornadas, realizadas desde 2000 e organizadas este ano pela primeira vez em São Petersburgo, é grande, e o Papa alegra-se por isso. Acima de tudo, ele expressa a sua admiração ao saber que alguns participantes tiveram que viajar até mesmo 9.000 quilómetros para chegar lá: "Isto é lindo", disse ele, acrescentando que é um sinal da unidade da juventude da Rússia como um todo. De facto, encontram-se reunidos alí, participantes de 54 cidades da Federação, de Kaliningrado a Vladivostok, mas graças à tecnologia "podemos abraçar-nos no Espírito que nos é dado, como o abraço de Maria a Isabel", disse dom Paolo Pezzi, arcebispo da Mãe de Deus em Moscovo, na sua saudação introdutória. Este encontro é uma das poucas oportunidades de nos conhecermos, de compartilharmos testemunhos de fé; a comunicação com o Papa traz uma alegria especial, ressaltou ele no início, porque se pode experimentar não apenas a unidade dentro da Igreja local, mas também a unidade com a Igreja universal.
Substituam os medos pelos sonhos
Dirigindo-se aos jovens russos, depois de ouvir os dois testemunhos de Alexander e Varvara, o Papa retomou três ideias em torno do lema da JMJ de Lisboa, "Maria levantou-se e partiu apressadamente" (Lc 1,39), para que possam, disse, trabalhar mais sobre ele.
Desejo a vós, jovens russos, a vocação de serem artesãos da paz no meio de tantos conflitos e de tantas polarizações que vêm de todos os lados e que assolam o nosso mundo. Convido-vos a serem semeadores de sementes de reconciliação, pequenas sementes que, neste inverno de guerra, não brotarão no solo congelado por enquanto, mas florescerão numa futura primavera. Como eu disse em Lisboa: 'Tenham a coragem de substituir os medos por sonhos; substituam os medos por sonhos, não sejam administradores de medos, mas empreendedores de sonhos! Deem-se ao luxo de sonhar grande!
Francisco retomou o episódio do encontro entre Maria e Isabel. Lembrou que o Senhor chama pelo nome, antes dos talentos que temos, antes dos nossos méritos, "antes das nossas trevas e feridas". Lembrou dessas duas mulheres "tornando-se testemunhas do poder transformador de Deus", recordando a pressa de Maria em espalhar a sua alegria.
Quando Deus nos chama, não podemos ficar parados, devemo-nos levantar e com pressa, porque o mundo, o irmão, o sofredor, aquele que está ao lado e não conhece a esperança de Deus precisa recebê-la, precisa de receber a alegria de Deus. Levanto-me apressadamente para levar a alegria de Deus.
O amor de Deus é para todos
O amor de Deus pode ser reconhecido pela sua hospitalidade: Deacolhe sempre, cria espaço para que todos possam encontrar um lugar, sacrifica-se pelo outro, está atento às necessidades do outro.
O Papa ressaltou que "o amor de Deus é para todos e a Igreja é de todos" e exortou a recordar o Evangelho onde se conta o convite do dono do banquete nas encruzilhadas para levar o Evangelho a todos: "Eis o que Jesus queria dizer: todos, todos, todos”.
A Igreja é uma mãe de coração aberto que sabe como acolher e receber, especialmente aqueles que precisam de mais cuidados. A Igreja é uma mãe amorosa, porque é o lar daqueles que são amados e daqueles que são chamados. Quantas feridas, quanto desespero podem ser curados onde alguém se sente acolhido. E a Igreja acolhe-nos. É por isso que sonho com uma Igreja onde ninguém esteja em excesso, onde ninguém seja extra. Por favor, que a Igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra e quem não entra. Não: todos, todos. A entrada é gratuita e, então, cada um ouve o convite de Jesus para segui-lo, para ver como está diante de Deus; e para esse caminho há os ensinamentos e os sacramentos.
Jovens e idosos abram-se uns aos outros
Também nesta circunstância, o Papa retomou a ideia que lhe é cara de diálogo entre jovens e idosos e a importância da transferência de experiência que deve ocorrer. Voltou ao encontro entre Maria e Isabel, que é o sonho. Convidou a sermos "construtores de pontes entre gerações, reconhecendo os sonhos" dos antecessores, dos avós. "A aliança entre gerações mantém viva a história e a cultura de um povo". Ele insistiu na importância de ser "um sinal de esperança, paz e alegria, como Maria". Imitando a humildade dela, "vocês também", disse ele, "podem mudar a história em que vivem".
Assim, os idosos sonham com a democracia e a unidade das nações, enquanto os jovens profetizam e são chamados a ser artesãos do meio ambiente e da paz. Isabel, com a sabedoria dos seus anos, era idosa; ela fortaleceu Maria, que era jovem e cheia de graça, guiada pelo Espírito.
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