domingo, 30 de janeiro de 2022

Papa: diante dos nossos fechamentos, Deus não coloca freios no seu amor

 
  Jovens da Ação Católica Italiana soltaram balões na Praça São Pedro, como sinal de esperança  (Vatican Media)  

 
Os longos anos de caminhada podem levar-nos a pensar que conhecemos bem o Senhor, e assim fecharm-nos às suas novidades e surpresas, fixos nas nossas posições. Para evitar isto, devemos ter a mente aberta e o coração simples e humilde: "O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de surpreender-se, de maravilhar-se. O Senhor surpreende-nis sempre, é esta a beleza do encontro com Jesus".
 

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade, nos mostre o caminho para acolher Jesus.” E para acolher as suas novidades, devemos purificar-nos no "rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis de humildade."

A reflexão do Papa Francisco no Angelus deste IV Domingo do Tempo Comum versa sobre o acolhimento a Deus e aos seus desígnios, e parte do Evangelho de Lucas proposto pela Liturgia do dia, que “narra a primeira pregação de Jesus na sua cidade, Nazaré”, e "o êxito foi amargo", encontra "incompreensão e  também hostilidade".

De facto, "os seus conterrâneos, mais do que uma palavra de verdade – começa Francisco por explicar aos fiéis reunidos na Praça de S. Pedro - queriam milagres, sinais prodigiosos”. Mas “o Senhor não realiza nenhum e eles rejeitam-no, dizendo que já o conhecem desde criança, que é o filho de José, e assim por diante”, o que leva Jesus a pronunciar a célebre frase: "Nenhum profeta é bem recebido na sua terra".

Deus não coloca freios no seu amor

Mas se Jesus, conhecendo o coração dos conhecidos e sabendo do risco de ser rejeitado que corria, por ter ido pregar na sua cidade assim mesmo? - pergunta o Papa -, ”porque fazer o bem a pessoas que não estão dispostas a te acolher?”:

Esta é uma pergunta que também muitas vezes nos fazemos. Mas é uma pergunta que nos ajuda a compreender melhor Deus: Ele, diante dos nossos fechamentos, não retrocede: não coloca freios no seu amor. Vemos um reflexo disto naqueles pais que têm consciência da ingratidão dos seus filhos, mas nem por isso deixam de amá-los e de fazer-lhes o bem. Deus é assim, mas num nível muito mais elevado. E hoje ele convida-nos também a acreditar no bem, a não deixar de fazer o bem.

Humildade e disponibilidade

“Eles não foram acolhedores, e nós?”. A hostilidade em relação a Jesus – observou Francisco - também nos provoca. E para ilustrar os “modelos do acolhimento que Jesus propõe hoje aos seus conterrâneos e a nós”, volta o seu pensamento para os dois livros dos Reis, que falam de dois estrangeiros – a viúva de Sarepta de Sidónia e Naamã, o sírio – que acolhem Elias – “apesar da fome e embora o profeta fosse perseguido político-religioso” e Eliseu – “que o levou a humilhar-se, a banhar-se sete vezes no rio, como se fosse uma criança ignorante”.

Quer a viúva como Naamã, “acolheram com a sua disponibilidade e humildade. O modo de acolher Deus é sempre ser disponível, acolhê-Lo e ser humilde". Ou seja, a fé passa pela “disponibilidade e humildade. Eles “não rejeitaram os caminhos de Deus e dos seus profetas; foram dóceis, não rígidos e fechados”:

Irmãos e irmãs, também Jesus percorre o caminho dos profetas: apresenta-se como não esperávamos. Não o encontra quem procura milagres, se nós procuramos milagres não encontraremos Jesus, que procura novas sensações, experiências íntimas, coisas estranhas, não! Quem procura uma fé feita de poder e sinais externos. Não, não o encontrará. Somente o encontra, por outro lado, quem aceita os seus caminhos e os seus desafios, sem lamentações, sem suspeitas, sem críticas e sem cara feia.

Para evitar fechamentos, o Senhor pede mente aberta e coração simples

Assim, Jesus pede-nos para acolhê-Lo na realidade quotidiana, na Igreja de hoje, nos necessitados, nos problemas na família, nos pais, nos filhos, nos avós, "acolher Deus ali, onde Ele está, e convida-nos a purificarmo-nos no rio da disponibilidade e em muitos banhos saudáveis  ​​de humildade. É preciso humildade para encontrar Deus, para deixarmo-nos encontrar por Ele”:

E nós, somos acolhedores ou nos assemelhamos aos seus conterrâneos, que achavam saber tudo sobre ele? 'Eu estudei teologia, fiz aquele curso de catequese...eu sei tudo sobre Jesus', como um "tolo"... Não sejas tolo, tu não conheces Jesus. Quem sabe, depois de tantos anos de crentes, pensamos tantas vezes conhecer bem o Senhor, com as nossas ideias e os nossos julgamentos. O risco é de nos acostumarmos com Jesus, fechando-nos às suas novidades, ao momento em que Ele bate à porta e te diz uma coisa nova, quer entrar em ti. Nós devemos sair desse estar fixos nas nossas posições. O Senhor pede uma mente aberta e um coração simples. E quando uma pessoa tem uma mente aberta, um coração simples, tem a capacidade de surpreender-se, de maravilhar-se. O Senhor surpreende-nos sempre, é esta a beleza do encontro com Jesus".

Que Nossa Senhora, modelo de humildade e disponibilidade - disse ao concluir - mostre-nos o caminho para acolher Jesus.

VN

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