domingo, 6 de junho de 2021

O Papa: a Eucaristia não é o prêmio dos santos, mas o pão dos pecadores

 

 O Papa Francisco no Angelus deste domingo 

 
"É assim, com simplicidade, que Jesus nos doa o maior dos sacramentos. É um gesto humilde de dom, um gesto de partilha. No auge de sua vida, ele não distribui pão em abundância para alimentar as multidões, mas parte-se na ceia pascal com os discípulos", disse Francisco no Angelus dominical. 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco conduziu a oração mariana do Angelus, neste domingo (06/06), Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, em Itália e noutros países. No Vaticano o Corpus Christi foi celebrado na quinta-feira, 3 de junho.

O Evangelho deste domingo, apresenta-nos o relato da Última Ceia. As palavras e os gestos do Senhor tocam nos nossos corações: Ele toma o pão nas suas mãos, pronuncia a bênção, parte-o e entrega-o aos discípulos, dizendo: "Tomai, este é o meu corpo".

É assim, com simplicidade, que Jesus nos doa o maior dos sacramentos. É um gesto humilde de dom, um gesto de partilha. No auge da sua vida, ele não distribui pão em abundância para alimentar as multidões, mas parte-se na ceia pascal com os discípulos. Desta forma, Jesus mostra-nos que o objetivo da vida é doarmo-nos, que a maior coisa é servir. E hoje encontramos a grandeza de Deus num pedaço de Pão, numa fragilidade que transborda amor, transborda partilha. Fragilidade é exatamente a palavra que eu gostaria de sublinhar. Jesus torna-se frágil como o pão que se parte e se esmigalha. Mas é ali que está a sua força, na fragilidade. Na Eucaristia a fragilidade é força: força do amor que se faz pequeno para ser acolhido e não temido; força do amor que se parte e se divide para nutrir e dar vida; força do amor que se fragmenta para nos reunir na unidade.

Segundo o Papa, "há outra força que se destaca na fragilidade da Eucaristia: a força de amar quem erra. É na noite em que ele é traído que Jesus nos dá o Pão da Vida".

Ele doa-nos o maior presente enquanto sente no seu coração o abismo mais profundo: o discípulo que come com ele, que imerge o bocado no mesmo prato, o está a trair. E a traição é a maior dor para quem ama. E o que faz Jesus? Reage ao mal com um bem maior. Responde ao "não" de Judas com o "sim" da misericórdia. Não castiga o pecador, mas doa A sua vida por ele, paga por ele. Quando recebemos a Eucaristia, Jesus faz o mesmo connosco: conhece-nos, sabe que somos pecadores e sabe que erramos muito, mas não renuncia a unir a sua vida à nossa. Ele sabe que precisamos, porque a Eucaristia não é o prémio dos santos, mas o Pão dos pecadores. Por isso, exorta-nos: Não tenham medo. "Tomai e comei".

Francisco disse que "cada vez que recebemos o Pão da vida, Jesus vem para dar um novo sentido às nossas fragilidades. Ele lembra-nos que, aos seus olhos, somos mais preciosos do que pensamos. Ele diz que fica feliz se partilharmos as nossas fragilidades com Ele. Ele repete que a sua misericórdia não tem medo das nossas misérias. A misericórdia de Jesus não tem medo das nossas misérias". E acrescentou:

E, acima de tudo, cura-nos com amor, daquelas fragilidades que não podemos curar sozinhos. Quais fragilidade? Pensemos! A de sentirmos ressentimento por quem nos fez mal, dessa não nos podemos curar sozinhos; distanciar dos outros e isolarmo-nos em nós mesmos; também desta, não nos podemos curar sozinhos; ficarmos tristes, chorando e lamentando sem encontrar a paz, também desta não podemos curar-nos sozinhos. É ele quem nos cura com a sua presença, com o seu pão, com a Eucaristia.

"A Eucaristia é um remédio eficaz contra estes fechamentos. O Pão da Vida, na verdade, cura a rigidez e transforma-a em docilidade. A Eucaristia cura porque nos une a Jesus: nos faz assimilar o seu modo de viver, a sua capacidade de se partir e doar aos seus irmãos e irmãs, de responder ao mal com o bem. Do-nos a a coragem de sair de nós mesmos e de nos inclinarmos com amor para a fragilidade dos outros. Como Deus faz connosco. Esta é a lógica da Eucaristia: recebemos Jesus que nos ama e cura as nossas fragilidades para amar os outros e ajudá-los nas suas fragilidades", disse ainda o Papa.

Segundo Francisco, isto é feito durante a vida toda. O Pontífice recordou um hino rezado na Liturgia das Horas deste domingo. "Quatro versos que resumem toda a vida de Jesus. Eles dizem-nos que quando Jesus nasceu, tornou-se um companheiro de viagem na vida. Depois, na ceia, doou-se como alimento. Depois, na cruz, na sua morte, fez-se um preço: pagou por nós. E agora, reinando no céu é o nosso prémio, o qual procuramos. Que a Virgem Santa, na qual Deus se fez carne, nos ajude a acolher com coração agradecido o dom da Eucaristia e a fazer também da nossa vida um dom. Que a Eucaristia faça de nós um dom para todos", concluiu.

Vatican News

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